Descrever o que ‘os outros ‘ pensam sobre uma determinada pessoa ou realidade é relativamente fácil. No máximo, pode-se correr o perigo de reproduzir suas opiniões de forma incompleta e parcial. Difícil é ‘nós mesmos’ dizer o que realmente pensamos sobre pessoas e realidades. Isto nos expõe e nos revela. Podemos nos esconder atrás de opiniões vagas e genéricas, ou até reproduzir o que ‘outros’ falam sob uma maquiagem de ‘pensamento pessoal’, mas, mais cedo ou mais tarde, a máscara cai. De qualquer forma iríamos nos revelar: ou autênticos, ou falsos e aproveitadores!
Expressar com sinceridade o que pensamos sobre uma pessoa acaba revelando também o tipo de relação que possuímos com ela, o que ela significa para nós, a sua importância na nossa vida. Admirar uma pessoa, por exemplo, significa admirar também os seus projetos de vida, os seus valores, os seus sonhos, as suas opções de vida. Não podemos ignorar, tampouco, que na hora de nos manifestar sobre uma determinada pessoa podemos ser fortemente condicionados por várias circunstâncias. Pode ocorrer, de fato, que a pessoa que admiramos, naquele momento, seja objeto de perseguição, de calúnia e difamação por parte de outras. Como seria a nossa reação e opinião sobre ela numa circunstância dessas? Assumiríamos, por exemplo, a nossa amizade e admiração para com ela, ou teríamos medo de revelá-la, temendo conseqüências imprevisíveis? É nessas hora que se vê a verdadeira amizade e amor para com uma pessoa.
O evangelho hodierno de Lucas enfrenta de forma explícita a relação e a compreensão que os discípulos/comunidades cristãs tinham a respeito de Jesus justamente numa situação de perseguição. Afinal, relatar o que os outros achavam a respeito de Jesus não implicava maiores responsabilidades para os discípulos e comunidades. Tampouco se esconder atrás de ’fórmulas dogmáticas’ já consolidadas pela tradição (tu és o Cristo!) não significava assumir publicamente a amizade e a admiração pessoal para com Jesus. Se assim fosse era preferível ficarem calados, e não divulgar! A questão central era conhecer Jesus e segui-lo mediante a experiência da cruz, renunciando a projetos e ambições pessoais.
Jesus, ao afirmar que o esperava um futuro repleto de rejeição, de perseguição e morte, queria apontar para os seus seguidores/admiradores de que O conheceriam de verdade somente se eles também fizessem a sua mesma experiência de sofrimento. Não estava com isso proclamando uma ‘religião do sacrifício e da mortificação’, ao contrário, estava sabiamente alertando de que a coerência e a fidelidade a uma pessoa/projeto de vida passa necessariamente por situações limites, de provação, de angústia e de cruz.
Uma pessoa que se diz seguidora e discípula de Jesus, e que só fica a repetir mecanicamente que Ele é o Salvador, o Enviado do Pai, o Filho de Deus, o Senhor da nossa vida - sem ser Seu parceiro solidário nos calvários da vida, deixando morrer dentro de si a sua empáfia e arrogância de se sentir o ‘salvador’ do mundo – não tem estrutura moral e humana para salvar e se salvar das conseqüências do seu oportunismo hipócrita. A sensação de salvação e vitória inicial pode se transformar mais adiante na comprovação real de fracasso humano.
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