sábado, 30 de março de 2013

Semana santa - Ele não está num cemitério, mas naqueles/as que reproduzem os seus gestos de compaixão!

Eis o paradoxo bíblico-pascal: num cemitério anônimo, depois do feriado litúrgico do sábado, diante de um sepulcro vazio, - supostamente o de Jesus, - um grupo de mulheres proclamam que o mestre da Galileia vive! Se há um lugar a ser evitado para poder acreditar com intensidade no poder da vida é justamente um cemitério, o lugar dos ‘corpos sem vida’! Mesmo assim ou, talvez, justamente por causa disso, a fé no ressuscitado se torna crível. A narração da visita das mulheres ao sepulcro, - algo que faz parte de quase todas as tradições mais antigas, - não é utilizada pelos evangelistas como prova cabal da Ressurreição de Jesus. No máximo seria indício de um possível sequestro de cadáver como, de fato, alguns ventilaram desde o começo.  Ao contrário,a narração em que se celebra a fé no ressuscitado, como num santuário à moda judia, serve como sinalização de que temos que sair do cemitério, e procurar alhures o ressuscitado, aquele que vive. Se num cemitério podemos celebrar nossa fé na ressurreição, certamente não é nele que vamos vivenciá-la! É isso que os evangelistas nos querem dizer: não é suficiente crer e celebrar a nossa fé em Jesus ressuscitado, - algo fácil de fazer, apesar de tudo, - mas é preciso descobri-lo vivo e torná-lo ainda atuante em outros espaços, dimensões e relações. A preocupação dos evangelistas, de fato, não é a de fornecer provas e nem a de descrever um acontecimento que, afinal, ninguém presenciou, mas dar uma clara indicação de que a fé no Ressuscitado é e será sempre uma ‘revelação divina’. Para quem crer, para quem o Pai o quer revelar. Uma experiência de fé. Para Marcos e para tantos discípulos e discípulas de ontem e de hoje manifestar a própria fé na ressurreição de Jesus e de tantos/as que nos precederam significa percorrer e reproduzir os mesmos itinerários percorridos por Jesus. Ao abrir a vista a tantos cegos, ao destampar os ouvidos de tantos surdos e insensíveis, ao perdoar a muitos intransigentes, ao fazer comunhão com as vítimas da miséria e do preconceito estaremos sentindo que Jesus vive e continua a agir como outrora nos seus seguidores. Através de nós e em nós. Herdeiros indignos do seu ‘espírito’ vital. Feliz Páscoa e vida nova para todos vocês e seus familiares!

sexta-feira, 29 de março de 2013

‘ E, inclinando a cabeça, entregou o espírito’ (João 19,30)

Hoje, na celebração da sexta feira santa, talvez pela primeira vez na minha vida, senti-me tocado e iluminado pela expressão utilizada pelo evangelista João ao descrever o momento final da vida física de Jesus: ‘Jesus entregou o espírito’. Repentinamente, um conjunto de reminiscências pessoais e bíblicas aflorou intensamente como um rio transbordante.  Lembrei-me do longínquo 21 de janeiro de 1973, do momento em que a irmã que trabalhava no hospital público de Borgo Trento em Verona ao segurar a mão de meu pai agonizante se virou para mim e minha mãe e nos disse: ‘ele se foi’! Eu mesmo que estava bem próximo o havia percebido. Um suspiro quase imperceptível, mas mais longo que os outros. Meu pai havia devolvido o que havia recebido ao nascer, o espírito da vida. Mas ouso acreditar, hoje, que naquele momento meu pai estava a entregar para nós familiares o que o havia mantido vivo ao longo de 45 anos de existência. Entregava-o nós, os vivos, para que pudéssemos mantê-lo permanentemente vivo em nossas vidas. Da mesma forma aconteceu com Jesus. Jesus não entregou o seu espírito somente ao Pai, algo mais que natural e lógico. João ao afirmar que Jesus ‘entregou o espírito’ não quis dizer simplesmente que Jesus ‘devolveu’ o que havia recebido de Deus, mas que agora Jesus, desde a cruz, no momento da grande passagem, estava a entregar o seu espírito a quantos estivessem dispostos a recebê-lo e a acolhê-lo. Não o espírito de um agonizante, mas o seu mesmo espírito que lhe havia permitido viver com intensidade a sua existência. O de Jesus não é um simples ‘expirar’ e morrer. Jesus não ‘desperdiça’ o seu ‘hálito de vida’. Ele, ao contrário, o ‘repassa e entrega’ a outros para que ele não venha a morrer para sempre. Outros discípulos e discípulas poderão recolher e ‘in-spirar’ o espírito de Jesus, e mantê-lo vivo. Para eles mesmos viverem. Paradoxalmente, Jesus, como meu pai e como tantos outros pais, familiares e amigos nossos que se foram biologicamente, ao morrerem entregam a nós vivos o seu espírito para que eles nunca morram na nossa vida. E para que nós possamos viver graças ao espírito deles/as uma ‘nova existência’!

Semana santa - JERUSALÉM, JERUSALÉM!


Galileia para viver, Jerusalém para morrer.

Jerusalém, Jerusalém, ai daqueles que por ti vêm!
Jerusalém que matas os teus profetas,
Filhos da esperança de tuas vísceras.
Longe de teus muros sagrados,
Pela tua arrogância imolados,
Regam o teu solo imundo com sangue fecundo.

Galileia para perdoar, Jerusalém para condenar.

Jerusalém, Jerusalém, ai daqueles que vêm do além!
Do Sul e do Norte, do Leste e Oeste,
Peregrinos da paz interrompida.
Auscultadores de corações angustiados
Pelo teu Sinédrio caluniados,
Ao patíbulo do olvido condenados.
.
Galileia para anunciar, Jerusalém para silenciar.

Jerusalém, Jerusalém, ai daqueles que em ti creem!
Mensageiros da boa nova de um Pai amoroso,
Restauradores da esperança traída.
Proclamadores da Sua compaixão devolvida,
Pelos teus sacerdotes silenciados,
Como hereges ao fogo do templo queimados.

Jerusalém para crucificar, Galileia para ressuscitar.

Jerusalém, Jerusalém, ai daqueles que por ti são julgados!
Vítimas indefesas de tuas armações,
De conluios e complôs de teus palacianos,
Nas cruzes dos teus dominadores pregados,
Ressurgem nos novos profetas chamados
Nas ‘galileias das gentes’, enfim, enviados.

Galileia para ressuscitar, ‘galileias’ para testemunhar!


quinta-feira, 28 de março de 2013

Semana Santa - servidores-as para extinguir todas as escravidões!

Imaginemos por um instante o que deve ter passado pela cabeça de Jesus ao pressentir que em Jerusalém onde havia chegado poucos dias antes os grupos dos saduceus, herodianos e funcionários do templo já estavam armando uma cilada para prendê-lo! E para pôr fim às suas ‘piedosas ilusões’ de acreditar que estava próxima a ‘instauração’ do novo jeito de governar de Deus (realeza de Deus). Em outras ocasiões a nata religiosa e política de Israel havia tentado fazer o mesmo com ele. Embora consciente dos perigos que corria aqueles dias, o ‘mestre da Galiléia’ volta a Jerusalém e o faz escolhendo justamente o período da celebração pascal. Celebração que se dá nas casas e não nos templos e sinagogas, reunindo a família extensa, e onde todos os seus membros participam ativamente. Uma páscoa que não podia ser só comunhão e fraternidade, e sim, primordialmente, ‘memória subversiva’ de um passado carregado de sofrimento. Um passado que fazia lembrar escravidão e humilhação, tortura psicológica e submissão desumana. Na mente atormentada, mas lúcida de Jesus, afloram lembranças, gestos, memórias e narrações de um passado que parece se confundir com um presente igualmente intrigante e conflituoso. Os ‘faraós’ de então pareciam ter voltado para se reencarnar nos ‘césares’ de hoje. A escravidão de outrora parecia continuar a se perpetuar na dominação ‘de corpos e mentes’ dos romanos e de seus co-nacionais aliados.

Como, então, celebrar de forma serena e harmoniosa, uma ‘páscoa-passagem-libertação’ nesse clima de renovada dominação e escravidão? Como ignorar que hoje como outrora os ‘faraós de Roma e do templo’ continuavam a matar ‘os primogênitos’ e a sugar o sangue e esperança de tantos filhos e filhas do mesmo Deus? Jesus percebe que aquela páscoa devia ter um sabor especial. Que não podia ser uma mera repetição de uma tradição religiosa desvinculada daquela realidade conflituosa. Precisava embutir um sentido que, embora não totalmente novo, fosse, pelo menos, bem atualizado, e em sintonia com a realidade em que a população de Israel vivia. Jesus toma uma decisão que ainda hoje nos deixa boquiabertos: convoca e promove a memória ‘atualizada’ da páscoa não com a sua ‘família extensa de sangue’, e sim com os seus discípulos e discípulas. A sua nova família. Mantém os mesmos ‘significantes’ (pão sem fermento, ervas amargas, cordeiro, vinho, etc.) mas lhes atribui um ‘significado’ muito diferente, surpreendente. Ele, Jesus, mas também os próprios discípulos e discípulas presentes na ceia são, hoje, o cordeiro, o pão e o sangue desde que saibam se tornarem servidores/escravos-as uns dos outros como ele o foi. Desde que saibam servir para libertar de toda escravidão e de todo escravizador.  Jesus e os seus discípulos-as se entenderam como ‘novos-as Moisés’ que tinham a missão de se colocar a serviço de seus contemporâneos para libertá-los dos ‘faraós romanos e nacionais’. Hoje nós somos convocados a reproduzir não belas e empolgantes liturgias da ‘ceia do Senhor’, e sim ‘servir’ para que não haja mais escravos e escravizadores nas nossas casas, nas nossas igrejas, nos nossos congressos, nos nossos lugares de trabalho!  

quarta-feira, 27 de março de 2013

Em Túnis, na África, abre-se mais um FSM. Os inconformados resistem e tornam possível sonhar um 'outro mundo'!

Túnis, África, o "berço" da Primavera Árabe recebeu oficialmente a partir de ontem terça-feira (26) mais uma edição do Fórum Social Mundial (FSM). Desde 2001, o FSM, que surgiu em contraposição ao Fórum Econômico Mundial, vem reunindo periodicamente dezenas de milhares de pessoas que se deslocam das mais distintas partes do mundo para discussão de alternativas aos sistemas de hegemonia e dominação (políticos, econômicos, culturais etc.). O contexto em que se realizará este encontro internacional é tenso e complexo. A imolação de um vendedor de rua da cidade de Sidi Bouzid que teve o seu carrinho de frutas e verduras impedido de trabalhar pelas autoridades locais, em dezembro de 2010, catapultou uma onda intensa de manifestações massivas que abalou as estruturas da ditadura comandada pelo militar Zine El Abidine Ben Ali.

Para o sociólogo português Boaventura de Sousa Santos, que vem acompanhando muito de perto o processo do FSM desde os seus primórdios, espera-se que esta edição que se inicia contribua para o processo democrático na Tunísia, que experimenta um quadro de convulsão política, econômica e social que se estende Magrebe e Machereque. "Apesar de assumir a sua dimensão mundial, o Fórum tem, desde a sua origem em Porto Alegre, uma forte ligação com inquietações locais", observa o professor da Universidade de Coimbra. Para Boaventura, o ideal de um "outro mundo possível", lema clássico e crucial do Fórum Social Mundial, deve levar obrigatoriamente em conta a questão da "dignidade", tema-chave do encontro deste ano. A dignidade, acrescenta o professor, resulta de uma conquista de autonomia e de respeito e embute o sentido mais profundo da diversidade. Nessa linha, a Primavera Árabe que impressionou o mundo em sua luta contra a monocultura política das ditaduras, tem também o desafio de enfrentar, além dos já citados desafios no campo econômico, a monocultura religiosa. A tradicional marcha de abertura do FSM 2013 teve início às 16,00 h, com saída da praça 14 de janeiro de 2011, que foi um dos epicentros das recentes revoltas. A multidão ganhou as ruas de Túnis até o Estádio Menzah, ponto final da caminhada onde, já à noite, se apresentou o cantor brasileiro e ex-ministro da Cultura, Gilberto Gil.(Fonte: Carta Maior)

segunda-feira, 25 de março de 2013

60% dos brasileiros católicos desejam que o papa aprove pontos como divórcio, camisinha, sacerdócio às mulheres e fim do celibato para os padres!

A grande maioria dos brasileiros aprovou a escolha do cardeal argentino Jorge Mario Bergoglio para chefiar a Igreja Católica. Ao mesmo tempo, boa parte deles gostaria que a igreja liberalizasse suas posições em temas como contracepção e divórcio. Esse é o resultado de pesquisa nacional feita pelo Datafolha em 20 e 21 de março, uma semana depois do conclave que elegeu o papa Francisco - primeiro latino-americano e primeiro jesuíta no comando da Santa Sé. A margem de erro do levantamento é de dois pontos percentuais. Dos 2.653 entrevistados pelo Datafolha em 166 municípios, a maioria, 58%, definiu-se como católica - número próximo dos últimos dados do IBGE, de 2010, segundo os quais 64,6% da população brasileira professa o catolicismo. A eleição de Bergoglio foi considerada ótima ou boa por 74% das pessoas ouvidas pelo instituto e regular por 9%; só 2% dos entrevistados a acharam ruim ou péssima. O levantamento revela também em que medida boa parte dos brasileiros - incluindo os que se dizem católicos- discorda de uma série de posições tradicionais da igreja. A divergência mais acentuada diz respeito ao uso de métodos artificiais para evitar a concepção. Para 83% dos entrevistados, o papa Francisco deveria orientar a igreja a se posicionar a favor do uso de preservativos; 77% defendem que faça o mesmo em relação à pílula anticoncepcional. A maioria das pessoas ouvidas pelo Datafolha também acha que Francisco deveria orientar a igreja a se tornar favorável ao divórcio (58%), permitir que mulheres sejam ordenadas e possam rezar missas (58%) e acabar com o celibato dos padres (56%).Aborto e casamento gay, por sua vez, são os tópicos em que a maior parte dos brasileiros está de acordo com a orientação católica: 54% e 57%, respectivamente, defendem que a igreja continue se posicionando contra os dois. (Fonte: IHU)

Semana santa - Da cadeia para pobre, da arrogância de setores da classe média, da justiça, da corrupção ativa e passiva. Um caso emblemático!

Christiane Ferraz Magarinos, comerciante de 42 anos do Rio de Janeiro, dirigindo em evidente estado de embriaguez não satisfeita de ter furado uma blitz da Operação Lei Seca, quase atropelou o agente que tentava pará-la e, ao ser abordada na garagem de casa, tentou subornar os policiais que a convidavam a segui-los para a delegacia. Frustrada pelo insucesso de suas manobras, ela não conseguiu reprimir a íntima natureza e finalmente explodiu: “Neste País só pobres e favelados ficam presos. Eu sou rica e influente!” “Do alto” de sua posição social, ela tentou não só corromper funcionários públicos no exercício de suas funções, mas, para facilitar o suborno, também os humilhou referindo-se aos seus modestos salários. Os que generalizam sobre a corrupção das instituições e, em particular, sobre os malfeitos da polícia e do Poder Judiciário, deveriam refletir a respeito desse pequeno episódio, emblemático de várias contradições nacionais. As células cancerígenas da corrupção brasileira se alimentam da arrogância dos que ocupam posição social dominante e jogam com o poder do dinheiro. A doença espalha-se assim no corpo inteiro da Nação, mas tem matriz muito clara no privilégio. Além disso, o episódio demonstra mais uma vez que a habitual descrição de um poder político corrupto, a pisotear os direitos da sociedade civil virtuosa, é imagem no mínimo distorcida. Ao contrário, trata-se de duas faces da mesma moeda. Considero os policiais e a juíza desse caso como exemplos de pequenas virtudes civis. Por não ser fácil, é, portanto louvável, em certas circunstâncias, cumprir apenas o próprio dever. Exemplos menores como esse – até casos mais graves como o de Paulo Maluf, na lista dos procurados pela Interpol e serenamente solto no Brasil – levam a concluir com amargura que a impunidade dos ricos e poderosos, geralmente brancos, continua sendo regra no País. Mas as exceções estão por sorte aumentando e alimentam a esperança. A senhora Christiane é uma representante típica da classe média. No caso citado, estamos falando evidentemente de uma classe média arrogante e mal-educada, sem ética nem princípios republicanos. Temos consciência de que existem diferentes modelos e valores de classe média, não apenas baseados em consumo e bem-estar material, mas seria auspicioso que o governo, quando a nomeia, indicasse também a qual tipo de classe média se refere. (Artigo de Claudio Bernabucci re-elaborado pelo blogueiro)

sábado, 23 de março de 2013

A Norte Energia não cumpre acordo com comunidades indígenas e MPF impõe multa de meio milhão por dia!

O Ministério Público Federal no Pará (MPF/PA) no dia 21 deste pediu à Justiça Federal a aplicação imediata de multa de R$ 500 mil por dia contra a empresa Norte Energia. O órgão alega que a empresa responsável pela construção e operação da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, no Rio Xingu, descumpriu acordo assinado com a comunidade indígena, em outubro de 2012, para garantir a desocupação de um dos três canteiros de obra. De acordo com o Ministério Público, em 2012 a Norte Energia solicitou a reintegração de posse da área, mas a Justiça Federal optou por mediar uma solução negociada. A empresa se comprometeu a atender uma série de reivindicações dos indígenas. A maioria delas, no entanto, ainda não foi atendida, garante o MPF. Para o MPF, o valor da multa é razoável e deve ser aplicado imediatamente, já que as obrigações faziam parte da licença que a empresa recebeu do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) em junho de 2011. Além disso, a empresa recebeu mais de R$ 20 bilhões do Banco Nacional de desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para o empreendimento. As famílias indígenas da comunidade do Jericoá dizem nunca ter recebido nenhum atendimento por parte da Fundação Nacional do Índio (Funai) e da Norte Energia. Alegam também que não conseguem mais pescar, não têm acesso a água potável, não têm recebido as compensações devidas pela empresa e que o sistema de transposição montado no Rio Xingu, próximo à aldeia, inviabilizou a navegação com as tradicionais embarcações indígenas, colocando em risco a segurança da comunidade.Os ribeirinhos e colonos que vivem próximo às obras da futura usina cobram, de acordo com a Xingu Vivo, uma definição sobre a situação de suas terras e o fornecimento de energia elétrica.(Fonte: Agência Brasil – EBC)

Domingo de Ramos - Amar intensamente, mesmo que tenhamos que subir ‘Calvários’!

Inicia-se, com o domingo de ramos a semana que nos faz imergir na paixão, resistência, morte e vida ressurgida de Jesus e da humanidade. Um itinerário comum aos humanos, mesmo para aqueles que têm uma ‘morte natural’ e não violenta como a de Jesus. Somos convidados a não fazer arqueologia religiosa de um passado distante e impessoal, e sim, celebrar e reviver o cotidiano de milhões de pessoas, inclusive o nosso. Convidados a nos identificar e nos indignar com a dor de Maria e das mulheres, repudiarmos o cinismo dos sumos sacerdotes e dos soldados romanos de ontem e de hoje. Evitando esquecer os crucificadores de ontem e de hoje. Sem ter medo de deixar aflorar sentimentos de indignação e angústia, mas reconhecer que tudo o que produz sofrimento, dor, humilhação, injustiça é algo detestável e condenável. Mesmo que isso possa parecer expressão de rancor, raiva, intolerância. Sentir tudo isso não significará que iremos reproduzir nos outros aquilo que detestamos e condenamos. Sentir indignação não significa deixar-se vencer por sentimentos de vingança ou de agressão. A cegueira e a indiferença do coração é que não podem tomar de conta da nossa alma nessa semana santa! Se acreditamos que o que Jesus viveu, principalmente nos últimos dias da sua vida, é algo que muitos humanos também podem vivenciar, então proponho o seguinte itinerário de contemplação e meditação....

1. Identificarmos atitudes, gestos, opções e posturas pessoais ou coletivas, institucionais ou não que hoje como ontem manipulam e cooptam leis e consciências, corrompem e se deixam corromper com o objetivo de excluir, marginalizar e eliminar pessoas consideradas incômodas, tal como fez o Sinédrio, Pilatos, Herodes e seus asseclas. Darmos os nomes aos crucificadores de hoje responsáveis por torturas, humilhações, ilícitos e arbitrariedades de todo tipo. Termos a honestidade de reconhecer que, talvez, nós também estejamos nessa lista, ou pouco temos feito para por fim a tantas formas de injustiça. Teremos, assim, a possibilidade de nos colocar do lado dos crucificados, abandonar as nossas cumplicidades, amenizar a cruz de tantos sofredores e evitar a morte de tantos ‘justos’.

2. Jesus não caminhou rumo à morte de forma serena, estóica, altiva. Nunca quis se oferecer como sacrifício nem pela expiação dos pecados e nem pela salvação da humanidade. O espiritualismo cristão o interpretou dessa forma, mas certamente não o Jesus histórico que suplicava por ser liberado de beber o cálice do martírio! Ele tinha plena consciência de que o seu Pai não lhe estava a pedir isso!A cruz, de fato, era e é sinal de humilhação e morte vergonhosa. É o amor incondicional, intenso, criativo, puro, que salva! Mesmo que para tanto, paradoxalmente, tenhamos que enfrentar a cruz! Jesus foi forçado por meio de coação armada a assumir uma cruz que não desejava e que não queria carregar. O que ele queria era poder continuar a amar, acolher e perdoar sem que para isso fosse necessário ter que assumir o caminho da morte violenta e vergonhosa. As circunstâncias o colocaram numa situação em que para poder ‘amar até o fim’ teve que encarar também a cruz, mesmo sem desejá-la. Ficou perturbado ao constatar que estava sendo assassinado e crucificado. Jesus ficou perplexo e desnorteado ao sentir – e não compreender - ‘o silêncio’ de Deus! Que não usemos ideologicamente o símbolo da cruz para conformar os crucificados e sofredores, livrando, assim, os crucificadores de hoje de suas responsabilidades! Que não tenhamos medo de sentir a angústia do silêncio de Deus. É a nossa natural reação psicológica diante da nossa vontade de viver. E isso é positivo! Que nunca possamos pensar que o Deus de Jesus Cristo nos abandonou. Ele continua percorrendo conosco os calvários de hoje e nos ajudando como tantos ignotos Cireneus a carregar a nossa pesada ou leve cruz de todos os dias! Uma santa semana!





sexta-feira, 22 de março de 2013

Número de homicídios sobe no Brasil, e país vive situação de 'guerra civil'

Segundo dados do Centro Brasileiro de Estudos Latino-Americanos, só em 2010 foram assassinadas 36.792 pessoas no Brasil, uma média de 100 por dia. Armas, narcotráfico e corrupção. Entre 2004 e 2007, o conflito armado do Iraque resultou em 76.266 mortos. No Sudão, outro país em convulsão, os mortos foram 12.719, um pouco a mais do que os 12.417 registrados no Afeganistão. No mesmo período, os mortos da Colômbia foram 11.833. Contudo, no Brasil, entre 2004 e 2007, ocorreram 147.343 mortes por armas de fogo. Esse número é ainda mais impactante quando comparado com o total de vítimas fatais registradas em doze países que viveram conflitos armados. Da República do Congo ao Paquistão, passando pela Somália, por territórios palestinos e por Israel foram 169.574 mortos. Esses são os dados reunidos pelo Centro Brasileiro de Estudos Latino-Americanos, que acabam de ser divulgados em Brasília. Somente em 2010, foram assassinadas 36.792 pessoas no Brasil, uma média de cem por dia ou de quatro por hora. Uma a cada quinze minutos. Existem outros aspectos, do mapa da violência no Brasil, que chama a atenção. Se antes as mortes violentas estavam concentradas nos dois maiores centros urbanos, São Paulo e Rio de Janeiro, agora o fenômeno se nacionalizou.

Em Alagoas, por exemplo, em 2010, foi registrada uma taxa de 55,3 homicídios para cada cem mil habitantes. Trata-se do estado onde mais são assassinados negros e mulheres. Na capital, Maceió, famosa por suas praias e pólo de atração turística, essa média é de 94,5 para cada cem mil habitantes. Não apenas é a capital mais violenta do Brasil, mas uma das mais violentas do mundo. O problema é que outras capitais muito turísticas, como Salvador da Bahia, também aparecem com índices elevadíssimos (59,6 assassinatos para cada cem mil habitantes). E no Pará, entre 2000 e 2010, o número de assassinatos cresceu o absurdo de 307%. No vizinho Maranhão, também no norte miserável, aumentou 282,2%. Na Bahia, 195%. Há muitas explicações para o fenômeno da violência: o narcotráfico, a grande quantidade de armas (legais e, principalmente, ilegais) em circulação e a própria cultura da violência como via para solucionar conflitos pessoais. Junto a isso é preciso somar a corrupção policial, a incompetência policial no momento de investigar os crimes, a absurda morosidade e a corrupção da Justiça, o estado degradante e degradado do sistema carcerário. (Fonte: IHU)

quinta-feira, 21 de março de 2013

Educação escolar - Ó minha São Luis, tão bela e tão perdida!

Estou em Curitiba, Paraná. A impressão é de percorrer ruas e praças de uma limpa e bonita cidade européia. Visitei duas escolas públicas, fui ao centro da cidade de ônibus sempre sentado, e reparando que os horários são rigorosamente respeitados. Hoje de manhã ao acessar a internet na Carta Capital leio a matéria que reproduzo aqui abaixo, sobre a educação escolar em São Luis. Não pude evitar fazer uma comparação com o que vi e ouvi aqui em Curitiba. Estou sem palavras e...envergonhado!
Com a rede municipal de ensino em situação considerada “precária” pelo Ministério Público Federal (MPF), a prefeitura de São Luís no Maranhão virou alvo de uma ação civil pública. O órgão acusa a cidade, e também o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) e a União, de negligência no uso das receitas repassadas à capital maranhense, que levou ao quadro atual. Uma denúncia anônima levou o MPF a identificar, entre outros problemas, um déficit de carga horária de 2011 ainda não reposto, falhas estruturais em prédios escolares e falta de professores.A prefeitura, no entanto, empurra a culpa pela situação à “má gestão do prefeito anterior”, João Castelo (PSDB) derrotado por Edivaldo Holanda Junior (PTC), em 2012.Em nota a CartaCapital, a atual administração diz que a educação é “uma das prioridades” e “soluções emergenciais” tem sido buscadas para “garantir condições básicas ao início do ano letivo de 2013”. Para que isso ocorra, um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) entre a prefeitura, a procuradoria regional e o sindicato municipal dos professores foi assinado no fim de 21 de janeiro. Pelo acordo, o ano letivo de 2012 terminaria em 25 de janeiro e o calendário escolar de 2013 teria início um mês depois para que a carga horária de todas as disciplinas pudessem ser cumpridas. O comunicado não diz, porém, se esse calendário foi cumprido como o programado. A prefeitura também reconhece uma carência de 182 professores, mas diz ter iniciado, em março, a contratação de 77 docentes aprovados em um recente concurso público para ajudar a sanar o problema.

Segundo as investigações do MPF, vistorias identificaram que diversas escolas precisavam de reformas, mas receberam apenas reparos na pintura externa dos prédios. Algo contestado pela administração da cidade. “Em menos de 60 dias [desde a assinatura do TAC], 80 unidades de educação básica receberam intervenções emergenciais de retelhamento e reestruturação das redes hidráulica e elétrica, os trabalhos emergenciais continuam nas outras 70 unidades. Também está em processo licitatório para manutenção permanente das escolas.”Um corpo técnico especializado do Ministério Público ainda identificou que os ônibus escolares de São Luís representam riscos para os passageiros, devido à superlotação, ausência de identificação e baixa capacitação técnica dos condutores. A prefeitura alega estar licitando a contratação de uma empresa que atenda às exigências do Ministério da Educação, pois cerca de 4,5 mil alunos necessitam do transporte escolar para estudarem.Em meio aos problemas, o MPF identificou que até o primeiro semestre deste ano, a capital maranhense recebeu quase 4 milhões de reais do Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae) e cerca de 33 milhões do Programa Nacional de Apoio ao Transporte Escolar (Pnate). Os recursos estavam, no entanto, retidos desde 2009.O Ministério Público acusa os programas e a União de serem omissos com em fiscalizar os repasses e a aplicação dos recursos. Desde o início de 2011, o Conselho de Alimentação Escolar (CAE)/Fundeb e o Conselho de Acompanhamento e Controle Social do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Cacs/Fundeb) estão desativados. Uma situação que levou as prestações de contas do gestor municipal a se acumularem.(Fonte: Carta Capital)

quarta-feira, 20 de março de 2013

Kanela de Porquinhos, desolação e abandono. Crônica de uma visita

Visitar as aldeias dos índios Kanela Ramkokamekrá e Apaniekrá no município de Fernando Falcão deixa sempre uma sensação de ‘interrompido’ e de ‘inacabado’. Não me refiro só á questão fundiária, por si só um bastante complexa e conflituosa, mas à assistência institucional por parte dos organismos federais quais a FUNAI (Fundação Nacional do Índio), SESAI (Secretaria de Saúde Indígena), e SEDUC (Secretaria Estadual da Educação), principalmente. Na primeira aldeia que visitamos, a Porquinhos, juntamente  com outros missionários, a sensação de abandono não foi pior só graças à dinâmica interna dos Kanela que parecia amenizar aquele quadro. De fato, a sua constância em sentar para debater, reivindicar, celebrar dava a sensação de um povo vivo e dinâmico, resistente, quase que auto-suficiente. Mesmo assim, foi só sentar pela manhã e à noitinha com os homens, no pátio central, para perceber que os funcionários da FUNAI há meses que não os visitavam, que os professores ainda não haviam assinado o contrato, - e que as aulas ainda não haviam iniciado, - e que os responsáveis da saúde, tirando a técnica de enfermagem, nunca haviam cumprido os acordos e as promessas feitas e registradas na Procuradoria da República em São Luis. Sem comunicação e sem transporte todo o mundo torcia para ninguém adoecer, pois haveria tragédia assegurada. Sentados sobre toras de buriti, ou no chão ou em cadeiras improvisadas, mais de 70 homens participavam e reagiam com indignação ao repasse de informações e atualizações sobre a situação fundiária, sobre os impasses na saúde e o descaso generalizado. Também as promissoras notícias da portaria do Ministério da Justiça que assegurava a nova demarcação fundiária do seu território, - reconhecendo a justeza da sua histórica reivindicação, - não despertavam empolgação. Parecia ler em seus rostos que a demora na demarcação física já aprovada e licitada era um sinal que nada viria com facilidade. Que seria preciso muito mais do que a simples coleta de mais de 150 assinaturas para dois abaixo-assinados exigindo seriedade e infra-estruturas específicas na assistência à saúde, como acabavam de fazer. Saímos de lá sob uma leve e promissora chuva que mesmo escassa estava a sinalizar que no desolado cerrado Kanela a esperança ainda não havia murchado por completo.

terça-feira, 19 de março de 2013

Cheiro de índio incomoda e 28 estudantes indígenas são retirados da sala de aula. Viva a higiene dos 'cheirosos' não índios'!

Mais uma de racismo explícito contra 28 estudantes Kaiwá-Guarani da comunidade de Campestre. A comunidade tem acesso, no próprio tekoha (aldeia), ao ensino básico e fundamental, mas para cursar o ensino médio os estudantes precisam sair da aldeia e estudar em colégios no perímetro urbano do município. Segundo a denúncia tornada pública recentemente o grupo de estudantes indígenas foi expulso da sala de aula da turma do primeiro ano do ensino médio matutino da Escola Estadual Pantaleão Coelho Xavier pelo diretor do colégio, pressionado por professores e estudantes não-indígenas. "Disseram para os nossos estudantes que eles não deveriam estudar ali", conta a liderança da aldeia, Joel Aquino. "Disseram aos nossos jovens que se eles continuassem estudando o ano todo, iam encher a sala e escola de terra, porque temos 'pés sujos'. E 'chulé', que as indígenas femininas têm aquele cheiro de mulher". O diretor colocou o grupo do lado de fora da sala de aula, enquanto o professor continuou dando aula para os não-indígenas. "Às vezes o professor ia lá fora passar alguma atividade para os indígenas", diz Joel. Quando voltaram à aldeia, os estudantes relataram à comunidade o que havia acontecido. Joel conta que ele próprio e uma outra liderança da aldeia, em momentos diferentes, foram pessoalmente falar com o diretor da escola, que confirmou ter expulsado os jovens da aula por considerar que eles não eram higiênicos o suficiente. "Depois disso, nossos estudantes não querem mais frequentar a escola por motivo de vergonha, tamanha a situação humilhante que passaram". Segundo Joel, apenas três deles resolveram continuar frequentando as aulas na escola estadual. "O resto está perdendo aula, decidiram que não vão [para a escola]. Os três que estão indo disseram que o diretor decidiu que eles podem voltar pra sala de aula, porque são poucos. Mas que se voltar a ir todo mundo, eles não vão poder ficar na sala", conclui. Além do MPF, os relatos também foram encaminhados à Fundação Nacional do Índio (Funai) e a representantes da Secretaria de Direitos Humanos.

domingo, 17 de março de 2013

'Francisco': o meu humilde e simples palpite!

Recebi a notícia da eleição de ‘Francisco’ na aldeia Escalvado, entre os índios Kanela, à noite, no jornal nacional. Argentino, me disseram. Francisco o nome escolhido, e sem ser seguido por nenhum algarismo romano (I, II, II, IV...) Simplesmente...Francisco! Comecei a gostar. Afinal era o nome de meu pai e de um dos poucos santos que eu venero. Vem da América Latina e mesmo sendo um ‘primo nuestro’ que veste a camisa ‘blanco-azul’ é sempre um nosso querido vizinho que muito nos alegra. Quando começaram a nos informar que ele costumava pegar meio de transporte público, que ele próprio cozinhava para si, e que tinha um estilo de vida sóbrio, pensei logo que o grande inspirador do ‘nome papal’ poderia ser mesmo Francisco de Assis como, de fato, mais tarde, ele mesmo admitiu. Não li quase nada até agora sobre esse papa, mas soube que alguém já insinuou que também ele como a maioria dos bispos argentinos não teria tido uma atitude muito profética com relação à época ‘suja da ditadura’. Insinuações que o prêmio Nobel ‘Esquivel’, argentino, de imediato, desmentiu. E, para mim, isto me deixa satisfeito. Seja o que for, Francisco parece ser ’barra limpa’, e isso, com os tempos que correm, já é muita coisa! Agora, o que esperar dele? Seria ele o grande reformador da igreja? Iria ele iniciar uma nova primavera na igreja convocando, por exemplo, um concílio vaticano ecumênico tentando colocar a igreja na trilha do diálogo intercultural, no pluralismo religioso e cultural, no respeito pelas autonomias das igrejas locais, etc.? O nome Francisco seria uma sinalização que deseja uma igreja pobre para os pobres, despindo-se dos poderes ‘estatais’ e dos ‘anéis burocráticos’ que parecem ter vida própria e paralela à vida dos ‘católicos normais’?  Seria o nome Francisco um ‘programa de governo’ ou um ‘golpe de marketing’ utilizado para alimentar expectativas e sonhos que dificilmente poderá realizar, mas que serviria para dar um pouco de alento à cansada igreja européia ou à ameaçada (pelos evangélicos) latino-americana? Ele que nunca teve uma passagem sequer pela ‘cúria’ - e que, suponho, pouco conhece, - terá ele vontade, habilidade e condições de ‘quebrar’ o espinhaço de uma instituição secular tão enraizada no Vaticano e que tem tentáculos que vão além dele?

 E aqui faço o meu diagnóstico, talvez um tanto simplista, mas acredito não tão longe do real histórico...
1.    Francisco tomará algumas atitudes que serão recebidas com simpatias pela sociedade em geral como, por exemplo, o fim de alguns privilégios religiosos, um enxugamento mesmo que modesto da máquina curial ou, quem sabe, a venda ou cessão de alguns prédios de propriedade vaticana, para sinalizar que a igreja a ser hegemônica deverá ser a dos pobres, leig@s, etc. Isto, contudo, não significará uma mudança das práticas e das funções da cúria e do seu poder de interferência. Não acredito que tenha força, caso o queira, para por em ato uma sana e urgente descentralização de muitas funções curiais para as conferências episcopais nacionais. Serão, contudo, decisões de amplo apelo popular (populista?)
2.    Desde um ponto de vista doutrinal e moral ele fortalecerá o que seus antecessores já disseram em alto e bom som. Algo que já sabemos e nada acrescentará. Talvez a única coisa que tentará mexer seja ‘a comunhão aos divorciados’ com condições e disposições bem rígidas. Acredito que será mais tolerante, pois alguns avanços já estavam visíveis com o seu antecessor. Ninguém espere, - e torço para errar feio, - que ele abra o sacerdócio ou a diaconia (algo mais simples!) para as mulheres, ou decrete o fim do celibato obrigatório para quem deseja ser presbítero, ou outras decisões mais ousadas.Claro que poderíamos continuar a apontar até dimensões mais estruturantes, mas seriam meras especulações. Torço para que ‘Francisco’ nos surpreenda! Torço e rezo para que ao tomar determinadas decisões, - se ele chegar a tomar, - que possa contar com o apoio de uma igreja-povo que parece sempre mais cansada e conformada. Que Francisco seja audaz e ousado, mesmo que tenha que trair a sua biografia!

sábado, 16 de março de 2013

Justiça restaurativa e não punitiva! (Jo. 8,1-11)

Falávamos, domingo passado, de dar para si e para os outros sempre novas chances, com o intuito de permitir que as pessoas iniciem novas etapas construtivas em suas vidas. Numa clara afronta à lei de Moisés, Jesus oferece uma nova chance a uma adúltera. Mas não só para ela! Oferece uma nova chance também para os seus acusadores, bitolados numa hermenêutica rígida da lei. O interessante é que tudo isso se dá na esplanada do templo (v.2). O espaço sagrado reservado ao culto e ao cumprimento rigoroso da lei acaba servindo como palco alternativo para o surgimento de novas relações sociais e religiosas. Certamente João o faz com o claro intuito de provar que ‘aquele templo’, com suas leis e cultos ‘idolátricos’, se constitui no verdadeiro pecado de adultério. Os verdadeiros adúlteros, de fato, são aqueles que frequentam e obedecem à rigidez do formalismo dos sacrifícios e se esquecem da misericórdia e da justiça de Deus. Esquecem-se de manter fidelidade ao Deus da compaixão e do amor. João cria uma esplêndida parábola contrapondo o suposto infrator, a adúltera, - mas ela simboliza todos os que desobedecem à lei formal, - e os supostos defensores e observantes da lei. No cenário do templo que simboliza o aparato legitimador da lei e do sacerdócio justicialista. Jesus aparece no centro de tudo como aquele que subverte a finalidade da lei e do templo, espaço de adultério religioso, apontando seja para a adúltera que para os seus acusadores não só a nova e inédita abordagem da lei, mas, principalmente, a nova lógica e a nova prática ser seguida. Jesus não age como um julgador movido pelo poder da lei, seja a favor ou bem como contra ela. Tampouco se coloca acima dela, ignorando-a ou desprezando-a. Simplesmente, age como alguém que se pauta a partir de ‘outros critérios’, algo que a prática religiosa convencional ignora. E Ele o faz de forma construtiva, e não pela via do contra-ataque, da contra-denúncia ou da contra-acusação.

De um lado mostra que o pecado de adultério entendido de forma clássica (infidelidade conjugal) é infinitamente menos grave que o pecado de infidelidade a Deus, aquele que se dá cotidianamente naquele ‘bordel sagrado, o templo’. Ao provar que ninguém escapa dessa situação de infidelidade, Jesus deixa entender que ninguém poderá se arvorar em juiz dos outros. Que ninguém poderá apelar para nenhuma lei que determina a morte do infrator, - mesmo sendo legalmente aprovada, - para puni-lo. A lei humana jamais deverá ser utilizada para punir ou castigar o seu suposto ou real infrator. Ao contrário, ela deverá ser utilizada como instrumento pedagógico para que o infrator compreenda que de agora em diante terá que construir vida e respeito lá onde ele semeou morte e violência. Construir fraternidade e justiça lá onde dividiu, extorquiu e humilhou. A parábola encerra-se com um oferecimento recíproco de novas chances para recomeçar. Não somente a que Jesus oferece à ‘adúltera’, mas também a que os acusadores oferecem para ela e para si próprios ao desistir de apedrejá-la e ao voltar ao seu cotidiano com outra mentalidade. Um apelo recíproco para construir uma nova prática de justiça. Não a justiça punitiva e a repressora, mas a justiça que reconstrói relações e tecidos que haviam sido rompidos por todos.

sábado, 9 de março de 2013

Aprender a dar sempre novas chances...para si e para os outros (Lc. 15, 1-15)



Quem de nós nunca desejou ou, talvez, tenha até suplicado, para conseguir uma ‘segunda chance’ na vida? Quem de nós nunca se sentiu insignificante ao ver ‘as portas’ se fecharem na nossa cara por sermos considerados  seres incômodos? Quem de nós não se sentiu, alguma vez, tentado em desistir de tudo e de todos ao tocar com mão a dureza de coração de pessoas que imaginávamos compassivas e próximas de nós e que, ao contrário, revelaram-se incompreensivas e incapazes de entenderem as nossas fragilidades e as nossas falhas? Nessas circunstâncias, instintivamente, olhávamos para o céu como que a tentar encontrar um rosto misericordioso, divino, paterno e materno que não encontrávamos nos humanos. E quantos de nós decepcionados com a incapacidade de tantas pessoas de nos perdoar e compreender, acabamos projetando dentro de nós e no ‘céu’ um rosto divino sem piedade, vingativo e cruel. Enfim, um Deus que não dá uma segunda chance.   

A parábola hodierna apresentada por Lucas parece ter um duplo objetivo. De um lado quer responder polemicamente a quantos haviam assumido e incorporado dentro de si a identidade de um Deus legalista, frio e raivoso principalmente com aqueles que não obedeciam aos preceitos determinados por uma elite sacerdotal arrogante e auto-referencial (filho mais velho). Criticavam Jesus pelo fato que o mestre tinha compaixão e acolhida para com os impuros e os não praticantes (filho mais novo). E do outro lado, a apresentação da lógica de um Deus (pai), - antagônico à concepção dos sacerdotes, - que eles desconheciam e não aceitavam. O Deus de Jesus de Nazaré é aquele pai que não encobre o erro do filho, mas lhe oferece uma segunda chance sem lhe exigir súplicas e pedidos humilhantes. Foi justamente aquela chance que se demonstrou essencial para que ele superasse dentro de si a outra imagem distorcida de Deus que também ele tinha. E isso não somente graças à sua manifestação de arrependimento, e sim, por acreditar profundamente dentro de si que no coração ‘Daquele’ pai só cabia misericórdia. Aquela misericórdia que ele já havia vivenciado quando morava com ele e que acredtou não lhe ser negada, agora, após tantas escolhas erradas . Essa fé no novo ‘abraço generoso e acolhedor’ do pai ao ser confirmada por ele lhe daria a extrema garantia que não se havia enganado ao voltar junto dele. Apostou na compaixão do Pai, e aprende a dar para si e para os outros sempre novas chances!  

sexta-feira, 8 de março de 2013

Feliz dia das MULHERES!

Que vocês possam vencer as agressões de tantos supostos 'machos' com coragem, com denúncia, com ternura, e justiça.
Que vocês possam superar as tentações do desânimo e da desistência com o apoio de tantos homens, companheiros, amigos, aliados. 
Que vocês possam ver reconhecido o seu valor, o seu talento, e a sua competência reformulando consciências e leis. 
Que juntos possamos fechar definitivamente as páginas obscuras do machismo complexado, do desprezo e da exclusão, da brutalidade e das manias de superioridade, culturais ou não, de tantos seres humanos que vivem à procura doentia por reconhecimento e dominação. 
Que vocês possam continuar a ser geradoras de esperança para esse planeta órfão! 
Um beijo em todas vocês, santas ou pecadoras, mas....MULHERES!

CARTA ABERTA DA CNBB SOBRE O MARCO REGULATÓRIO DA MINERAÇÃO

A necessidade de reformular a atual lei que regulamenta a mineração no nosso país levou o governo a elaborar o novo Marco Regulatório da Mineração que, brevemente, deverá ser enviado para aprovação do Congresso Nacional. Nós, bispos do Conselho Permanente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil-CNBB, reconhecendo a importância da atividade mineradora e a sua regulamentação, julgamos oportuno trazer a público nossas preocupações com relação à nova lei que está sendo proposta. Devido à amplitude da lei, consideramos de fundamental importância que se promova um amplo debate com a sociedade e as populações a serem impactadas pelas atividades mineradoras. A ausência do debate público, percebido até o momento, impede a população de conhecer e opinar sobre assunto de grande relevância social e ambiental, que tem efeitos diretos em sua vida. Vivemos numa crescente demanda por apropriação dos bens naturais em nível global, transformando-os em mercadoria e assumindo-os como uma oportunidade de negócios. O governo, por sua vez, vê na extração mineral um dos pilares para sustentar o modelo de desenvolvimento econômico em curso no país, baseado no sistema de commodities. O aumento de preços dos minérios desperta o interesse tanto do governo quanto das mineradoras, tornando-se, assim, motivação maior para o novo Marco Regulatório da Mineração. Reconhecido seu interesse público, a nova lei, acima de tudo, prioriza o aspecto econômico da extração mineral, em detrimento dos aspectos sociais, ambientais, espirituais e culturais dos territórios e de suas populações. Preocupa-nos a proposta, no novo Marco Regulatório, da criação das áreas de relevante interesse mineral e das regiões de interesses estratégicos. Nestas áreas a mineração seria feita a partir de procedimentos especiais que podem ferir o bem comum, além de provocar uma inversão de prioridade entre os direitos individuais e coletivos e o interesse econômico, público e privado.

A exploração mineral é uma atividade que provoca impactos em povos, comunidades e territórios, gerando conflitos em toda sua cadeia: remoções forçadas de famílias e comunidades; poluição das nascentes, dos rios e do ar; degradação das condições de saúde; desmatamento; acidentes de trabalho; falsas promessas de prosperidade; concentração privada da riqueza e distribuição pública dos impactos; criminalização dos movimentos sociais; descaracterização e desagregação sociocultural.Esclareça-se que “a programação do desenvolvimento econômico deve considerar atentamente a necessidade de respeitar a integridade e os ritmos da natureza, já que os recursos naturais são limitados e alguns não são renováveis” (João Paulo II, A solicitude social n. 26).  “Toda utilização da natureza, todo o progresso ou desenvolvimento econômico feito às custas de sua destruição está marcado pela loucura que gera morte” (Nota da CNBB ‘Ouvir o eco da vida’ – 1992). A mineração em terras indígenas é outra grave preocupação suscitada pelo Projeto de Lei 1.610/96, tramitando no Congresso sem nenhuma interação com o Estatuto dos Povos Indígenas, que espera aprovação desde 1991. O Projeto de Lei 1.610/96 desrespeita totalmente a autonomia dos povos indígenas sobre seus territórios, assegurada pela Constituição Federal e pela Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho, da qual o Brasil é signatário. As mesmas ameaças recaem sobre comunidades quilombolas, populações tradicionais, pequenos agricultores e áreas de proteção ambiental.O desenvolvimento não justifica tudo e não é verdadeiro quando reduzido “a um simples crescimento econômico”. Para ser autêntico, recorda-nos o Papa Paulo VI, “o desenvolvimento deve ser integral, quer dizer, promover todos os homens e o homem todo” (PopulorumProgressio, n. 14), buscando o equilíbrio e a integração de toda a criação.Diante disso, solicitamos aos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário que:
a)    seja instituída uma etapa prévia de debates na sociedade civil sobre o conteúdo da nova Lei da Mineração, anterior à sua apreciação pelo Congresso Nacional;
b)    a reforma da lei geral da Mineração considere em primeiro lugar os interesses das comunidades ocupantes dos territórios passiveis de atividade mineral;
c)    a discussão do Projeto de Lei 1.610/96 sobre mineração em terras indígenas seja vinculada à aprovação prévia do Estatuto dos Povos Indígenas.

Conclamamos as pastorais, os movimentos sociais, as entidades de defesa dos direitos humanos, econômicos, sociais, culturais e ambientais, bem como todas as pessoas de boa vontade a se unirem numa plataforma comum de debate sobre os impactos da mineração. Insistimos que acompanhem as comunidades atingidas, assegurando que toda atividade mineradora e industrial tenha como parâmetro o bem estar da pessoa humana, a superação dos impactos negativos sobre a vida em todas as suas formas e a preservação do planeta, com respeito ao meio ambiente, à biodiversidade e ao uso responsável dos bens naturais. Deus, que nos fez cuidadores da terra e de toda a criação (cf Gênesis 1,28), nos torne zelosos cumpridores desse dever.
Brasília-DF, 07 de março de 2013

Dom José Belisário da Silva
Arcebispo de São Luís do Maranhão
Presidente da CNBB em exercício 

 Dom Sergio Arthur Braschi
Bispo de Ponta Grossa - PR
Vice-Presidente da CNBBem exercício      


Dom Leonardo Ulrich Steiner
Bispo Auxiliar de Brasília
Secretário Geral da CNBB   

quinta-feira, 7 de março de 2013

500 mulheres ocupam fazenda da senadora Kátia 'destruídora' Abreu. Eis um jeito diferente para comemorar o dia 8 de março!

Cerca de 500 mulheres do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra sabotaram hoje pela manhã um canteiro de mudas de eucalipto na sede da fazenda Aliança, de propriedade da senadora Kátia Abreu (PSD-TO) no município de Aliança- TO, às margens da Belém –Brasília. Neste momento a rodovia esta interditada nos dois sentidos pelas camponesas. A ação das mulheres do MST é referente ao dia internacional da mulher, 8 de março, cujo lema é Mulheres Sem Terra na Luta contra o Capital e pela Soberania dos Povos! “A ruralista e senadora Kátia Abreu é símbolo do agronegócio e dos interesses da elite agrária do Brasil, além de ser contra a reforma agrária e cometer crimes ambientais em suas fazendas por isso estamos realizando esse ato político e simbólico em sua propriedade”, afirma a dirigente do MST de Tocantins, Mariana Silva. Segundo o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) de Tocantins, a fazenda Aliança da senadora ocupada pelas mulheres Sem Terra nesta manhã foi embargada em duas situações, no ano de 2011 e 2012, por desmatamento e derrubamento de árvores ou demais formas de vegetação natural em área considerada de preservação permanente.(Fonte: Jornal do Brasil)

“Senhores da Eletrobrás nossos netos não têm preço e o Xingu é nossa casa. Vocês não são bem vindos""

Lideranças de 26 comunidades mebengôkre/kayapó das terras indígenas Kayapó, Badjonkôre, Menkragnoti e Las Casas, no Pará, se reuniram nos dias 4 e 5 de março na cidade de Tucumã para discutir sobre as ofertas de recursos da Eletrobrás para o povo kayapó. A luta do povo kayapó contra Belo Monte representa historicamente um dos maiores obstáculos à construção da usina. A oferta de milhões de reais aos kayapó, uma clara tentativa de semear a desunião e enfraquecer a luta deste povo contra Belo Monte era a preparação do terreno para as próximas barragens planejadas para o Xingu. Dizendo tratar-se de linhas de projetos de seu setor de responsabilidade social, sem qualquer relação com a obra em construção, a empresa conseguiu, num primeiro momento, convencer os grupos kayapó do estado do Pará a aceitarem a oferta, algo em torno de 18 milhões para serem gastos em projetos durante 4 anos.As aldeias kayapó do Mato Grosso (Ti Kapoto Jarina), sob a liderança de Raoni Metuktire e Megaron Txucarramãe, sempre negaram enfaticamente este apoio, o que gerou conflitos com os grupos kayapó do Pará, que a princípio aceitaram os recursos oferecidos. Entretanto, ontem, dia 5 de março, caciques de 26 aldeias do Pará, predominatemente da margem leste do rio do Xingu, representadas pela ‘Associação Floresta Protegida’ (Afp), resolveram que também não vão aceitar mais nenhum recurso da eletrobras.
A breve carta à Eletrobrás diz o seguinte: “Senhores da Eletrobrás, a palavra de vocês não vale nada. Acabou a conversa. Nós mebengôkre/kayapó não queremos nem mais um real do dinheiro sujo de vocês. Não aceitamos Belo Monte e nenhuma barragem no Xingu. Nosso rio não tem preço, os peixes que comemos não têm preço, a alegria dos nossos netos não tem preço. Não vamos parar de lutar, em Altamira, em Brasília, no Supremo Tribunal Federal. O Xingu é nossa casa e vocês não são bem vindos.

terça-feira, 5 de março de 2013

Para OIT Brasil esconde o jogo sobre projetos em terras indígenas

A Organização Internacional do Trabalho (OIT) publicou, no final de fevereiro, novo informe do Comitê de Peritos responsável por examinar a aplicação de convenções e recomendações da OIT pelos Estados-Membros. Entre as normas ratificadas pelo Brasil, a que trata da questão indígena reúne a maioria dos comentários e solicitações que são feitas diretamente pelos especialistas ao Governo brasileiro. O Brasil entregou seu último relatório para avaliação em setembro de 2012. Após estudar as informações fornecidas, os peritos solicitaram que o Brasil passe a incluir o relato de interlocutores sociais e das organizações indígenas nos relatórios seguintes. Além disso, o Comitê pede um maior detalhamento do processo de regulamentação da consulta prévia, medida prevista na Convenção 169 da OIT para garantir o direito de povos indígenas e tribais de definirem suas prioridades de desenvolvimento para as terras que ocupam. No capítulo sobre o Brasil relacionado à Convenção 169, são comentados dez temas. Entre eles, grandes empreendimentos como a Hidrelétrica de Belo Monte, a transposição do Rio São Francisco, a base aérea em Alcântara no Maranhão, assim como questões polêmicas como a demarcação de terras dos povos Guarani-Kaiowá no Mato Grosso do Sul. “A Comissão convida o Governo a indicar a maneira prevista para garantir a proteção efetiva dos direitos das comunidades indígenas nas terras que ocupam tradicionalmente e que serão afetadas pela construção da usina hidrelétrica”, diz um trecho referente ao projeto de Belo Monte.

segunda-feira, 4 de março de 2013

CARTA ABIERTA DE LOS MISIONEROS COMBONIANOS EN LA PRIMERA ASAMBLEA INDÍGENA – CIUDAD DE MÉXICO, DE 18 A 23 de FEVRERO


Hermanos,
¡Que la alegría de ser enviados para anunciar el Reino de Dios, esté en sus corazones!

Nosotros Misioneros Combonianos, indígenas,  hermanas misioneras y laicas misioneras combonianas que trabajan conozco en el continente americano, reunidos en la primera asamblea de pastoral indígena, de 18 a 23 de febrero, les expresamos nuestro sentir acerca de los desafíos que enfrentamos juntamente con los pueblos indígenas a quienes hemos sido enviados a compartir nuestra vida y nuestra fe. Después de haber escuchado las experiencias y aportaciones pastorales de los misioneros representantes de las diversas circunscripciones del continente, pensamos que es urgente tomar en cuenta los desafíos y las propuestas que, como asamblea, hemos asumido.

Constatamos, inicialmente, que los pueblos indígenas de nuestro continente, a través de la historia, han sufrido muchas formas de deshumanización, invisibilidad, empobrecimiento, violación de su dignidad y negación de sus derechos. Sin embargo, a pesar de todo eso, en nuestra convivencia con ellos hemos aprendido a apreciar sus valores humanos y sus proyectos culturales y espirituales. Vemos que todo eso los motiva a resistir y a luchar contra todos los que los amenazan en su sobrevivencia física y cultural. Su patrimonio espiritual y humano es también para nosotros combonianos/as e para toda la iglesia una fuente inagotable de inspiración y riqueza espiritual. En eso vemos la presencia del Único Padre que ama y acoge a todos.  

Nosotros, los misioneros Combonianos de ese continente amerindio, juntamente con nuestros colaboradores y hermanos indígenas, religiosas y laicas combonianas  nos solidarizamos con todas aquellas voces y acciones proféticas que se han levantado para defender a los pueblos indígenas de nuestro continente de todos aquellos que en nombre de una falsa concepción de desarrollo y progreso siguen invadiendo sus territorios, devastando la Pachamama, obligándolos a salir de sus tierras originales, e intentando a matar su esperanza y su futuro. 

Para responder a tantos desafíos, - pero también para poder incorporar siempre más en nuestras estructuras religiosas e iglesias sus valores y proyectos, - pedimos que nuestros misioneros enviados a estas realidades, ya desde la formación de base se les preparen adecuadamente a través de un verdadero proyecto de formación personal, específica y sistemática para enfrentar tales retos. Concretamente nosotros combonianos reunidos en esta asamblea nos comprometemos a: 

1. Frente a nuestros pueblos - Identificar en nuestras provincias los pueblos indígenas que más sufren el abandono, la destrucción de sus patrimonios culturales y ambientales, y prejuicios de toda orden para sentirnos llamados a hacer comunión con ellos. Queremos cualificarnos siempre más para mejor conocer sus riquezas espirituales e culturales a través de una actitud de respeto, convivencia fraterna y escucha sincera y permanente. 

2. Frente a la iglesia – Con aquellos pueblos indígenas que a lo largo de su existencia han incorporado la intuición del mensaje y del testimonio de Jesus favorecer el surgimiento de una iglesia verdaderamente autóctona impulsando una rica pluralidad de ‘ministerios indígenas’ para que la Buena Nueva de Jesus sea efectivamente inculturada en las realidades sociales y religiosas de nuestros pueblos. Con aquellos pueblos indígenas que aún no han entrado en contacto con el mensaje de Jesus establecer un respetoso y sincero dialogo inter-religioso.  

3. Frente a la sociedad – Acompañar las luchas y las resistencias de nuestros pueblos que buscan justicia e respeto por sus derechos y con ellos ser canal de diálogo junto a la sociedad y a sus organizaciones, para informar de forma fiel, denunciar proféticamente todo lo que los oprime y amenaza, y  afirmar  la verdadera realidad de nuestros pueblos, sus valores y proyectos, utilizando todos los medios de comunicación que tenemos a nuestro alcance.

Creemos que a pesar de las contradicciones que también están presentes en las realidades de nuestros pueblos indígenas, ellos son portadores de un estilo de vida que la sociedad en general ha abandonado. Su sobriedad, su reciprocidad, su comunión con todos los seres vivos, y su búsqueda permanente por el ‘bien-vivir’ para todos y no solo para algunos, encierran lo que podrá ser un nuevo camino de humanización para un planeta que parece abrazar su auto-destrucción. Que nosotros Misioneros Combonianos seamos siempre fieles hermanos de todos los pueblos indígenas en esta desafiadora misión.