quarta-feira, 6 de junho de 2012

Festa do 'Corpus': no pão produzido e doado a 'fartura' do amor oblativo

Os leitores que me perdoem, mas re-proponho o texto que postei por ocasião da festa do Corpus do ano passado!
 
Debulhar o trigo, recolher cada bago do trigo, forjar do trigo o milagre do pão....’ O pão por si só é um milagre. O milagre começa quando o trigo semeado passa meses debaixo da terra fria e obscura. No isolamento e na solidão ele germina. Ao encher a espiga é recolhido, debulhado e triturado. Parece perder a sua identidade de trigo ao assumir a identidade de farinha, de pó branco. O milagre se torna mais surpreendente quando a farinha misturada com água e fermento e levada ao forno parece multiplicar exageradamente o seu volume, e se torna alimento inigualável. Espantoso, contudo, é quando o pão repartido se torna presença provocadora daquele que o doa. Quando um humano compreende que outros humanos não têm acesso a ele, e movido pela compaixão e pela justiça, o oferece aos famintos. Dessa forma, aquele que partilha e doa o pão está de algum modo presente naquele pão/gesto que ele mesmo doou. O pão oferecido/doado já não é uma mera mistura de vários ingredientes, mas um sinal/sacramento que aponta para uma presença. Uma presença que incomoda porque de um lado revela/denuncia a existência da fome, da negação do direito à vida, da injusta distribuição dos bens. E, do outro, sinaliza que a sua superação consiste no oferecimento gratuito, na doação e na partilha radical do pão. Algo que exige transformação de atitudes, de relações sociais e econômicas, afirmação de equidade. Ou seja, algo que não é simplesmente fruto da generosidade, da espontaneidade e da sensibilidade de uma ou outra pessoa, mas que exige um novo jeito de estar e de ser no mundo, na sociedade. O milagre se consumirá plenamente quando os próprios famintos ao matarem a sua fome – e, por sua vez, movidos pela compaixão, – repartirão o pão com outros famintos. E não permitirão que ninguém lhes seqüestre pão e futuro. Jesus de Nazaré antes de morrer promoveu e patrocinou um ‘banquete ideal’, mas real. Todos são chamados a participar dele, mas principalmente a construí-lo. A presença de Jesus doador no pão oferecido se mistura harmoniosamente com a daqueles que o recebem. Estes, por sua vez, re-criam a comunhão/presença com aqueles que nunca foram convidados a algum tipo de banquete para ...........'se fartar de pão’ ....e de amor!

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