Aqui abaixo transcrevo o artigo que escrevi para o Jornal do Maranhão de fevereiro, da arquidiocese de São Luis. Acredito que diante de tantas denúncias de pedofilia que envergonham a igreja como um todo e que exigem não somente justiça para as vítimas e punição rigorosa para os seus responsáveis é preciso iniciar na igreja mudanças radicais na sua própria estrutura, tais como: fim do celibato obrigatório, formação presbiteral mais inserida na realidade, extinção da Cúria Romana, sacerdócio às mulheres, fim do estado do Vaticano em que o papa volta a ser só pastor 'entre iguais' e não chefe de Estado, entre outras.....
Tradicionalmente, na cultura ocidental de cunho cristão, tem havido uma clara tendência em idealizar sobremaneira a figura do padre. O padre tem sido visto, predominantemente, como uma espécie de santo, mais anjo que homem. Por ser considerado, de forma irreal, ‘um homem de Deus’, raramente o padre tem sido visto na sua plena humanidade, com sentimentos, fragilidades, contradições e imperfeições, como os demais humanos. A própria mídia, ultimamente, está contribuindo para ‘mistificar’ mais ainda os padres, principalmente os que promovem o show do sagrado.
A conseqüência lógica desse modo de encarar o padre tem levado as pessoas a alimentarem expectativas enormes com relação a ele. É bem verdade que quando uma pessoa escolhe de ser padre se compromete formalmente a ser um sinal coerente e fiel do amor respeitoso de Deus, embora isto valha para todo cristão. É também verdade que uma pessoa, antes de ser consagrada padre passa por um longo caminho de formação, discernimento e acompanhamento espiritual até ser considerada definitivamente digna de assumir tal serviço. Em que pese tudo isso, não se pode desconhecer que todo ser humano é um mistério insondável que foge à plena compreensão humana. Também no padre, de fato, se manifestam, irremediavelmente, fragilidades, fortes contradições e até formas inesperadas e desviantes de comportamento. O impacto disso na vida das pessoas é devastador.
O escândalo provocado por padres que agem dessa forma é proporcionalmente mais intenso lá onde existe maior idealização da figura do padre, e onde tem existido uma cultura religiosa fortemente moralista, principalmente com relação à sexualidade. Ao enfatizarmos a fragilidade humana e a situação de pecado a que cada pessoa está sujeita - inclusive o padre, - não quer ser uma forma para justificar aquelas condutas que ofendem ‘o templo de Deus’ que são os filhos e as filhas Dele.
Ao contrário, de um lado se quer reconhecer que padres que cometem tais abusos devem ser punidos como qualquer cidadão, conforme a legislação em vigor; e, do outro lado, reconhecer que o único santo e verdadeiro sacerdote é o Filho Unigênito. Somente Jesus Cristo deverá continuar a ser a nossa autêntica fonte de inspiração, independentemente da santidade ou não de quem O anuncia e O serve.
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