A Vale do Rio Doce vítima e corresponsável da crise
A Vale tem um poder econômico comparável ao de inteiros Países: é a segunda maior mineradora do mundo por receita bruta, que supera o PIB de nações como o Quênia (37 milhões de habitantes). No mês de Março de 2009 declarou suas perspectivas de crescimento no Moçambique pela realização de uma mina de carvão e de uma central de energia térmica (fortemente poluidora): o investimento previsto é de mais de 4 bilhões de dólares, correspondentes a mais do 30% do PIB do Moçambique em 2008!
Pode-se objetar que não cabe a uma empresa privada socorrer as vítimas de desastres naturais; duvidamos porém que as repetidas enchentes desses meses sejam somente fruto da loucura ambiental. A responsabilidade social de qualquer empresa deve levar em conta sem desconto os efeitos colaterais desse modelo de produção, baseado sobre a monocultura, a devastação da mata nativa para alimentar os fornos de carvão para as siderúrgicas, a poluição (somente em São Luís 70% dos óxidos de nitrogênio, 53% do dióxido de enxofre e 30% do material particulado deve-se à Vale!).
Mesmo assim, vamos considerar um exemplo ainda mais diretamente de responsabilidade das empresas: a crise e o desemprego.
Mesmo tendo uma diminuição nos negócios no último trimestre, Vale fechou 2008 com um desempenho recorde (lucro e receita bruta cresceram de 2007 para 2008 respectivamente de 19% e 16,3%). O preço do minério permaneceu fixo ao longo do ano todo, mas nos últimos meses Vale está vendendo minério às empresas chinesas com 20% de desconto sobre o preço de referência de 2008, para não perder o mercado oriental em concorrência com outras mineradoras.
Na região de Carajás, porém, onde Vale detém o monopólio da mineração, não houve desconto algum: por isso, no Pará de 10 siderúrgicas existentes somente 3 estão trabalhando. Em Açailândia, importante centro siderúrgico do Maranhão, somente 6 sobre 15 altofornos estão ativados.
Em paralelo a essa “agressividade econômica”, temos desde já numerosos exemplos de violência ambiental. Os últimos foram um incidente grave na Nova Caledônia em Abril A poderosa máquina da propaganda da Vale divulgou no mesmo período dos acidentes o lema de ”empresa cada vez mais verde”. Para o sistema do lucro, os acidentes são pequenos empecilhos e, às vezes, até oportunidades, como podemos aprender dessa fala emblemática do presidente da Companhia, Roger Agnelli: "Esta crise está boa para nós. Todos os rios caminham para o mar. A realidade é que nós temos os melhores recursos; nós temos o mais baixo custo e muitos dos grandes caras - que eram grandes há alguns meses - estão desaparecendo. De fato, Vale aproveitou nesses últimos meses para realizar operações economicamente muito significativas.
Em busca de respostas evangélicas
A violência socioambiental continua coletando mártires silenciosos, mortes lentas e outras mais chocantes. Esse apelo chega forte a nosso coração de missionários, chamados por Deus às fronteiras da luta para que Tudo tenha Vida. A justiça ambiental é a utopia mais completa que podemos buscar, a partir dessas terras preamazônicas que já sofreram inúmeras violações e saques.
As palavras de São João, padroeiro tão querido pelo povo do Nordeste, ressoam em nós com sabor de raiva e paixão pela justiça: ”Raça de cobras venenosas, quem lhe ensinou a fugir da ira que vai chegar? Façam coisas para provar que vocês se converteram!”
Quando Jesus mandou escolher entre Deus e o dinheiro, não isentou a classe empreendedora dessa opção: há meios e possibilidade de investir e gerar trabalho e lucro no respeito da vida e do meio ambiente. Esses meios se encontram através de dinâmicas de partilha, de participação, de acesso de todos às decisões: são esses os valores profundamente evangélicos que devem permear também o mundo da economia, em profundo conflito com os valores do anti-reino (acumulação, centralização do poder e das escolhas, controle do capital, financeirização dos recursos, etc).
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