Claudio Maranhão
foto: Claudio Bombieri -
sábado, 5 de julho de 2025
14ª domingo comum - TODOS SOMOS ENVIADOS PARA CUIDAR DE TODOS, E NÃO SÓ ALGUNS CONSAGRADOS!
sexta-feira, 4 de julho de 2025
Número de mortos em Gaza é 65% maior que oficial, diz estudo
Pesquisa independente estimou 75 mil mortes diretas pela guerra entre outubro de 2023 até janeiro de 2025, cerca de 30 mil a mais do que a contagem oficial do Ministério da Saúde de Gaza.Com a entrada de jornalistas na Faixa de Gaza severamente restrita pelos israelenses, a fonte de dados sobre o número de vítimas da guerra costuma ser o Ministério da Saúde local, controlado pelo Hamas – e Israel sempre rejeitou esses números, alegando que eles seriam exagerados.
Agora, um estudo independente mostra que a contagem real de mortos é provavelmente ainda maior que os números oficiais. Uma pesquisa conduzida pelo economista Michael Spagat, do Royal Holloway College, da Universidade de Londres, estimou que, até o início de janeiro deste ano, mais de 80 mil palestinos haviam sido mortos na guerra de Israel em Gaza, 65% a mais do que os nomes que constam nas listas do Ministério da Saúde local. Para Spagat, especializado em guerras contemporâneas e na contagem de vítimas de conflitos, um dos aspectos importantes do seu trabalho é "lembrar-se de cada vítima". Que os nomes dos mortos estejam pelo menos escritos em listas, como o Ministério da Saúde de Gaza faz atualmente. Ele considera as listas oficiais "amplamente corretas" – mesmo que o ministério seja controlado pelo Hamas, classificado como uma organização terrorista pela União Europeia (UE), pelos Estados Unidos e outros países. "O Ministério da Saúde de Gaza lista os nomes dos mortos com seu número de identificação, idade e sexo. Isso pode ser facilmente verificado", afirma. (IHU)
Europa envia cães de ataque para Israel, que foram transformados em armas brutais contra civis: "Havia sangue por todo o chão"
segunda-feira, 30 de junho de 2025
Zohran Mamdani: a surpresa socialista em Nova York. Artigo de François Bougon
A vitória do jovem candidato muçulmano, de origem africana e indiana, revela mudanças políticas e sociológicas em meio à era Trump. O voto jovem foi crucial em uma eleição que dá novo fôlego à ala esquerda do Partido Democrata. Mais uma vez, a surpresa veio de Nova York. Desta vez, no campo democrata e em nível local, o outsider de esquerda Zohran Mamdani venceu as primárias de seu partido para as próximas eleições municipais da megalópole de quase 8,5 milhões de habitantes, marcadas para novembro.
O político de trinta e poucos anos impôs uma dura derrota ao ex-governador Andrew Cuomo, de 67 anos. Nem o grande apoio financeiro de bilionários — cerca de 25 milhões de dólares para seu “Super PAC” (Comitê de Ação Política autorizado a gastar somas ilimitadas) —, nem sua máquina política, nem a desconfiança das elites midiáticas em relação ao rival socialista foram suficientes. O comitê editorial do New York Times ridicularizou o programa de Zohran Mamdani, considerando-o “particularmente inadequado para os desafios da cidade”. Como era de se esperar, sua vitória provocou um terremoto político cujas repercussões vão muito além desta megacidade, em um momento em que o Partido Democrata está dividido sobre como reagir ao segundo mandato de Donald Trump. Caso seja eleito, Zohran Mamdani, vereador do distrito de Queens, se tornará o primeiro prefeito muçulmano da cidade.
Chegou a Nova York aos sete anos, após viver em Kampala (Uganda), onde nasceu em 1991, e depois na África do Sul. “Sua vitória e trajetória encarnam a promessa americana e testemunham a beleza do legado diaspórico neste país”, declarou a advogada e ativista americano-eritreia Semhar Araia ao The Africa Report. “Para as diásporas africana e asiática, especialmente os filhos de imigrantes, seu caminho e visão refletem nossas próprias vivências”. Zohran Mamdani, que obteve a cidadania americana em 2018, nasceu em uma família onde as ideias, as artes e a política — especialmente a defesa da causa palestina — têm lugar central. Seu pai, Mahmood Mamdani, nascido em Uganda em uma família de origem indiana — muçulmanos sunitas gujaratis do estado de Gujarat (noroeste da Índia) —, é formado em Harvard e um acadêmico renomado, professor de antropologia na Universidade Columbia, especializado em estudos pós-coloniais. Em 2021, a revista britânica Prospect o incluiu em sua lista anual de “50 pensadores para um mundo turbulento”, destacando sua visão dos Estados Unidos como “uma colônia de povoamento, devido ao tratamento dado aos povos indígenas, que ainda não desfrutam de plenas proteções constitucionais”. Sua mãe, Mira Nair, é uma diretora e produtora indo-americana reconhecida internacionalmente por seu filme Salaam Bombay! (1988), vencedor de Cannes. Conehceu Mahmood Mamdani em Uganda durante as filmagens de Mississippi Masala (1991), que conta a história de um casal de origem indiana estabelecido em Kampala e expulso pelo regime do ditador Idi Amin em 1972. Zohran Mamdani prometeu combater o antissemitismo e, de forma geral, todas as formas de discriminação e racismo. Durante a campanha, revelou ter recebido mensagens de ódio como “Um bom muçulmano é um muçulmano morto”. Após o anúncio de sua vitória, Charlie Kirk, ativista trumpista, publicou um comentário islamofóbico: “Há 24 anos, um grupo de muçulmanos matou 2.753 pessoas no 11 de Setembro. Hoje, um socialista muçulmano está prestes a governar a cidade de Nova York”. O resultado de Zohran Mamdani evidencia a lacuna entre a base do Partido Democrata e sua cúpula, em um momento em que a legenda tenta reagir à vitória de Donald Trump. Para muitos, também mostra que é possível vencer falando de questões do cotidiano, como o alto custo de vida (ele propôs mercados municipais em áreas pobres), a crise habitacional (propôs congelar os aluguéis) e os serviços públicos, em uma das cidades mais caras do mundo — tudo isso sem cair nas armadilhas das guerras culturais travadas pelos republicanos.
“O que a vitória de Zohran [Mamdani] me mostrou”, reagiu Bernie Sanders, “é que quando as pessoas votam a favor de algo e não apenas contra, quando priorizamos a organização e a mobilização, nosso programa progressista pode vencer, mesmo contra todas as probabilidades. Agora precisamos ganhar as eleições gerais. Uma vitória nas primárias de Nova York não basta”. “Não acho que a fronteira esteja tanto entre progressistas e moderados, mas entre lutadores e impostores”, declarou Brad Lander. “O que Zohran [Mamdani] mostra é que é importante propor grandes ideias ousadas para a mudança, mobilizar-se e lutar por elas — e isso é bastante encorajador. Sim, ele é um socialista democrático, mas foi sua visão corajosa para o futuro da cidade que empolgou as pessoas”.
Se quiser vencer em novembro, Zohran Mamdani terá que convencer os democratas mais moderados de sua capacidade de governar Nova York. “Nada te prepara para governar Nova York. O que te prepara são os momentos que você precisa enfrentar — aqueles que se tornam desafios cada vez maiores. Esse é o verdadeiro aprendizado”. Ele também elogiou sua equipe: “Esta é uma das equipes mais brilhantes que existem — e é exatamente isso que vamos levar para a prefeitura”. (IHU)
"Israel não vê Gaza, mas apenas o antissemitismo". Entrevista com o diretor do Haaretz, o jornal progressitas de Isarael
Aluf Benn vive no centro das notícias há anos: é o diretor do Haaretz, o jornal progressista de Israel. Um jornal que, apesar da queda nas vendas, continua sendo um ponto de referência fundamental para quem quer entender o país. Desde 7 de outubro de 2023, a influência do jornal cresceu exponencialmente: a transmissão ao vivo pela web que o site inaugurou naquele dia nunca se interrompeu e registrou milhões de acessos. Desde as semanas que se seguiram ao massacre do Hamas e ao início da guerra em Gaza, Benn impôs a si mesmo uma regra, que ele também respeita nesta entrevista: nenhum comentário sobre como o Haaretz acompanhou aqueles fatos, sobre artigos específicos e sobre a reação que provocaram em Israel. A entrevista com Aluf Benn é de Francesca CaferriB, publicada por la Repubblica, 29-06-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Diretor, vamos tentar colocar alguns pontos firmes no grande caos destes dias. Em que posição a guerra com o Irã deixou Benjamin Netanyahu e o governo?
Ela os fortaleceu: não apenas porque os Estados Unidos se aliaram a ele e porque Israel militarmente saiu vitorioso da ofensiva. Mas porque a decisão de declarar guerra ao Irã deu a Netanyahu a oportunidade de atingir no coração o campo da oposição: Bennett, Lieberman, Gantz e Lapid se posicionaram ao seu lado e agora terão dificuldade para dizer que ele não tem legitimidade para liderar o país. O front do ‘tudo menos Bibi’ enfraqueceu.
E o que o primeiro-ministro fará com essa nova força?
É muito difícil fazer previsões hoje em dia, mas ele enfrenta dois dilemas. O primeiro diz respeito a Gaza: pela primeira vez, há pessoas em sua coalizão e em seu próprio partido que pedem que ele acabe com a guerra e traga os reféns para casa o mais rápido possível. O que, no plano político, significa romper com a extrema direita, que não está disposta a aceitar isso. O segundo dilema é convocar ou não eleições antecipadas, contando com pesquisas favoráveis: para buscar a resposta, precisamos nos perguntar se esse governo está destinado a durar muito tempo, no caso de não ser dissolvido. Eu não acredito, porque a questão do serviço militar dos ultraortodoxos logo terá que ser revolvida. Portanto, Netanyahu poderia decidir dissolver o governo antes que ele caia sozinho e convocar eleições antecipadas. Uma coisa é certa: hoje ele tem mais margem de manobra do que antes.
Há sinais concretos de que ele poderia usar esse espaço para chegar a uma virada em Gaza?
Os sinais existem: Israel não pode dizer que está vencendo em Gaza hoje, soldados continuam morrendo e não há nada a ganhar permanecendo atolados na Faixa. Tenho esperança de que as coisas mudem. Também porque é evidente para todos a diferença entre o sucesso de uma campanha militar conduzida a milhares de quilômetros de distância para derrotar o Irã e a impossibilidade de deter o Hamas e trazer os reféns para casa a poucos quilômetros de Tel Aviv. Isso pesará muito.
E Donald Trump? Ele é realmente o melhor amigo de Israel, como ouvimos dizer há dias?
Não gosto de falar de amizade. O que importa aqui é o interesse: Trump seguiu o caminho de todos os presidentes estadunidenses desde 1948, apoiando Israel. O que virá a seguir, teremos que aguardar para ver. O que é diferente do passado não é Trump: é a relação entre os dois países. Não só a dependência de Israel do apoio estadunidense aumentou drasticamente em termos de fornecimento de armas, informações de inteligência e apoio internacional nos últimos vinte meses. Mas agora, pela primeira vez, Israel pediu aos EUA que lutassem em seu nome. Isso nunca havia acontecido.
O senhor acompanha Benjamin Netanyahu há muito tempo: uma coisa que muitos na Europa não entendem é como é possível que em vinte anos nunca tenha surgido um líder alternativo a ele. Por que Netanyahu se tornou a cara de Israel?
Não é uma questão de líderes, mas de ideias. Bennett, Lieberman e Gantz não têm uma ideia de Israel diferente daquela de Netanyahu: vimos isso quando o elogiaram por ter atacado o Irã. Eles também pensam como ele sobre a questão palestina: portanto, ele é melhor do que eles na narrativa, no que contou ao país. Além disso, há a economia: a partir dos anos 1990, uma nova era começou aqui do ponto de vista econômico. Startups e tecnologia tornaram Israel um país rico, pelo menos em parte, e muitas pessoas são gratas por isso. A pergunta a se fazer para entender o sucesso de Netanyahu é: existe alguém hoje com uma visão diferente da dele? Eu não vejo ninguém.
Há outra coisa que as pessoas na Europa não entendem: como é possível que Israel reclame tanto de estar isolado e não veja de onde nasce esse isolamento? E com isso quero dizer Gaza...
Porque não vê Gaza. Os órgãos de imprensa israelenses, em média, não noticiam o que acontece lá. Noticiam o crescimento do antissemitismo no mundo sem enquadrá-lo no contexto maior: assim as pessoas não entendem.
Que legado acredita que tudo isso deixará para o futuro?
Essa é uma pergunta muito difícil. Acredito que o peso do que está acontecendo aqui está sendo sentido muito além de nossas fronteiras: a vitória de Mamdani nas primárias para prefeito de Nova York é um sinal. O fato de alguns eleitores muçulmanos não terem votado em Harris e, portanto, ajudado Trump é outro sinal. Quanto a nós, israelenses, talvez se nos próximos meses se confirmarem os acordos de paz de que se fala atualmente, o sentimento de hostilidade que existe em relação a nós diminua, pelo menos em parte. Mas é muito cedo para dizer.
sábado, 28 de junho de 2025
Pedro e Paulo - É preciso voltar a colocar a Rocha de Nazaré como centro!
Pedro e Paulo, dois pilares, dois mundos culturais, eclesiais e teológicos, bem diferentes entre si, mas havendo um único inspirador que é a Rocha chamada Jesus. Na pregação dos dois, Jesus é o anunciado. Ele era a única e insuprimível referência. A extensa crise da igreja católica passa não somente pelas profundas mutações socioculturais hodiernas, criadoras de novos hábitos e sensibilidades, mas também pela atual tendência da igreja em escantear a Rocha Referencial original, Jesus de Nazaré e suas históricas opções. Cristalizou-se, de forma narcisista em sua própria imagem autoexaltada e autorreferencial, esquecendo que a Rocha Fundadora não cansava de ser amparo para as ovelhas feridas e banidas da sociedade da sua época. Ela se trancafiou em seus belos templos que cheiram a incenso e a hipocrisia. Tem seguido, cegamente, consagrados funcionários eufemisticamente chamados sacerdotes e pastores os quais dirigem liturgias insossas e cobram ‘dízimos e obrigações’ imorais. Demoniza quem desobedece aos seus preceitos ou lhe exige coerência evangélica. Há, contudo, ainda, uma igreja ‘pequeno rebanho-resto’, minoritária, quase anônima que insiste em ter a Rocha como referência, que não tem medo de enfrentar os ínferos e os demônios da guerra, da manipulação e da prepotência. É a igreja resistente, em saída permanente, a de Simão a Pedra, de Paulo de Tarso e de muitas invisíveis testemunhas da Realeza do Pai! A igreja da Rocha de Nazaré!
quarta-feira, 25 de junho de 2025
Ailton Krenak: “Me incomoda essa quase que automática adesão de muitos grupos sociais a uma ideia de participar do ‘show do progresso’
O líder indígena, escritor e imortal da Academia Brasileira de Letras Ailton Krenak faz críticas ao modo como o conceito de progresso tem sido tratado no Brasil e no mundo. Em conversa com o BdF Entrevista, da Rádio Brasil de Fato, ele aponta que a crença generalizada de que a ciência e a tecnologia vão resolver os problemas criados pelo próprio modelo de desenvolvimento é uma armadilha perigosa.
“Me incomoda um pouco essa quase que automática adesão de muitos grupos sociais a uma ideia de participar do ‘show do progresso’, participar do ‘show do sucesso’, participar desse evento que promete que nós vamos continuar tirando o petróleo, que a gente vai continuar aquecendo a temperatura global e que a gente vai escapar disso com tecnologia, com ciência e tecnologia”, diz. Autor dos livros Ideias para adiar o fim do mundo e de A vida não é útil, o pensador alerta para o risco de os seres humanos se tornarem “máquinas de fazer coisas”, condicionados à lógica produtivista. “Se a gente não conseguir distinguir o joio do trigo, vamos continuar incidindo sobre o corpo da Terra com essa disposição cega de produzir coisas. Produzir, produzir… como uma máquina de fazer coisas. E nós não podemos ser uma máquina de fazer coisas”, atesta. Para o escritor, a lógica da produção e do consumo se tornou uma armadilha que aprisiona a humanidade em um ciclo de destruição. “Essa maquinaria toda vai instituindo um consumo de tudo, inclusive o consumo de nós mesmos. Vamos nos consumindo, uns aos outros”, projeta.
Krenak vê com preocupação o avanço de medidas como o projeto em tramitação no Congresso, chamado “PL da Devastação”, que enfraquece o licenciamento ambiental, e a realização de leilões para exploração de petróleo, inclusive em territórios sensíveis, como a Foz do Amazonas. “Eu convoco as pessoas que ainda são capazes de se afetar com a ideia da vida no planeta para que nos voltemos para proteger a vida e isso não se basta nessa ideia de progresso e desenvolvimento”, diz. Krenak lembra que o título de seu livro Ideias para Adiar o Fim do Mundo não foi escolhido por acaso, mas também não deve ser interpretado como um desejo de prolongar um mundo em colapso. “Se nós estamos perdendo a qualidade da vida no planeta, adiar a experiência aqui implicaria em buscarmos outros paradigmas, mudar a nossa própria ideia de que somos uma humanidade com ampla coincidência de propósito”, afirma. Ele cita o alerta feito pelo secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, durante a última Conferência do Clima, como sinal do fracasso das atuais escolhas globais. “Se o secretário-geral da ONU diz que nós estamos marchando seriamente para o inferno, não sou eu que vou querer adiar essa experiência”, ressalta. (IHU)