terça-feira, 14 de setembro de 2010

Governo Lula: uma resposta a Leonardo Boff


Causou-me estranheza e espanto um recente artigo de Leonardo Boff publicado por Tribuna Petista sob o título ‘Consolidar é preciso’ em que afirma que ‘Lula e o PT derrotaram as elites econômico-financeiras e seu braço ideológico, a grande imprensa comercial’. Mais adiante, no mesmo artigo, ao tentar justificar a importância dessa suposta ruptura com as elites o autor cita dados do Banco Mundial segundo o qual no Brasil ‘vinte mil famílias controlam, mais ou menos, 46% de toda a riqueza nacional, sendo que 1% delas possui 44% de todas as terras. Não admira que estejamos entre os países mais desiguais do mundo, o que equivale dizer, um dos mais injustos e perversos do planeta.

Ora, o próprio Boff, ao citar esses dados, admite impiedosa e explicitamente que o governo Lula em 8 anos não conseguiu reverter minimamente essa perversa estrutura que consagra a desigualdade social e econômica no Brasil. Outros dados de institutos nacionais vêm a confirmar o mesmo: de 2003 a 2009 a desigualdade social e a ‘desconcentração’ da renda no País não sofreu alterações dignas de menção. O fantástico crescimento econômico que o Brasil conheceu nesses anos – inclusive em épocas de crise - não foi utilizado pelo governo Lula para mexer na estrutura econômico-financeira do país.

Em que pesem as evidentes melhorias das condições de vida de mais de vinte milhões de brasileiros, - graças a repasses federais, mas sem nada tirar dos lucros do setor privado, - a concentração de renda ficou inalterada. Que o diga também o sistema bancário que o governo Lula deixou inteiramente solto para acumular fabulosos e sucessivos recordes de lucro! Só nesses dois primeiros trimestres desse ano, os bancos federais cresceram 72% e os privados 26%! Ironia do destino: alguém lembra, por acaso, de alguma 'briga verbal' do Lula com a poderosa FEBRABAN ou com a FIESP? Recentemente, Transparência Internacional afirmou que o governo Lula nada fez para diminuir os níveis de corrupção formal/institucional existentes no País, diferentemente de outros Países latino-americanos...

Não se pode tampouco fechar os olhos sobre os minguados investimentos em saúde e educação em que o governo Lula manteve os mesmos percentuais do PIB da época de FHC, e bem inferiores a governos como o da vizinha Argentina, Chile e outros. Não quero, enfim, colocar o dedo numa ferida que o governo Lula manteve exposta o tempo todo: a questão ambiental, étnica, a promessa jamais cumprida da reforma política, tributária, do judiciário....Acredito que Lula, pelo seu carisma pessoal, pela projeção que deu ao País no cenário internacional tinha tudo para inaugurar a badalada ‘terceira via’, mas não soube ousar.

Com tudo isso, não quero me colocar do lado da social-democracia tucana ou do arcaicismo político demista. Muito pelo contrário. Entendo que apesar das contradições e omissões acima citadas, o Brasil no governo Lula conheceu avanços – inclusive em termos de consciência e auto-estima social – jamais vistos anteriormente. Contudo, reconhecer isso ou só isso, sem identificar simultaneamente também as sombras do governo Lula representaria uma postura ufanista detestável. Isso não nos ajudaria a exigir do próximo ‘governo Dilma’ aquelas mudanças que gostaríamos de ter visto e não as vimos, mas que são essenciais para consolidar um projeto de democracia substancial e não meramente formal.

2 comentários:

Unknown disse...

Muito bom esse artigo do Mestre Leonardo Boff...e as tuas colocações tambem...mas nesses 8 anos era preciso ter feito mais como: reforma agraria, reforma politica...mas temos que saber que são 5010 anos de BRASIL, e de dividas com os negros, indios, mulheres, crianças, homens e jovens...ainda falta MUITO, mas vamos lutar.

PARABENS atrazado E CONTINUE NESSA LUTA...
Afinal " O segredo de ser jovem - mesmo quando os anos passam deixando marcas no corpo - e ter uma causa a que dedicar a vida." D. Helder Cãmara

Unknown disse...

Parabéns caro amigo pelo seu texto, você muito brilhante no seu diagnostico, sobre o governo Lula.