sábado, 29 de fevereiro de 2020

Iº Domingo de Quaresma - Ou um Messias servidor e defensor dos pobres, ou um messias de armas na mão! De que lado o seguidor de Jesus deve estar?

Faz parte da nossa existência sermos submetidos a muitas e diferentes provas. A vida é um teste permanente (40 significa 'sempre'). É natural sentir-se atraídos por algo ou por alguém de que não gostaríamos. E ter que encarar isso não deveria produzir sentimentos de culpa. Ao contrário, deveríamos ver nisso uma oportunidade, um momento privilegiado, pedagógico, para dizer para nós mesmos e para os outros o que somos e o queremos. As tentações de que nos fala o evangelho de hoje representam as provas que a vida nos submete, principalmente quando uma pessoa toma decisões públicas, aparentemente firmes e permanentes. Por isso que o evangelista as apresenta de forma positiva. O próprio testador, o ‘Diabo ou diabólico’ que significa, simplesmente, ‘aquele que desarruma, que dispersa’ tem a função de nos apresentar o contrário daquilo que nós queremos. Entendemos, assim, que cada um de nós faz a experiência de sentir dentro de si tendências contraditórias. Aspiramos a algo bonito, mas sentimos atração pelo seu contrário! Queremos paz, mas semeamos violência. Queremos verdade, mas plantamos mentiras. É nesse momento de teste crucial que cada um tem que dar a sua resposta concreta e real, e decidir qual caminho pretende trilhar. De qual lado vai ficar. Nós, hoje, na nossa realidade social tão caótica e perversa, produtora de morte, somos chamados a proclamar e provar, sem tergiversar, se estamos do lado de um 'Messias' servidor, defensor e protetor dos pobres, ou do lado de um mesquinho 'messias de armas na mão' sedento de poder, que faz do seu desejo de dominação e de dispersão (diabolicidade) o sentido da sua vida. Hoje, mais do que nunca, não é mais suficiente resistir a essa tentação mortífera. É preciso combatê-la, decididamente, embora sem armas de fogo, pois o que está em jogo é a vida e o futuro de milhões de filhos e filhas de Deus feridos e largados à beira do caminho!

sábado, 15 de fevereiro de 2020

6º domingo comum – Quem vê cara, não vê coração! ...Ou, bonitinhos por fora, podres por dentro! (Mt. 5.17-37)

Existem cristãos fervorosos que se consideram em paz com Deus só porque ‘nunca mataram, nunca roubaram, nunca adulteraram...’! Gente que diz, por exemplo, que nunca roubou, mas que acha normal pagar diárias de R$ 40,00, ou salário mensal de R$ 400,00... Outros se gabam que estão casados na igreja e que nunca pularam a cerca, mas agridem a ‘esposa’ dentro de casa e tomam gosto com todas as mulheres que passam, tratando-as como coisas....Há aqueles que se orgulham por nunca ter desobedecido ao quinto mandamento ‘não matarás’, mas utilizam a faca afiada e caluniosa da sua língua para destruir centenas de reputações e enlamear a dignidade de outras tantas....Há também quem diga que ‘faz direitinho suas orações e paga seu dízimo em dia’, mas nunca aprenderam o que significa ‘compaixão e misericórdia’! Jesus nos intima a ir para além daquilo que as leis prescrevem. Compreender e obedecer à sua finalidade última, à sua essência mais profunda. E jamais ficar satisfeitos com a sua mera obediência formal. Até porque muitas normas e preceitos foram elaborados pelas próprias elites sacerdotais para tornar reféns do sistema farisaico de exploração e de manipulação do ‘templo’ os seus clientes! Jesus nos lembra que devemos ‘obediência rigorosa’ sim, mas somente aos ‘preceitos da Nova Aliança’, ou seja, às ‘Bem-aventuranças’! Elas devem nos motivar e nos comprometer radical e permanentemente. Não só com a nação a que pertencemos, - como os sacerdotes queriam, - mas com todos os sofredores da terra. E não através do cumprimento de preceitos cultuais, mas mediante a prática concreta da solidariedade, da compaixão e da acolhida. As Bem-aventuranças não são um contrato legal com Deus, mas uma inabalável aliança com todos os pobres de hoje cuja identidade é por demais conhecida!Que sejamos operadores de justiça e de fraternidade, e não fervorosos legalistas sem amor e sem compaixão!

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020

Pulverização aérea de agrotóxicos na região de Açailândia já vem produzindo estragos à saúde pública. Ceará já proibiu a pulverização há um ano sem prejudicar a produção!

Inúmeros relatos de lavradores da região de Açailândia, MA, denunciam a ação sistemática e perniciosa da prática de pulverizar os agrotóxicos nas grandes plantações de soja, mediante a utilização de pequenos aviões vindos de outros estados (Goiás e Tocantins) Muitas plantações estão localizadas próximas de centros habitados, assentamentos e pequenos centros. Existem muitos casos de mortes de pequenos animais, com pessoas passando mal, com prolongados vômitos, enjoos, febre, etc. em alta quantidade e desconhecidos até a chegada da pulverização aérea na região. Talvez tenha chegado a hora para o Maranhão de imitar a decisão tomada pela Assembleia Legislativa do Ceará que no início de 2019 proibiu qualquer forma de pulverização aérea e fundamentando cientificamente os prejuízos que vinha produzindo....

Só 50% do pesticida vai para o solo...o resto nas plantas e em gente!
A pulverização aérea de agrotóxicos está proibida no Ceará desde o início de 2019 por força da lei estadual 16.820/19. Inúmeros estudos nas áreas de saúde coletiva e pesquisa agropecuária alertam para a trágica relação entre agrotóxicos, contaminação ambiental e doenças, em particular o câncer. De 2000 a 2012, por exemplo, pesquisas desenvolvidas na Universidade Federal do Ceará (UFC) e na Universidade Estadual do Ceará (UECE) revelaram que o número de mortes por câncer entre crianças e adolescentes aumentou de forma preocupante nas regiões que concentram os chamados perímetros irrigados no estado, todos eles marcados pelo uso intensivo de agrotóxicos. De acordo com os dados da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), mesmo com diversas condições ideais, como calibração, temperatura e ventos, o método de pulverização implica na retenção de 32% dos agrotóxicos nas plantas, enquanto que 49% vão para o solo e 19% são dispersados para áreas fora da região de aplicação.Na Europa, o Parlamento Europeu praticamente proibiu a pulverização aérea de pesticidas nos países da União Europeia (EU) desde janeiro de 2009. Por lá, esse tipo de pulverização só acontece em casos excepcionais, mediante autorização dos órgãos competentes, criteriosamente habilitados por cada Estado membro.

Pesticida isentos de impostos! Um absurdo fiscal.
Mesmo sendo causadores de impactos ambientais com graves consequências para a agricultura, como a morte de abelhas e a contaminação do solo, e também de inúmeras doenças que oneram o SUS, os pesticidas são isentos de impostos como IPI, PIS/Cofins, Imposto de Importação e, em vários estados, de ICMS. De 2010 a 2017, segundo estimativas do TCU, essa renúncia fiscal chegou a quase R$ 9 bilhões.
Mesmo sem pulverização aérea a produção não sofreu prejuízos no Ceará!A proibição da pulverização aérea de agrotóxicos não prejudicou –e nem prejudicará– a produtividade agrícola do Ceará, que fechou 2019 com aumento da produção de 42 itens, incluindo crescimento de 4,55% na fruticultura. O parlamento cearense, no uso de suas competências constitucionais, apontou que quer alimentos mais saudáveis, transição agroecológica, diminuição das doenças causadas pelo uso dos agrotóxicos e diminuição da intoxicação das comunidades. E fez isso com base em sólido rigor científico. Em toda a tramitação da lei, foram apresentados dados e testemunhos científicos. A ciência rigorosa, livre dos interesses do mercado, referenda nossa lei.
Portanto, ao contrário do que escreveu o articulista Xico Graziano aqui nesse Poder 360 no último dia 29, o Ceará não deu um tiro no pé ao aprovar a lei. Pelo contrário, deu os primeiros passos para que a pulverização aérea de veneno seja proibida também em outros estados da Federação. A saúde pública e o meio ambiente agradecem

sábado, 8 de fevereiro de 2020

Ser sal para conservar fidelidade à Aliança com o Deus dos indigentes e dos pobres e não com aqueles que ‘têm hábitos autoritários e fala maldosa’ (Mt. 5, 13-16)

Há cristãos hipócritas que fizeram escolhas políticas equivocadas, mas não dão o braço a torcer. Continuam, contra todas as evidências, a defender ‘um Messias de arma na mão’. Ocorre que o ‘verdadeiro ungido’, o Messias do Pai, prega e constrói solidariedade com os pobres, os mansos, os aflitos, os construtores de paz, os famintos e sedentos de justiça. Esta é a ‘nova aliança’ que Jesus selou com Deus e o seu povo. E pede que os seus discípulos se mantenham rigorosamente fiéis a isso. Que conservem e preservem esse pacto da mesma forma que o SAL conserva e preserva os alimentos, evitando que eles se estraguem. A infidelidade a esta ‘aliança’ tornará os discípulos insossos, verdadeiros ‘traíras’, e servirão tão somente para serem desprezados e pisados pelos homens. Afinal, a sociedade espera deles ‘solidariedade e compaixão’, e não aceita que façam ‘aliança’ com aqueles que matam e exploram os indigentes, os pobres, os famintos, os injustiçados!
Jesus tem consciência que a velha aliança alicerçada em normas e preceitos cultuais fez mergulhar o povo numa noite sem fim. A falta de sal nos supostos aliados de Deus produziu trevas, desespero e vida sem sabor. Daí que Jesus afirma categoricamente que os seus discípulos devem ser luz itinerante. Que façam brilhar a luz da nova aliança alicerçada na solidariedade das ‘bem-aventuranças’ em todos os rincões do mundo. Não uma luz estática, nem tímida, oculta, abafada, mas uma luz resplandecente feita de ‘Boas Obras’. Ou seja, ‘repartir o pão com o faminto, acolher o pobre e o peregrino e cobrir o nu...’(Is. 58,7) E, simultaneamente expelir do nosso meio ’os hábitos autoritários e a fala maldosa’ (Is,58, 9). A única forma para vencer as trevas em que mergulhamos, e voltar a ver a luz do meio dia!

sábado, 1 de fevereiro de 2020

Apresentação de Jesus ao templo – Ir ao templo para dizer a todos que a salvação não vem dele, de seus sacerdotes e preceitos, mas mediante o amor compassivo para com todos!(Lc 2,22-40)

Existem momentos históricos que exigem um rompimento claro com tradições e com um conjunto de preceitos e normas sociais. Afinal, são produtos humanos transitórios, próprios de uma época. Não são ‘palavra revelada’ de valor permanente e universal! Os pais de Jesus, filhos da cultura religiosa da sua época, tentaram encaminhar o seu filho para seguir o seu mesmo caminho. Levam Jesus justamente ao lugar que Ele mais detestaria quando adulto: o templo. É justamente no templo que Maria e José se defrontam com Simeão. O idoso experiente não vivia e nem frequentava o templo, mas se alimentava da esperança de uma mudança profunda em Israel. Vai ao templo só para revelar a missão de Jesus que será totalmente desligada da do templo. Simão se torna, agora, o símbolo da nova e profética sabedoria a ser seguida. 
Ele entende que a Lei e os preceitos não pouparam Israel da dispersão e do fracasso nacional. Deixa claro para os educadores Maria e José que Jesus, - mesmo contra a vontade deles, - deverá ser educado a ‘ser esperança para todos os povos’ e não somente para Israel. E que por causa disso Ele será ‘sinal de contradição’, motivo de queda e de esperança para muita gente. E que todos aqueles que seguirão o Seu estilo de vida sentirão dentro de si, como Maria, a presença permanente da ‘espada da Palavra’. Ela estará sempre presente para penetrar as profundezas do nosso espírito, questionar nossas escolhas de vida, nossas convicções e dogmas, e atormentar os nossos sonhos de autossuficiência. Maria, com o tempo, entenderá que não era suficiente ser ‘a mãe de Jesus’ mas que devia se tornar também ‘discípula’ do Filho. Disposta a infringir leis e preceitos, decretos e portarias palacianas para preservar todos aqueles que eram considerados pagãos, impuros, comunistas e pecadores. O que estava em jogo, afinal, não era a ‘imagem, o prestigio, e a popularidade’ do seguidor de Jesus, mas a sua coerência com o legado do Mestre!