quarta-feira, 3 de outubro de 2012

A maior ameaça para os grupos atingidos por mineração no Brasil chama-se VALE, diz o geógrafo Luiz Jardim

Apresento algumas ‘pérolas’ extraídas de uma entrevista do IHU ao geógrafo Luiz Jardim que estuda as transnacionais de mineração na Amazônia e os conflitos sociais gerados entre as empresas e os moradores da região.

Expansão do setor - 'Nas últimas duas décadas houve uma valorização constante das commodities minerais no mercado financeiro-especulativo, reflexo, mas não só, do aumento de consumo de matéria-prima nos países ricos e nos países emergentes – leia-se China e Índia principalmente. Essa valorização faz com que áreas menos acessíveis como a Amazônia, com pouca ou nenhuma infraestrutura, se tornem viáveis economicamente para exploração, mesmo demandando altos investimentos'.

VALE - 'Existem muitas empresas de mineração no Brasil, mas vivemos numa espécie de monopólio da Vale. Monopólio esse conquistado nos tempo em que ela era estatal e sustentada por um discurso ‘empresa legitimamente brasileira’. Como se isso a fizesse menos predadora ou mais responsável. Pelo contrário! A Vale controla mais de 50% da produção nacional de minério e também é a mineradora campeã em multas junto aos órgãos ambientais, totalizando mais de 37 milhões em multas Ela também possui denúncia de sonegação fiscal e outras muitas denúncias'.

Por que o entorno das reservas extrativistas é subdesenvolvido? 'Os impactos sociais e ambientais são distribuídos desigualmente no espaço e entre as classes, e os mais pobres são sem dúvida os maiores prejudicados. Os grandes projetos não têm a finalidade de distribuir a renda mineira. Há uma grande concentração dos lucros para poucos e a distribuição dos custos sociais e ambientais para os muitos atingidos. O tão prometido e esperado desenvolvimento nunca chegou às regiões de mineração, muito menos na Amazônia e sua populações excluídas. Os projetos sociais são paliativos; os impactos e perdas sociais, culturais e ambientais são enormes; e os conflitos entre empresas e grupos atingidos são frequentes, assim como a resposta autoritária e violenta da empresa por meio do aparato repressivo do Estado'.

Estado e transnacionais da mineração - 'Não sou da linha dos que acreditam que uma empresa transnacional é mais maléfica do que uma empresa nacional. O que faz uma empresa melhor ou pior é a lógica de exploração e o sistema regulatório pela qual ela é regida. Atualmente a maior ameaça para os grupos atingidos ou ameaçados por mineração no Brasil chama-se VALE . O movimento dos Atingidos pela Vale vem se fortalecendo e criando maneiras criativas de confrontar essa grande transnacional brasileira que produz muitos impactos no Brasil e no mundo. No ano passado, o movimento conseguiu eleger a Vale a pior empresa do mundo pelo Public Eyes People’s. Enquanto isso a Vale tenta limpar sua imagem investindo intensamente em propaganda, o que para uma mineradora é praticamente impensável'.

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