Os ‘eventos’ não podem ser mudados. Não há como interferir neles, após a sua consumação. Mas eles podem ser refletidos e analisados. Podemos estudar os seus impactos. Tirar lições de vida. Afinal, eles revelam escolhas e interesses pessoais e de grupo. Podemos identificar a intensidade dos valores, dos projetos, das maldades, e das formas de indiferença que estão em jogo. Podemos apontar também atores e protagonistas que permitiram a realização de um ‘evento’. Podemos, enfim, prever as conseqüências de determinados eventos. Ao contrário dos ‘eventos’, o ‘ad-vento’, ou seja, o que ainda não foi consumado, pode ser construído e realizado com uma direção e com uma ótica próprias. Ad-vento é o futuro que ainda não foi escrito. Que pegará um jeito ou outro, a depender dos rumos, dos valores, e do grau de interferência que os humanos embutirão nele. Nesse sentido o ‘ad-vento’ é abertura absoluta ao inédito, ao novo. Poderemos, a partir da análise do conjunto de eventos re-criar outros eventos. Estes sim, modificados e transformados segundo intencionalidades novas. É preciso, porém, ‘estar atentos’, vigiar e compreender sobre o que já se passou. Para não repetir contradições. Para não reproduzir as mesmas maldades. Para não continuar a multiplicar as mesmas formas de indiferença, de injustiça, e de falta de participação nos eventos futuros a serem construídos.
Nesse sentido o advento litúrgico que iniciamos é uma forma pedagógica sempre renovada para nos educar a sermos permanentemente protagonistas ativos e criativos da nossa história. Esta, afinal, não é determinada ou escrita por um destino obscuro. Manipulada por um ‘deus’ extra-humano. Ao contrário, ela é o resultado de ações e intenções, de interesses e valores em permanente disputa entre si. O futuro/advento terá o rosto e a direção daqueles que souberem imprimir com maior intensidade a força dos seus valores que os motivam a agir de um jeito ou de outro. Quem permanece espectador da história ou, pior, vive alheio a ela, ‘comendo e bebendo’ sem nenhuma ligação direta com o que ocorre ao seu redor, será uma mera vítima dos acontecimentos futuros. Alguém engolido e afogado pelo dilúvio da irresponsabilidade social.
Advento é, enfim, capacidade de perceber a hora do Deus de Jesus Cristo. O momento certo para fazer acontecer a verdadeira justiça. A autêntica compaixão. O discípulo/a Dele, não fica a esperar passivamente. Ele mesmo constrói, aqui e agora, de uma forma própria,‘transformando lanças e espadas em arados e foices’. Abrindo ‘novos céus e novas terras’. Afinal, ‘quem sabe faz a hora não espera acontecer’. Ele mesmo faz acontecer...o futuro que está por vir.
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