“Se as águas do mar da vida quiserem te afogar segura na mão de Deus e vai....Se as tristezas desta vida quiserem ....” Assim inicia a popular canção que geralmente é cantada nas missas de sétimo dias. Parecem palavras de socorro e conselho ao mesmo tempo. De um lado a constatação de que ao longo da vida fazemos a experiência, às vezes traumática, de sermos engolidos pelas ondas impetuosas do ‘mar da vida’. Do outro lado, é um apelo a segurar a mão de Deus para podermos proceder na nossa viagem em ...segurança.
Ocorreu-me, também, que ‘Deus não tem mãos, Ele tem as nossas mãos....’ - como reza uma oração da idade média de autor desconhecido - para segurar quem está afundando. Ou seja, cabe a nós a missão de identificar quantos hoje estão sendo sugados pelas ondas do mar da vida e oferecer-lhes a nossa firme mão que tem o poder de não deixar sucumbir os que apelam à 'mão de Deus!' Nós podemos ser a ‘longa mão de Deus’ em não permitir que as tormentas e as tempestades do mar da vida tragam para dentro de suas fauces vidas humanas, projetos de esperança e vontades de transformar.
Escolhi a canção ‘segura na mão de Deus’ para ilustrar o evangelho que o 12º domingo do Tempo Comum nos propõe, pois me pareceu bastante adequada para a ocasião. Um trecho bíblico, este, que com toda probabilidade retrata a situação histórica das primeiras comunidades cristãs, depois da morte de Jesus, ao se depararem com um conjunto de perseguições, boicotes, difamações e acusações de todo tipo. O evangelista Marcos ao analisar a realidade em que a sua comunidade está inserida e ao constatar as inúmeras ‘tormentas e ondas impetuosas da vida’, é levado a ‘fazer memória’ e a comparar a atual crise eclesial com as numerosas experiências de travessias perigosas realizadas pelo ’Mar da Galileia’ tendo a bordo o próprio Jesus.
É como se Marcos nos dissesse que ‘ nós já vivenciamos essas situações e sempre escapamos com vida, pois, afinal, Jesus continua, também hoje e aqui, atravessando conosco (como o fazia na Galileia) o ‘mar da vida’, enfrentando conosco todas as turbulências, as ventanias e as tempestades que aparecem na viagem da vida/missão. O medo, o temor, a insegurança, o pânico, ao fazermos tais experiências, podem tomar de conta do nosso espírito, principalmente quando temos a sensação que quem tem o poder de nos ajudar a fazer a travessia em paz está dormindo. Isto ocorre quando fazemos a experiência de nos sentir sozinhos. Quando a tempestade da vida parece ser mais forte do que a nossa fé e da nossa capacidade de enfrentá-la e de passar incólumes por ela.
Marcos nos diz que ‘as águas do mar da vida’ devem ser enfrentadas. Não há como escapar. Elas fazem parte da nossa existência. Sempre aparecerão. Temos que ter fé suficiente para mergulhar dentro delas, sem fugir, sem se deixar vencer pelo desespero e pelo pânico por causa de sua força e impetuosidade. Afinal, Aquele que tem o poder de ‘dominar e controlar’ as ondas do ‘mal/mar’ está conosco, no mesmo barco. Ele nos oferece não só a mão para fazer a travessia em segurança, mas também nos ajuda a encarar as tormentas com outros olhos, como algo que fazem parte do nosso cotidiano, e que podem ser enfrentadas com outros sentimentos e posturas. As tormentas não são ‘o fim da nossa vida’, ‘são parte da vida’.
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