quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

A indústria das diárias federais nas terras indígenas. Carros e mordomias para deixar tudo como está!

Arame, 19 de dezembro de 2012
 
Eles avançam enfileirados. Parece até de forma discreta. São sete carros cor cinza com tração 4x4. Não levam placa de identificação, mas todos percebem que são carros oficiais. Do IBAMA, da PF, da FUNAI. É mais uma operação para pegar madeireiros clandestinos na terra indígena Araribóia. Todos estão à sua espera. Inclusive os madeireiros. Tudo cheira a farsa. Eles chegam à aldeia Zutiwa, município de Arame, pela manhã. Instalam-se nas dependências daquilo que antigamente era o posto da Funai. Sem pressa, descansam. Procuram os lugares mais aconchegantes para tomar banho e se refazer do cansaço. Não aceitam qualquer banheiro. Passam dois dias. Chega a notícia, deles mesmos, que pegaram um caminhão madeireiros na terra, mas sendo que estava sem madeira o liberam. Pouco adianta o comentário de um dos índios que argumenta que o madeireiro por ter sido encontrado dentro da sua terra mesmo não tendo madeira, por si só deveria ser interrogado ou detido ou evitar que possa avisar os demais madeireiros da operação em curso. Talvez tenha sido justamente uma decisão ‘estratégica’ para permitir que ele avise os demais a não entrarem na terra Araribóia enquanto durar a operação. Os índios da aldeia permanecem a olhar aquela movimentação espetacular e exibicionista de carros fechados, só no ar condicionado. Assumem aquele ar sarcástico de quem já viu a mesma cena. E já sabe que não leva a nada. Mesmo interrogados ficam ‘na deles’ sabendo que os homens do governo vão e eles ficam...arcando as consequências. Os índios sabem que não precisam se expor, denunciar e fazer nomes. Os funcionários do governo já sabem quem são e onde moram aqueles que hoje entram nas terras indígenas para saqueia-las. Sabem que eles gozam de cumplicidade e proteção de quem está naqueles carros de cor cinza e que, aparentemente, estão lá para persegui-los. Sabem que, afinal, o seu silêncio permite que funcionários federais, mais uma vez, possam acumular diárias de mais de R$ 300,00 para fazer um ‘auê’ que só vai contribuir a sangrar os cofres públicos.

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