Publico aqui abaixo o artigo que escrevi para o último número de ' O jornal do Maranhão', publicação mensal da Arqudiocese de São Luís que tinha como enfoque principal a insegurança e o abandono do centro histórico da capital.
Parece algo perdido no tempo a vida dos antigos casarões com seus sobrados e mirantes. Sem a badalação que fervilhava pelas praças, ruelas e ladeiras ‘da velha’ São Luis, tão bem descrita nos cânticos e romances dos nossos ‘imortais’. O centro histórico de São Luis, hoje em dia, parece um velho barão que repousa sobre os louros de um longínquo passado. Sem poder ocultar, porém, as profundas rugas escavadas pelo tempo e o abandono. E o cansaço senil de uma nobreza ameaçada pela falta de segurança, de vitalidade, e pela solidão.
O centro histórico, verdade seja dita, não perdeu a pose: ele continua fascinante e inspirador, mas vem perdendo animação, segurança e, o que é pior, moradores. Em que pese o título de ‘patrimônio da humanidade’, não houve um verdadeiro esforço institucional para dar nova vida à velha São Luís. As tímidas tentativas iniciadas alguns anos atrás pelo Governo do Estado para transformar alguns antigos casarões em habitações estáveis foram abrupta e inexplicavelmente interrompidas. Caíram no vazio também as iniciais intenções do atual Governo Federal que conclamava a ‘urbanizar e a retornar a habitar os centros históricos’ das nossas cidades. São neles, - e não nos modernos arranha-céus e nos seus shoppings, - que pulsa o coração de uma cidade. São os centros históricos valorizados que dão coesão e identidade a uma cidade.
Assistimos, hoje, a um verdadeiro descalabro em que população e turistas não se arriscam mais a se adentrarem sozinhos nas antigas ruelas e ladeiras. E os lojistas vendo suas fontes de renda minguando sempre mais. Os executivos municipais e estaduais, com a colaboração de universidades, paisagistas, arquitetos e sociedade são desafiados em sua capacidade criativa de fazer do centro histórico de São Luis um renovado espaço sociocultural e econômico, freqüentado e ‘habitado diuturnamente, por gente’. Torna-se urgente reanimar cada praça, igreja, fonte, ruela e cantaria, oferecendo lazer, iguarias, poesias e rezas.
Re-criar, enfim, novas formas de sociabilidade que humanizam, e fazem com que as pessoas se re-encontrem consigo mesmas e com o seu futuro. Só assim, o ‘velho barão’, talvez, decida reviver e re-percorrer ‘as lentas ladeiras’ e dançar ao ritmo da matraca e do ‘tambor do Congo’!
* Título tirado da ‘Louvação a São Luis’ de Bandeira Tribuzzi
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