domingo, 10 de junho de 2012

'Fora de si'...pelo Reino! (Mc.3,20-35)


Quem de nós nunca fez a experiência de se sentir interiormente dividido? De sentir um forte imperativo interior para agir numa determinada direção, mas tendo, simultaneamente, a percepção de que não temos forças suficientes? Ou sentir forças internas centrípetas que nos levam alhures? Sentimo-nos condicionados e, às vezes, até dominados pela nossa formação social, cultural e religiosa que consideramos obsoleta. Carregamos a pressão dos deveres que advêm dos afetos familiares. Achamos que eles estão acima de tudo. Até das nossas mais profundas convicções. Contudo, damos fé que chega uma hora em que não podemos mais conviver com os sentimentos de angústia e de mal-estar que brotam dessa divisão interior aparentemente insanável. É nessa hora que se dá a ruptura existencial. Somos solicitados a optar. A assumir uma determinada direção, mesmo que isso signifique romper com afetos, com posição social consolidada, com uma determinada imagem que outros ou nós mesmos construímos a nosso respeito.

O evangelho desse domingo relata as reações dos próprios familiares de Jesus diante das escolhas que Jesus acabava de fazer. Jesus acabava de superar a sua ‘divisão interior’, superando as tentações da falsa segurança que o poder oferece e se dedicando decididamente ao serviço do anúncio da realeza de Deus. Uma nova presença de Deus que se manifestava na compaixão para com os pobres e os ritualmente impuros. Isto significou para Jesus ter que romper com a sua comunidade e com a sua família. Afastar-se do seu povoado Nazaré e dos seus parentes e amigos próximos que não partilhavam a sua opção de vida considerada radical demais. Jesus, contudo, teve a coragem de deixar de ser definitivamente refém de diretas ou veladas chantagens emocionais e religiosas. Para se colocar ao lado dos excluídos e impuros da sua Galiléia. Isso significou para Jesus o início de uma série de insinuações e difamações a seu respeito: acusam-no de ser ‘louco’ e ser ‘possuído por um demônio’! Mesmo assim, Jesus sente-se apoiado pelo Pai e continua firme no seu projeto. Percebe que a partir da sua escolha em favor do Reino não poderá mais contar com a sua família de sangue. A partir dessa ruptura de afetos e proteção familiar Jesus terá que construir uma outra família. Mais ampla e mais sólida. Uma família construída a partir do ‘cumprimento da vontade do Pai’. Longe de demonizar ‘os seus parentes’, agora eles serão tais somente na medida em que entrarem na lógica do projeto do Pai assumido por Jesus. Assumindo suas escolhas e fazendo as suas mesmas opções. Só assim os familiares de Jesus poderão ser pai, mãe, irmãos, e primos dele. Porque ao fazerem assim o serão também para tantos pobres e excluídos. Os preferidos do Pai!

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