Quem de nós, independentemente da sua cultura específica, que pertence à geração dos anos ’50-60 não tem saudade da época em que vigorava ainda a estrutura da família extensa? Época em que os nossos pais/avós reuniam vez por outra a ‘grande família’ formada por tios, tias, primos e primas para um banquete familiar e uma demorada conversa informal e descontraída? Época em que todos nos conhecíamos profundamente, e sentíamos o desejo sincero de nos visitar ou de ligar sistematicamente um para o outro para saber como cada um se encontrava? Ou, ao sabermos que alguém da ‘grande família’ estava doente combinávamos entre parentes para visitá-lo ou para nos revezar no hospital, e lhe dar a necessária assistência? E para aqueles parentes que viviam no interior, no mesmo povoado, quem não ganhava um pedaço de carne quando alguém da ‘grande família’ matava um porco, uma ovelha, um boi...? E quão doído era o sentimento de perda e vazio interior quando o avô ou a avó, paterno ou materno que fossem, vinha a falecer! Tudo parecia desmoronar. E quantas famílias desmoronaram mesmo, se quebraram e se dividiram após a morte de um del@s! Tínhamos a sensação que eram ‘ess@s pastor@s’ que mantinham unida a ‘grande família’. Afinal, eras nela que fazíamos a experiência de nos sentir seguros, protegidos, amparados. Diante do progressivo desmantelamento da ‘família extensa’ ocorrido de forma rápida e um tanto traumática nesses últimos 30 anos o que sobrou é uma ‘família nuclear’ fragilizada, débil. Um espaço quase neutro onde os conflitos, as tensões, as disputas internas (entre pais e filhos e irmãos entre si) parecem reproduzir em escala mais intensa e dilacerante o que ocorre no lugar onde trabalhamos e lutamos. E uma crescente sensação de desamparo a nos invadir. Hoje em dia parece que não podemos mais contar com o apoio e a solidariedade do nosso próprio irmão ou irmã.
O espaço familiar que outrora era fonte de alimentação afetiva e coesão, - e que nos ajudava a afastar e a aliviar as tensões do cotidiano, - se torna, hoje, frequentemente, o espaço de um amplo desgaste emocional. Apreciados e estimados ‘lá fora’ pela nossa competência e habilidade, sentimo-nos inseguros e ignorados dentro da nossa própria família. Sabemos tudo de tecnologia, de metodologia científica, de psicologia e planejamento estratégico, mas não sabemos responder aos desafios básicos da convivência intra-familiar. Irritados, grossos, vingativos por causa de pequenas desavenças e incompreensões construímos dentro da mesma casa o nosso espaço privado para poder ‘desligar’ com os nossos próprios familiares. Não podemos, ao mesmo tempo, sufocar o desejo-necessidade de compreensão, afeto, amparo, acolhida, mas não o manifestamos com medo que do outro lado chegue uma negativa. Ou porque nos sentiríamos também nós obrigados a retribuir, o que poderia provocar o nosso comodismo e aumentar a nossa já grande decepção interior. Tornamo-nos, assim, isca fácil para o ‘lobo’ da depressão, do desespero, da neurose. Do não sentido de viver!
A festa do ‘bom pastor’ vem para nos lembrar a perene beleza e o desafio de sabermos proteger o outro que encontramos no nosso caminho, e sermos por ele protegidos. De se sentir acolhido e amado, e poder acolher e amar aqueles que convivem conosco. Seja no âmbito micro, familiar, bem como num âmbito maior, de sociedade, instituição. Para que ninguém delegue essa missão a ‘mercenários’ que já provaram a sua falta de compaixão para com seus semelhantes. Para que sejamos nós mesmos, cada um e cada uma, em primeira pessoa, a iniciarmos uma radical inversão de tendências e práticas sociais que parecem levar à destruição de toda esperança, à indiferença para com o outro, à falta de compaixão. Para que não tenhamos medo de sermos acusados de ‘saudosistas, maternalistas ou paternalistas’ quando vemos pessoas sem pai, sem mãe, sem irmãos, sem pastor e lhes manifestamos concretamente o que significa acolher, amparar, proteger.
A festa do ‘bom pastor’ vem para nos lembrar a perene beleza e o desafio de sabermos proteger o outro que encontramos no nosso caminho, e sermos por ele protegidos. De se sentir acolhido e amado, e poder acolher e amar aqueles que convivem conosco. Seja no âmbito micro, familiar, bem como num âmbito maior, de sociedade, instituição. Para que ninguém delegue essa missão a ‘mercenários’ que já provaram a sua falta de compaixão para com seus semelhantes. Para que sejamos nós mesmos, cada um e cada uma, em primeira pessoa, a iniciarmos uma radical inversão de tendências e práticas sociais que parecem levar à destruição de toda esperança, à indiferença para com o outro, à falta de compaixão. Para que não tenhamos medo de sermos acusados de ‘saudosistas, maternalistas ou paternalistas’ quando vemos pessoas sem pai, sem mãe, sem irmãos, sem pastor e lhes manifestamos concretamente o que significa acolher, amparar, proteger.