Lembro-me do filme ‘Nas vestes de Pedro' em que o ator Antony Quinn representava um papa...humano, que se misturava com as pessoas simples do povo, que não era chefe de um estado e que coordenava uma igreja que estava a serviço das pessoas. Eu era um adolescente sedento de novidades na época em que o assisti pela primeira vez, e fiquei profundamente tocado por aquelas cenas que me pareciam ficção ao olhar a realidade eclesial (como o eram, de fato!), mas que um dia foram...reais... Imagino, hoje, como seria a igreja se as cenas do filme se transformssem em realidade histórica....
Pedro, como sabemos, nunca foi papa. Nem existia uma igreja hierárquica e administrativamente estruturada no seu tempo. A igreja de Cristo nasceu muitos anos depois da sua morte e nasceu desde o seu início plural, autônoma, internacional e igualitária. É também verdade que Jesus, o Jesus histórico, nem pensava em fundar uma igreja. A sua preocupação principal sempre foi a pregação da proximidade do Reinado de Deus. Jesus aceitava no seu grupo informal, 'heterodoxo', de tipo itinerante (sem casa, sem normas e sem templo) todas aquelas pessoas que acreditavam firmemente na sua mensagem e prática. Nada mais do que isso!Por que, então, se construiu essa ‘teologia petrina e papal’? De onde vem a ideia de que Pedro teria sido o primeiro papa? E como explicar a sua liderança dentre o grupo dos ’doze’? O evangelho de hoje, de Mateus, nos oferece algumas dicas e talvez algumas respostas...
Em primeiro lugar, o trecho de Mateus relata uma realidade bem posterior à morte de Jesus e não uma existente à época do Jesus histórico. Um primeiro indício é o fato que a palavra ‘Cristo’ atribuída a Jesus pela boca de Pedro, começou a lhe ser atribuída após o aparecimento da consciência progressiva dos seguidores de Jesus de que Ele havia ressuscitado. O próprio Jesus se autodefinia como ‘filho do homem’ e nunca atribuiu a si próprio outros títulos. Sabe-se que com toda probabilidade, após o ‘escândalo’ da morte de Jesus houve uma grande dispersão/desistência dos seus seguidores. Entretanto, começaram a aparecer desde cedo, em diferentes lugares, dentro e fora de Israel, graças aos testemunhos de vários dos seguidores de Jesus, inúmeros grupos que mantinham viva a memória das palavras, gestos, discursos, curas, etc. operadas por Jesus. Não são ainda comunidades propriamente ditas, e tão pouco, comunidades eclesiais.
O momento central de todo esse processo, entretanto, se dá quando, por iniciativa de Pedro, – provavelmente motivado e convencido “pelas mulheres” – o grupo dos ‘doze’ começa a se reunir, e aos poucos, tomar consciência que Jesus continua vivo neles! O trecho de Mateus quer dar ênfase a esse fato histórico, ou seja, que o grupo novamente reunido e remotivado por Pedro reconhece nele aquele que teve a inspiração e a coragem de se voltar novamente ao Mestre, e permitir/facilitar para que outros pudessem fazer a mesma experiência. Era como se fosse uma nova conversão, um novo chamado de Jesus a segui-lo, uma nova e renovada reafirmação da própria fé em Jesus ainda presente no meio deles. Claramente, por motivos teológicos, - para dar sustentação e autoridade àquele histórico consenso apostólico - atribuem diretamente a Jesus o reconhecimento de que ‘Pedro é pedra fundadora’.
É-nos difícil, hoje, reconstruir histórica e temporalmente como se deu e quanto tempo transcorreu desde a morte de Jesus e o surgimento da nova consciência, e qual o efetivo papel da liderança de Pedro entre os seguidores na formação de uma nova identidade eclesial.
Em primeiro lugar, o trecho de Mateus relata uma realidade bem posterior à morte de Jesus e não uma existente à época do Jesus histórico. Um primeiro indício é o fato que a palavra ‘Cristo’ atribuída a Jesus pela boca de Pedro, começou a lhe ser atribuída após o aparecimento da consciência progressiva dos seguidores de Jesus de que Ele havia ressuscitado. O próprio Jesus se autodefinia como ‘filho do homem’ e nunca atribuiu a si próprio outros títulos. Sabe-se que com toda probabilidade, após o ‘escândalo’ da morte de Jesus houve uma grande dispersão/desistência dos seus seguidores. Entretanto, começaram a aparecer desde cedo, em diferentes lugares, dentro e fora de Israel, graças aos testemunhos de vários dos seguidores de Jesus, inúmeros grupos que mantinham viva a memória das palavras, gestos, discursos, curas, etc. operadas por Jesus. Não são ainda comunidades propriamente ditas, e tão pouco, comunidades eclesiais.
O momento central de todo esse processo, entretanto, se dá quando, por iniciativa de Pedro, – provavelmente motivado e convencido “pelas mulheres” – o grupo dos ‘doze’ começa a se reunir, e aos poucos, tomar consciência que Jesus continua vivo neles! O trecho de Mateus quer dar ênfase a esse fato histórico, ou seja, que o grupo novamente reunido e remotivado por Pedro reconhece nele aquele que teve a inspiração e a coragem de se voltar novamente ao Mestre, e permitir/facilitar para que outros pudessem fazer a mesma experiência. Era como se fosse uma nova conversão, um novo chamado de Jesus a segui-lo, uma nova e renovada reafirmação da própria fé em Jesus ainda presente no meio deles. Claramente, por motivos teológicos, - para dar sustentação e autoridade àquele histórico consenso apostólico - atribuem diretamente a Jesus o reconhecimento de que ‘Pedro é pedra fundadora’.
É-nos difícil, hoje, reconstruir histórica e temporalmente como se deu e quanto tempo transcorreu desde a morte de Jesus e o surgimento da nova consciência, e qual o efetivo papel da liderança de Pedro entre os seguidores na formação de uma nova identidade eclesial.
Ao resgatar, entretanto, a figura de Pedro o que nos interessa frisar, desde o meu ponto de vista, são os seguintes princípios:
1. Pedro, como as mulheres (Maria de Mágdala em primeiro lugar) soube manter viva a memória das palavras/gestos e do testemunho de Jesus, em que pese o seu medo, a sua fragilidade humana, uma certa intolerância e um certo apego inicial a normas e preceitos.
2. Pedro foi reconhecido como ‘o articulador’ e o iniciador de um ‘novo’ grupo, ao saber lhe conferir uma nova identidade: não mais um grupo submisso a normas e preceitos judaicos, mas aberto a dialogar com culturas e religiões diferentes, sem abrir mão de valores e convicções próprias, aquelas que conferem identidade.
3. Pedro vê reconhecida sim a sua liderança, mas não se aproveita dela para exercer práticas autoritárias. Sabe que ela lhe foi reconhecida pelos seus irmãos e irmãs na fé e foi com eles e elas que teve que coordenar o novo grupo/igreja, agora já separada do judaísmo clássico. Essa prática poderia inspirar a forma de atuar dos que hoje se consideram sucessores de Pedro! Talvez fosse interessante em alguma sala do Vaticano rever o filme de Antony Quinn! Poderia ajudar!
4. Pedro e os primeiros cristãos nunca reivindicaram para si um ‘território’ onde exercer de forma autônoma um suposto poder religioso – pensando que dessa forma estariam livres de manipulações e submissões de outros poderes – mas tinham consciência que deviam construir permanentemente um patrimônio ético e moral. Atrair as pessoas não para transformá-las em fregueses e prosélitos, mas para lhes oferecer caminhos e espaços de realização e felicidade. A extinção do Estado do Vaticano poderia ser o primeiro passo para uma igreja realmente autônoma, sem vinculação com políticas estatais e jogos diplomáticos que desvirtuam a sua missão. Nada impediria que defendesse a paz e o diálogo entre os povos, mesmo sem possuir um Estado próprio!
5. Pedro tornou-se uma pessoa emblemática ao ser apresentado de forma transparente, sem esconder as suas fragilidades e virtudes: impulsivo, generoso, amigão, sincero, autêntico também na hora de admitir as suas traições. Um ser profundamente humano que se apresenta por aquilo que efetivamente é, sem disfarces e hipocrisias.
6. Pedro, ao responder à pergunta de Jesus 'E vós quem dizeis que eu sou?' estava não somente definindo teoricamente a identidade de Jesus, mas estava declarando a sua própria identidade, e do seu grupo. Ao fazer isto Pedro se torna intérprete fiel dos anseios, sonhos e projetos de um grupo/igreja que se reflete, se espelha e se reconhece no modo de ser e agir do Jesus, o ungido/kristos. É para se perguntar se hoje Pedro/papa e sucessores apostólicos se fazem intérpretes fiéis dos anseios/sonhos da humanidade que continua se espelhando nos gestos e palavras de jesus de Nazaré....
Precisamos de muitos ‘Pedros’ hoje na igreja: que sejam mais missionários do que sacerdotes/celebrantes, mais humanos do que atores que recitam papéis estereotipados, mais generosos do que voltados sobre si no aconchego de suas sacristias protegidas e confortáveis....mas frias e solitárias.
Um comentário:
realmente è triste tutto questo, perché è vero... una legge cosi, in Italia, mi sembra anacronistica e indegna dell'epoca in cui viviamo...
per cambiare di argomento: sono stato in Sao Luis do Maranhao e forse un giorno ci tornerò, ho amici laggiù e un diploma in lingua portoghese che forse in qualche modo utilizzerò... ammiro il lavoro che svolgete laggiù, in quei luoghi e con le popolazioni indios... vi ammiro molto...
un abbraccio...
Davide
Postar um comentário