terça-feira, 3 de julho de 2018

Aos batedores de panelas: a redenção, por Gustavo Gollo

Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.

E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo, ( ...)
Eu que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,  (...)

Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;  (...)

Eu que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu que verifico que não tenho par nisto neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo,
Nunca teve um acto ridículo, nunca sofreu um enxovalho,
Nunca foi senão príncipe – todos eles príncipes – na vida...

Então só eu que é vil e erróneo nesta terra? ...

Álvaro de Campos, in "Poemas" - Heterónimo de Fernando Pessoa

Creio que, a essa altura, a maioria dos batedores de panela já tenha percebido o papel ridículo e nefasto desempenhado por eles, deixando-se manipular pelos poderes escusos que acabaram conseguindo destituir Dilma Roussef e interromper o processo de independência do Brasil que vinha sendo implementado havia já mais de uma década.
Longe de pretender culpá-los pelas manifestações obtusas – pois se não os culpo, não deixo de lhes reconhecer a sandice –, pretendo redimi-los, confessando meus próprios pecados, enquanto deixo aos príncipes que nunca tenham sido vis e errôneos nesta terra, o encargo de atirar a primeira pedra

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