sábado, 31 de março de 2012

Em Jerusalém Jesus assume publicamente sua identidade e experimenta a intolerência das instituições! (Mc. 14, 1-15,47)


Há um fio muito sutil que separa a rejeição da intolerância. Poder-se-ia dizer que uma pessoa é intolerante, logo, rejeita alguém. Poderíamos, no entanto, afirmar que uma pessoa pode fazer a experiência de se sentir rejeitado, mas não necessariamente a de se sentir ou ser, de fato, perseguido. O intolerante, ao contrário, não simplesmente rejeita o diferente, mas o persegue. O intolerante por se achar o único dono da verdade, não permite que alguém acredite e pregue algo diferente daquilo em que ele próprio acredita. Ele não tem paz enquanto não destruir o outro. O diferente. Aquele que poderia promover uma ‘verdade’ que não seja a que ele confessa! Todos nós conhecemos pessoas intolerantes. Mas muitas vezes não possuem força e poder suficientes para boicotar e apagar o ‘diferente’. Quando falamos, porém, de ‘instituições intolerantes’, alicerçadas em convicções dogmáticas, as conseqüências são outras. Elas acham que possuem o ‘poder legítimo’ para destruir o ‘diferente’. Apagá-lo e, pior, manipular para obter o consenso-aprovação das massas. Enfim, sentem-se legitimadas por ‘poderes que vêm do alto’ em sua ação purificadora. Orgulhosas de ter livrado a sociedade de ‘minas ambulantes’ que poderiam colocar em risco a paz, a segurança e a doutrina da nação/cidade/igreja/estado.

Jesus entra oficialmente em Jerusalém. Não mais como um anônimo romeiro. Ou como um devoto freqüentador do templo. Como já o havia feito outras vezes. Ele entra, agora, assumindo a sua identidade de ‘mestre profeta da Galiléia’. Como ‘enviado e consagrado’ pelo Pai para construir ‘um outro reino’! Um profeta que em sua pregação/missão, - apesar de ter experimentado inicialmente aceitação pública, - acabou sendo clamorosamente ‘rejeitado’ pelos seus, em sua própria terra. Ao entrar, agora, em Jerusalém, a capital, Jesus expõe e assume publicamente suas práticas e seus pensamentos. Não mais para ‘os seus’ da Galiléia, mas para as instituições mais sagradas e importantes da ‘nação’! Em seu próprio espaço físico. No lugar onde elas determinam, controlam e julgam. Jesus deve ter intuído que aqui não existem somente conflitos interpessoais, mas conflitos institucionais. Não mais formas de mera rejeição à sua pessoa e á sua mensagem, - algo que já havia experimentado, - mas intolerância radical a tudo o que ele era e representava.

Jerusalém, a cidade dos ‘três poderes’, somados ao dos Romanos, continua a silenciar, a perseguir e a matar seus profetas. Aqueles que não rezam suas cartilhas e catecismos. E que não temem seus anátemas. Que não aceitam o espetáculo e o exibicionismo dos altares e das telinhas midiáticas, mas o serviço fraterno e anônimo a tantos pequenos sofredores. Talvez sejam esses ‘sofredores invisíveis’ os únicos que ainda sabem ‘abrir espaço’ para ‘tantos Jesus’ que continuam preferindo montar um ‘jumentinho’ a montar os ‘cavalos brancos imperiais’!
Boa semana santa!

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