"Ouvimos zoada de carros. Sai da minha casa e vi que eram cerca de oito carrões. Deles desceram rapidamente mais ou menos 30 homens. Alguns com capacete. Quase todos de fuzil e espingarda. Começaram a gritam e a apontar as suas armas em todas as pessoas que se encontravam no pátio. Foi um momento de pânico." Começa assim o relato de um grupo de mulheres indígenas e alguns homens que presenciaram mais uma manifestação de truculência policial jamais vista anteriormente. Ocorreu terça feira passada, 23 de novembro às 7,00h. na aldeia Barreirinha, na terra Canabrava dos índios Guajajara. A mesma aldeia que havia dado vida a um protesto pacífico contra os descasos do Governo do Estado do Maranhão, réu de não cumprir acordos formais assinados com as lideranças indígenas da região para normalizar a situação do transporte escolar para os seus estudantes. Na ocasião o delgado da Polícia Civil de Barra do Corda mudou o rumo do protesto ao atirar brutalmente em vários indígenas, ferindo seis.
‘Os homens da lei’ mal disseram aos indígenas que estavam cumprindo mandatos de apreensão e detenção de indígenas suspeitos de cometerem ilegalidades. Em momento algum disseram quem havia expedido aqueles mandatos. Possuíam uma lista de procurados, mas eles detinham e revistavam todos os que encontravam no caminho. "Me ameaçaram com uma espingarda. Apontaram a arma para mim, bem aqui na minha cabeça. Tive que levantar os braços e me empurraram na parede. Revistavam todos. Até a casa do cacique foi arrombada. Acho que estavam atrás de armas, mas não acharam nada porque ninguém anda armado por aqui. Imagina que até o meu vizinho que vive em cadeira de roda gritaram para ele levantar os braços e ir à parede!" Esse depoimento de um indígena de Barreirinha é enriquecido com mais pormenores por outros indígenas. Eles contam que as crianças ficaram traumatizadas. Choravam e corriam ao verem aquele espetáculo horripilante e inédito. Alguns dias após o acontecimento uma mãe falou que havia deixado sozinho por alguns instante o filho dela de 4 anos, mas logo ele começou a chorar e a chamá-la com medo que viesse a polícia para prendê-lo e machucá-lo. Ainda hoje há pessoas morando no mato e com medo de voltar à aldeia. As imagens de mais de 30 policiais correndo pela aldeia aos gritos e jogando ao chão alguns dos procurados estão gravadas na mente e fazem reviver momentos de pânico e horror. Continuam sentindo indignação ao lembrar os abusos policiais. Lembram que pelo menos três homens foram presos, algemados, colocados no camburão e após terem provado com documentos a sua identidade, e que não faziam parte dos procurados, os colocavam em liberdade. Após uma hora de ostentação de força bruta, ignorando os abusos que vinham cometendo, os policiais saíram para outra aldeia próxima.
As demonstrações espalhafatosas de força da polícia conjunta nas aldeias dos Guajajara da Canabrava parecem ser uma resposta àqueles setores da sociedade sedentos de retaliação para com ‘aqueles índios desordeiros’ que haviam bloqueado a BR 226 no dia 7 de novembro. Os promotores dessa ação quiseram associar ideal e operacionalmente a indignação produzida pelos protestos indígenas na BR 226 com a raiva social pelos casos de assaltos praticados na mesma BR, supostamente por gangues indígenas e não indígenas. Contudo, uma coisa não tem a ver com a outra. A lista dos procurados é antiga e estava nas mãos das autoridades policiais há pelos menos dois anos. Estranhamente, quiseram cumprir os mandatos somente agora. Para aplacar a ira dos anti-indigenas e inflamar a sua raiva racista. Para dizer à sociedade que todos os índios são iguais, - os que protestam pacificamente e os que assaltam. Para provar que nessa nova legislatura há governo. Nem que seja para reprimir homens, assustar crianças, mulheres e idosos indígenas.
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