sábado, 25 de novembro de 2023

Solenidade de Jesus-pobre Rei do universo

Que rei é esse que dá em herança o seu reino a famintos, doentes, detentos e maltrapilhos? Mais que isso: um reino que foi preparado desde o começo dos tempos pelo Pai a ser entregue aos pobres. Ou esse rei quer o fim de todo poder monárquico-autoritário, ou ele está apontando para a verdadeira essência da vida e de toda e qualquer forma de governo humano. Nessa parábola paradigmática Jesus deixa claro que desde já somos avaliados sobre a nossa prática da caridade e da compaixão para com os invisíveis dos reinos desse mundo. O cuidado, a assistência e a proteção aos ‘miseráveis’ de hoje, - massa sobrante e descartável pelos reizinhos fantoches desse mundo – devem ser para os seguidores de Jesus a sua única e real prioridade. Paradoxalmente, para Jesus, são esses ‘pobretões’ desprezados e sem poder que já sentaram no trono do Pai que vêm fazendo a devida seleção: ou com eles ou com seus algozes. Não será reivindicando uma suposta pertença a uma igreja ou uma solene declaração de fé numa doutrina que fará a diferença. A nós a escolha!

sábado, 18 de novembro de 2023

Violência no campo e Estado. Artigo de Flávio Lazzarin e Cláudio Bombieri

De 27 de outubro até 10 de novembro, houve um aumento estatisticamente significativo da violência no campo, com vários assassinatos ocorridos em áreas de conflitos fundiários nos estados do Maranhão, Pará, Pernambuco e Paraíba. Escandalosamente significativo o que aconteceu, no dia 10 de novembro, no Maranhão, quando um grupo de dez pistoleiros a mando de um fazendeiro invadiu o povoado São Francisco, localizado em Barra do Corda, resultando na morte de um deles. Outros dois integrantes da quadrilha foram baleados e socorridos, enquanto outros sete foram resgatados por policiais e presos em flagrante.Noticia-se imediatamente que dos dez bandidos nove são policiais militares e um penal. A dimensão, a simultaneidade e a configuração destes fatos provocam reações e debates, que vão além da pontual e preciosa nota da CPT do dia 12.

Eis algumas perguntas e reflexões que circulam nestes dias.

Seria uma mera trágica coincidência a confluência desses atos violentos no arco de cerca quinze dias em diferentes regiões do Brasil? Ou são violências programadas e coordenadas?Esta última não é uma hipótese aceitável, mas é bom sublinhar que existem articulações parlamentares e políticas, que poderiam repetir as estratégias da antiga UDR: a Frente parlamentar "Invasão zero" (200 parlamentares), criada logo após CPI do MST e, na Bahia, em paralelo, o Movimento "Invasão zero" (10mil proprietários em 200 municípios). Descartada, evidentemente, a hipótese de uma coordenação destas violências, poderíamos pô-las no âmbito da polarização entre bolsonarismo e lulismo?


Chama a nossa atenção o fato de que ao longo dos quatro anos do governo fascista de Bolsonaro não haja havido, pelo que se sabe, uma concentração de assassinatos e atentados contra quilombola, camponeses e indígena tal como a que se deu nesses dias. Teria sido mais lógico que atos violentos dessa magnitude tivessem ocorrido ao longo daquele mandato, e não agora, num governo que, formalmente, estaria a defender e a favorecer as categorias mais fragilizadas do campo. Ou, seria, por acaso, a reação de retaliação do latifúndio justamente diante de uma nova e aguerrida postura do atual governo em favor das populações do campo? Contudo, numa rápida e superficial leitura da política fundiária levada adiante pelo MDA e o INCRA do atual governo não nos parece entrever ações políticas que tenham criado algum tipo de impacto significativo tal a ponto de provocar possíveis retaliações do latifúndio. Muito pelo contrário...


Haveria uma outra hipótese a ser considerada: estariam as populações do campo se sentindo fortalecidas e/ou, supostamente, protegidas pelo atual governo de forma a torná-las mais aguerridas e ousadas em suas lutas e reivindicações, e as novas agressões do latifúndio seriam, afinal, uma mera resposta defensiva a essas novas empreitadas sociais desses movimentos? Não nos parece, também nesse caso, vislumbrar ações de mobilização, de ocupação fundiária e de retomada de territórios originários e tradicionais de tal envergadura que venham a justificar uma renovada metodologia das populações do campo, num novo e suposto favorável contexto político.

Ao descartar a ‘mera coincidência’ desses acontecimentos cabe tentar compreender quais outras razões pressionam, por exemplo, um grupo de policiais para se colocarem a serviço de um ‘fazendeiro’ com a finalidade de limpar de forma clandestina uma determinada área. Seria o movente pecuniário a única razão? O que move um grupo consistente de PMs da mesma cidade a colocar em risco a sua profissão para fazer um ‘trabalho sujo’?

Insiste-se por parte de muitos sobre o papel do Estado nestes conflitos territoriais e repetimos as figuras da ‘omissão’, com anexa impunidade, e da ‘cumplicidade’. Essas leituras são suficientes para entender a responsabilidade do estado nestas agressões? Achamos que estas perguntas e reflexões, aparentemente oportunas e necessárias, nos deixam, porém, na escuridão e, sobretudo, não abrem portas e caminhos para uma praxe política coerente de enfrentamento da violência.

Talvez, possamos encontrar alguma luz retomando a análise do protagonismo político das elites rentistas e empresariais do Brasil. Somos assim obrigados a repetir a única descrição ao nosso ver incontestável do Estado brasileiro: desde a sua origem, se caracteriza como estamento oligárquico-patrimonialista; desde sempre o Estado é o próprio ‘Crime Organizado’.

Podem aparecer ao longo da nossa história, além das ditaduras e dos golpismos, sempre por interferência militar, maquiagens republicanas, democráticas e hipócritas afirmações sobre a vigência do ‘Estado de Direito”, mas também em Estados, como o Rio Grande do Sul, em que parecia vingar uma tradição liberal autêntica, nas últimas décadas vingou a versão do Estado oligárquico-patrimonialista, o Estado como ‘Crime Organizado’. E seria míope continuar pensando que essas características do Estado brasileiro estariam presentes somente no Rio de Janeiro. Resumindo: o Estado não é cumplice da violência nem é meramente omisso diante dela, porque ele é incontestavelmente o quartel-general desta guerra contra os pobres e os pequenos.

O Brasil nos proporciona uma versão tropical do Estado de Exceção: a originalidade da Exceção brasileira está no fato que ela se alimenta de forma absolutamente independente da legalidade constituída. As nossas elites sempre conviveram, sem problema éticos e políticos, com a convicção profunda, atávica e fortemente enraizada da primazia da autolegitimação sobre a legalidade. Todo o aparato jurídico – código civil e código penal – está submetido ao privilégio incontestável das elites, que decidem, independendo das leis, o que é legítimo, necessário e conveniente para a manutenção do poder. E as leis são normalmente usadas como arma política contra os inimigos e adversários, enquanto familiares, amigos e aliados são dispensados de obedece-las e absolvidos de antemão, também em casos de crimes hediondos.

Evidentemente, as leis cumprem também a função de disfarce da primazia da autolegitimação, encenando a ficção do ‘Estado de direito’. Ficção que consegue ocultar o papel indispensável que o Poder Judiciário ocupa no pacto oligárquico: respeitar caninamente, com rara exceções, a solidariedade de classe, a cumplicidade entre brancos ricos, cultos, proprietários e profissionais liberais. Saber disto deveria minar o eventual entusiasmo dos defensores dos direitos humanos, porque no confronto jurídico com o Poder Judiciário saem quase sempre derrotados o com vitórias mutiladas por negociações injustas e parciais.

No embate processual com o Estado, as comunidades camponesas saem sempre derrotadas. A impunidade, totalmente garantida aos assassinos, mandantes e executores materiais, de indígenas e camponeses, nestes últimos quarenta anos, é mais uma prova incontestável desta análise. A impunidade não é consequência do descaso dos inquéritos policiais e da morosidade do Judiciário, mas o resultado, deliberadamente construído, de um Estado, que é o próprio Crime Organizado. E, então, no âmbito da autolegitimação oligárquica, não há como estabelecer uma diferença entre Polícia e Milícia, come se somente ocasionalmente a elite precisasse dos serviços da jagunçada e pistolagem.


Milícia e pistoleiros são elementos constitutivos, orgânicos, do Estado brasileiro. E esta configuração não é característica das oligarquia do passado: no Maranhão funcionava com Vitorino Freire e José Sarney e na Bahia com Antônio Carlos Magalhães, mas continua funcionando com os governos sucessivos, com a única variável do acompanhamento de uma narrativa progressista. Assim a violência no campo permanece com José Sarney, Fernando Collor, Itamar Franco, Fernando Henrique Cardoso, Dilma Roussef, Lula e, obviamente, continuou com Bolsonaro.

Os populistas de extrema direita aceitam e incentivam a violência para defender os valores tradicionais e, para eles, inegociáveis - Deus-Pátria-Família - ameaçados pelos ‘comunistas’. Repetem a encenação antissistémica nazista e fascista para, de fato, hoje como ontem, terminar radicalizando a violência do sistema capitalista. A esquerda ainda acha que ainda pode se declarar aliada dos pequeninhos, mas hoje é incapaz de reconhecer a distância que o progressismo da classe média construiu entre si e as massas famintas e desempregadas.

Uma esquerda que está equivocada quando se pensa como a herdeira do legado dos trabalhadores que, porém, há muito tempo, não se reconhecem mais como classe. Uma esquerda que, quando está no governo, não tem antídotos contra a violência do capitalismo e é obrigada a obedecer à lógica do mercado e às reivindicações das elites amplamente representadas pelo Centrão que manda na Câmara, no Senado e no País. Uma esquerda derrotada e sem futuro, acometida pelo cansaço ideológico, pela repetitividade eleitoreira, pela incapacidade de entender que a sociedade mudou, pela falta de discernimento que bloqueia qualquer projeto alternativo para o Brasil, em tempos de fome, de desemprego, de violência contra indígenas e camponeses, tempos de novas subjetividades e de dramáticas conjunturas climáticas e bélicas, que marcam tragicamente a atualidade. Uma esquerda, que, mais tarde o mais cedo, será varrida do panorama político internacional, pela onda demencial e trágica do populismo de extrema direita.

O que fazer diante de tantos escombros?

Alguns dias atrás, Marcello Tarí nos deu uma dica preciosa: uma profecia bela e intensa de Emmanuel Mounier, que pode ser um presente para aqueles que ainda queiram lutar. “O perigo, a preocupação são o nosso destino. Nada nos deixa prever que esta luta possa terminar numa fração de tempo calculável, nada nos incentiva a supor que a luta seja constitutiva da nossa condição. Com efeito a perfeição do universo pessoal encarnado não se identifica com a perfeição de uma ordem, como pretendem todos os filósofos (e todos os políticos), que pensam que um dia o ser humano possa totalizar o mundo. A nossa é uma perfeição de uma liberdade que luta e luta incansavelmente. E que continua firme até depois da derrota. Entre o otimismo intolerante da ilusão liberal ou revolucionária e o pessimismo impaciente dos fascismos, o verdadeiro caminho do ser humano é este otimismo trágico, em que ele pode encontrar a sua justa medida num ambiente de grandeza e de luta”. (Mounier Emmanuel, Il personalismo, Ave ed. 2004, pag. 56)

A única arma com a qual é permitido marchar para a guerra é a Palavra. E é a própria Palavra que traz a guerra onde reina a paz. Palavra que decide desestabilizar o status quo: “Não penseis que vim trazer a paz à terra. Vim trazer não a paz, mas a espada. Eu vim trazer a divisão entre o filho e o pai, entre a filha e a mãe, entre a nora e a sogra, e os inimigos do homem serão as pessoas de sua própria casa.” (Mt 10,34-36).

Não é Palavra que simplesmente aceita a inevitabilidade do conflito. É a própria Palavra que o instaura e o preserva com radicalidade.


33º domingo - Não tenha medo de errar: multiplique e partilhe o que Deus lhe deu! (Mt. 25, 14-30)

Deus parece confiar mais em nós do que nós confiarmos em nós mesmos. A ideia equivocada de um Deus rígido, que fiscaliza e que cobra nos leva a manter uma relação de submissão e medo. E o medo paralisa e ofusca a alma, de forma tal que permanecemos inermes perante a realidade dominados pela ideia de sermos julgados. A parábola de hoje nos mostra um 'senhor' que antes de viajar doa muitos bens aos seus servos, de acordo com as potencialidades de cada um. Quando ele volta confere com seus servos o uso dos bens que lhes havia doado antes de partir. Os primeiros dois servos haviam tomado consciência que na 'ausência do senhor' cabia a eles se mexer e tomar a iniciativa para produzir e multiplicar novos bens. Já o último preferiu 'conservar' os bens sem se arriscar. Afinal, temia ser repreendido se tivesse tomado qualquer iniciativa com aquele bem que lhe havia sido ofertado. Adotou a postura de um conservador acomodado e de baixa estima em si próprio. Chegou a hora de assumirmos sem medo de errar e de sermos julgados o modo de gerir do 'senhor' multiplicando paz, fraternidade, partilha, generosidade. Se Ele não acreditasse em nós jamais ele deixaria seus bens conosco! Façamos por merecer! 

quinta-feira, 16 de novembro de 2023

Reflexões desordenadas sobre violência no campo de ontem, hoje e sempre

 Refletindo sumariamente sobre os últimos acontecimentos da segunda semana de novembro envolvendo os trágicos assassinatos e atentados contra quilombolas, indígenas e Sem Terra cabe se perguntar:

1. Seria essa confluência de intensos atos violentos tendo como vítimas membros de populações camponesas em diferentes regiões do Brasil uma mera trágica coincidência? Se de um lado fica bastante problemático ver nisso uma vasta articulação em que, de forma simultânea, várias pessoas envolvidas em conflitos agrários são agredidas e assassinadas, do outro lado nos deixa bastante atônitos esse ‘renascido’ recrudescimento da violência exercida por milicianos e pistoleiros de aluguel.....

2. Ao descartar a ‘mera coincidência’ desses acontecimentos cabe tentar compreender quais outras razões estariam a pressionar, por exemplo, um grupo de policiais-milicianos para se colocarem a serviço de um ‘fazendeiro’ com a finalidade de ‘limpar’ de forma clandestina uma determinada área. Seria o movente pecuniário a sua única razão? O que moveria um grupo consistente de PMs da mesma cidade a colocar em risco a sua profissão para fazer um ‘trabalho sujo’? E, o que dizer no caso específico do assassinato do casal do MST da Paraíba em que os dois pistoleiros, em pleno dia, diante de várias testemunhas acabam com a vida de dois notórios assentados? Seria, por acaso, a ‘clássica certeza de impunidade’ que os empurra a serem sempre mais ousados em suas façanhas homicidas, ou haveria algo mais? 

3. Seria possível avançar algumas hipóteses explicativas que, embora não possuam a pretensão de exaurir a complexidade de uma violência, venham a jogar uma luz diferente? Em suma, torna-se urgente se perguntar: se de um lado continua de forma exacerbada a sistêmica e seletiva violência contra a população do campo, não existiriam, do outro lado, - a partir dos acontecimentos desses dias, - novos elementos explicativos capazes de dar um sentido ao todo? 


4. Chama a nossa atenção o fato de que ao longo dos quatro anos do governo fascista de Bolsonaro não haja havido, pelo que se sabe, uma concentração de homicídios e atentados contra quilombola, camponeses e indígena tal como a que se deu nesses dias. Teria sido mais lógico que atos violentos dessa magnitude tivessem ocorrido ao longo daquele mandato, e não agora, num governo que, formalmente, estaria a defender e a favorecer as categorias mais fragilizadas do campo. Ou, seria, por acaso, esse recrudescimento da violência no campo a reação de retaliação do latifúndio diante de uma nova e aguerrida postura do atual governo em favor das populações do campo? Contudo, numa rápida e superficial leitura da política fundiária levada adiante pelo Ministério da Agricultura (Incra) do atual governo não nos parece entrever ações políticas que tenha criado algum tipo de impacto significativo tal a ponto de provocar possíveis retaliações do latifúndio. Muito pelo contrário...


5. Haveria uma outra hipótese a ser considerada: estariam, por acaso, as populações do campo se sentindo mais fortalecidas e/ou, supostamente, mais protegidas pelo atual governo de forma a torná-las mais aguerridas e ousadas em suas lutas e reivindicações, e as novas agressões do latifúndio seriam, afinal, uma mera resposta defensiva a essas novas empreitadas sociais desses movimentos? Parece-nos, também nesse caso, não existirem elementos comprobatórios, haja visto que não têm havido mobilizações e ocupações fundiárias de tal envergadura que venham a justificar uma renovada metodologia das populações do campo, num novo e suposto favorável contexto social! 

6. Dito isso, não há como negar que existe um conjunto de razões para tentar compreender esse novo ‘surto violento’, mas destacaríamos dois elementos centrais explicativos: a. A permanência e/ou consolidação da utilização da violência e da agressão como um elemento residual, inercial daquela violência institucional/doutrinária que se tem fortalecido sobremaneira ao longo do governo anterior e que encontra agora, num governo supostamente garantista e democrático, a sua ‘atroz e insana legitimidade’. Isto não significa que essas ações estariam tentando desestabilizar o atual governo, mas, talvez, enviando um recado segundo o qual ‘aquela violência’ não vai parar com a mudança de governo. b. O segundo elemento de caráter macro sistêmico nos leva a acreditar que o próprio ‘estado’ é na sua essência uma macro instituição de cunho oligárquico, elitista, pseudo-legalista, protetor da concentração de terras e de riquezas, e que incorpora a ‘violência legítima’ ou não contra ‘pessoas e direitos formais’ como meio para se perpetuar com essa configuração de forma legítima. Dito de outra forma, polícia formal e polícia informal (milicianos), por exemplo, seriam constitutivas e funcionais ao próprio estado. Difícil, por exemplo, não reconhecer que o judiciário na sua estrutura essencial estaria agindo de forma política pró-estado, deixando de lado os princípios da impessoalidade e da imparcialidade e da reta hermenêutica do corpo legal. Com isso não se quer negar a atuação de ‘bons juízes e promotores’ e até de defensores sociais de direitos, mas a sua atuação é anulada quase sempre pelo ‘núcleo duro’ da macroestrutura legal que é tutelada e monitorada pelo próprio estado. Há ainda saídas possíveis e realistas diante de uma compacta camisa-de-força sistêmica e estruturante que tem o próprio estado como responsável? 


sábado, 11 de novembro de 2023

32º domingo - Teimar em esperançar, apesar dos atrasos do 'noivo da paz e da vida nova'! (Mt.25, 1-13)

Vítimas, como somos, da cultura da ‘aceleração vertiginosa’ tendemos a cuidar somente do ‘aqui e agora’. Eventuais atrasos, esperas, desencontros nos deixam desnorteados e sem iniciativa. Na parábola de hoje fala-se do ‘atraso do noivo’, daquele deveria vir para realizar uma nova aliança. E escancarar as portas para novos tempos de paz e de vida em abundância. O que fazer diante dessa demora? Como reagir? É o dilema não só de um grupo de seguidores de Jesus à espera de uma sua volta, mas também daquela parte de humanidade que ainda acredita que algo surpreendente pode acontecer, em que pese o imediato tenebroso em que está mergulhada. Mateus nos diz que podemos até ficar adormecidos e anestesiados por algum tempo, mas jamais podemos ficar sem o ‘óleo nas nossas lâmpadas’. Sem o combustível da ousadia, da coragem, da fé radical não conseguiremos reconhecer o momento oportuno de agir junto ao noivo. Não podemos temer os atrasos nas mudanças históricas, porque o óleo que possuímos não nos permite desistir. É preciso teimar em vigiar e ‘esperançar’, custe o que custar!


domingo, 5 de novembro de 2023

Ainda sobre santidade....evangélica!

No livro do Gênesis se narra que Caim após ter matado o seu irmão Abel fugiu e se escondeu. Deus, contudo, corre atrás dele e lhe pergunta: ‘Onde está o seu irmão Abel’? Caim retruca: ‘ Não sei; sou, por acaso, guardião de meu irmão’? (Gn.4,9) Aqui parecem residir as raízes ‘antropológicas’, ou melhor dito, ‘ideológicas, da ‘falta de cuidado’ de um irmão para com outro. A resposta de Caim assume características de trágico e injustificável cinismo principalmente se se considera que ele acabava de cometer o insano e horrível gesto de eliminar fisicamente o seu próprio irmão. 

Não há como negar que existe, hoje, uma difusa tendência nas relações interpessoais de cultivar sua própria autossuficiência com características de exacerbado individualismo que impede uma razoável abertura e sintonia para com os outros ‘semelhantes’. Expressões populares já consolidadas como ‘e eu com isso’? Ou, ‘fica na tua, não te mete’ ou, ‘fica quieto no teu canto, ninguém te chamou’ parecem revelar que o ‘ideal’ a ser praticado, segundo uma determinada cultura relacional contemporânea, é a assunção da 'falta de cuidado' com o outro. Diga-se, de passagem, que isto nada tem a ver com a atitude respeitosa e louvável de não interferência no universo do ‘outro’ sem ser chamado em causa por ele. É, afinal, a recusa a se deixar envolver e afetar pelos problemas dos outros, suas dores e angústias, suas alegrias e esperanças. Com efeito, quando a nossa sensibilidade e consciência são arranhadas pelos dramas alheios sentimo-nos, em geral, incomodados e, geralmente, instigados em ‘fazer algo’ pelo outro. É, sem dúvida, um embate interior entre o desejo de ignorar o sofrimento do outro para evitar sermos incomodados e envolvidos por ele, e os recônditos apelos de uma consciência ética bastante anestesiada que, bem ou mal, não deixa de interpelar. Acreditamos que, hoje, dia de 'todos os santos', o apelo urgente a ser lançado e promovido nas igrejas e na humanidade é ‘Eu me importo com você!

A liturgia católica, de forma sábia, escolheu como trecho evangélico na solenidade de todos os santos as ‘bem-aventuranças’. Não é para menos! Santo-bem-aventurado para Jesus é aquela pessoa que se educa e se torna visceralmente solidária com aqueles que choram, com os construtores e artífices de paz, com os ‘desterrados e expropriados’ de terra e de esperança, com todos os famintos de pão e de justiça, com todos aqueles que detestam e não cultivam duplicidade e hipocrisia. Esse itinerário de aproximação e de fusão com o universo do outro que sofre, mas que constrói soluções para pôr fim à dor e às angústias próprias e alheias requer conversão radical, superação definitiva do ‘senso comum’, ou seja, de não se importar com os outros. Poderíamos dizer que é um processo educativo sistemático a se importar pelo outro que vive ao nosso lado ou que entra a fazer parte, progressivamente, das nossas atenções e cuidados. Jesus não pede para os seus discípulos, - pois é a eles que se dirige, prioritariamente, - de, simplesmente, se ‘interessar’ pelos outros, mas de se ‘importar’ com as diferentes categorias de sofredores. O interesse, a princípio, manifesta uma genérica curiosidade pessoal com relação a algo ou alguém, eticamente inócuo e que não exige comprometimento; já ‘importar-se’ com alguém reflete a existência de prioridades, de hierarquia de valores e revela desejo de simbiose com alguém. 

Santos, hoje, não são os canonizados milagreiros vivos ou mortos, nem tampouco os que são contemplados nos calendários católicos ou venerados em santuários em redomas douradas cercadas por velas e ofertas votivas, mas são todos aqueles humanos, batizados ou não, que se importam com seus semelhantes, com suas condições de vida, suas dores e alegrias, seus sonhos e esperanças, e com eles fazem comunhão. Que não fogem e nem se escondem e, ao ser interpelados por Deus não temem em responder que' 'Abel está aqui, comigo, sob os meus cuidados e eu....sob os dele'! 


sábado, 4 de novembro de 2023

Aquecimento global: 50% de chance de atingir 1,5°C antes de 2030

Um novo estudo, publicado na Nature Climate Change, estima que o mundo tem 50% de chance de atingir 1,5°C de aquecimento global antes de 2030, a menos que as emissões de dióxido de carbono sejam reduzidas rapidamente. O estudo, liderado por pesquisadores do Imperial College London, é a análise mais atualizada e abrangente do orçamento global de carbono. O orçamento de carbono é uma estimativa da quantidade de emissões de dióxido de carbono que podem ser emitidas, mantendo o aquecimento global abaixo de certos limites de temperatura.

O Acordo de Paris visa limitar o aumento da temperatura global a bem abaixo de 2°C acima dos níveis pré-industriais e buscar esforços para limitá-lo a 1,5°C. O orçamento de carbono restante é comumente usado para avaliar o progresso global em relação a essas metas. O novo estudo estima que, para uma chance de 50% de limitar o aquecimento a 1,5°C, há menos de 250 gigatoneladas métricas de dióxido de carbono no orçamento global de carbono. Os pesquisadores alertam que, se as emissões de dióxido de carbono permanecerem nos níveis atuais de cerca de 40 gigatoneladas métricas por ano, o orçamento de carbono será esgotado por volta de 2029, comprometendo o mundo a um aquecimento de 1,5°C acima dos níveis pré-industriais. 

A descoberta significa que o orçamento é menos do que calculado anteriormente e caiu aproximadamente pela metade desde 2020 devido ao aumento contínuo das emissões globais de gases de efeito estufa, causadas principalmente pela queima de combustíveis fósseis, bem como uma estimativa melhorada do efeito de resfriamento dos aerossóis, que estão diminuindo globalmente devido a medidas para melhorar a qualidade do ar e reduzir as emissões. O estudo também descobriu que o orçamento de carbono para uma chance de 50% de limitar o aquecimento a 2ºC é de aproximadamente 1.200 gigatoneladas métricas, o que significa que, se as emissões de dióxido de carbono continuarem nos níveis atuais, o orçamento central de 2 °C será esgotado até 2046.

O estudo foi recebido com preocupação por especialistas em mudança climática, porque mostra que estamos muito mais próximos de ultrapassar o limite de 1,5°C do que pensávamos.


Unicef: “Gaza se tornou um cemitério de crianças”

Nesta semana, o porta-voz do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), James Elder, alertou que a Faixa de Gaza “se tornou um cemitério de crianças”, quase um mês após o início da guerra com Israel. Segundo informou, os números de meninos e meninas de Gaza afetados pelo conflito continuam crescendo. Além disso, lembrou que se chegou a mais de 3.450 mortos nos bombardeios, milhares de desaparecidos ou em cativeiro e mais de um milhão que permanecem sem água, alimentos e produtos básicos. “É assombroso que este número aumente significativamente a cada dia. Gaza se tornou um cemitério de crianças. É um inferno para todos os outros”, declarou Elder.

Para o Unicef, as mortes infantis por desidratação são “uma ameaça crescente” no território, uma vez que a produção de água de Gaza está em 5% do volume necessário, pois as centrais de dessalinização não funcionam, estão danificadas ou com falta de combustível. E, olhando para o futuro, acrescentou que quando os combates finalmente pararem, os custos para as crianças “serão sentidos por décadas” por causa dos terríveis traumas enfrentados pelos sobreviventes. Elder citou o exemplo da filha de quatro anos de um funcionário do Unicef, em Gaza, que começou a praticar a autolesão devido ao estresse e o medo diários, enquanto sua mãe disse a seus colegas que “não é possível se dar ao luxo de pensar na saúde mental de seus filhos”, pois “primeiro é necessário mantê-los com vida”. Por sua vez, o responsável em coordenar a ajuda humanitária da ONU, Martin Griffiths, disse que o que estão suportando, desde o início das represálias de Israel aos ataques mortais do Hamas, em 7 de outubro, é “mais do que devastador”. (IHU)

Solenidade dos eternos bem-aventurados! (Mt. 5,1-12a)

Santos são os pobres cujo único patrimônio é o seu espírito livre para amar. Que não se apegam aos falsos tesouros que dominam o coração. Desde já possuem o Reino da Libertação. Santos são os que não se envergonham de derramar as lágrimas de sua tristeza e aflição e anseiam por colo e consolação. Eles serão acalmados, e pela suave mão do próprio Deus ternamente acariciados. Santos são os que adotam o diálogo e a persuasão para vencer a truculência dos que vivem na opulência. Eles ocuparão a ‘terra prometida’ que dos intolerantes será tirada. Possuirão definitivamente ‘a terra sem males’. Santos são os que não se sentem saciados enquanto houver um faminto padecendo fome de  justiça e de pão. O seu esforço não será em vão: vida plena acumularão. Santos são os que possuem um coração desimpedido  para perdoar. Que abominam a vingança e a retaliação. Mágoa e rancor não contaminam sua alma. Santos são os que educam o seu coração à transparência e à honestidade e detestam toda duplicidade. Santos são os que garantem a paz fazendo guerra às indústrias de armas e de destruição, e não temem combater os fantasmas da dominação. A alegria e a felicidade são a sua recompensa. Aqui a traça não corrói, e nem o ladrão destrói! 



quinta-feira, 2 de novembro de 2023

A psicopatia de Israel. Artigo de Franco Bifo Berardi*

O documentário Born in Gaza de Hernán Zin pode ser encontrado na Netflix e na Filmin. Se me permitem, recomendo a todos que assistam: conta a história de dez crianças entre seis e quatorze anos, durante a guerra de 2014, uma das muitas guerras que Israel desencadeou contra os palestinos e os palestinos desencadearam contra Israel. Estas crianças falam dos bombardeios, das feridas que receberam, do terror que experimentam todos os dias, da fome que sofrem; dizem que a vida que vivem não é vida, que morrer seria melhor. É provável que estas pessoas, que eram crianças em 2014, sejam agora militantes do Hamas e tenham participado na orgia de terror de 7 de outubro.

Se eu estivesse no seu lugar em vez de ser eu, um velho intelectual que vive confortavelmente na sua casa numa cidade italiana onde neste momento não há bombardeios, se eu fosse um daqueles que foram crianças sob as bombas de 2014, hoje eu seria um terrorista que só quer matar um israelense. Eu ficaria horrorizado? É claro que ficaria horrorizado, mas o meu pacifismo silencioso é simplesmente um privilégio de que desfruto porque não passei a minha infância em Gaza, ou em lugares como Gaza. Portanto, acredito que Israel só tem uma forma de erradicar o Hamas: matar todos os palestinos que vivem em Gaza, nos territórios ocupados e também em outros lugares: todos, todos, todos, especialmente as crianças. Afinal, é isso que eles estão fazendo, certo? Chama-se genocídio, mas é completamente racional. Os governos europeus, muito racionais, apoiam o genocídio; Macron disse que gostaria de participar no genocídio com uma coligação. Scholz disse que desde que a Alemanha cometeu genocídio no passado, agora tem o dever de apoiar aqueles que cometem genocídio hoje.

Será esta a única forma de erradicar o terrorismo?

Talvez houvesse outra forma de erradicá-lo: paz incondicional, renúncia à vitória, amizade, deserção, aliança entre as vítimas: as vítimas de Hitler e as vítimas de Herodes-Netanyahu. Mas as vítimas, ao que parece, apenas aspiram a tornar-se algozes, e muitas vezes conseguem. Portanto, a espiral não irá parar e não sabemos qual vórtice ela pretende alimentar. Há algo de monstruoso nas mentes dos palestinos que viveram em terror. E há algo igualmente monstruoso nas mentes dos israelitas. Mas como julgar o comportamento dos povos, como julgar as explosões de violência que se multiplicam na vida coletiva? Podemos julgar o comportamento dos militantes do Hamas ou dos israelenses em termos éticos ou políticos? A razão ética está fora do jogo, porque a ética está totalmente apagada do panorama coletivo do nosso tempo. A ética é a valorização da ação do ponto de vista do bem do outro como continuação de si mesmo. Mas nas condições de guerra generalizada em que se move a sociedade contemporânea, o outro é apenas o inimigo: este é o efeito da infecção liberal-competitiva e da infecção nacionalista: a defesa do território físico e imaginário significa guerra. A ética está morta, assim como a piedade está morta. Não pode haver ética no comportamento dos jovens que cresceram na prisão de Gaza, porque as suas mentes não podem considerar o outro (o soldado israelense que espera por você com uma arma em punho em cada encruzilhada), exceto como um carcereiro, um torturador, um inimigo, mortal. Cada fragmento (pessoas, grupo étnico, máfia, organização, partido, família, indivíduo) luta desesperadamente pela sua própria sobrevivência, como lobos lutando contra lobos. Tal como a razão ética, a razão política deixa de ser relevante numa situação em que a decisão estratégica é substituída por microdecisões de sobrevivência imediata. Israel reage à violência brutal do Hamas de uma forma que pode ou não ser militarmente eficaz. Mas certamente não é politicamente eficaz. 

Crise psicótica nos governantes israelenses!

O grupo governante de Israel é um grupo de mafiosos corruptos que há anos dão espetáculo com o seu cinismo e oportunismo. Agora encontram-se perante uma situação que nem sequer imaginavam e que ultrapassa os seus poderes de compreensão política. Israel perdeu a cabeça. Tudo no comportamento dos israelenses mostra que está ocorrendo uma crise psicótica, que irá prejudicar gravemente os palestinos, mas também irá prejudicar gravemente os israelitas. Do ponto de vista ético, Israel há muito se esqueceu, desde o início da sua existência, que o outro tem a mesma humanidade que você, tem a mesma sensibilidade que você e, naturalmente, tem os mesmos direitos que você. Mas também do ponto de vista político, os israelenses estão tomando medidas que se revelarão terrivelmente contraproducentes para eles. Li as declarações dos políticos e soldados que governam Israel: falam de animais humanos que devem ser exterminados, falam do corte de eletricidade, combustível, comida e água aos habitantes de Gaza (dois milhões e meio). Eles não apenas falam sobre isso, mas fazem. Como eles podem? Não há explicação ética ou política. A única explicação para seu comportamento é a psicopatia, o sofrimento psíquico, o desejo de sangue, o horror, a morte. Portanto, é necessário explicar esta guerra em termos de psicopatogênese, como efeito da incapacidade das vítimas de curar a sua dor. Há já algum tempo que estou convencido de que o único método cognitivo capaz de compreender a cadeia de violência que se desenvolve no Oriente Médio, e em grande parte do mundo, é o da psicanálise, o da psicopatogenealogia. Acredito que Israel não irá se recuperar desta terrível experiência: o povo de Israel já estava irreparavelmente dividido, Netanyahu será responsabilizado pela divisão causada e pela falta de preparação que se seguiu. Mas não será suficiente, porque a direita abertamente racista de Israel está destinada a tornar-se mais forte neste tsunami de ódio.

  Acredito que Israel está caminhando para a desintegração. Quantos israelenses quererão ficar naquele deserto, depois do que está acontecendo e do que irá acontecer? Acredito que só permanecerá quem tem armas, só quem sabe matar e quer matar. Foi agora desencadeado um vórtice de ódio contra o Hamas, amanhã surgirá um sentimento de culpa por terem se tornado autores de um genocídio certificado. A política não será capaz de governar ou compreender este vórtice. Só a visão clínica pode entender, mas não acredito que possa curar. Estamos diante de uma psicose massiva com um poder de contágio muito elevado. A primeira coisa que devemos fazer é evitar o contágio, evitar acabar como os políticos israelenses que gritam frases de bêbados para acalmar a ansiedade. Mas também precisamos de produzir uma vacina cultural e psíquica contra o contágio, e esta tarefa que a psicanálise não conseguiu realizar no século passado é a tarefa que temos diante de nós, se não for tarde demais. (IHU)

 *Franco "Bifo" Berardi, filósofo, escritor e ativista italiano

Incra finalizou a inclusão de todas as Terras Indígenas (TIs) no Sistema Nacional de Cadastro Rural (SNCR).

O Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) finalizou a inclusão de todas as Terras Indígenas (TIs) no Sistema Nacional de Cadastro Rural (SNCR). Segundo o instituto, a medida abrange 446 áreas que representam mais de 100 milhões de hectares, além de outras 11 TIs homologadas em processo final de regularização. Os decretos de homologação foram assinados em abril pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O cadastro começou em junho. Entre as TIs cadastradas estão as de Arara do Rio Amônia, no Acre, Avá-Canoeiro, em Goiás, Kariri-Xocó, em Alagoas, Rio dos Índios, no Rio Grande do Sul, Tremembé da Barra do Mundaú, no Ceará, e Uneiuxi, no Amazonas. “É a primeira vez na história do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) que esse trabalho é realizado”, informou, em nota, o Incra. Com a conclusão do cadastramento, o Estado terá acesso a “dados qualificados indispensáveis à formulação das políticas públicas voltadas à questão agrária”, acrescentou.

Bases fundiárias - A Funai explicou que essa iniciativa tem, como objetivo, a inserção das TIs “em uma das mais importantes bases fundiárias, que compreende o cadastro de todos os imóveis rurais do país e seus detentores, sejam proprietários, arrendatários, parceiros, meeiros e outros; das glebas públicas, reservas ambientais e terras indígenas”. Tendo como gestores o Incra e a Receita Federal, o Sistema Nacional de Cadastro Rural é a base constituinte do Cadastro Nacional de Imóveis Rurais (CNIR). Há nele dados de imóveis rurais, bem como de proprietários e detentores, arrendatários e parceiros rurais, de terras e florestas públicas. “São mais de sete milhões de imóveis privados e públicos constantes, superando 738 milhões de hectares”, finalizou o Incra.