sexta-feira, 14 de maio de 2010

ASCENSÃO DE JESUS: O CÉU NA TERRA PARA DIVINIZÁ-LA

Frequentemente ao longo da nossa vida fazemos a experiência de uma dúplice dimensão dentro de nós mesmos. De um lado vivemos a plena materialidade, a concretude, mas percebemos que ela tem uma vida que a anima e que a transcende. Vivemos na terra finita, mas aspiramos alcançar realidades que vão além da sua finitude. Fazemos a experiência da angústia, da dúvida, mas ao mesmo tempo almejamos o seu oposto: a paz interior permanente, a certeza e a segurança, embora não na sua plenitude. Sentimos o que significa sofrimento, dor, morte, mas possuímos dentro de nós a capacidade de imaginar e desejar serenidade, vida plena....permanente.

A catequese/acontecimento da ascensão de Jesus nos faz mergulhar nas dinâmicas mais profundas da nossa vida: o morto voltou a viver, o humilhado foi exaltado, o cativo da ‘terra finita’ conquistou definitivamente o céu da liberdade plena. São duas faces da mesma moeda. Realidades aparentemente contraditórias formam uma unidade integrada do processo existencial de cada pessoa: vida e morte, terra e céu, luz e sombra, humilhação e exaltação, fidelidade e traição, medo e coragem, paz e guerra...fechamento e abertura ao outro, ao mundo!

É claro que na vida real isso não se dá de uma forma sempre clara e distinta. Nem ocorre que somos integralmente ou uma coisa ou outra. O importante é percebermos que tudo isso está potencialmente dentro de nós ao mesmo tempo, sincronicamente, e que podemos, em parte, construir historicamente uma ou outra dimensão, a depender das escolhas e opções de vida que fizermos.

Jesus anunciou e lutou pelo direito à vida, à felicidade, à saúde. Alimentou o sonho dos pobres da Palestina por uma existência que fosse além de conquistas imediatas e circunstanciais. Educou-os a sonhar ‘alto’ e olhar ‘longe’. Ajudou-os a compreender que a existência humana não acabava naquilo que eles viam e sentiam. Que era possível construir outra realidade que não fosse a ‘finita e estática’ que experimentavam, mas os ajudou a transcender a que eles eram obrigados a viver.

Propunha a eles não uma realidade ‘celestial’, desencarnada da história, mas uma realidade que transformasse definitivamente a que os mantinham limitados e cativos. Jesus fez isso em contraposição a quantos semeavam e impunham morte, sofrimento, dor, miséria e escravidão. Jesus mostrou que nas duas faces da moeda Ele escolheu e lutou por um lado: o da vida, da luz, da liberdade, da felicidade e da vida infinita como o é o ‘céu’.

Ascensão de Jesus significa reconhecer que é possível libertar-se dos condicionamentos e escravidões, de interesses materiais e mesquinhos, de tudo o que nos prende e nos apavora. Significa de um lado saber permanecer no lugar do desafio, da confrontação, em Jerusalém, mas saber compreender quando está na hora de sair para ‘Betânia’, o lugar da ‘revelação e da bênção’, a porta de entrada para o mundo. Não mais presos a um lugar específico, estreito, mas disponíveis para reiniciar em todos os lugares e tempos a mesma prática Daquele que nunca subiu para o ‘céu’ porque o céu já o havia trazido para a terra para libertá-la definitivamente de suas amarras e, enfim, divinizá-la!

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