sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

III domingo de advento - Só pela via transformadora podemos construir uma nova humanidade (Lc.3, 10-18)

‘Quem tiver duas túnicas, reparta com o que não tem, e quem tiver alimentos, faça da mesma maneira. 12 E chegaram também uns publicanos, para serem batizados, e disseram-lhe: Mestre, que devemos fazer? 13 E ele lhes disse: Não peçais mais do que o que vos está ordenado.14  E uns soldados o interrogaram também, dizendo: E nós que faremos? E ele lhes disse: A ninguém trateis mal nem defraudeis, e contentai-vos com o vosso soldo....

Com toda probabilidade esta foi a pregação que mexeu com o cidadão e peregrino Jesus de Nazaré! O deslocamento do então anônimo Jesus o Galileu, de Jerusalém à região do deserto da Judeia, certamente foi motivado pela fama que o pregador e profeta João Batista gozava na cidade. Lá, Jesus não encontrou um dos muitos pregadores fanáticos profetizando uma suposta próxima vinda do enviado de Javé, mas um cidadão que escancarava sua amargura e desilusão com o futuro da sua nação. Uma pessoa angustiada com a previsível falência e a inevitável implosão social e moral do seu povo. Os sinais eram claros e irrefutáveis. Todavia, era um homem atento aos movimentos históricos, e às frágeis, mas reais possibilidades de reverter um quadro que parecia já consolidado. João, numa última e desesperada tentativa de dar outra direção à nação que não fosse o fracasso nacional, decidiu convocar todas as pessoas para uma mudança social. Uma espécie de força-tarefa nacional, a partir do deserto!Só esta lhe parecia indispensável para evitar a autodestruição pessoal e nacional. Em outras palavras: ou os cidadãos e cidadãs de Israel começavam a superar a sua sede doentia de acumular e concentrar bens, de extorquir e corromper, de utilizar a violência e o abuso como métodos normais, ou o seu futuro de paz e união seria varrido do seu horizonte. Para aqueles ‘devotos’ que achavam que bastavam os seus holocaustos e oblações oferecidos no templo, ou a sua autoconsciência de pertencer à ‘nação santa e eleita’ o machado e o fogo os teriam definitivamente colocados à margem de tudo. Era urgente produzir, agora, frutos de ‘conversão’, ou seja, de justiça! Jesus que provinha da ‘rebelde Galileia’, formado nas inconformadas e resistentes aldeias do Norte, identificou-se imediatamente com o jeito e o conteúdo de João da pregação de João. Não somente se comprometeu, mediante o batismo, a levar adiante aquela mudança social, mas também a se tornar, ele mesmo, uma extensão do profeta. E o superou! Jesus depois dessa experiência iluminadora acreditou firmemente que em lugar da desgraça nacional poderia chegar a graça para cada ser. Em lugar do machado excludente e do fogo divino depurador, apareceria a compaixão e a vida em plenitude. Em lugar de um ‘messias’ uma multidão de homens e mulheres co-responsáveis pela integridade física e moral uns dos outros. Um novo jeito de governar em que só um Deus compassivo seria o único Rei.

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