Na nossa profunda insegurança, nós humanos, muitas vezes, nos agarramos e depositamos nossa confiança em ‘coisas’. São objetos, mercadorias, produtos que são criações dos nossos próprios desejos, sonhos, aspirações. Algo finito, passageiro, que se corrompe e desgasta. Como, então, depositar nisso as aspirações mais profundas da nossa ‘alma’? Como achar que vamos encontrar ‘segurança’ naquilo que por sua própria natureza é ‘inseguro’ e efêmero? Claro, nós vivemos também de emoções e sensações, mesmo que pontuais e de rápido efeito. Muitas vezes nos sentimos profundamente inebriados ao contemplar e usar todos aqueles objetos que ‘possuímos’. Na maioria das vezes são de escassa utilidade, mas acreditamos que ao expô-los publicamente nos proporcionam prestígio, reconhecimento público, força social e econômica. Ao contrário, muitas vezes, não tomamos consciência de que eles expõem as nossas verdadeiras carências. Os nossos desejos reprimidos e a nossa necessidade de emergir. São expressão da nossa vontade inconsciente de encobrir um passado de necessidades materiais ou escancaram a nossa dependência e submissão escrava a ‘coisas’. São uma mensagem para dizer ao mundo que, enfim, graças à posse desses objetos, nós existimos!
Jesus, sem ter feito apurados estudos sobre o comportamento humano, havia percebido algo que estava presente no ser humano e que o destruía, aos poucos, por dentro. Jesus não condena a mera posse dos bens, mas o fato de os humanos ‘doarem suas almas/vidas’ a eles. Ou seja, entregarem o que eles têm de mais profundo: sua liberdade, sua consciência, sua abertura ao infinito, para ídolos criados por eles próprios. De forma sutil Jesus desmascara quantos querem ocultar a sua dependência da ganância tentando justificar que seus ‘inúmeros bens’ são fruto de sua capacidade produtiva, de sua iniciativa e criatividade, ou pior, que é dádiva de Deus. Historicamente se tem apregoado e abençoado a prosperidade que vem Deus. Esta seria uma forma de Deus reconhecer e abençoar aqueles que acumularam bens apelando para o Seu nome santo. Para Jesus essas pessoas não passam de ‘insensatas’ que ainda não compreenderam que o que dá sentido à sua breve existência humana é serem ‘ricos para Deus’! Ou seja, livres para partir o pão com o faminto e fazer comunhão com ele, livres de tanta roupa, máscaras, medos, ambições que nos mantêm cativos de nós mesmos.
Livres, enfim, para contemplar os lírios do campo.....
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