domingo, 31 de maio de 2009

Pentecostes: a supremacia do 'carisma', do inédito, do surpreendente que vem de Deus!

A história da igreja tem sido desde o seu nascimento uma história de tensão entre ‘carisma’ e ‘poder institucional’. De um lado a consciência de que a igreja é portadora de um conjunto de ‘dons’ que escapam do seu controle – por serem maiores do que ela – e do outro, a vontade de controlar, segurar e administrar e monopolizar dons e pessoas.
O carisma é fruto do inédito, do surpreendente, do ‘anárquico’ que vem do Espírito do Ressuscitado. Algo que surge sem alguma programação e vontade humana. É dom gratuito, livre, desconstituído de ‘reconhecimento formal’ e que na grande maioria das vezes aparece à margem da instituição eclesial. É pentecostes!
Carisma e poder tem convivido de forma tensa – e às vezes até de forma antagônica - dentro da mesma igreja. Ora prevalece um, ora prevalece o outro. Embora cada uma dessas dimensões tenha uma metodologia e esferas próprias fazem parte da mesma realidade. Há complementação e superação recíproca.
Pentecostes, contudo, revela e enfatiza a dimensão do ‘carisma’ na igreja e na humanidade. É a supremacia do dom/inspiração gratuito, livre de qualquer tentativa de controle e de aprisionamento institucional. Carisma que é dado por mera generosidade de Deus, independentemente de uma pessoa pertencer a uma igreja ou uma religião.
Assim, se deu pentecostes: uma tomada progressiva de consciência, de caráter coletivo, por parte de um conjunto de comunidades de diferentes culturas e origem étnica que tinham em comum somente a ‘memória de Jesus’, dos seus ditos, gestos e ações. Cada comunidade lembrava, celebrava e aplicava os gestos de Jesus segundo uma inspiração e uma metodologia própria, de acordo com suas necessidades e sensibilidades diversificadas. Não havia aparecido ainda, historicamente, uma instituição de caráter hierárquico que dissesse o que era canonicamente permitido ou não. A única e comum referência a Jesus de Nazaré dava sentido e motivava um conjunto de discípulos e discípulas que sentiam herdeiros do Ressuscitado.
Assim nasceu a igreja de Jesus que, - pelo que sabemos, - nunca a havia planejado. De fato, Ele pregava e articulava a construção do reinado de Deus. Nasceu, contudo, a igreja, e nasceu ‘carismática’(nenhuma referência ao movimento de renovação carismática de igreja católica!), ou seja, um conjunto de comunidades heterogêneas, autônomas, leigas, conscientes de possuir diversidade de dons, de riquezas humanas e culturais, com sensibilidades, especificidades e legitimidades próprias.
Pentecostes é o desdobramento e a continuidade do incipiente movimento proto-cristão que se constituiu alguns anos após a morte de Jesus e que, a partir da sua fé na ressurreição de Jesus, se sentiu progressivamente responsável em dar prolongamento à Sua ação na Galiléia, principalmente.
Diante da evidente recusa e oposição dos vários movimentos farisaicos ao reduzido movimento dos ‘cristãos’, estes acabam pregando e narrando os ditos e feitos de Jesus aos ‘pagãos estrangeiros’ ou hebreus da diáspora que viviam fora da Palestina. Nestes, houve uma razoável aceitação permitindo que surgisse uma consciência nova, desligada do templo, do sacrifício, das normas de pureza, etc. É a ‘linguagem’ do testemunho (anúncio e serviço) assumida definitivamente por essas comunidades, que é entendida por ‘todas as nações’
Comunidades que, - como diz o evangelista João – receberam o ‘sopro/pneuma’ de Jesus, o ressuscitado, permitindo que superassem de um lado a decepção da morte do mestre, e do outro assumindo com coragem e valentia destemida a missão de anunciar e denunciar.
De comunidades medrosas e trancafiadas se tornam, - graças ao ‘sopro’/hálito do Ressuscitado - ‘novas criaturas’, novos Adãos. Cheias e vivas graças ao hálito do Deus vivificador, ‘Renascem’ definitivamente para que por sua vez, ‘recriem’ a própria humanidade, dando vida, sopro, respiro, dignidade e consciência a outros “Adãos e Evas”!

domingo, 24 de maio de 2009

Conhecendo a serra da resistência equatoriana


Um bom domingo aos meus leitores. Hoje iremos de passeio visitando povoados e aldeias indígenas da serra próxima de Quito. Conhecer a riqueza e variedade do artesanato indígena conhecido mundialmente. Iremos também visitar a tumba de Monsenhor Proaño, bispo de Riobamba, falecido cerca de 14 anos atrás. Um grande e dedicado servidor da causa dos pobres e indígenas. Um bispo que soube enfrentar, sem arredar, as ameaças e críticas azedas e injustas de setores do estado e da igreja hierárquica por ser amado e reconhecido pelos excluídos do direitos dessa terra.

(Na foto: a tumba de Monsenhor Proaño)

sexta-feira, 22 de maio de 2009

A defesa dos territórios contra a "reforma agrària de mercado"

Reproduzo uma análise lúcida de Pe. Flavio Lazzain, membro do Conselho nacional da CPT, sobre reforma agrária, agronegócio e sustentabilidade, publicada pelo Jornal do Brasil, ontem.
Vivemos numa época da história que nos obriga a abordar a temática da terra e da reforma agrária no contexto de agressões cada vez mais violentas ao meio ambiente, aos ecossistemas e à própria vida.O que encontramos normalmente nos marketings empresariais e governamentais é a maquiagem da destruição com o conceito falacioso de sustentabilidade e de desenvolvimento sustentável. O que se teoriza é a compatibilidade da modernização ecológica ou da economicidade da ecologia.
Os Estados, como "balconistas" do capitalismo transnacional apoiam o atual modelo de desenvolvimento, maquiando, junto com as grandes empresas, a agressão à terra e aos povos da terra, utilizando, cínica e equivocadamente, o tema da sustentabilidade. Atualmente, o planeta dispõe para a agricultura apenas 1,4 bilhão de hectares de terra, quase todas localizadas no nosso continente. Um quarto dessas áreas, cerca de 360 milhões de hectares está no Brasil. Por isto, temos o papel de uma Arábia Saudita verde. É importante não esquecer, além da questão da utilização do solo em função agro-exportadora, a exploração do subsolo pelas empresas petrolíferas e mineradoras. Juntas garantem os lucros maiores e as estatísticas positivas do PIB do Brasil.
No Brasil, o agronegócio é apresentado pelo governo como compatível com a preservação do meio-ambiente. O Governo Lula casou com o modelo econômico hegemônico, dando continuidade ao projeto "modernizante", que mal disfarça a submissão e o colonialismo de sempre. Este modelo atende apenas a 10% da população - ricos e parte da classe média - e enfrenta os graves problemas da maioria dos brasileiros com a esmola das políticas compensatórias. O latifúndio dos monocultivos e da pecuária é privilegiado à revelia da legislação ambiental e dos mais elementares direitos dos nossos povos tradicionais - indígenas, quilombolas, ribeirinhos, camponeses das múltiplas territorialidades e economias - que pagam o preço da desterritorialização e da marginalização.
A ideologia neodesenvolvimentista do atual governo, alicerçada no PAC, na produção de cana-de-açúcar, soja, eucalipto e temperada pelo mito da sustentabilidade dos agrocombustíveis, desconsidera, com uma miopia inaceitável, o que a maioria dos cientistas afirma sobre os riscos não remotos de acabar com a vida na terra.Percebe-se, além disto, a estreita ligação entre agronegócio e hidronegócio, não somente pelos aspectos de destruição ou privatização das águas do país, mas, também, pela tendência ao controle total da água doce, considerada como mais uma mercadoria e não um bem público, um direito humano e direito de todos os seres vivos. Acrescente-se que os monocultivos são responsáveis por novas ondas migratórias, que envolvem o assalariamento de milhares de camponeses, envolvidos em trabalho escravo, trabalho superexplorado e trabalho infantil.
Enfim, é necessário atentar aos dados publicados, anualmente, pela Comissão Pastoral da Terra (CPT) no Conflitos no Campo Brasil, que mostram como a violência fica cada vez mais concentrada nas regiões de expansão do agronegócio. Em suma, o governo federal abandonou teórica e politicamente o tema e o compromisso da Reforma Agrária. Assistimos à ausência programática de uma proposta de desenvolvimento rural a partir dos camponeses e das camponesas, cuja economia familiar é considerada inviável técnica e economicamente.É a partir destas situações emergenciais e dramaticamente urgentes que somos obrigados a reconstruir uma visão crítica do atual sistema e a propor novos paradigmas de relações econômicas, ecológicas e políticas. E um novo paradigma de Reforma Agrária, que supere uma visão meramente agrarista e distributivista e que contemple a variedade étnica e territorial do campesinato brasileiro.
É a partir destas situações que a CPT apoia a resistência e a luta camponesa em defesa de territórios e economias, no enfrentamento do latifúndio e do hidro-agronegócio, contra a "Reforma Agrária de Mercado", que com o Crédito Fundiário submete as lutas camponesas ao controle do agronegócio.Hoje, as organizações camponesas enfrentam adversários, que articulam setores expressivos do Poder Legislativo e do Poder Judiciário, elites tradicionalmente hostis à reforma agrária e que visam judicializar e criminalizar os movimentos e os defensores dos direitos humanos. Diante disto, a CPT apoia toda forma de organização e articulação que possa garantir o protagonismo político dos povos do campo e da floresta e a defesa da vida.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Conscientes de que estamos...tateando e procurando entender

Escrevo de Quito, Equador. Um encontro continental dos representantes das províncias americanas combonianas ao capítulo geral do meu instituto me levou até a capital desse país. Uma cidade rica de história e cultura. Palco de lutas, movimentos, e mudanças. Uma presença indígena maciça e lutadora. Quase 40% da população equatoriana é indígena e sem medo e vergonha não oculta essa identidade. As sociedades indígenas do Equador são hoje o fiel da balança na vida social e política do país. Elas, com suas mobilizações, já obrigaram presidentes da república a se demitirem. Suas organizações, associadas á determinação comum de serem contempladas como povos com direitos e sonhos diferenciados fazem com que nenhum presidente os ignore.
È nessa terra em que se respira história, luta, resistência e cultura viva que nós combonianos somos chamados a responder com ousadia, coragem e criatividade aos novos e velhos desafios que a missão de anunciar a boa nova aos povos hoje nos apresenta.
Os informes sobre a realidade social, política e eclesial de cada província, previamente elaborados e apresentados no encontro, mostram uma realidade extremamente mutante e complexa. A impressão que se tem é que "essa realidade" esteja nos atropelando e arrastando como se fosse um movimento próprio desligado de nós mesmos. Como se ela tivesse vida própria e não fosse originada por nós humanos. E nós, atores principais dessas mudanças, nos encontramos incapazes de compreender o que nós mesmos produzimos.
Descobrimo-nos defasados na nossa linguagem e nos nossos critérios de análise e julgamento. Percebemos o nosso desnorteamento, intuímos que não dá para continuar assim, mas somos incapazes de perceber-intuir-farejar por onde o "movimento da realidade" está nos levando e conduzindo.
Entretanto, hà um aspecto positivo nisso tudo. Todos, aparentemente, temos consciência que estamos tateando e que precisamos entender, buscar, experimentar, dialogar, debater, pois estamos todos, indistintamente, na vala comum dos que estão a procura, sempre.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Dia 13 de Maio (Lei Áurea): o trabalho escravo que nos envergonha!

Se não fossem as práticas de trabalho forçado, as vítimas poderiam ser beneficiadas com recursos adicionais da ordem de US$ 21 bilhões por ano. O cálculo faz parte do novo estudo sobre o tema lançado nesta terça-feira (12) pela Organização Internacional do Trabalho (OIT).
O relatório, intitulado "O Custo da Coerção", também detalha experiências inovadoras e dificuldades cada vez mais complexas no combate à quantidade crescente de práticas fraudulentas e criminosas que podem resultar na submissão de pessoas a situações de trabalho forçado.Planos de ações. Entre os planos de ação contra o trabalho forçado, o relatório da OIT destaca a implementação da Comissão Nacional para a Erradicação do Trabalho Escravo (Conatrae) no Brasil e a elaboração dos dois Planos Nacionais de Combate ao Trabalho Escravo, sendo o último lançado em setembro de 2008.
O segundo plano incorpora medidas como a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 438/2001, que permite a expropriação e a redistribuição das propriedades de empregadores que utilizam trabalho escravo e inclui outra proposta para dar garantias a estrangeiros submetidos ao trabalho forçado. O documento também propõe sanções econômicas mais elevadas contra empregadores que exploram esse tipo de crime, proibindo-os de obter empréstimos, tanto do setor privado como de fontes públicas, e de assinar qualquer tipo de contrato com entidades públicas.

Em pleno Dia do Trabalho, oito são libertados de trabalho escravo

Enquanto multidões comemoravam o 1º de maio nos grandes centros urbanos, mais um grupo de oito trabalhadores era libertado de trabalho escravo no Sudeste de Pará. Desde fevereiro, eles foram encontrados nas Fazendas Santa Andréia e Serra Grande, a cerca de 5 km do centro de Paraupebas (PA). A propriedade pertence ao empresário Gabriel Augusto Camargos, dono de outros empreendimentos comerciais na região.


"A gente não recebia nada e trabalhava de domingo a domingo, sem descanso. Eu mesmo trabalhei doente, com febre e dor de cabeça. Mas não tinha jeito", lamenta Gedéias do Livramento, 23 anos, um dos libertados pelo grupo móvel de fiscalização e combate ao trabalho escravo do governo federal. Em função das intensas chuvas na região, os fiscais tiveram que percorrer um percurso de 320 km para chegar até o local, normalmente acessível por um trecho de 160 km. Os veículos do grupo móvel atolaram quatro vezes.

"A gente era ameaçado o tempo todo. O capanga andava com a arma na cintura. Uma vez, um companheiro nosso foi pedir dinheiro para comprar remédio porque tinha levado uma picada de cobra e foi ameaçado de morte", conta Gedéias. Quando ele próprio ficou doente, recorreu ao irmão Joel, que também trabalhava no mesmo local, para comprar remédios.

O "gato" (responsável pela contratação da mão-de-obra), que tinha a Carteira de Trabalho e Previdência Social (CTPS) assinada por Gabriel como "vigia", chegou inclusive a ser preso pela Polícia Federal (PF) por parte ilegal de arma no momento da fiscalização. Após pagamento de fiança, ele acabou sendo liberado. De acordo com o delegado responsável, será aberto um inquérito contra o "gato" pelo crime de aliciamento e também por porte ilegal de arma. (Reporter Brasil)

domingo, 10 de maio de 2009

Os assaltos nos 'trecho indígena' entre Barra do Corda e Grajaú. A quem servem?

Estou vindo de uma série de visitas formais aos juízes de Grajaú e Barra do Corda, e da delegacia da Polícia Civil de Barra do Corda juntamente com alguns membros da Pastoral Indigenista da diocese de Grajaú, no intuito de ‘conhecer e compreender’ a proporções da violência física praticada no ‘trecho indígena’ da rodovia que liga Barra do Corda a Grajaú. De fato cerca de 27 dos 127 km que separam as duas cidades estão dentro da terra indígena Canabrava-Guajajara. Muitas pessoas fazem o percurso somente de dia, pois à noite, no famigerado trecho, podem ser vítimas de assaltos e agressões de todo tipo. E mesmo de dia o medo e a ansiedade dominam os transeuntes. Explica-se: inúmeros assaltos a caminhões, ônibus, carros particulares ocorrem naquele trecho.

A cobertura que é feita pela imprensa regional ou estadual dá conta de que são os índios daquela terra indígena os que praticam esses crimes. A revolta da população local e de quantos já sofreram assaltos contra ‘os índios’ da região é compreensível, mas extremamente perigosa e injusta. Já se sabe que há envolvimento de jovens indígenas nesses lamentáveis episódios. Isso é inegável. Alguns, com efeito, já se encontram presos e já confessaram...

Entretanto, o que não é dito com clareza e ênfase é de que há um número significativo de ‘não indígenas’ que residem temporária ou permanentemente nas comunidades indígenas daquela terra indígena. Muitos deles fugitivos da justiça. São verdadeiros profissionais do crime organizado. Eles são os arquitetos e as cabeças da onda de violência e pânico que estão sendo semeados naquele trecho. As autoridades locais confirmam isso!

A estratégia desses ‘profissionais do mal não-indígenas’ é simples: infiltram-se nas comunidades indígenas, aproximam-se e seduzem algumas jovens, começam a conviver com elas, obtêm o consentimento dos pais das jovens indígenas para morar entre eles. Com isso, tornam-se “membros” da comunidade, inclusive para orgulho dos sogros felizes em ver que suas filhas vivem com ’brancos’. Estes começam a socializar com os demais membros da comunidade indígena e iniciam o seu trabalho de ‘sedução e aliciamento’ de jovens indígenas que eles intuem possuírem ‘predisposição e abertura’ para o mundo do crime. O time está pronto e escalado, e o jogo está feito! Por causa das práticas criminosas e violentas dessa ‘união para o mal’, numerosos cidadãos e cidadãs sofrem não somente perdas materiais, mas também ficam marcados psicologicamente pelo trauma, pela síndrome do pânico, por tremores e outros.

Em que pese a natural revolta diante desses fatos, não podemos nos deixar vencer, na hora da análise, pela irracionalidade e pela tentação grosseira em condenar de forma generalizada um inteiro povo indígena. Os preconceitos históricos que herdamos e alimentamos contra os povos indígenas nessa hora emergem com mais virulência, e podem nos cegar quando chamados a entender o fenômeno e, principalmente, na hora de buscarmos soluções.

Na nossa análise temos que abandonar de um lado a irreal idealização dos indígenas segundo a qual, supostamente, eles são seres inocentes, puros, crianças desprevenidas, primeiros habitantes do Brasil que não têm maldade e outros lero-leros. E do outro, a pura e simples demonização segundo a qual os indígenas seriam um bando de maconheiros, beberrões, traiçoeiros, preguiçosos, “bandidos e assaltantes”.

Temos que compreender que eles como as sociedades a que pertencemos têm suas claras e inevitáveis contradições, seus crimes e ilícitos. Eles como nós produzem seus pequenos ou grandes monstros. A nossa revolta contra eles, entretanto, parece ser maior do que a que sentimos diante de crimes realizados por membros de outras sociedades. Achamos, inconscientemente, na nossa idealização, de que ‘eles jamais deveriam cometer essas coisas feias, pois eles não tinham isso no seu passado!’ Ao mesmo tempo é como se o mundo ideal que nós nos construímos e a que aspirávamos e nele nos refletíamos, - representado simbolicamente pelos indígenas (inocentes, puros, sem maldade, respeitosos da natureza e do mundo, sem contaminação/primitivos...) - estivesse, de repente, se desmanchando.
É como se as ações desses indígenas estivessem destruindo definitivamente a nossa ilusão-sonho de que o nosso mundo teria ainda algum espaço para a plena bondade, o respeito e a paz total. É como se constatássemos que eles, afinal, ‘são como nós, são como todos’. Nem eles escapam de serem humanos, contraditórios, santos e demônios ao mesmo tempo! Os indígenas mais do que qualquer outro humano parecem aniquilar o nosso último sonho de que nem tudo é imprestável!

Quando não entendemos ou não queremos aceitar que as contradições fazem parte de qualquer realidade social e humana haverá sempre lugar para a generalização estúpida em que se atribui a um povo inteiro as responsabilidades de crimes que, na verdade, foram praticados única e exclusivamente por um punhado de indígenas aliciados e ameaçados por um punhado de ‘brancos’.

Fazer justiça às vítimas é um dever de todos, bem como garantir segurança e integridade física e moral aos transeuntes do “trecho indígena”, mas não só dele, pois no ‘trecho branco, não indígena’ de Buriticupu a Açailândia se assalta da mesma forma e ninguém é vilipendiado por causa disso, talvez porque, inconscientemente, esperamos dos ‘não indígena’ qualquer tipo de monstruosidade!

Ao mesmo tempo, temos que pôr em ato de forma hábil a ‘inteligência da segurança do Estado’ para identificar e neutralizar os criminosos que continuam soltos. Isso poderia ter sido feito há muito tempo!

Elaborarmos ações sociopolíticas diferenciadas e respeitosas para as comunidades indígenas da terra Canabrava que sistematicamente são agredidas e invadidas por madeireiros, traficantes e outras ‘bombas sociais vagantes’.

Que o estado, enfim, aprenda a defender o que suposta e legalmente lhe pertence: o patrimônio fundiário, florestal e ambiental da terra FEDERAL indígena Canabrava-Guajajara!

sábado, 2 de maio de 2009

O 'bom pastor' (Jo 10,11-18)

Cotidianamente fazemos a experiência de nos sentir inseguros, desprotegidos, abandonados. Aspiramos a ser olhados com carinho e atenção. Gostaríamos de ser valorizados e de termos pessoas que estimamos para nos identificar e espelhar nelas. Sentimo-nos como....ovelhas sem pastor!
Jesus se apresenta como o ‘bom’ pastor em contraposição aos ‘maus’ pastores. Ser ‘bom pastor’ significa conhecer as próprias ovelhas, expor-se e dar a vida por elas, pois elas são o bem mais precioso do pastor. Conhecer as ovelhas não significa conhecer simplesmente o nome, mas conhecer suas necessidades, sonhos, projetos de vida. Não é um ’conhecer’ teórico, abstrato, genérico. É um entrar no mundo do outro, nas suas profundezas e amá-lo do jeito que ele é, com suas contradições e valores, simplesmente por ser uma ‘sua ovelha’.
O ‘bom pastor’ faz isso não por salário, nem porque aspira a algum tipo de recompensa ou reconhecimento. Nem porque nas ovelhas vê o ‘Pastor’ maior, mas simplesmente porque são ovelhas a serem amadas e acolhidas.
A intenção última do ‘bom pastor’ segundo o evangelho de João é fazer com que as ovelhas tenham um só pastor e façam parte de um único rebanho, embora pertencendo a vários apriscos, ou seja, que haja unidade na diversidade, reciprocidade na multiplicidade.
Os ‘maus pastores’, os mercenários, os assalariados e gratificados se movem a partir de outros critérios e atitudes para se relacionar com as ovelhas. Eles, ‘apascentam a eles próprios’, não lhe interessam a segurança e a proteção das ovelhas, pois elas não são vistas como bem precioso a ser valorizado e amado, e sim como mercadorias a serem exploradas e comercializadas, como oportunidades e trampolins para eles mesmos crescerem, engordarem e enriquecerem.
Não há como não fazer referência à profecia de Ezequiel. Ao reler a trajetória e história de Israel tentando descobrir as causas da deportação e do exílio forçado para muitas famílias, o profeta as detectou no comportamento dos ‘maus pastores’. Os pastores de Israel em lugar de apascentar, cuidar, proteger, curar as ovelhas magras, feridas e frágeis apascentaram a eles mesmos, comendo, bebendo, engordando e desviando recursos.
Por isso o Senhor Javé declarou: ”Vocês nunca mais serão pastores de Israel. Eu mesmo serei pastor do meu povo!”

Ao sabermos que isto é o projeto-vontade do Deus da vida cabe a nós, seus mediadores históricos, pôr em prática no dia-a-dia essa indicação, ou seja, monitorar e promover o ‘bom pastoreio’ e ‘cassar os maus pastores’ para salvaguardar a integridade física e moral das ovelhas.

sexta-feira, 1 de maio de 2009

STF declara extinta a Lei de imprensa. No Maranhão, justiça CENSURA o blog de Walter Rodrigues

Ontem o STF mandou para a lata do lixo a assim chamada Lei de Imprensa feita em 1967 em plena ditadura militar passando a borracha naquilo que conhecemos como 'censura'. Tudo indica que no Maranhão vai começar a vigorar em 2010, ou seja um ano após a sua promulgação, como é tradição deste Estado.
Confira:
1. 1822 independência do Brasil, no Maranhão:1823;
2. 1888 fim da da escravatura, no Maranhão: 1889;
3. 1889 início da República, no Maranhão: 1890;
4. "Golpe de 1930, no Maranhão:1931;
5. Golpe de 1964, no Maranhão:1965;
6. Nova Constituição do Brasil 1988, no Maranhão: ....até hoje não vigora!
7. Fim da Lei de imprensa, 2009, no Maranhão: ?????????????
Setores da Justiça Maranhense censuraram covardemente algumas postagens do Blogue de Walter Rodrigues que expunham algumas decisões intencionalmente céleres do Juiz Sauaia (caso Caema) É costume desse juiz fazê-lo quando se trata de beneficiar 'alguns" e prejudicar 'outros". O autor desse Blog enviou ao Walter Rodrigues mensagem de solidariedade e repúdio a esses setores da magistratura do Maranhão que o ENVERGONHAM, mas que não o representam.
JUSTIÇA NA JUSTIÇA DO MARANHÃO, JÁ!

Eis como ficou o blog do Colunão de Walter Rodrigues:
terça-feira, 28 de abril de 2009
Sauaia e o golpe da Caema
Matéria censurada e removida do Blogue por determinação do juiz Raimundo Sampaio Silva.
Walter Rodrigues 21:59
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