terça-feira, 23 de junho de 2009

JOÃO, O BATISTA: COMPROMISSOS ÉTICOS PARA SALVAR ISRAEL/HUMANIDADE

João, o Batista! Chamava-se assim porque ele mesmo praticava o ‘seu próprio’ batismo. Um batismo que não servia para cancelar pecados originais supostamente herdados de Adão e Eva. Nem tão pouco para inserir os batizados numa suposta comunidade eclesial devolvendo-lhes a filiação divina. Nada disso! João fazia mergulhar nas águas do Rio Jordão somente aqueles que lhe prometiam estarem dispostos a dar uma ’túnica a quem não tem e fazer o mesmo com a comida; não cobrar mais do que a lei manda; não usar violência, não extorquir e não prender ilegalmente as pessoas’. Um batismo que passava pela assunção pública de compromissos éticos. Os únicos capazes de reverter, - possivelmente, mas não certamente - o destino que já estava escrito para Israel: a sua destruição, a sua implosão como nação e como ‘autoproclamado’ povo de Deus.
João deixava claro que não adiantava oferecer a carteira de identidade hebraica enfatizando a sua origem abraámica para poder se safar da inevitável ira/vingança que havia tomado conta de Deus. A pertença a uma religião, a uma etnia, a uma organização social supostamente isenta de qualquer punição por acreditarem, arrogantemente, que haviam sido escolhidos e abençoados pelo próprio Deus, não serviria para livrá-los do ‘machado já posto às suas raízes para cortá-los’ definitivamente. João pregava uma reviravolta social e ética, mas ele mesmo desconfiava da sinceridade das ‘raças de víboras’!
João era o típico profeta que falava com o seu corpo, com o seu porte. A escolha de pregar no deserto foi ditada por motivos didáticos e estratégicos. Ao se transferir para um lugar improdutivo, e supostamente estéril, ele queria significar que Israel como um todo havia virado um ‘deserto social e humano’, incapaz de produzir frutos de justiça e de salvação. Ao vestir peles de animais, ao comer mel silvestre e ao viver num lugar inóspito estava dizendo aos sacerdotes do templo de Jerusalém que não era naquele espaço corroído pelo clientelismo e nepotismo descarado que Deus devia ser encontrado e adorado. Não nas belas e suntuosas batas sacerdotais, nem nos incensos importados ou nos sacrifícios de bois gordos associados às purificações meticulosas que Deus devia ser encontrado, e sim, numa prática social justa e coerente, sóbria e distante de todo ritualismo vazio e alienante. A única capaz de repensar e transformar o falido Israel.
Em que pese a postura ousada e corajosa de João o Batista, Jesus o superou. Se de um lado Jesus se identificou com a análise social e religiosa que João fazia, - e dele aceitou o batismo de ‘mudança e compromisso social’, - do outro lado apontou um caminho inédito e diametralmente antagônico ao de João Batista.
Com efeito:
1. Jesus acreditou e apostou não na ira de Deus, mas na Sua misericórdia.
2. João pregava a desgraça de Israel (machado, fogo, ira,etc.) e Jesus anunciava o reino da graça salvadora.
3. João era um profeta estático, permanecia no deserto aguardando que o povo fosse até ele; Jesus sai à procura das ‘ovelhas perdidas’ necessitadas de acolhida e perdão.
4. Para João o futuro da humanidade era carregado de julgamento, de punição certa, sem chances; para Jesus haveria um futuro surpreendente, inédito, seria um futuro carregado de esperança renovada, portador de ‘novos céus e nova terra’.
5. João batizava pessoalmente quase que a significar que, afinal, ele era o único instrumento para as pessoas se salvarem; Jesus não batizava, não fazia depender de um rito a salvação de uma pessoa. Esta depende de um lado da sua capacidade de aceitar e se inserir na dinâmica do Reino, e do outro, na acolhida generosa do que Deus já vem construindo, com ou sem a nossa participação, queiramos ou não!
Afinal, Deus é Pai e não um juiz impiedoso e legalista, e para os seus filhos (batizados ou não!) só quer o bem máximo: a vida plena, a felicidade sem fim.

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