sábado, 2 de junho de 2012

Festa da Trindade divina - o Deus invisível, não criado, sentido e manifestado pelo 'humano' Jesus de Nazaré!

Se tivéssemos que analisar historicamente a evolução do dogma da Santíssima Trindade ficaríamos um tanto perplexos. Expressões e formulações estranhas que mais cheiram a combinações filosóficas abstratas que a afirmações de fé que mexem com a nossa vida e com a nossa convicção de que o Deus de Jesus Cristo está conosco o tempo todo. A preocupação político-teológica da cúpula eclesial da época era a de salvaguardar de um lado o monoteísmo, a existência de um Deus somente. Mas, do outro, reconhecer a existência do Filho Jesus Cristo e do Espírito Santo (mais duas pessoas, portanto) atribuindo-lhes, contudo, a mesma natureza divina e não criada do Pai. Essas tentativas um tanto artificiais de ajustar e combinar conceitualmente natureza-pessoas-unicidade-divindade levaram os fiéis a não se preocupar em compreender o papel do Deus de Jesus Cristo na vida das pessoas, e das suas implicações concretas. Afinal, em que adiantaria reconhecer ou negar a existências de Deus, a sua eternidade e unicidade se não temos noção das exigências éticas que essa fé nele comporta? O que mudaria num plano real e concreto da nossa vida crer ‘num só Deus, no seu Filho Jesus Cristo, gerado, mas não criado e da mesma substância do Pai.....’se não temos noção da identidade e da missão desse Deus na nossa história pessoal e comunitária? Mais: como podemos ter noção de tudo isso se Deus é por excelência ‘o totalmente outro’, o ‘inefável’, o ‘invisível, Aquele que não pode ser visto, nem definido e catalogado’? Poderíamos afirmar que nem tudo o que não é visto inexiste, e nem tudo o que é ‘sentido e percebido’ no nível pessoal tem consistência histórica, real e objetiva. Poderíamos também apelar para a perfeita disposição e coordenação do universo e ver nele a ‘mão inteligente’ do grande Arquiteto, mas isso pouco acrescentaria sobre a sua identidade, e pouco nos diria sobre ‘o que temos que fazer’ para sermos mais humanos e divinos a partir da Sua existência. Tampouco podemos impor autoritariamente, como aconteceu sistematicamente, como ‘dogma incontestável’ algo que deveria brotar das entranhas e das aspirações divino-humanas mais profundas. Ou nos esconder covardemente por trás da justificativa de que a realidade trinitária é ‘mistério inefável’, - que é por sua natureza incognoscível, - e exigir uma aceitação submissa a fórmulas e a hierarquias, fazendo com que se renuncie à autonomia da inteligência e da liberdade....

A realidade trinitária é, no fundo, uma questão de ‘sentidos e de opções e exigências éticas’. Pelo menos para nós cristãos. Nós que afirmamos e acreditamos que Jesus de Nazaré revelou historicamente ‘o rosto-natureza’ do Pai/Mãe gerador de vida e de energia vital temos a obrigação moral de seguir coerentemente as suas opções éticas de construir paz, justiça e bem-estar para todos os seres vivos. É nisso que nós também podemos revelar ‘o Deus invisível, incognoscível, eterno e único’! Não, porém, um deus genérico, impessoal, uma espécie de ‘energia cósmica pré-existente e informe’ que permeia um universo também incognoscível, mas um Deus-Ser, que pode ser sentido e percebido, carregado de valores humanos e, por isso mesmo, divinos. Um Deus que assume o rosto-natureza daquel@s que mesmo não O vendo anunciam e reproduzem o seu ‘amor infinito’. O mesmo amor que deu origem e que alimenta um universo que aspira e inspira continuamente a Sua presença. 

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