terça-feira, 8 de maio de 2012

Na Serra do Estévão para 'renascer' das águas e do espírito


Serra do Estévão, município de Quixadá, região central do Ceará. É aqui que os Combonianos da província Brasil Nordeste escolheram o lugar para o seu retiro espiritual. Lugar encantador. E inspirador. Não é para menos. A 600 metros de altitude, com clima ameno, e muito verde, apesar da seca que castiga os agricultores da região. Paisagens que parecem pinturas de Leonardo da Vinci. Abaixo de nós o vale onde se encontra a cidade de Quixadá, próxima de uma vasta e bela lagoa, cercada por montanhas e colinas. O nosso facilitador é padre Joaquim Valente, português, comboniano, coordenador do ‘Studium Combonianum’ em Roma, estudioso e profundo conhecedor do nosso fundador Daniel Comboni (1831-1881) O tema do retiro: ‘Com Comboni: construtores de um reino sem escravidões’! A primeira reflexão de hoje foi ’renascer da água’ propondo como texto bíblico Ezequiel (47,1-12).
No antigo testamento sempre se fala em águas, no plural. Águas que não eram vistas como algo positivo, ao contrário, eram águas ameaçadoras. Que produziam enchentes, dilúvios e varriam a vida. Os antigos viam nos mares, nas lagoas, nos poços naturais a presença de monstros e espíritos ameaçadores. Portanto, as águas não tinham uma significação positiva. Daí que as águas se opunham à criação. Ameaçavam-na sistematicamente. A própria criação de Deus foi, na realidade, a modalidade que Deus encontrou para pôr limites ao ímpeto devastador das águas que haviam invadido e dominavam o espaço da vida. Precisava-se contê-las. Opor resistências! De alguma forma é a imagem da nossa vida, da realidade humana. Onde não há limites entra a morte, o caos, a destruição. Vemos isso a nível pessoal, na economia, na política. É preciso, todavia, sabermos enfrentar as águas impetuosas para salvaguardar a vida. E para podermos renascer quando nos vemos submergidos pelas águas da vida. Enfrentá-las com a certeza de que vamos sair vivos delas. E não engolidos. Muitas vezes não enfrentamos os grandes desafios, os males, os conflitos, as tormentas da existência humana porque somos vítimas dos ‘mitos dos nossos medos’. Imaginamos que ao entrar ‘na morte, nas águas’ não vamos sair com vida. Fugimos, nos escondemos, nos paralisamos. Renasce só aquele que sabe mergulhar com fé (e não fugir) nas águas ameaçadoras com a certeza que poderá voltar a viver. Pisar o solo firme da vida. A imagem do próprio batismo reflete isso: mergulhar nas águas da morte, da destruição, da escravidão para poder re-emergir para vida. Para construir vida e pôr limites à morte, ao caos, à destruição que continuam insistindo em dominar.

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