domingo, 7 de fevereiro de 2010

Lc.5,1-11 - Abandonar a lógica do custo-benefício e jogar as redes da solidariedade nas águas profundas e turvas da vida!

Lucas nos apresenta através do cenário da pescaria do lago de Genezaré a realidade da primeira comunidade cristã, cerca de 30 anos após a morte de Jesus de Nazaré. Não há nenhuma intenção de apresentar um Jesus milagreiro e poderoso, e sim fazer emergir o Pedro missionário diante dos desafios da evangelização. Pedro havia 'pescado' - justamente como convém a um pescador profissional, - durante a noite. Nada havia conseguido. A lógica de Pedro é desafiada quando Jesus pede que se afaste da beira, avance para águas mais profundas e pesque de dia. Tudo o contrário daquilo que havia feito até então. O resultado foi uma pescaria super-abundante.
Aqui está um princípio adotado pelo Jesus de Nazaré histórico: cuidar das ovelhas perdidas, impuras e rejeitadas de Israel, indo contra a lógica farisaica de amar somente o 'próximo' ou seja, quem vive ao seu lado, os seus conterrâneos e familiares. Jesus provoca a lógica de Pedro ao convidá-lo a investir naquelas situações e circunstâncias desconhecidas e que produzem medo e incerteza. Ao mesmo tempo o provoca ao não exigir dele fé absoluta. Jesus aceita Pedro com suas dúvidas e temores. Só exige coragem para jogar as redes num território que lhe é desconhecido. É justamente aí, que muitas vezes, de forma supreendente, colhem-se frutos abundantes e inéditos.
Acredito que hoje a igreja é chamada a acolher a mesma lógica e metodologia de Jesus de Nazaré e de Pedro. Este, afinal, concretizou a lógica de Jesus ao mergulhar nas águas profundas do império Romano, em Roma. A igreja, hoje, parece vítima ainda do príncipio e lógica perversa da relação custo-benefício. Investe preferencialmente naquelas situações em que vislumbra retorno para ela, seja em termos de novas adesões, prosélitos, reconhecimento público, recursos. Ela acaba deixando de lado aquelas realidades que ela não 'domina', não conhece e que a assustam.
Pensemos por um instante a realidade de numerosas periferias urbanas, mergulhadas na violência mais brutal. Uma violência que não é produzida somente por setores sociais que supostamente vivem à margem do mercado e do estado, mas é produzida também pela iniquidade e negligência do próprio estado. Uma violência que vem matando a capacidade de resistir e de lutar de muitos cidadãos e cidadãs que já não acreditam mais que seja possível humanizar a cidade. É nessas águas turvas e profundas, na fulgurante luz do dia, afastada da beira de suas estruturas seguras e poderososas que a igreja é chamada a acolher o convite de Jesus de Nazaré: jogar as redes da paz, da solidariedade, do diálogo, da humanização lá onde ninguém as joga por achar que lá não vai pescar nenhum peixe!

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