Talvez um dos maiores pecados na atualidade sejam a incapacidade humana em ouvir os clamores e os gritos de socorro por paz, justiça, fraternidade e vida. A indiferente surdez parece congelar sentimentos e modos de sentir. Simultaneamente, ao seu lado, aparece a incapacidade de denunciar e falar em favor dos que gritam e clamam. A voz covarde e omissa de quem não vê, não sente e não ouve, tampouco poderia falar do alto dos telhados! Como não nos reconhecer surdo- mudos? Como não desejar que alguém nos ajude a abrir nossos ouvidos para escutar, e tocar nossa língua para defender e gritar em favor de tantos silenciados ameaçados em seus direitos e dignidade?
O evangelho hodierno è uma verdadeira escultura carregada de singelo simbolismo plástico. Com mão hábil o evangelista Marcos parece esculpir de um lado denúncias claras e diretas e, do outro, elimina o material bruto que sobra fazendo emergir atitudes e perspectivas a serem assumidas.
Vamos tentar esculpir a pérola evangélica:
1.“levaram a Jesus um surdo-mudo....” (v.31) Foram as pessoas que tomaram a iniciativa de conduzir o surdo-mudo a Jesus. A iniciativa não foi da “vítima”. Nem sempre temos consciência de sermos surdo-mudos. A nossa arrogância e autosuficiência nos impede frequentemente de nos compreender como necessitados de libertação. É preciso que alguém próximo nos conduza e nos leve até onde precisamos fazer a experiência de nos “abrir”.
2.“... o tomou separadamente, longe da multidão....” Marcos com essas anotações parece nos dizer que não pode ser mais um desejo de cura da multidão – a que conduziu o doente até Jesus, - mas um desejo do próprio doente. Deve ser ele, agora, que consciente de sua situação se abre para Jesus. Deve ser o surdo-mudo que, pessoalmente, está disposto a fazer a experiência de ouvir e falar, e não mais por uma insistência dos seus intermediários.
3.“... Colocou seus dedos nos ouvidos e com a sua saliva tocou a língua... (v.33) Parece a ação de um escultor, ou melhor dito, de um....criador que vai modelando um novo ser humano, um novo Adão. Tocar com os dedos da mão e tocar com sua própria saliva o outro, o impuro, o “não-homem” manifesta a íntima ligação entre criatura-criador, sem barreiras e preconceitos e, ao mesmo tempo, a tentativa de moldar a criatura à imagem do criador. É como se Jesus dissesse ao surdo-mudo: “seja como eu!”
4.“... olhando para o céu soprou e disse:” abre-te “... (v.34) Para Jesus olhar para o céu não significa pedir-invocar ajuda para que consiga no seu intento – que já existe – mas é a típica imagem-referência a Deus para que o “beneficiado” perceba que è desejo e aprovação de Deus que Jesus lhe abra os ouvidos e libere a sua fala. O aramaico “efatà” è muito mais expressivo do que a língua portuguesa (abre-se): ele manifesta muito mais do que um simples processo físico de abrir... Aponta para um movimento mais totalizante, ou seja, abertura ao futuro, superação do medo e da incerteza quanto ao seu novo estado de “curado”. Não há como negar que Marcos está se dirigindo diretamente aos novos convertidos, discípulos e interlocutores de sua comunidade para que se deixem tocar e esculpir-moldar por Jesus, e que não tenham medo do que poderá acontecer com eles futuramente.
5.“... desfez-se o nó da sua língua e começou a falar corretamente...” (v.35) Liberar a fala, soltar o verbo e romper o silêncio, assim poderíamos descrever quanto Jesus operou no “mudo”. Na medida em que Jesus libera os ouvidos do “surdo” e o educa a escutar a sua palavra e os gritos de tantos irmãos que como ele não podem gritar, o predispõe e o envia para “falar-anunciar-denunciar”.
6.“...Ele fez bem todas as coisas....” (v.37) Como não lembrarmos aqui a mesma expressão utilizada no Génesis em que Deus após ter criado algo, ao contemplar a obra de suas mãos, constatava “que tudo era muito bom!” Com efeito, Jesus, ao vencer a surdez humana, ao liberar a “fala cativa” e ao “romper o silêncio omisso” estava realizando uma nova e inédita criação no ser vivo que Ele moldou.
Um bom domingo para todos desde Roma e um saudoso abraço!
O evangelho hodierno è uma verdadeira escultura carregada de singelo simbolismo plástico. Com mão hábil o evangelista Marcos parece esculpir de um lado denúncias claras e diretas e, do outro, elimina o material bruto que sobra fazendo emergir atitudes e perspectivas a serem assumidas.
Vamos tentar esculpir a pérola evangélica:
1.“levaram a Jesus um surdo-mudo....” (v.31) Foram as pessoas que tomaram a iniciativa de conduzir o surdo-mudo a Jesus. A iniciativa não foi da “vítima”. Nem sempre temos consciência de sermos surdo-mudos. A nossa arrogância e autosuficiência nos impede frequentemente de nos compreender como necessitados de libertação. É preciso que alguém próximo nos conduza e nos leve até onde precisamos fazer a experiência de nos “abrir”.
2.“... o tomou separadamente, longe da multidão....” Marcos com essas anotações parece nos dizer que não pode ser mais um desejo de cura da multidão – a que conduziu o doente até Jesus, - mas um desejo do próprio doente. Deve ser ele, agora, que consciente de sua situação se abre para Jesus. Deve ser o surdo-mudo que, pessoalmente, está disposto a fazer a experiência de ouvir e falar, e não mais por uma insistência dos seus intermediários.
3.“... Colocou seus dedos nos ouvidos e com a sua saliva tocou a língua... (v.33) Parece a ação de um escultor, ou melhor dito, de um....criador que vai modelando um novo ser humano, um novo Adão. Tocar com os dedos da mão e tocar com sua própria saliva o outro, o impuro, o “não-homem” manifesta a íntima ligação entre criatura-criador, sem barreiras e preconceitos e, ao mesmo tempo, a tentativa de moldar a criatura à imagem do criador. É como se Jesus dissesse ao surdo-mudo: “seja como eu!”
4.“... olhando para o céu soprou e disse:” abre-te “... (v.34) Para Jesus olhar para o céu não significa pedir-invocar ajuda para que consiga no seu intento – que já existe – mas é a típica imagem-referência a Deus para que o “beneficiado” perceba que è desejo e aprovação de Deus que Jesus lhe abra os ouvidos e libere a sua fala. O aramaico “efatà” è muito mais expressivo do que a língua portuguesa (abre-se): ele manifesta muito mais do que um simples processo físico de abrir... Aponta para um movimento mais totalizante, ou seja, abertura ao futuro, superação do medo e da incerteza quanto ao seu novo estado de “curado”. Não há como negar que Marcos está se dirigindo diretamente aos novos convertidos, discípulos e interlocutores de sua comunidade para que se deixem tocar e esculpir-moldar por Jesus, e que não tenham medo do que poderá acontecer com eles futuramente.
5.“... desfez-se o nó da sua língua e começou a falar corretamente...” (v.35) Liberar a fala, soltar o verbo e romper o silêncio, assim poderíamos descrever quanto Jesus operou no “mudo”. Na medida em que Jesus libera os ouvidos do “surdo” e o educa a escutar a sua palavra e os gritos de tantos irmãos que como ele não podem gritar, o predispõe e o envia para “falar-anunciar-denunciar”.
6.“...Ele fez bem todas as coisas....” (v.37) Como não lembrarmos aqui a mesma expressão utilizada no Génesis em que Deus após ter criado algo, ao contemplar a obra de suas mãos, constatava “que tudo era muito bom!” Com efeito, Jesus, ao vencer a surdez humana, ao liberar a “fala cativa” e ao “romper o silêncio omisso” estava realizando uma nova e inédita criação no ser vivo que Ele moldou.
Um bom domingo para todos desde Roma e um saudoso abraço!
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