sábado, 23 de junho de 2012

João o Batista: na denúncia o anúncio de uma nova ordem!

Vivemos alimentando contínuas expectativas e sonhos. Buscamos e tentamos encontrar condições e realidades que satisfaçam o nosso desejo de felicidade, de justiça, de bem-viver. Apostamos em pessoas carismáticas e estruturas socio-políticas como instrumentos concretos para alcançar o que desejamos. Ninguém e nada parece estar em condições de realizar as nossa legítimas expectativas. Experimentamos, por isso, sentimentos de decepção, de indignação interior, e até de revolta. Sentimo-nos traídos. A nossa confiança em pessoas e estruturas fica profundamente abalada. A tentação é de não mais crer em ninguém. De não mais crer que os nossos sonhos e desejos possam historicamente se realizar. Experimentamos também a vontade de fugir, de nos esconder para não termos que encarar nossas angústias e decepções, e a nossa incapacidade de mudar. Às vezes, diante de situações-limites, de crise profunda, e diante da nossa descrença com relação à nossa capacidade de transformar o mundo em que vivemos, nos refugiamos num falso ‘deus’. Um ‘deus’ feito a nossa imagem e semelhança, que deveria realizar, magicamente, o que nós humanos não conseguimos. Aqui nasce a teocracia, um hipotético ‘governo de deus’. Os humanos decepcionam, traem as expectativas e a confiança que outros humanos depositam neles. Nessa ‘fuga teocrática’ só deus teria condições de realizar o que os humanos não conseguem realizar. Deus realizaria as expectativas com ou sem a colaboração dos humanos.

João o batista foi o profeta da crise. Que denunciou a crise e as suas causas. Ele não se limitou a descrever a crise que era evidente: desigualdade escandalosa, fome, dominação, corrupção, mas também aponta para a sua superação. Diante de um iminente fracasso social seja nas esferas governamentais como também na sociedade como um todo, João anuncia uma intervenção divina mediada pelos próprios humanos. Não convida as pessoas a se refugiarem num ‘deus’ que está para intervir de qualquer forma, mas a compreender que todos têm que mudar de atitude. Todos têm a responsabilidade de intervir nas causas de uma crise que é comum e afeta a todos. Ou seja, ao intervirem na realidade carregada de contradição as próprias pessoas, diretamente, são o instrumento de salvação divino-humana. Não é mais um ‘deus’ que governa sozinho e diretamente, mas um ‘Deus’ que age através de uma nova prática dos humanos. João, de fato, convidava as pessoas a assumirem um novo comportamento ético: ‘quem tem duas túnicas dê uma a quem não tem, e quem tem comida faça a mesma coisa’ Aos cobradores de impostos e aos policiais João dizia:’ Não cobrem mais daquilo que a lei manda, não pratiquem a corrupção e a extorsão, não prendam ninguém e não usem a violência...’ (Lc.3 ss.) A denúncia contundente e dura de João era acompanhada por um estilo de vida austero, despido de tudo. Atuava longe dos centros habitados, as cidades, e sim no deserto, o mesmo que, simbolicamente, se havia convertido o presente do próprio povo de Israel. O novo futuro devia ser preenchido por uma radical inversão de valores e atitudes. Valores que apontam para a defesa intransigente da justiça, de equidade, da integridade física e moral de todos os seres vivos. Jesus compreenderá que ao recolher essa mensagem-anúncio estará espalhando a Boa Nova em que Deus o Pai dos humanos quer construir com eles uma nova humanidade. Uma nova criação.

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