sábado, 20 de fevereiro de 2010

" A única tentação de Jesus" - É quaresma de superação!

Muito oportunamente a igreja escolheu o tema da economia relacionada à vida em ocasião da Campanha da Fraternidade de 2010. Não é para menos. Crises financeiras abalando mercados e bolsas de valores, mas, sobretudo, empobrecendo famílias, desempregando pessoas e criando um clima de ‘salve-se-quem-puder’. Tudo isso vem ocorrendo por uma forte componente que parece impregnar o novo DNA humano: a fome e sede de possuir e dominar, de comprar e consumir.

É evidente que não nascemos com esse tipo de fome e sede, mas nos tornamos famintos e sedentos de ter e consumir a partir de hábitos culturais que nos são impostos ainda em tenra idade. Respiramos desde cedo a ânsia/pulsão de comprar e ter como ‘nosso’ qualquer coisa que nos é apresentada como essencial para a nossa felicidade humana e profissional, mesmo sabendo que não passa de um bombardeio de propaganda barata. A não aquisição e posse ‘disso e daquilo’ parece nos isolar do resto do mundo e fere mortalmente a nossa auto-estima. Sem falar no fato que poder comprar e consumir nos faz sentir mais cidadãos, incluídos definitivamente no mercado que, agora, é identificado como ‘cidadania’.

O diabo levou Jesus para um alto monte e mostrou-lhes todas as suas posses e depois de Jesus ter admirado tudo o diabo lhe disse:’ Tudo isso será seu se você se prostrar e me adorar’! Talvez esta tenha sido a pior tentação de Jesus contra a qual teve que resistir e lutar ao longo de toda a sua vida: não reconhecer e não adorar o ídolo/senhor que manipula e dirige a pulsão do ter/possuir. Jesus havia percebido que o diabo (do grego: dia-balein = aquele que dispersa, que desarruma) com a sua solicitação estava querendo minar/desarrumar o cerne da sua existência, os seus valores e projetos de vida. Tudo parece ser originado da relação que construímos com os bens que vemos, possuímos e consumimos. Ou seja, a depender de como nos relacionamos com os ‘bens e as mercadorias’ seremos pessoas livres ou escravas, dependentes ou autônomas, necessitadas de reconhecimento público ou pessoas altivas e conscientes daquilo que somos.

Quando falamos em economia frequentemente nos detemos quase que unicamente naqueles aspectos mais técnicos que dizem respeito às relações de mercado, transações comerciais, investimentos, aplicações, especulações, taxas e impostos, produção, distribuição e consumo de mercadorias. A economia é muito mais que isso. Ela, independentemente de como é direcionada e estruturada, revela sempre as profundezas do coração humano. Ela escancara ambições, carências materiais e afetivas, complexos de culpa, de inferioridade/superioridade, de narcisismos e auto-afirmações de todo tipo. Mas, justamente por isso, a economia pode revelar também a nossa capacidade de superar tudo isso, e mostrar que é possível instaurar não somente uma nova ordem social universal mais equânime, mas um novo ser humano, mais livre, sensível, aberto e generoso.

Jesus, ao longo de toda a sua vida (40 dias = sempre!) teve que se impor sistematicamente ao ‘diabo que tinha dentro dele’ e lhe ordenar com vigor de se afastar dele sendo que era preciso adorar única e exclusivamente Aquele que havia criado e disposto ‘todos os bens’ a serviço de toda a humanidade, e não somente em favor de alguns. Nesse sentido, Jesus vai na contramão de quantos pensam que ao possuir bens/mercadorias/prestígio estariam se sentindo seguros e controlando a situação. Ao contrário, eles ostentam a sua própria dependência e fraqueza em não saber utilizar os ‘bens desse mundo como se não os tivessem....’ ou de forma mais radical a sua incapacidade de ‘vendê-los e socializá-los com os pobres’ para que possam uns e outros construirem juntos o Reinado de Deus’!



PS - Quero homenagear hoje o nosso querido Ir. Rodolfo Fasolo que nos deixou fisicamente, ontem, em Teresina, situando-se definitivamente junto do Pai. Aos 92 anos de vida, esse comboniano que esbanjava entusiasmo e vontade de viver, deixou de viver com intensidade essa longa aventura terrestre deixando-nos um legado de doação, despreendimento e concretude que as novas gerações parecem não mais possuir. A ti, irmão vô, um grande abraço, e muito obrigado pela sua presença entre nós aos longo desses anos!

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