Morreu Saramago o grande escritor português, e prêmio Nobel da Literatura, após muitos anos de espera. Escritor polêmico, comunista, anti-clerical, ateu. Sabe-se que o Vaticano ao receber a notícia que Saramago havia recebido o prêmio Nobel de literatura liquidou o acontecimento afirmando que ‘Saramago é um comunista inveterado’ – como se isso não fosse condição para ser um bom escritor!
Nós brasileiros, inclusive eu, naturalizado, o conhecemos não somente pela sua produção literária, mas pelo seu compromisso e ligação que tinha com os grandes movimentos sociais nacionais e com as grandes causas da justiça e da equidade. Só isto basta para fazê-lo um grande.
Quanto ao ’problema DEUS’ que permeia a sua obra, não há como separar o escritor do ‘deus’ que ele mesmo cria quase que a persegui-lo constantemente. Na medida em que o escritor lhe atribui inúmeras facetas – reproduzindo, no fundo, o ‘deus deformado’ (autoritário, egoísta, cruel, desumano...) de uma religiosidade clérigo-patriarcal moralista– Saramago acaba afirmando-o e tornando-o presente na vida dos humanos.
No fundo, é como se o escritor dissesse aos seus leitores: ‘ Não acreditem no deus de que eu falo. Pensem e acreditem no deus que age de forma contrária a quanto descrevo!’. Afinal, o ateu Saramago, pela via negativa, nos deixou provas tangíveis do que significa acreditar em Deus, hoje! Agora, ele terá que contemplar Deus ‘face a face’, por toda a eternidade. Era ‘essa chatice’ que ele queria evitar, como disse numa bela entrevista na tevê Cultura! Graças a ele a língua lusitana escreveu o seu nome no álbum dos ‘imortais’!
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