sexta-feira, 18 de outubro de 2024

29º domingo comum - Na família de Jesus não há lugar para carreiristas e ambiciosos. Só serviço, anonimato e últimos lugares!

Na carta de Francisco aos novos cardeais que, recentemente, ele mesmo nomeou, lhes garantia a sua oração a fim de que o titulo de 'servidor'  ofuscasse sempre mais o de 'eminência'! Triste e histórica contradição, pois se assim o desejasse jamais deveria realimentar e promover honrarias e carreiras hierárquicas dentro da igreja de Jesus! Como não lembrar o que próprio Mestre dizia aos seus discípulos para que não se deixassem chamar de ‘rabi, mestre ou pai’, pois só um é o Mestre e o Pai de todos? E, arrematava insistindo que quem era o maior dentre eles devia ser o servidor de todos? (MT.23,8-11) Carreirismo clerical, sede de reconhecimento público e disputas por cargos de prestígios dentro da igreja sempre têm envergonhado o itinerário dos que se autodefinem pastores, sacerdotes, ministros de Jesus, e respaldados por aqueles fieis que assim os reconhecem. Contudo, nada disso é evangélico! Aos ambiciosos irmãos do evangelho de hoje Jesus é enfático em afirmar que só há lugar no novo modo de governar de Deus para aquele que se educa a servir a todos, indistintamente, e a ocupar sempre o último lugar, por ser quase sempre ignorado e invisibilizado. O lugar de quem, aparentemente, nada conta, e de quem nunca é visto. São pessoas assim que para Jesus são habilitadas a 'coordenar' a nova Governança de Deus! 

quarta-feira, 9 de outubro de 2024

10 DE OUTUBRO - DANIEL COMBONI ESCREVE AOS SEUS CONFRADES DE HOJE!

 


Meus queridos e estimados confrades,

Talvez alguém estranhe que mantenha ainda o hábito de me comunicar com vocês mediante cartas; talvez algo ultrapassado para vocês, hoje em dia. Na verdade tenho pouca habilidade e inclinação em adotar aquilo que vocês chamam de ‘redes sociais’, e quero me manter na tradicional correspondência escrita achando que, para mim, continua ainda a forma mais direta e familiar de me dirigir a vocês. Faço-o no dia em que se recorda a minha despedida terrena e no dia em que vocês, após muitos anos de intensos esforços e incansáveis articulações de todo tipo, - não incentivadas por mim, fique claro, - conseguiram colocar o meu nome ‘nos altares’, como se costuma falar ou, se preferirem, me canonizaram, alguns anos atrás. 

Confesso-lhes que nunca lutei por isso, seja quando estava na minha amada África Central, seja agora, onde me encontro, entre os bem-aventurados que contemplam o rosto luminoso do Pai. Sempre tenho acreditado e me esforçado para ser santo, isso sim, mas não para ser objeto de devoção e nem com o intuito de ser imitado, um dia, pelos meus confrades ou por outros simpatizantes. A santidade em que sempre acreditei, - e que nem sempre me saía com facilidade, para dizer a verdade, - se confundia com uma genuína compaixão e com um amor ardente por aqueles povos sofridos do Sudão que vocês também conhecem. Dói-me nas profundezas da minha alma, mesmo sendo eu um beato, observar o horrível sofrimento dos filhos e filhas descendentes daqueles antepassados que eu conheci há mais de um século atrás. Lembro-me bem do dia em que tive uma intuição luminosa, - e que só podia ser uma revelação divina, - quando escolhi me dedicar com todas as minhas forças à redenção daqueles povos que aos meus olhos eu via como os mais abandonados e ignorados do planeta. Tentei, com a colaboração de outros confrades, irmãs, leigos e pessoas generosas amenizar um pouco dos sofrimentos produzidos por inúmeras doenças, pela escravidão, pela insalubridade da região e pela indiferença dos grandes da época. 

Não tenho condições, e nem cabe a mim, fazer um balanço objetivo daqueles anos de árdua missão, mas posso lhes dizer que tentei ser com os meus missionários uma boa nova, e um tímido sinal de esperança para aqueles pobres esquecidos. Não posso negar que quando as forças falhavam e a esperança queria se esvair o que me sustentava, sistematicamente, era um sonho, não uma ilusão, de que um dia algo bonito, inédito e surpreendente, poderia acontecer naquele canto de mundo do meu Deus. Não saberia traduzir isso em palavras claras, ou através de planos estratégicos e prioridades pastorais como vocês falam, hoje em dia. Garanto-lhes que era um sentir íntimo, profundamente pessoal, mas muito intenso. Uma fé! Isso tem me alimentado, mesmo quando vim saber, tempo depois, que líderes locais extremistas, - como muitos existem ainda hoje, no mundo de vocês, - obcecados por poder e a dominação, destruíram o que havíamos a duras penas construído. Hoje, mesmo na paz celestial o meu coração continua a chorar vendo milhares de filhos e filhas do Sudão e de outros países onde vocês trabalham, sendo ceifados em disputas e guerras violentas entre si, e obrigando milhões deles a saírem de suas terras à procura de refúgio e segurança em outros países, encontrando somente rejeição e morte. 

Queridos confrades confesso-lhes que, hoje, 10 de outubro, a melhor forma para se lembrarem de mim e do pouco ou muito que a minha missão tem significado para vocês não é através de solenes celebrações com as ‘orações próprias do dia’. E nem citando, aleatoriamente, frases ou ditos das minhas cartas. E nem tampouco me invocar como intercessor para resolver suas necessidades ou desejos, talvez, até legítimos, mas inapropriados. A melhor forma para mim é vocês terem a coragem e a ousadia de identificar quem são, de fato, hoje, ‘os mais pobres e abandonados’, - como vocês falam frequentemente em seus documentos, - e a eles se dedicarem e servirem, sem cálculos e sem medo de se perder. Não se preocupem demasiadamente com as vocações, a organização e a burocracia interna, mesmo que, agora, vocês tenham se transformado num instituto e numa congregação conhecida. Acreditem, um testemunho forte, coerente, generoso, corajoso deixa rastos e faz brotar mil vidas e mil esperanças!  

 Vosso afeiçoado irmão em Cristo, Daniel  


sexta-feira, 4 de outubro de 2024

27º Domingo comum - Um só ser, uma só carne, com igual dignidade para revelar a essência de Deus que é homem e mulher, ao mesmo tempo!

Feminicídios e agressões contra as mulheres aumentam a cada dia no mundo todo. Muitos homens parecem não aceitar mais um ‘não’ de uma namorada ou de uma companheira. Alguns ‘machos providentes’ sequer aceitam que mulher ganhe mais do que eles! A solução que muitos machos fracassados adotam para essa insana insubordinação da mulher é a sua eliminação física ou a sua radical rejeição. Jesus, antes mesmo de defender o matrimônio em si, e seus recíprocos compromissos, lembra aos homens fariseus que a inalienável igualdade entre homens e mulheres tem sua origem no Deus Criador e não em leis e tradições humanas. ’Ninguém é dono de ninguém, e os direitos de um são os direitos da outra também’! E isso porque Deus os criou ‘homens e mulheres’, simultaneamente. Somente juntos, em pé de igualdade, revelam o rosto inefável de um Deus que é, simultaneamente, homem e mulher, pai e mãe, ao mesmo tempo! A eliminação, a rejeição, a negação, ou o não reconhecimento da dignidade de um dos dois, seja quem for, é negar a própria essência de Deus, o Deus de Jesus de Nazaré! 


27ª domenica comune - Un solo essere, una sola carne, con uguale dignitá per rivelare Dio che é uomo e donna allo staesso tempo!

I femminicidi e gli attacchi contro le donne aumentano ogni giorno in tutto il mondo. Molti uomini sembrano non accettare più un semplice "no" da parte di una sposa o di una partner. Alcuni “maschi apparentemente provvidenti” non accettano nemmeno che le donne guadagnino più di loro! La soluzione che molti 'maschi falliti' adottano per quella che essi considerano una 'folle insubordinazione' da parte delle donne è l'eliminazione fisica o il rifiuto radicale . Gesù, prima ancora di difendere il matrimonio stesso e i suoi impegni reciproci, ricorda agli uomini farisei che l'uguaglianza inalienabile tra uomo e donna ha la sua origine nel Dio Creatore e non nelle leggi e nelle tradizioni umane."Nessuno possiede nessuno, e i diritti dell'uno sono anche i diritti dell'altra"!E questo perché Dio ha creato "uomini e donne" simultaneamente. Solo insieme, essendo una sola carne/essere indivisibile, su un medesimo livello dignità, rivelano il volto ineffabile di un Dio che è 'maschio e femmina', uomo e donna, padre e madre, allo stesso tempo! L'eliminazione, il rifiuto, la negazione o il non riconoscimento della dignità di uno dei due, chiunque esso sia, è negare l'essenza stessa di Dio, il Dio di Gesù di Nazareth! 


domingo, 29 de setembro de 2024

Candidaturas indígenas crescem, mas enfrentam o racismo e a velha politicagem

 Se antes não havia rostos, vozes e adereços indígenas na política, hoje a realidade é outra. Desde que o movimento indígena se organizou para tentar eleger mais representantes, o número de candidaturas aumenta a cada pleito. Poucos, no entanto, conseguem se eleger. As campanhas enfrentam inúmeras dificuldades, como o preconceito, a falta de verbas e um modo de fazer política que favorece outras candidaturas, como o uso da máquina pública. A Repórter Brasil conversou com seis candidatos indígenas (dois a prefeito e quatro a vereador) em municípios do Norte, Nordeste e Sudeste do país, para conhecer os principais desafios das campanhas e suas expectativas na política.

Candidata a vereadora em Manaus (AM) pela Rede Sustentabilidade, Vanda Witoto diz que o preconceito e a compra de votos estão entre os principais desafios. Ela destaca que há muita violência na política partidária como parte de um racismo institucional, prevalente em espaços públicos ocupados por homens brancos. Em 2022, quando era candidata à deputada federal pelo Amazonas, Vanda foi hostilizada por um grupo de pessoas vestidas de verde e amarelo na chegada ao colégio eleitoral, no dia da votação. Ela estava com a sobrinha, ambas pintadas e com adereços e trajes tradicionais. “Vivenciamos situações como essa inúmeras vezes. Este é um campo muito violento, principalmente para as mulheres. Nos desqualificam. Temos que provar que a gente tem condição de estar ali, de estar concorrendo e ser eleita”, conta Vanda. Líder do povo Witoto, Vanda teve uma votação expressiva em 2022, com 25.545 votos, mas insuficiente para se eleger. Manaus é a cidade com mais indígenas do país: 71,7 mil pessoas, ou 3,5% da população. Ainda assim, não elegeu nenhum indígena para as 8 vagas de deputado federal em 2022, nem para as 34 vagas de suplente. A maioria eram brancos e pardos.

Vanda diz que, em período eleitoral, muitos candidatos cooptam lideranças indígenas para que os apoiem em troca de favores. Por isso, ela vê sua campanha também como um ato de consciência política. “O que chega aos nossos territórios, comunidades indígenas e periferias da cidade de Manaus é a compra de voto, por meio das cestas básicas, da compra da receita do remédio e do botijão de gás. Esse é o mecanismo da politicagem no nosso município, é essa a estrutura colocada para o nosso povo. Então, a minha caminhada tem esse mecanismo também de educação, de consciência política, de a gente perceber o voto como um instrumento de garantia dos nossos direitos”, pontua.A política partidária foi por um tempo um dilema para o movimento indígena, explica Kleber Karipuna, coordenador da Articulação Nacional dos Povos Indígenas do Brasil (Apib). Aos poucos, contudo, o movimento foi entendendo que era necessária uma participação mais organizada na política, como estratégia para defesa de direitos e territórios indígenas.

Foi assim que, em 2017, a Apib lançou o primeiro manifesto de apoio a candidaturas indígenas no Brasil, no âmbito do Acampamento Terra Livre (ATL), que acontece anualmente em abril. “Por um tempo éramos muito isentos nesse debate, mas com o tempo começamos a avaliar que era necessário estar nesse meio. Porque é ali que começamos a entender várias discussões do rumo do país e, por consequência, dos povos indígenas”, reflete o coordenador. Um marco desse momento foi a eleição da primeira mulher indígena deputada federal em 2018, Joênia Wapichana, pela Rede em Roraima. Atualmente ela é presidenta da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) – antes dela, apenas o xavante Mario Juruna havia sido eleito pelo Rio de Janeiro para a Câmara dos Deputados, em 1982.Na eleição de 2022, o movimento conseguiu eleger duas candidaturas da “bancada do cocar” para a Câmara dos Deputados: Célia Xakriabá (PSOL/MG) e Sônia Guajajara (PSOL/SP), atual Ministra dos Povos Indígenas. O movimento acredita que o resultado disso é o aumento de candidaturas nas eleições municipais de 2024, com 2.479 registros – 14% a mais do que em 2020. O crescimento entre os indígenas foi o único registrado entre candidatos brancos, pardos, pretos, amarelos e os que não informaram.

sábado, 28 de setembro de 2024

26º domingo comum - No 'lixão' ou 'pedra no pescoço' para quem rouba, violenta e humilha os humildes do Reino!

 

Muitas vezes, parece que vivemos numa espécie de paranoia coletiva. Respiramos uma cultura social e religiosa em que vemos inimigos e perseguidores em tudo o que é canto! Desconfiados de tudo e de todos nos retiramos, ou no nosso mundinho feito de pânico e paralisia, ou em algum ambiente que parece nos proteger e defender. Jesus é mente aberta! Ele nos alerta que aquelas pessoas que, - mesmo não fazendo parte do nosso grupo ou igreja, mas vivem os valores em que nós acreditamos, - são aliados, e não inimigos! Mais do que isso: se esse nosso fechamento mental-espiritual excludente, que é escandaloso, leva os 'pequenos', ou seja, as pessoas simples do nosso grupo-igreja a pecar, temos o dever de mudar 'radicalmente', extirpando, de vez, a causa de tão grave comportamento. Jesus cita, concretamente, quais são as principais causas do escândalo-divisão dentro do grupo-igreja: o olho grande, insaciável, invejoso e que deseja ter sempre mais; a mão que rouba salário e esperança, e que agride e violenta; os pés que esmagam, humilham e dominam pessoas. Pessoas assim, se não mudarem radicalmente, não têm espaço no sistema de governo de Deus. O lugar delas é o 'lixão' sempre em chamas....ou as profundezas do mar das trevas.


sábado, 21 de setembro de 2024

25° domingo - Para seguir Jesus é preciso ser o último entre os últimos

 Como um ser humano pode entender e incorporar a força transformadora do amor e do serviço gratuito se a sociedade na sua totalidade enaltece práticas de ódio, de intolerância, e de disputa sem trégua? Como entender Jesus, então, quando afirma que será entregue aos homens para ser morto, derrotado, e reviver após três dias quando se queria pegar carona com Ele para ganhar um 'lugar ao sol', graças às perspectivas de se tornar um líder de um futuro reino? Pelo visto, pouco servem os raros exemplos de abnegação e gratuidade se persiste um sistema social que pressiona as pessoas a se darem bem na vida, ambicionando a ocuparem sempre os melhores lugares e serem socialmente reconhecidas! O discípulo de Jesus tem que encontrar dentro de si a coragem de romper com a ideologia da vitória, do sucesso e do prestígio, e fazer o contrário! Ao prepotente maníaco de poder e honrarias o seguidor de Jesus não teme servir no anonimato. E, diante daquele que arde por sobressair-se ele se coloca, de forma humilde e sistemática, no último lugar ao lado dos últimos e dos ignorados.