Solidão: uma palavra que habitualmente soa como negativa, que causa medo, porque remete à imagem de um pântano desolado, a uma situação fechada, de isolamento, até mesmo de reclusão na prisão. Quando se afirma que alguém está sozinho, diz-se isso com um sentimento de pena, de compaixão. Gabriel Marcel chegou a confessar: "Não há a não ser um sofrimento: o estar só", bem sabendo que muitos homens e muitas mulheres estão condenados a sofrer essa situação. E Victor Hugo escreveu laconicamente: "O inferno está todo nesta palavra: solidão". Mais do que solidão, devemos, porém, falar de solidões, no plural, porque muitas são as formas nas quais a solidão pode aparecer, e de fato aparece, nas nossas vidas. Acima de tudo, há uma solidão a ser lida como uma espécie de destino, isto é, a solidão em que nos precipitamos em um certo ponto da vida, quando a morte nos arranca aqueles que nos permitiam não ficar sozinhos. Essa é, por exemplo, a solidão do órfão que, perdendo a mãe ou o pai, não tem mais ao seu lado aquela presença que era a carne, a vida da qual viera, não tem mais aquela referência ao "tu" que o tinha acompanhado na sua vinda ao mundo.
Uma outra solidão negativa é a do isolamento. Às vezes, muitas vezes a partir de inícios silenciosos e escondidos, acontece de estarmos sozinhos, isolados, porque todos estão longe, porque não estamos mais perto de ninguém. A manifestação extrema dessa solidão é a prisão, onde somos jogados para longe da vida, dos afetos, do escorrer cotidiano da existência. Hoje, porém, de fato, muitos aportam nesse isolamento mesmo sem chegar a essa situação limite: chegam a ela principalmente por causa de "um mundo em fuga" (Anthony Giddens), de uma sociedade marcada pela velocização, em que o indivíduo não tem mais tempo para dar aos outros a sua própria presença. Parece impossível, mas essa distância nasce dos próprios filhos, dos próprios entes queridos, e a estranheza se afirma porque os laços se mostram frágeis e são facilmente afrouxados ou mesmo truncados. É o estado em que se encontram muitos idosos, pensionistas, inválidos e doentes, abandonados em parte ou totalmente por aqueles que, empenhados em viver, não têm mais o cuidado por aqueles que não conseguem "permanecer na vida", "correr" como eles. Esses idosos estão – se poderia dizer – sob prisão domiciliar, porque estão impedidos pela sua condição física de se moverem como antigamente. E depois há as solidões fecundas.Estar só, saber estar só é uma conquista que exige esforço, exercício, audácia. Sem a solidão e sem o silêncio, como poderíamos conhecer a nós mesmos, escavar em nós mesmos, enxertar conscientemente em nós mesmos germes de comunhão? Mas é preciso a coragem de se retirar, de fazer anacorese, de se afastar do cotidiano, do próprio empenho, dos próprios vínculos: e isso não para renegá-los, mas sim para se distanciar do que saiu de nós, do que foi gerado por nós, mas não está dentro de nós.(Re-elaboração de um artigo de Enzo Bianchi em IHU)