quinta-feira, 3 de março de 2016

OBRAS DE MISERICÓRDIA CORPORAL - 2. Dar abrigo e afeto aos desamparados - Por padre Claudio Bombieri

Jorge Houassi é um jovem de 28 anos, alto, magro, negro. Natural de Haiti, terra pobre e castigada pelo terremoto, Jorge chegou ao Brasil 5 anos atrás à procura de emprego. Batia de casa em casa. Desconfiadas, as pessoas nem abriam a porta. Passava a noite deitado debaixo de uma puxada de uma velha casa abandonada. Várias vezes foi submetido a vergonhosas manifestações de racismo. Só depois de quase um mês de peregrinar pelas ruas da cidade descobriu um ‘abrigo’. Era o salão paroquial da igreja de Nossa Senhora de Guadalupe que a comunidade o havia transformado em casa de acolhida para moradores de rua e refugiados estrangeiros. A partir daquele momento a esperança voltou a renascer na vida de Jorge. Jorge havia experimentado de um lado o mesmo drama de Maria e José, o de não encontrar um aconchego físico e afetivo, mas, do outro lado, graças à paróquia de Nossa Senhora de Guadalupe, ele havia experimentado também o que significa ‘misericórdia’. A grande imprensa, em geral, não informa que inúmeras paróquias da nossa igreja católica no Brasil, de Norte a Sul, vêm dando um verdadeiro exemplo para governos estaduais e municipais do que significa amparar o desabrigado e desamparado, ao acolher não somente milhares de cidadãos vindos da Síria, do Haiti, do Congo e de outros países da América Latina, mas também a muitos moradores de rua. Não só os abriga fisicamente como os ajuda a encontrar emprego, legalizar a sua permanência no País e, principalmente, a curar as feridas da dor e da rejeição. Hoje, no mundo, mais de 51 milhões de pessoas de diferentes países para fugir da guerra e da fome se arriscam a atravessar os desertos do medo, os Mediterrâneos e os Oceanos da intolerância e da hostilidade.  Assistimos, simultaneamente, a um novo e intenso êxodo de multidões para as grandes cidades. O número de cidadãos no mundo que moram em favelas nas grandes cidades aumentou de 760 milhões, em 2000, para 863 milhões, em 2012. Segundo o IBGE de 2012 no Brasil existem cerca de 2 milhões de moradores de rua, e quase 7 milhões de pessoas vivendo em moradias precárias. O Papa Francisco continua a conclamar a sociedade a mudar as estruturas iníquas, mas também convida, concretamente, as famílias de ‘coração misericordioso’ a abrirem as portas da sua casa e do seu coração para acolher e confortar as vítimas da guerra e da intolerância familiar. Isso mesmo: muitas pessoas no nosso País, por serem vítimas do álcool, de entorpecentes, de doenças mentais ou, simplesmente por serem idosos, são humilhadas e expulsas de suas casas por seus próprios familiares. Largadas na rua só conhecem o desprezo público. Essa trágica realidade indica que chegou a hora de termos menos cercas elétricas, e mais compaixão coletiva; menos alarmes, e mais abrigos físicos e afetivos; menos ‘limpeza social de mendigos’ e mais políticas assistenciais efetivas. A Cidade e as nossas casas não podem ser transformadas em ‘casas de detenção’, ou em novos ‘campos de concentração’. Para os misericordiosos permanece o desafio-testemunho de construir a ‘casa comum’ onde todos os seres vivos encontram respeito e proteção. Infelizmente, em pleno 2016 ‘os pássaros têm seus ninhos, e as raposas suas tocas, mas muitos ‘filhos dos homens ainda não têm onde pousar a cabeça’ e traquilizar o coração.
 

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