quarta-feira, 8 de setembro de 2010

398 anos de São Luís: por que não pedirmos a retirada do título de 'patrimônio da humanidade'?


Reproponho, nesse dia 08 de setembro, por ocasião dos 398 anos de vida de São Luis, um texto que escrevi para o 'Jornal do Maranhão' da Arquidiocese de São Luís. Reproponho-o para que possamos tomar consciência de que não é esta a forma de nos preparar para celebrar os 400 anos de vida da ex-Atenas brasileira, dentro de dois anos! É bem verdade que quem faz uma cidade são seus moradores e não seus prédios históricos, mas estes refletem a alma dos atuais e dos antepassados cidadãos que construiram 'a vida cidadã' dessa cidade. Considerando tudo isso, atrevido por atrevido por que não lançarmos uma campanha para retirar de SãoLuís o título de Patrimônio da Humanidade? Se os patrimônios são zelados da mesma forma com que o é São Luis...valei-me Nossa Senhora da Conceição!


Parece algo perdido no tempo a vida dos antigos casarões com seus sobrados e mirantes. Sem a badalação que fervilhava pelas praças, ruelas e ladeiras ‘da velha’ São Luis, tão bem descrita nos cânticos e romances dos nossos ‘imortais’. O centro histórico de São Luis, hoje em dia, parece um velho barão que repousa sobre os louros de um longínquo passado. Sem poder ocultar, porém, as profundas rugas escavadas pelo tempo e o abandono. E o cansaço senil de uma nobreza ameaçada pela falta de segurança, de vitalidade, e pela solidão. O centro histórico, verdade seja dita, não perdeu a pose: ele continua fascinante e inspirador, mas vem perdendo animação, segurança e, o que é pior, moradores. Em que pese o título de ‘patrimônio da humanidade’, não houve um verdadeiro esforço institucional para dar nova vida à velha São Luís. As tímidas tentativas iniciadas alguns anos atrás pelo Governo do Estado para transformar alguns antigos casarões em habitações estáveis foram abrupta e inexplicavelmente interrompidas. Caíram no vazio também as iniciais intenções do atual Governo Federal que conclamava a ‘urbanizar e a retornar a habitar os centros históricos’ das nossas cidades. São neles, - e não nos modernos arranha-céus e nos seus shoppings, - que pulsa o coração de uma cidade. São os centros históricos valorizados que dão coesão e identidade a uma cidade. Assistimos, hoje, a um verdadeiro descalabro em que população e turistas não se arriscam mais a se adentrarem sozinhos nas antigas ruelas e ladeiras. E os lojistas vendo suas fontes de renda minguando sempre mais. Os executivos municipais e estaduais, com a colaboração de universidades, paisagistas, arquitetos e sociedade são desafiados em sua capacidade criativa de fazer do centro histórico de São Luis um renovado espaço sociocultural e econômico, freqüentado e ‘habitado diuturnamente, por gente’. Torna-se urgente reanimar cada praça, igreja, fonte, ruela e cantaria, oferecendo lazer, iguarias, poesias e rezas. Re-criar, enfim, novas formas de sociabilidade que humanizam e fazem com que as pessoas se re-encontrem consigo mesmas e com o seu futuro. Só assim, o ‘velho barão’, talvez, decida reviver e re-percorrer ‘as lentas ladeiras’ e dançar ao ritmo da matraca e do ‘tambor do Congo’!

Um comentário:

Daniel Madorra disse...

Olá PE. Cláudio sou o Daniel Madorra que teve com o Senhor no encontro do grupo Caminho do meio.
Muito bom seu texto sobre o centro histórico realmente precisamos fazer algo. Precisamos exigir do poder Público respostas sobre as políticas publicas para o coração da nossa cidade. O Centro historio é a nossa própria identidade, nossa memória, como foi bem dito no texto.
O Movimento Nossa São Luís irá iniciar uma ato público na Praia Grande para iniciar uma série de debates sobre esta questão e gostaria de contar com sua participação.
Um grande a fraterno abraço,
Daniel Madorra.