A religião ‘ópio dos povos’ é aquele conjunto de ritos e normas voltado exclusivamente para um fantasmagórico Deus criado à sua própria imagem e semelhança. Religião de verdade, não alienante, é, ao contrário, um conjunto de ações que visam a humanizar as pessoas, em conformidade com o projeto do ‘Deus Humano’. Os ‘piegas-dependentes’, ou os santinhos de pau oco, acham que obtêm proteção e bênção divina ao cumprirem obrigações litúrgicas e rituais que eles próprios criaram, achando que estão agradando a Deus. A ‘religião-religação’ deles não contempla a presença-existência de seus pares humanos. Não criam redes de ‘ligação e religação’ afetiva e efetiva com a grande família humana. São autênticos ‘fariseus’, ou seja, ‘separados’ do restante da família. Mais que isso. Olham e julgam seus pares a partir da sua separação, da sua suposta ‘pureza legal, da sua consciência limpa’. A hipocrisia, a camuflagem, a falsidade se tornam expressões de um estilo de vida neurótico e esquizofrênico. Vão, frontalmente, na contramão daquilo que Jesus pregava e fazia.
Na parábola do ‘fariseu e do pecador público’ – expressão de dois extremos opostos, - fica claro o binômio ‘arrogância religiosa e intolerância’ com ‘pecado e humildade-misericórdia’. Aquele que se acha mais santo é, para Jesus, o mais pecador. E aquele que se acha pecador acaba se tornando, para Jesus, o mais santo. Santo é o publicano, para Jesus, não porque deixou de praticar o mal, mas porque tem consciência que suas ações estão prejudicando outras pessoas, e com humildade pede a Deus a mudança de coração, e de prática. Já o fariseu, o santo de pau oco, por achar que não deve mudar nada, e por não ter nenhum tipo de compromisso com a família humana, se coloca à margem, e se autoexclui. Deixa de ser um verdadeiro ‘religioso’ que liga e religa, tece e costura redes de solidariedade com as pessoas que mais precisam de ajuda e apoio. Paradoxalmente, hoje em dia, encontramos os verdadeiros praticantes da religião fora dos templos, e longe das belas liturgias. Os verdadeiros religiosos costumam falar muito pouco de Deus e, ao contrário, mostrar a Sua compaixão intensa e atuante em pequenos gestos de dedicação, de generosidade, de atenção delicada e de assistência oculta para com inúmeros humanos invisíveis.