Inicia-se oficialmente a semana santa. Santa por fazer memória do aprisionamento, tortura, julgamento, condenação, crucificação, morte-assassinato e ressurreição de Jesus, o ungido de Deus. Santa por se fazer memória de acontecimentos que teriam garantido, graças ao ‘sacrifício de Jesus’ a ‘salvação da humanidade’. Em geral, dá-se ênfase somente à morte e à ressurreição, deixando á margem as etapas preliminares, anteriores, vivenciadas por Jesus e que são essenciais para entendermos o seu desfecho.
Falar genericamente em paixão-morte e ressurreição dá a idéia de que tudo se deu dentro de uma naturalidade de fundo. De algo próprio ao ser humano, algo inevitável, ou seja, morrer e ser lembrado, posteriormente. Esquecemo-nos, frequentemente, que fazer memória da ‘semana santa’ significa resgatar arbitrariedades judiciais, abusos jurídicos, violação à incolumidade-integridade física das pessoas (tortura psicológica e física), armações e conluios entre poder judiciário-sinédrio e executivo- tetrarca/governador, execução da pena, ou seja, assassinato político, e assim por diante.
A partir de resquícios evidentes de um certo devocionismo sacrifical que herdamos da nossa formação religiosa e teológica, a nossa atenção se fixa, geralmente, nas imagens/cenas de um Jesus sofredor, paciente qual cordeiro, e que se sacrifica de forma livre e voluntária. Identificamo-nos e comovemo-nos com Maria e as mulheres que choram o sofrimento de Jesus, e com o Cireneu que ajuda. Indignamo-nos, um pouco menos, com a traição de Pedro, com o cinismo dos sumos sacerdotes e dos soldados romanos. Esquecemo-nos dos crucificadores de ontem e de hoje. Isso seria sinal de rancor pouco cristão, algo detestável para fins de edificação cristã. Pensamos e agimos seletivamente. Fomos educados a não alimentar sentimentos de indignação, raiva, irritação com quantos nos machucam, nos difamam, nos torturam e matam. Segundo isso somos convidados a remover esses sentimentos insanos e colocá-los no canto mais profundo da nossa consciência....
Proponho, portanto, nesta semana santa que:
A partir de resquícios evidentes de um certo devocionismo sacrifical que herdamos da nossa formação religiosa e teológica, a nossa atenção se fixa, geralmente, nas imagens/cenas de um Jesus sofredor, paciente qual cordeiro, e que se sacrifica de forma livre e voluntária. Identificamo-nos e comovemo-nos com Maria e as mulheres que choram o sofrimento de Jesus, e com o Cireneu que ajuda. Indignamo-nos, um pouco menos, com a traição de Pedro, com o cinismo dos sumos sacerdotes e dos soldados romanos. Esquecemo-nos dos crucificadores de ontem e de hoje. Isso seria sinal de rancor pouco cristão, algo detestável para fins de edificação cristã. Pensamos e agimos seletivamente. Fomos educados a não alimentar sentimentos de indignação, raiva, irritação com quantos nos machucam, nos difamam, nos torturam e matam. Segundo isso somos convidados a remover esses sentimentos insanos e colocá-los no canto mais profundo da nossa consciência....
Proponho, portanto, nesta semana santa que:
1. A nossa atenção se volte também para com aquelas pessoas, instituições, grupos que hoje em dia manipulam leis, pessoas, cooptam consciências, se deixam corromper com o objetivo de se livrar de pessoas incômodas como fez o sinédrio e seus asseclas. Ou seja, olhar, encarar e dar o nome aos crucificadores responsáveis por torturas, humilhações, ilícitos e arbitrariedades de todo tipo.
2. Jesus não caminhou rumo à morte de forma livre, serena, altiva. Não se ofereceu como sacrifício nem pela expiação dos pecados e nem pela salvação da humanidade, nem Deus lhe pediu tal gesto, pois Ele é o Deus da vida e não da morte. A cruz em si nunca é sinal de salvação. É o amor até à morte que salva! Jesus foi forçado por meio de coação armada a assumir uma cruz que não queria carregar. Ficou perturbado ao constatar que estava sendo assassinado e crucificado como resultado de uma arbitrariedade jurídica e política. Jesus ficou sim, perplexo e desnorteado, ao sentir – e não compreender - ‘o silêncio’ de Deus!...tal como pode acontecer conosco no dia-a-dia....
3. Não tenhamos medo de fazer aflorar e sentir emoções e sentimentos de irritação, raiva e indignação ao constatarmos a humilhação, condenação e morte-assassinato do ‘justo’. Não nos sintamos culpados ao sentir tais sentimentos. Afinal eles fazem parte do nosso ‘sermos humanos’, e manifestam que possuímos uma ‘estrutura ética’ interior a ser zelada. Isto não significa, entretanto, que tenhamos que revidar adotando as mesmas formas dos crucificadores que condenamos.
4. Tenhamos consciência que o que celebramos e vivenciamos não é dramatização devocional e arqueologia religiosa, confinada a um passado remoto cujo único protagonista é ‘o filho de Deus’, mas entender que a ‘paixão Dele é a paixão do mundo, a nossa paixão’, algo real, atual e profundamente existencial.
Boa semana santa!
Um comentário:
Oportuna a lembrança de Karapiru.
Seu registro foi ao mesmo tempo dramático e épico.
Porque não pensa em escrever um livro sobre tantos episódios envolvendo os índios em sua tentativa de continuarem existindo?
Que esta Semana Santa nos remeta a verdadeira "com paixão".
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