sábado, 7 de julho de 2012

Jesus na sua 'pátria': demais igual a nós para ter poder mais do que nós! (Mc.6,1-6)


No imenso e agudo anonimato em que vivemos parece existir uma forte necessidade de aparecer. De mostrar que existimos. Que temos força e capacidade de interferir. Não é importante se para o bem ou para o mal. Parece até que uma exposição ampla e prolongada de uma pessoa ou de uma instituição ajudaria a firmar a idéia de que seria também maior o seu poder de intervenção e de interferência. E, do outro lado, reforçar-se-ia a idéia de que quem não possui visibilidade tampouco teria força para modificar realidades e pessoas. E mais: para conseguir o poder de transformar teria que apelar necessariamente para alguém externo a ele, àquele que tem ‘visibilidade’ e que tem ‘prestígio e poder’! Se, além de tudo isso, o ‘visível e poderoso’ tem sua origem um tanto desconhecida, misteriosa, a expectativa com relação a ele aumenta consideravelmente. Ocorreu-me isso, como ponto de partida, ao refletir sobre o evangelho hodierno de Marcos e sobre a nossa realidade. Em Jesus se agrupam alguns desses elementos. Ele era razoavelmente conhecido e possuía, de fato, alguns poderes específicos. Reconhecidos inclusive por seus opositores.
Faltava, porém, a Jesus, um elemento que era essencial para ele captar as atenções, o consenso, e conseguir a aceitação do seu ‘poder’ e da sua força: a sua origem desconhecida e misteriosa. A origem de Jesus era conhecida demais em Nazaré! Nada de misterioso e de oculto havia nele. Ele era, afinal, um deles. Mesmo que tivesse mais fama e exposição que os habitantes daquela aldeia, Jesus não seria maior e mais poderoso do que eles. Por que acreditar, então, que Jesus faria a diferença? Que teria poder de interferir e modificar seus destinos? Chama-nos a atenção o fato de que Jesus não faz nada para provar uma sua suposta ‘superioridade’ ou um ‘algo a mais’ que os seus compatriotas não possuíam. Ao contrário, parece ser Jesus aquele que se escandaliza diante da sua ‘incredulidade’. É ele que fica decepcionado e indignado com a reação daqueles que ele conhecia bem: parentes, amigos e membros de comunidade. Para Jesus parece ser natural curar, acolher os pecadores, expulsar demônios, anunciar a graça e a esperança. Despertar, enfim, a fé nas pessoas. Fé não tanto na sua pessoa quanto em Deus e na sua justiça! Para Jesus parece ser esta uma missão a ser acolhida e assumida por todos. Com maior razão pelos seus patrícios que conhecem a sua coerência de vida! É justamente aí que se dá o maior fechamento. Um fruto maduro da inveja, do ciúme, da mesquinhez e pequenez humana. Jesus nos ensina que os profetas e as profetisas estão entre nós. Não possuem muita exposição e fama. E seu prestígio não é divulgado e comercializado. Têm rostos conhecidos. Nada de misterioso de suas vidas nos é ocultado. É na ‘invisibilidade e no silêncio’ de suas escolhas corajosas e coerentes que se esconde a sua ‘força moral’ capaz de construir uma nova humanidade. Uma nova ‘pátria’. Não construída por ‘messias’ glamorosos e por ‘salvadores’ carismáticos, mas por um povo de profetas e profetisas que não cansam de curar as feridas de agonizantes sem pátria e sem esperança.

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