Há uma tentação que nos acompanha permanentemente para quem fala e escreve sobre o Natal: a de intelectualizá-lo e/ou de ‘sentimentalizá-lo’. Dois extremos, entretanto, que podem encontrar seu ponto de convergência e de complementação. Na concepção meramente sentimental-tradicional se dá a rejeição de quaisquer referências ao sentido original e profundo, histórico-teológico do Natal e se acolhe ingenuamente uma construção cultural que faz referência direta somente a luzes, perfumes, a cenários intimistas, surpresas, cheiros e brilhos típicos da temporada natalina seria um erro imperdoável. Não podemos desconhecer a força atávica da tradição cultural natalina, mas não podemos desvinculá-la totalmente de determinados significados primordiais sob o perigo de manipular e transformar tudo em artificialismos. Há ambigüidades em todas as realidades, mas é preciso ter consciência aonde elas podem nos levar. Há mercantilização simbólica, - e é difícil de nos livrar dela - mas é preciso perceber até onde vai a nossa dependência e o nosso cinismo.
Há, por outro lado, a tentação de ‘intelectualizar’ o Natal, desconhecendo a força dos sentimentos, das emoções e comoções que ele desencadeia e que afloram com um vigor ‘arcaico’ nesse período. Na ‘intelectualização’ tudo deveria ser explicado e canalizado para um determinado rumo e lógica. Tudo deveria encontrar significados e significantes supostamente sem contaminação, capazes de ‘purificar’ definitivamente uma festa considerada pelo senso comum ‘sempre mais pagã e consumista’.
Ilude-se que, mediante uma bem sistematizada reflexão bíblico-teológica, e ‘politicamente correta’ sobre o Natal, estaríamos recuperando a sua pureza original, e falando ao coração do ser humano atual. Falar e escrever sobre o Natal ignorando como as pessoas o sentem e o vivem de fato, com suas luzes e brilhos, com suas confusões simbólicas seria um descolamento a-histórico perigoso da realidade em que vivemos.
O Natal real é, afinal, a mistura de tudo isso. Não importam suas ambigüidades e contradições. Natal tem a magia inspiradora de criar um clima especial, único, na trajetória e experiência pessoal de cada pessoa para cada um se re-encontrar com sua própria humanidade.
Não existe uma outra festa como Natal, religiosa ou social – ou a mistura das duas – que tenha o poder de ‘arrebatar’ uma pessoa para o seu passado para fazer memória das etapas da sua existência. Explícita ou implicitamente o Natal acaba nos fazendo mergulhar no conjunto de expectativas, cuidados, proteções, sonhos que os nossos familiares vivenciaram em ocasião do nosso natal.
Não existe uma outra festa como Natal, religiosa ou social – ou a mistura das duas – que tenha o poder de ‘arrebatar’ uma pessoa para o seu passado para fazer memória das etapas da sua existência. Explícita ou implicitamente o Natal acaba nos fazendo mergulhar no conjunto de expectativas, cuidados, proteções, sonhos que os nossos familiares vivenciaram em ocasião do nosso natal.
É sempre em época de Natal que, tendencialmente, voltamos ao passado, à nossa infância. De lá recuperamos lembranças boas ou ruins de fatos e palavras, valores e traumas que acabaram influenciando bem ou mal o nosso hoje. O Natal, de alguma forma, nos permite uma sã autoterapia. Facilita, para quem sabe acolher as suas provocações, a confrontação e a reflexão sobre os verdadeiros sentidos da nossa vida.
Ao recuperar gestos e palavras do passado nos sentimos provocados a dar respostas para um futuro que continua sempre aberto. Para uma vida que pode ser reinventada e ser diferente daquela que vivemos hoje. Enfim, criarmos as condições para que outros ‘nascimentos’ sejam possíveis. FELIZ RE-NASCIMENTO A TODOS VOCÊS!
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