Existem circunstâncias na vida das pessoas em que a ostentação exacerbada de poder é uma forma de camuflar fraqueza. Fragilidade interior. O exibicionismo da força, do prestígio, da capacidade de interferência esconde formas de inferioridade pessoal. Tornam-se, portanto, uma espécie de compensação. Quanto mais fraco, mais forte quer aparecer. Há, todavia, circunstâncias em que a aparente fragilidade pode revelar poder moral. A aparente ausência de poder ‘externo’ pode manifestar uma força de interferência contagiante. Os que externam o seu poder e cultuam o reconhecimento público sabem que conseguem influenciar o comportamento de outras pessoas somente mediante formas de dominação. De ameaça ou coação. E não por livre adesão a eles. Em geral, quem possui força moral, carisma, capacidade de se sintonizar com a alma humana, só utiliza a persuasão do seu testemunho. A sua coerência, silenciosa e firme. Não precisa ser acompanhado por sinais visíveis de força e poder. É na sua fragilidade exterior, no seu esvaziamento externo que se revela com mais intensidade o seu poder moral.
O evangelho hodierno retrata muito bem o que significa ter poder. Poder moral, aquele que mexe com as motivações e as atitudes das pessoas. Não na ostentação de comportamentos monárquicos, e sim, na morte de cruz, Jesus manifesta a ‘realeza’ que questiona o agir humano, e convida ao serviço extremo. A vida inteira de Jesus parece ser uma fuga permanente de todo tipo de tentativa de querer fazê-lo ‘rei’ à moda romana/humana. O poder de Jesus se manifesta no seu radical esvaziamento, inclusive o físico. A morte, que para os humanos é sinal de fragilidade absoluta, negação do ser/poder, torna-se em Jesus manifestação de seu modo de ‘ser e estar com’ os humanos. Um que está entre os humanos como ‘aquele que serve’. Até o esgotamento total. Ao mesmo tempo, o modo de agir/ser de Jesus torna-se denúncia contra todo tácito desejo humano de ser monarca, poderoso e influente. ‘O rei dos judeus’ que morre numa cruz como um rejeitado, aponta para os ambiciosos e sedentos ‘reizinhos’ que o poder, seja ele qual for, é para acolher, proteger e humanizar as pessoas.
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