sábado, 8 de maio de 2010

AMAR É GUARDAR A PALAVRA-TESTEMINHO PARA GERAR MAIS TESTEMUNHO! (Jo.14, 23-29)

Vivemos em uma sociedade que produz e mercantiliza a palavra. Uma sociedade prolixa e verborrágica. Que consegue separar a palavra do seu sentido e conteúdo. Uma sociedade que consegue deturpar e manipular o que a palavra jamais quis revelar.

A palavra, muitas vezes, não é usada de forma coerente com o que o seu autor sente e pensa realmente. Ela se torna instrumento de ruptura entre o pensamento/sentimento e a ação...não correspondente. A palavra deixou de ser, progressivamente, a expressão direta e inconteste da identidade/personalidade/intencionalidade do seu autor. Tornou-se um conjunto de sons emitidos para proteger/escancarar, esconder/revelar, elogiar/caluniar, simultaneamente, os interesses, as conveniências e os projetos do seu emissor.

Manter a ‘palavra dada’ não passa de uma expressão esdrúxula. Só um otário entra nessa, de acreditar! Até a palavra registrada em cartório levanta suspeita e dúvida. Pode ser facilmente contestada. Contraditoriamente vivemos em uma sociedade que cria, inventa e utiliza de um volume incalculável de ‘palavras’, mas que sabe que elas são inconsistentes e voláteis. Um produto, enfim, descartável, como qualquer outro.

Respeitadas as devidas ressalvas (exceções e contradições) os povos da antiguidade atribuíam à palavra um valor por nós inimaginável. E não somente por não possuírem a escrita, ou por ela não ser tão desenvolvida como hoje! Era expressão do que efetivamente o seu emissor pensava e sentia. Não só: a palavra não podia ser compreendida se fosse desligada do sentido que ela veiculava, e da ação que revelava. Palavra e ação correspondente era uma coisa só! Indissociáveis. Daí o fato que no Gênesis, por exemplo, Deus cria falando. Deus disse e as coisas tomam vida!

Jesus no discurso de despedida, na versão de João, afirma que a prova que se ama alguém é ‘guardar as suas palavras’. A prova que não se ama uma pessoa consiste em ‘não guardar as suas palavras’. ‘Guardar’ não é sinônimo de ‘proteger escondendo’. Tampouco significa decorar ou divulgar e transmitir fielmente as palavras da pessoa amada.

Só podemos entender essa expressão segundo os critérios dos ‘antigos’, ou seja, manter viva a palavra-ação, a palavra -testemunho. Amar alguém significa, portanto, manter vivo o patrimônio moral e humano de alguém que deu sentido ao seu existir. Não deixar sufocar nem deturpar a sua humanidade, as suas opções, o seu testemunho de vida. Mais: amar é saber reinterpretar e readaptar as palavras do amado/a aos novos contextos, para que ‘o amor da pessoa amada’ não morra. Para que ela continue dando sentido àquele que fez a experiência de se sentir amado por ela e que, agora, ao estar sem a sua proximidade, já não pode deixar de manifestar, reproduzir e multiplicar a intensidade e a beleza de amar e ser amado...para mantê-lo permanentemente VIVO/A

No dia das mães não necessitamos fazer manifestações verborrágicas de que as amamos. É suficiente garantir a elas, a nós mesmos e aos que entram em comunhão conosco de que o testemunho do seu amor e de sua dedicação nunca irão morrer. Isto porque nós, os filhos/as do amor delas, poderemos reproduzir o seu testemunho em gestos férteis e geradores de mais amor e de mais dedicação.

É guardando as ‘palavras vivas’ desse amor que provamos que as amamos!

Feliz dia das mães!

À senhora Gina, minha mãe um grande beijo, cheio de gratidão e carinho. Que se recupere rápido da cirúrgia e volte a pessar pelas veredas dos nossos bosques.

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