terça-feira, 9 de junho de 2009

Trindade, ou seja, como sentir (sem ver) o Deus dos ‘invisíveis”


Coloco somente agora algumas reflexões que me foram ditadas, domingo passado, em ocasião da festa da Trindade. Para tais coisas não existe prazo de vencimento. Afinal procurar e sentir a presença de Deus na nossa vida é algo que vai durar...a vida inteira!

Geralmente, a depender da nossa formação inicial, processos de socialização, educação religiosa e/ou formal, etc. acabamos incorporando várias imagens de Deus. Na grande maioria das vezes de forma inconsciente e acrítica. Afinal, nessa dimensão religiosa, ‘certas coisas’ devem ser somente aceitas, incorporadas, e não questionadas!
Essas imagens, geralmente, são diferentes entre si e frequentemente contraditórias e antagônicas. Conhecemos/experimentamos por meio delas um Deus-Criador, um Deus-Juiz e fiscal, um Deus-Todopoderoso que tudo vê e sabe, um Deus ciumento, vingativo, punitivo, violento que dirige com braço estendido batalhas e guerras para esmagar os inimigos.... Experimentamos, também, a imagem de um Deus-Pai/Mãe, amoroso, que protege e abençoa seus filhos e filhas.
Tudo isso convive dentro de nós não sem conflito, nos deixando, frequentemente, em verdadeiras situações de angústia. De fato, ao incorporarmos no nível do consciente e do inconsciente determinadas imagens de Deus (que castiga, que pune, que tudo dirige, etc.), ao constatar que não ‘obedecemos’ às suas normas e preceitos, - que supostamente Ele revelou - fatalmente podemos experimentar sentimentos de culpa, de medo e insegurança.
Nesses momentos parece surgir espontânea a necessidade interior de tentar aplacar possíveis manifestações punitivas de Deus. Tentamos ‘comprar’ a sua benevolência e a sua misericórdia mediante cultos, preces, oblações e doações. Às vezes não conseguimos: a sensação de termos falhado/pecado é tão grande que só mediante formas de autopunição é que podemos aliviar a “consciência pesada”.
Perguntemo-nos, entretanto: quem disse que Deus é desse ou daquele jeito? Quem nos dá a garantia que é Ele que quer isto ou aquilo? Não haveria, por acaso, por parte de quem escreveu/produziu o texto bíblico algum interesse em utilizar-se do 'nome' de Deus para impor e /ou defender interesses específicos, pessoais ou grupais? A Bíblia, afinal, tem uma palavra definitiva, clara sobre a verdadeira identidade de Deus? Ela, não cabe dúvida, nos apresenta todas aquelas imagens contraditórias e antagônicas que nós mesmos incorporamos desde criança porque foi produzida por 'humanos' que projetaram seus sonhos, interesses, projetos e esperanças...inclusive no próprio Deus!
A própria bíblia, portanto, reflete o pensamento, os interesses e os projetos diversificados existentes em determinadas camadas sociais e políticas, nas várias etapas históricas de um povo/cultura, de Israel e dos povos próximos que o influenciaram. A maioria das imagens de Deus que herdamos vem de lá: imagens criadas/construídas e difundidas com o intuito de impor uma determinada imagem de Deus a ser utilizada na legitimação de interesses/projetos das camadas mais influentes (as que governavam, que sabiam escrever, que podiam manipular e dirigir os centros de culto, etc.)
Na própria bíblia, entretanto, essas camadas sociais e políticas influentes não conseguiram censurar totalmente as imagens/representações que outros grupos humanos, socialmente invisíveis, periféricos, considerados hereges, haviam criado para si sobre Deus: um Deus que liberta os escravos, que sabe ouvir o seu clamor e grito de dor; um Deus-Pai/Mãe que não se esquece do ‘filho que gerou’; um Deus que faz justiça ao órfão e à viúva, e defende os seus direitos....que prefere a justiça e o direito às festas, às novenas e às liturgias solenes

Foram essas imagens específicas de Deus que Jesus de Nazaré adotou. Ele, como nos diz João, nos revela Deus, sendo que ‘ninguém O viu’, e explicita a Sua ‘verdadeira identidade’. Nesse sentido, ao sabermos/conhecermos a identidade de Deus revelada por Jesus podemos experimenta-lo e senti-Lo presente em nossas vidas. Tudo isto ao reproduzir a mesma relação (palavras, gestos, opções, atitudes...) que Jesus tinha para com “aquele Deus”, entendido como ‘Abbá-Pai-Mãe”, cheio de misericórdia e de compaixão, que 'faz chover sobre os bons e sobre os maus' porque a todos os trata como filhos e filhas.
Não exigindo destes ‘nem sacrifícios e nem oblações’, ou outras formas de negociação material e/ou cultual, pois Ele ama e perdoa gratuitamente.

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