quarta-feira, 10 de outubro de 2018

10 de outubro - São Daniel Comboni - Uma testemunha atual contra a escravidão!



CARTA DE DANIEL COMBONI A SEUS MISSIONÁRIOS
                                                                                                              

                                                                                            Cartum, 15 de abril de 1874


Meus amados irmãos missionários, 
                                                       que Jesus, o Príncipe da paz, esteja com todos vocês.  

Escrevo-lhes após uma longa e cansativa viagem. Não quis esperar sequer um dia para entrar em contato com vocês, e decidi fazê-lo agora, mesmo cansado. Senti a necessidade de comunicar o que presenciei na cidade de Santa Cruz e partilhar com vocês minhas angústias e temores. Conheço cada um de vocês e sua disposição. Rezo constantemente ao Pai que os conserve sempre nesse Espírito de doação. 
        Como lhes dizia, na quarta-feira, 13, me encontrava na cidade Santa Cruz. Eram mais ou menos 10.30 da manhã e estava indo para a escolinha da paróquia na companhia do padre Mário. Subitamente, de uma esquina da praça do mercado central vi um grupo de aproximadamente 80 pessoas, escravizadas na sua maioria homens, mas havia também umas 20 mulheres jovens. 

                         O grupo estava chegando próximo ao mercado central, onde eu me encontrava e onde se vendem os escravos. Todos eles avançavam lentamente, acorrentados nos pés e nas mãos, sendo tangidos como se faz com animais brutos por três homens que eu suponho serem capatazes ou comerciantes de escravos. A visão daqueles coitados me fez estremecer. Eram magros, queimados pelo sol, com os pés feridos, e com o semblante de quem estava sem comer há vários dias. 
                               
                             Indignou-me demais a atitude brutal dos três capatazes que iam e vinham com um chicote. Ora nas costas de um, ora nas costas de outro, baixavam com violência aquele instrumento de tortura deixando marcas avermelhadas nas costas e, em alguns deles, expondo o sangue vivo. 
Como não me lembrar, naquele momento, da paixão de nosso Senhor Jesus Cristo subindo ao Calvário? Deu-me um forte impulso para correr até eles e segurar a mão daqueles desumanos. Por um instante queria ser o Cireneu que carregou a cruz do nosso Salvador. 

                                        Irmãos, vos suplico, vamos dobrar os nossos esforços para por fim a essa praga da escravidão. Como já lhes dizia no nosso último encontro, vamos intensificar nossos contatos com a embaixada para tentar resgatar pelo menos alguns deles, e combater a pior das violências: a tortura física e psicológica, a humilhação e a negação da liberdade que fere a dignidade dos descendentes de Adão e Eva que foram criados para a liberdade. Que o Pai celestial nos ilumine nessa árdua missão. 

                                              Vosso Daniel

(Livremente reelaborada pelo blogueiro)

Nenhum comentário: