'Eu sou carvão, meu patrão!' Assim se expressava o jovem dramaturgo Chico, de Açailândia ao entrar numa gaiola de rede contendo uma moita de carvão, em frente da fazenda Monte Líbano da Vale (Açailândia, MA). Ele mesmo havia virado, simbolicamente, carvão, para a combustão.
Diante da Caravana Norte procedente de Barcarena e Marabá, composta por representantes de vários países onde a Vale está atuando e semeando ilusões e destruição, Chico mostrava o drama de inúmeras pessoas que se misturam ao carvão destinado a arder nos altos fornos da siderúrgica da Vale em Marabá.
Os presentes, de máscara, assistiam atônitos aos gestos e às palavras que manifestavam uma crueza e um realismo que deixava pouca margem ao 'teatro'. A poucos metros de distância ficava a entrada que dá acesso a um conjunto de numerosos fornos industriais onde se queimam centenas de milhares de metros cúbicos de eucalipto, e de cujas bocas saem nuvens espessas de fumaça a invadir o assentamento Califórnia que dista a poucas centenas de metros.
O drama das famílias de Califórnia, cuja saúde vem sendo roubada cotidianamente por aquela fumaça, já havia sido denunciado reiteradas vezes para vários órgãos locais e estaduais. Sabe-se, com certeza, que não há nenhuma licença que permita o funcionamento daqueles fornos 'crematórios', mas alguém da Secretaria Estadual do Meio Ambiente iria enfrentar a poderosa Vale?
A manifestação daquele grupo, pequeno mas poderoso ao mesmo tempo, frágil mas destemido, avançou pacificamente até o portão principal do 'campo de concentração' da Vale, obrigando o carro dos seus 'seguranças' a retroceder. Ao chegar, cada participante se aproximava do portão, tirava a sua máscara e a depositava juntamente a um pedaço de carvão no portão de entrada. Pronunciava bem alto o seu nome e o local de proveniência. Imóveis e com ar de desdém, os poucos funcionários assistiam de longe ao gesto.
Ao voltar, foi entoado o canto 'esse é o nosso País, essa é a nossa bandeira'! Um país que, na macro-economia, avança e se expande com rapidez, e com uma ganância inédita, deixando atrás uma bandeira esfarrapada cheia de cidadãos sujos de fumaça, de suor e sangue! A 'verde-amarela Vale' é, hoje, o melhor símbolo de tudo isso.
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