quinta-feira, 23 de novembro de 2017

Brasil senzala - Doméstica demitida por usar o único banheiro da casa!

Um relato divulgado nesta quarta-feira (22) pela página mostra a humilhação que boa parte das mulheres que trabalham fazendo faxina ainda sofrem; um print de uma conversa de Whatsapp mostra a patrona "Dona Juliana" dispensando uma doméstica que havia feito uma "ótima faxina"; motivo: ela usou o único banheiro da casa; “Aqui em casa só temos um banheiro e você utilizou por que eu ouvi a descarga. Sabe como isso é anti-higiênico? Você faz isso na casa das pessoas que trabalha?”, afirmou a madame; a doméstica, por sua vez, não aceitou. “Trabalhei igual condenada e não tinha o direito nem de usar o banheiro?”

sábado, 18 de novembro de 2017

Domingo XXXIII – Fazer crescer e multiplicar a justiça e o direito! (Mt. 25, 14-30)

Quando alguém nos coloca nas alturas, nos idealiza, e deposita integralmente a sua confiança em nós podemos reagir de diferentes formas. Se de um lado nos sentimos bem ao saber que alguém nos estima, do outro lado podemos nos sentir um pouco angustiados. De fato, experimentamos o medo de decepcionar quem confia em nós. Ou achar que não vamos dar conta do recado do jeito que as pessoas esperam de nós. Isso, contudo, não pode ser motivo para ignorar a confiança recebida e permanecermos parados. Está aqui o nó central da parábola de hoje. Deus, o senhor da parábola, transfere os seus bens, o seu Reino a cada um de nós, seus servidores. Ele não empresta. Ele dá em medida diferente e de acordo com as capacidades administrativas de cada um.

 Aqui entra a opção da cada pessoa que foi beneficiada. Quem recebeu cinco e quem dois tomou a iniciativa de fazer crescer aquele patrimônio. Os dois sabem da sua importância, e não querem decepcionar Aquele que depositou neles a sua confiança. Já aquele que recebeu só um talento com medo de ser roubado ou medo de errar na administração decidiu escondê-lo. E nada fez para tentar multiplicá-lo, mesmo errando. O seu senhor, ao voltar, tirou desse medroso o único talento que tinha, e o transferiu àqueles que tinham provado saber administrar os bens iniciais recebidos. O Reino de Deus nos é entregue para que o façamos crescer e multiplicar. Não é um patrimônio pessoal a ser escondido. Decepção mesmo não é errar, mas quando nada fazemos para multiplicar e disseminar o amor, a justiça, o direito. Vamos católicos: não vamos deixar o Reino nas mãos de delinquentes!   

quinta-feira, 16 de novembro de 2017

Mariana 2 anos depois - Justiça vai fazer justiça?

Dois anos após a maior tragédia ambiental da história brasileira, a Justiça Federal determinou a retomada da ação criminal contra os acusados pelos danos do rompimento da barragem em Mariana, em 2015, suspensa desde julho; o discreto avanço, no entanto, contrasta com a difícil luta dos que seguem sem reparo pelos estragos causados; de acordo com ambientalistas, os efeitos dos rejeitos de minério lançados no mar devem durar por pelo menos mais cem anos; entretanto, não se tem um panorama completo de todos os detalhes dos danos causados pelo desastre

GLOBO-LAMA: Procuradora vai investigar? Lá fora a GLOBO já dançou, e aqui?

Para o jornalista Luis Nassif, que revela a trajetória da parceria entre o MPF e a Globo, "há uma nova Procuradora Geral da República, Raquel Dodge, no maior desafio que um PGR enfrentou, provavelmente desde a Constituição: provar que o MPF é um poder de Estado de fato, e que não existem intocáveis na República"; "São tão abundantes as informações que jorram do exterior, que não será possível esconder o fato debaixo do tapete, como foi feito em outros tempos com tantos inquéritos", avalia.

Advogado que delatou amigo do Moro vai depor na CPI sobre abusos da Lava-jato. Aguardem, ele sim tem provas!

Advogado Rodrigo Tacla Durán prometeu que "no dia 30 vou poder esclarecer ao Brasil o que já esclareci para diversos países. Vou continuar colaborando de forma plena e eficaz"; ele prestará depoimento no dia 30 deste mês à CPI da JBS; Durán vem denunciando irregularidades e fraudes nos acordos de delação premiada e a tentativa de um advogado amigo do juiz Sergio Moro de lhe vender facilidades para se tornar colaborador; "Nenhum crime é perfeito. Vocês vão ver dia 30", ressalta

quarta-feira, 15 de novembro de 2017

'Escutai reis e compreendei. Instrui-vos governadores.....' (Sabedoria 6,1)

No dia em que o Brasil faz memória da Proclamação da República inaugurando um regime diferente da monarquia (?) e ao ler a leitura que a liturgia escolheu para o dia de hoje, não resisti, e a publico para que possamos constatar quão atual ela continua depois de 2.400 anos!!!!

Do Livro da Sabedoria 6,1-11

1 Escutai, ó reis, e compreendei. 
Instrui-vos, governadores dos confins da terra! 
2 Prestai atenção, vós que dominais as multidões 
e vos orgulhais do número de vossos súditos. 

3 Pois o poder vos foi dado pelo Senhor
e a soberania, pelo Altíssimo.
É ele quem examinará as vossas obras
e sondará as vossas intenções;

apesar de estardes ao serviço do seu reino, 
não julgastes com retidão, nem observastes a Lei, 
nem procedestes conforme a vontade de Deus. 
5 Por isso, ele cairá de repente sobre vós, de modo terrível, 
porque um julgamento implacável será feito sobre os poderosos.

6. O pequeno pode ser perdoado por misericórdia, 
mas os poderosos serão examinados com poder. 
7 O Senhor de todos não recuará diante de ninguém 
nem se deixará impressionar pela grandeza,
porque o pequeno e o grande, foi ele quem os fez,
e a sua providência é a mesma para com todos;
8mas para os poderosos, o julgamento será severo.

9 A vós, pois, governantes, dirigem-se as minhas palavras, 
para que aprendais a Sabedoria e não venhais a tropeçar. 
10 Os que observam fielmente as coisas santas 
serão justificados; 
e os que as aprenderem 
vão encontrar sua defesa. 

11Portanto, desejai ardentemente minhas palavras,
amai-as e sereis instruídos.
Palavra do Senhor.

GLOBO acusada de cobrar propina. Apavorada ela teme delação do ex-poderoso Teixeira da CBF

A Globo comprava os direitos de transmissão da Libertadores da empresa Torneos Y Competencias, que era controlada pelo executivo Alejandro Burzaco, que acusou a emissora de pagar propina a cartolas sul-americanos; informação foi divulgada nesta quarta-feira, 15, pelo jornalista Rodrigo Mattos; a Torneos, empresa de Burzaco, era dona de parte da empresa T & T Sports Marketing BV, que adquiriu todos os direitos da Libertadores; documentos obtidos no caso 'Panama Papers' mostram que a Globo e a T & T mantinham relação contratual por 11 anos, de 2005 a 2016 quando foi rompido elo pelo escândalo na Conmebol; em média, a emissora pagou US$ 16 milhões por ano pela Libertadores, preço bem abaixo do padrão do mercado brasileiro pela competição. Acusada por um delator argentino de pagar propina por direitos de transmissão no futebol, a Globo também acompanha com apreensão os desdobramentos de outro possível acordo de delação que deverá detalhar em minúcias a sua participação no esquema de corrupção; trata-se da delação que o ex-presidente da CBF Ricardo Teixeira trata fechar com o Departamento de Justiça dos EUA; além dos americanos, Teixeira, que presidiu a CBF entre 1989 e 2012, tem contra si investigação e ordem de prisão da justiça espanhola; ele é acusado de formar uma “organização criminosa” com Sandro Rosell, ex-presidente do Barcelona, e com isso lavar dinheiro em comissões ilícitas de amistosos da seleção brasileira, cujos direitos de transmissão são de exclusividade da Globo há anos.  

15 de novembro - DEUS SALVE A REPÚBLICA.....DO BRASIL


terça-feira, 14 de novembro de 2017

PARA QUEM NÃO BATEM AS PANELAS?

Em seu livro A Elite do Atraso (Casa da Palavra, Rio de Janeiro, 2017) Jessé de Souza pergunta por que as panelas não estão sendo batidas contra a corrupção institucionalizada de  Michel Temer, que além de comprar deputados e senadores perdoou dívidas fiscais bilionários de bancos e empresas de comunicação.A resposta que ele deu no livro para o silêncio das panelas - a corrupção estrutural representada por Michel Temer está no DNA do mercado que capturou o Estado e a corrupção governamental é um problema menor que foi transformado em arma política contra esquerda - é plausível. Todavia, ela não explica o silêncio das panelas dos desempregados e trabalhadores que perderam direitos sociais, trabalhistas e políticos em decorrência do golpe de 2016. Jessé de Souza credita este silêncio das panelas vazias à naturalização da exclusão social construída durante o período escravocrata, transmitida pela educação familiar e consolidada pela violência policial nos dias de hoje. Esta também é uma explicação plausível, mas há outra explicação que pode ser dada. Os brasileiros são cordiais, mas não da maneira que foi imaginada por Sérgio Buarque de Holanda (tese, aliás, criticada de forma adequada por Jessé de Souza). Eles são cordiais porque gostam de sofrer. E este gosto pelo sofrimento foi incutido nos brasileiros pelo catolicismo.
Todavia, na fase atual as lideranças católicas condenam o golpe e a martirização dos brasileiros. Quem sustenta o golpe são justamente as lideranças evangélicas que pregam uma doutrina da graça, do sucesso econômico e da ostentação material. Os católicos tem condições de mobilizar muito mais gente do que os líderes evangélicos que apoiaram o golpe. Se forem para as ruas eles facilmente irão derrotar o novo regime e revogar todas as maldades neoliberais aprovadas por Michel Temer. Eles conseguiriam até mesmo o impensável: meter a ferros os principais líderes do golpismo e do entreguismo dentro e fora do Judiciário. A politização dos católicos desembocou no golpe de 1964.  A politização dos evangélicos resultou no golpe de 2016. Neste momento a radicalização destes dois grupos religiosos tem tudo para produzir uma guerra civil diferente de todas aquelas que ocorreram em nosso país no século XX.  Caso isto realmente ocorra ricos e pobres finalmente terão a oportunidade histórica de se juntar para bater panelas vazias. (Fonte: Fabio de Oliveira Ribeiro)

Golpe criou mais desempregos entre trabalhadores negros

Levantamento do Dieese mostra que o impacto da crise econômica e da alta do desemprego nos últimos anos foi maior entre a população negra; de 2015 para 2016, a taxa de desocupação entre os negros na Região Metropolitana de São Paulo aumentou de 14,9% para 19,4%, enquanto a dos não negros subiu de 12,0% para 15,2%; estudo reafirma também a desvantagem salarial dos trabalhadores negros. Em geral, eles recebem apenas 67,8% do que ganham os brancos

segunda-feira, 13 de novembro de 2017

Forte terremoto faz numerosas vítimas no Irã e Iraque

Um forte terremoto, de 7,2 graus na escala Richter, foi registrado neste domingo na fronteira entre o Irã e o Iraque; imprensa local informou a morte de pelo menos 200 pessoas e cerca de 1.500 pessoas feridas após o evento; cerca de 70 mil pessoas teriam ficado desabrigadas

Igreja católica do Brasil chama movimentos sociais para reagir e garantir Terra, Teto e Trabalho para Tod@s

"Embora pareça, o Brasil não é um país adormecido diante do avanço dos retrocessos da era Temer. A Igreja Católica, que teve papel tão relevante na luta pela democracia, está buscando um maior alinhamento com os movimentos sociais na luta contra a espoliação dos direitos e o aprofundamento das desigualdades e injustiças sociais", escreve a colunista Tereza Cruvinel; neste domingo, o arcebispo de Brasília e presidente da CNBB, cardeal dom Sergio da Rocha, reuniu-se na sede da Cúria Metropolitana com líderes e representantes de diversos movimentos sociais no “Encontro de Diálogo”, primeiro de uma série de eventos em busca de maior sinergia entre a Igreja e os que lutam pelos “três Ts”: Terra, Teto e Trabalho

O falso mito da 'democracia racial brasileira'....em números

A Oxfam, entidade humanitária  que combate a pobreza e promove a justiça social, estima que levará mais de 70 anos para negros e brancos terem rendimentos semelhantes no Brasil; segundo relatório da entidade, em 2015, considerando todas as rendas, brancos ganhavam, em média, o dobro do que ganhavam negros: R$ 1.589 em comparação com R$ 898 por mês; em 20 anos, os rendimentos dos negros passaram de 45% do valor dos rendimentos dos brancos para apenas 57%

Eleições 2018 - Direita brasileira sempre mais desesperada, sem rumo e sem candidato

"Com o gesto kamikaze de Aécio para salvar a própria pele, o partido paga a conta de sua cumplicidade com os bandidos que assaltaram o poder em 2016 e fica reduzido a um saco de gatos incapaz de se mobilizar como alternativa de poder", afirma o ex-ministro da Justiça Eugênio Aragão; "Aliar-se ao Sr. Temer foi bom para destruir direitos e criar uma terra arrasada do lado de quem poderia resistir a seu apetite ilimitado por porções orçamentárias de Leão. Mas não é uma alternativa sustentável no médio prazo, dada a impopularidade avassaladora da corja que representa", avalia; para ele, "a saída para a extrema direita parece ser o caminho natural para garantir a continuidade da irrigação de sua plantação financeira. E Bolsonaro logo se apercebe que tem que investir no discurso das 'reformas' para confiscar essa bandeira do governo golpista e se estabelecer com alternativa para o 'mercado'"

sábado, 11 de novembro de 2017

Domingo XXXII – Sem o óleo das boas obras não podemos construir a nova aliança com o Esposo Jesus ( Mt. 25, 1-13)

Quando não temos como provar, concretamente, que amamos e admiramos alguém, muitas vezes nos escondemos atrás de belas declarações. Achamos que ao elogiar e falar belas palavras a uma pessoa podemos convencê-la que somos sinceros. Se essa astúcia pode dar certo com os humanos, com Jesus não pega. Repetidas vezes Ele nos lembra que ‘não é aquele que diz ‘Senhor, Senhor’ que entra no Reino dos Céus, mas quem faz a vontade do Pai’. A parábola de hoje vai no mesmo rumo. Ou seja, não adianta querer ir ao encontro do esposo Jesus, - construir o Reino de Deus, - se não temos conosco ‘óleo’, as práticas concretas de amor e compaixão. A narração não quer nos alertar simplesmente sobre a necessidade de vigiar, quanto sobre a necessidade de possuir o combustível necessário para sermos aceitos pelo esposo que quer celebrar uma nova e grande aliança conosco. Jesus nos diz claramente que este óleo não pode ser pedido a alguém ou emprestado. É algo que a pessoa tem ou não tem. As boas obras ou as iniquidades são algo próprio de cada pessoa. Não adianta, portanto, oferecermos belas orações e solenes liturgias achando que podemos agradar ao esposo. Ele dirá que não nos conhece! O que realmente vale é sermos construtores de paz e de misericórdia. Este é o ‘óleo’ que permite realizarmos com Ele o mundo novo que Deus quer para todos.

ALDERICO LOPES GUAJAJARA, O SÁBIO CACIQUE DOS DOIS MUNDOS


Alderico Lopes Guajajara entrou definitivamente na história do povo Guajajara e do povo de Grajaú, Maranhão, Brasil. Ele, na verdade, já tinha entrado ao ser um dos grandes protagonistas das principais reivindicações desse povo, nesses últimos 40 anos. A sua morte chegou um tanto inesperada, em Imperatriz, onde havia sido levado pelos familiares, após mais uma crise de mal estar generalizado. No dia 9 de novembro às 6,30 da manhã, aos 83 anos, deu o seu último suspiro, melhor dito, repassou o seu sopro vital a todos aqueles que queiram dar continuidade ao que ele realizou enquanto ‘guerreiro’ perspicaz e mestre iluminado de vida. Comoção, dor, e sentimento de abandono tomaram de conta não somente dos familiares, mas de um número incalculável de indígenas da região de Grajaú e de cidadãos ao ser velado, inicialmente, na Câmara Municipal, posteriormente na aldeia Chapadinha onde vivia ultimamente, e enfim, na aldeia Bacurizinho, onde havia passado a maior parte da sua vida. 

É sempre difícil traçar um perfil objetivo e exaustivo de um personagem como Alderico, no momento em que nos sentimos ainda inconsolados com a sua ausência, e por perceber que a sua história pessoal se funde com a do seu povo Guajajara e com a de outros povos indígenas do Maranhão. Aqui queremos colocar, de forma sintética, o que desde o nosso ponto de vista Alderico representou, não somente para os Guajajara, mas também para a sociedade local e para algumas instituições. 
Alderico, talvez seja um dos principais líderes carismáticos Guajajara que compreenderam as mudanças sociais e políticas que vinham ocorrendo de forma incisiva no Brasil e no Maranhão a partir, principalmente, da década de 80. Mudanças de sistema de governo (democratização), emergências dos movimentos sociais e indígenas, imposição de ‘grandes projetos econômicos’ (Carajás e outros) que incidiam na vida cotidiana das aldeias. Encolhimento crescente dos poderes da FUNAI, introdução de aposentadorias e assalariamentos de indígenas que impactavam enormemente nas relações internas, etc. Em lugar de condenar de antemão o que vinha ocorrendo no Brasil e no Estado, Alderico e um grupo significativo de Guajajara buscaram encontrar o seu papel e o seu espaço nas novas mudanças estruturais e nas composições sociais e políticas regionais e nacionais. Essas lideranças Guajajara perceberam que naqueles momentos centrais da vida nacional se jogava o futuro da nação Guajajara: o seu protagonismo no cenário macro regional ou a triste perspectiva de ser relegada a nação periférica. E não deixaram para menos: houve já no final dos anos 70 e início dos anos 80, mobilizações indígenas significativas para arrancar dos coronéis de Brasília a demarcação e a homologação de seus principais territórios. Se os Guajajara do Maranhão, hoje, têm praticamente todas as suas terras demarcadas e homologadas foi graças também à incansável luta e mobilização desse núcleo central de lideranças Guajajara da região de Grajaú/Barra do Corda de quem Alderico fazia parte.
Outro ponto central que podemos destacar do legado que Alderico deixou está relacionado ao papel que ele exerceu como grande mediador entre as duas culturas regionais: a Tupi-Guajajara e a sertaneja/nacional/brasileira (definição não muito rigorosa, mas só para nos entender....). Em geral, nas cidades onde há uma forte presença indígena os preconceitos, a desconfiança, as sutis e patentes formas de racismo por parte dos não-indígenas se manifestam com mais intensidade e brutalidade. Grajaú não escapa disso. Quando isso ocorre é imprescindível que surjam pessoas carismáticas de ambas as partes que com coração livre, desprendido e tolerante rompam a espiral do medo e do preconceito e iniciem um diálogo aberto e sincero entre si. Talvez Alderico, melhor do que qualquer um tenha realizado esse papel na região. A sua personalidade de homem sábio, perspicaz, e arguto observador do ser humano, demonstrou ser possível o diálogo entre pessoas de culturas diferentes. Não a rivalidade e a disputa, e sim a capacidade de ouvir o outro, de respeitar e de se compreender mutuamente. Alderico percebeu que para entender a complexidade da cultura regional e ser socialmente aceito pelos ‘Karaiw’ não precisava vender-lhes a própria alma e nem o patrimônio indígena. Era preciso, antes de tudo, se apoderar de sua língua e de seus códigos culturais para melhor interagir e melhor se proteger. Ele não só se aplicou e se alfabetizou, - já em fase adulta, - bem como se tornou professor bilíngue de muitos indígenas, inclusive de seus próprios filhos. Alderico, - e com ele, hoje, muitos indígenas da região, - são perfeitos bilíngues, mas acima de tudo, sabem transitar sem subserviência, nos dois mundos, participando ativamente, e sem deixar ou se envergonhar de sua identidade originária. Pelo que conheço, a macro-região de Grajaú talvez seja hoje a única que melhor aplicou a assim denominada ‘interculturalidade’. Claro que esse processo está em permanente construção e que ele nem sempre se deu de forma pacífica e sem tensões. Alderico teve que engolir muitos sapos, mas soube ser firme sem ser intransigente ou intolerante. Isso o ajudou enormemente a aparar arestas internas e externas e superar potenciais conflitos que, diferentemente, teriam eclodido em confrontações trágicas. Nos acirramentos de ânimos, no recrudescimento da intolerância cultural e étnica, e nas variadas formas de prevaricação a que assistimos nos nossos dias, o testemunho de Alderico nos ajuda a renovar a nossa fé na força do diálogo, na escuta do outro, mas também na firmeza em defender direitos e dignidades, pois isto permanece inegociável. 
Os renovados interesses particulares de madeireiros e empresários do agronegócio, as constantes ameaças, os numerosos abusos de toda ordem que impactam sempre mais nos territórios indígenas e em suas populações, associados à negligência estrutural do Estado nacional com relação aos direitos essenciais dos povos indígenas, bem como a triste fragmentação dos movimentos indígenas e as não raras disputas entre lideranças deveriam nos motivar a recolher a herança cultural, espiritual e humana que Alderico nos deixou. Ele nos ensina que as divergências e diferenças são salutares e que não precisam se transformar em disputas e conflitos para suprimir o outro. Que para dialogar temos que respeitar, escutar e entender os sonhos, os interesses, as angústias, a cultura do outro, sem achar que o outro é, necessariamente, o nosso rival e inimigo. Que as conquistas na vida, sejam elas coletivas ou pessoais, exigem paciência histórica e negociação permanente, onde a herança cultural e espiritual dos nossos antepassados seja o cimento que vem a consolidar a construção de uma sociedade multiétnica  e participativa. Obrigado, Alderico!