Sábado 28 de fevereiro houve em São Luis o lançamento oficial da Campanha da Fraternidade promovida pela CNBB a nível nacional. Mais uma tentativa da igreja católica em contribuir para motivar e mobilizar não somente católicos, mas a sociedade inteira, contra a insegurança pública que toma de conta do País.
Notável a visão/compreensão da instituição quando nos lembra que “segurança pública” é algo que transcende a mera segurança física, a violência física, no caso. Ela entende segurança pública num sentido amplo e abrangente que incorpora a defesa da integridade física, moral, cultural, emocional da pessoa e da coletividade simultaneamente.
Ainda mais quando não identifica a superação da “insegurança pública” como algo meramente relacionado à responsabilidade/obrigatoriedade dos aparelhos do estado – polícia, judiciário, guardas municipais, etc. - e sim como um compromisso e responsabilidade de todos os cidadãos e cidadãs. Resgata assim, o sentido profundo do “ser público”.
Por causas dessas premissas e compreensões é que fiquei decepcionado com a solenidade que ocorreu neste sábado passado em São Luis. Ao fazer convite explícito e ao conceder a palavra ao governador, ao prefeito da cidade, à secretária estadual de ‘segurança pública’, à Procuradora do Estado - representantes oficiais dos aparelhos do estado, - os promotores da solenidade/celebração desqualificam simbólica e politicamente a compreensão/atuação segundo a qual “segurança pública é compromisso de TODOS”, pois remetem, contraditoriamente, mais uma vez, ao próprio estado. Se havia o intuito por parte dos promotores de envolver afewtiva e politicamente os órgãos de estado na questão da segurança pública não era durante uma celebração litúrgica o espaço mais adequado para fazê-lo e sim, em outras instâncias já previstas em lei.
Teria gostado de ouvir na celebração litúrgica o testemunho de grupos de famílias que a partir da realidade de seu bairro estão se organizando para combater e/ou amenizar os efeitos da fome, garantindo ‘segurança alimentar' para todos;
Teria gostado de ouvir o testemunho de trabalhadores nas indústrias e no comércio em suas lutas para diminuir os acidentes e as doenças contraídas no trabalho, ao tentar garantir ‘segurança no trabalho’ para todos.
Teria gostado de ouvir o testemunho de alguns quilombolas ou indígenas para dar o seu testemunho sobre o que significa habitar um território inseguro, invadido permanentemente por madeireiros, mineradoras e empresários da soja e do eucalipto, semeando insegurança não só territorial, mas cultural e física.
Teria gostado ouvir o testemunho de presos ou ex-presos para conhecer o que é reservado a tantos cidadãos que são presos injustamente, ou que já cumpriram a pena, mas a justiça os ignora; ou quando são interrogados como suspeitos em nossas delegacias na base de porradas e torturas; ou quando são tratados como animais brutos dentro das nossas masmorras ou, enfim, quando saem delas não encontram um cidadão disposto a lhes oferecer um gesto de confiança para voltar à sociedade e usufruir e construir segurança com outros cidadãos.
Pena. Nada disso eu vi!
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