A manhã de ontem começou com uma palestra estimulante do padre geral dos jesuitas, Nicolas Adolfo. A sua constataçào inicial foi de que è preciso rever a teologia da evangelização. A atual è incapaz de dar conta das mudanças e complexidades que vêm se verificando. Ele o fez a partir de sua experiência missionària no Japão em contato com as culturas asáticas. Nesse sentido enfatizou a importância de retomarmos desde um ponto de vista contextual, a teologia da criação. Com efeito ela è a mais adequada para compreender essas culturas. Segundo essa visão que è cósmica, Deus està presente nas coisas, nos seres vivos, na totalidade da realidade. Como se fosse uma espècie de onipresença de Deus.
Um segundo aspecto que està presente nas culturas-teologias asiáticas e que podem nos ajudar a entender como estar presentes nelas è o fato que Deus è algo que não pode ser conhecido. Nós também temos uma teologia negativa segundo a qual Deus è um mistério insondàvel, o totalmente outro, mas frequentemnente falamos demais sobre Deus como se o conhecéssemos plenamente. Como falar de Deus se nem sequer conhecemos a realidade humana? Entretanto, a humanidade continua procurando o sentido da sua existência, pois não se sente feliz também com essas visões que escondem ambiguidades. Afinal, nessa visão o esforço humano è como se mostrar bons com "os deuses" para que eles não nos prejudiquem...
Ao mesmo tempo, nessa procura de sentidos, a humanidade procura sistemas de pensamentos, simbolos ,sinteses. Todas as religiòes tem isso. É algo que inclui e pega o todo: o pensar, o agir, o sentir, a moral....ou seja, pensa o todo. A crise religiosa surge do fato que o "sistema" quer pegar e explicar tudo. Diante disso podem surgir duas reaçoes: 1. A postura mística, a consciência da existência do mstério, pois aceitar o sistema totalizante seria uma ameaça ao sentuido de Deus. 2. Aceitar plenamente o sistema.
O missionario està no meio da crise e vive plenamente na crise. Afinal o verdadeiro missionàrio è aquele que "sabe que não sabe"! O missionàrio não è aquele que ensina, e sim aquele que acompanha os demais a descobrir o seu caminho.
Um sábio indu dizia a esse respeito que tudo começa com a experiência, depois procura o sentido da experiência, começa,então, a encontrar explicaçòes , e ai as explicaòoes se tornam monstros que querem eliminar as experiências; logo, precisa matar os monstros (as explicaçoes). A superação da crise atual talvez consista em ter que matar os monstros! Observe-se, por exemplo, que os jovens hoje querem continuar a procurar sempre, mesmo sem ter explicaçoes. Temos que revalorizar o que se dizia a respeito da "docta ignorantia" (sàbia ignorancia): o cristão conhece quando...não conhece! Nào conhece nada da vida humana mas fala demais sobre Deus. Quem afirma que conhece Deus que o mate, pois aquele não è Deus, è outra coisa, pois Deus não pode ser conhecido! Alguns estudantes japoneses diziam que a nossa teologia era lógica demais...para ser verdadeira. No mundo asiático há ainda espaço para o mistério, o desconhecido e inexplicável. A nossa teologia deveria ser mais humilde.
O budismo frequentemente não é considerado uma religião pois não fala de Deus,sendo que Este è mistério. Ele tem muita coisas a nos oferecer: os temas da paz, da harmonia, da meditação, a sabedoria da vida. É preciso se perguntar o que nós podemos oferecer a ele se negamos os valores que ele tem. No budismo, por exemplo, "tudo è vazio". Tudo è frágil e precisa de apoio e compreensão. Isso faz desenvolver um sentimento de compaixão muito grande para com tudo o que è fragil e fraco, sem condenar ou julgar. É preciso comprender. Esse sentimento não se dá só com as pessoas, mas também com os seres vivos, animais, etc. Para o budismo o pecado não vem da maldade humana, e sim da sua ignorancia.
Nesse sentido, como apresentar Jesus às culturas asiáticas que tem um grande apreço por ele, mas que não seguem a religião cristà? Jesus de forma coerente com o seu modo de sentir deveria ser apresentado como o caminho, jamais como um conjunto de verdades ou doutrinas, ou dogmas. O próprio taoismo significa caminho, um modo para procurar, algo a ser trilhado, jamais algo a ser apresentado como absoluto, claro, definido. Os asiáticos aprendem muito mediante o ver e o sentir. Eles percebem quando se fala com o coração (falar com autoridade), ou quando se fala sem mexer nos seus sentimentos das pessoas.
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