sábado, 28 de abril de 2012

Festa do Bom Pastor - Proteger e ser protegido para afastar os lobos da depressão e do desespero (Jo.10, 11-18)

Quem de nós, independentemente da sua cultura específica, que pertence à geração dos anos ’50-60 não tem saudade da época em que vigorava ainda a estrutura da família extensa? Época em que os nossos pais/avós reuniam vez por outra a ‘grande família’ formada por tios, tias, primos e primas para um banquete familiar e uma demorada conversa informal e descontraída? Época em que todos nos conhecíamos profundamente, e sentíamos o desejo sincero de nos visitar ou de ligar sistematicamente um para o outro para saber como cada um se encontrava? Ou, ao sabermos que alguém da ‘grande família’ estava doente combinávamos entre parentes para visitá-lo ou para nos revezar no hospital, e lhe dar a necessária assistência? E para aqueles parentes que viviam no interior, no mesmo povoado, quem não ganhava um pedaço de carne quando alguém da ‘grande família’ matava um porco, uma ovelha, um boi...? E quão doído era o sentimento de perda e vazio interior quando o avô ou a avó, paterno ou materno que fossem, vinha a falecer! Tudo parecia desmoronar. E quantas famílias desmoronaram mesmo, se quebraram e se dividiram após a morte de um del@s! Tínhamos a sensação que eram ‘ess@s pastor@s’ que mantinham unida a ‘grande família’. Afinal, eras nela que fazíamos a experiência de nos sentir seguros, protegidos, amparados. Diante do progressivo desmantelamento da ‘família extensa’ ocorrido de forma rápida e um tanto traumática nesses últimos 30 anos o que sobrou é uma ‘família nuclear’ fragilizada, débil. Um espaço quase neutro onde os conflitos, as tensões, as disputas internas (entre pais e filhos e irmãos entre si) parecem reproduzir em escala mais intensa e dilacerante o que ocorre no lugar onde trabalhamos e lutamos.  E uma crescente sensação de desamparo a nos invadir. Hoje em dia parece que não podemos mais contar com o apoio e a solidariedade do nosso próprio irmão ou irmã. 
O espaço familiar que outrora era fonte de alimentação afetiva e coesão, - e que nos ajudava a afastar e a aliviar as tensões do cotidiano, - se torna, hoje, frequentemente, o espaço de um amplo desgaste emocional. Apreciados e estimados ‘lá fora’ pela nossa competência e habilidade, sentimo-nos inseguros e ignorados dentro da nossa própria família. Sabemos tudo de tecnologia, de metodologia científica, de psicologia e planejamento estratégico, mas não sabemos responder aos desafios básicos da convivência intra-familiar. Irritados, grossos, vingativos por causa de pequenas desavenças e incompreensões construímos dentro da mesma casa o nosso espaço privado para poder ‘desligar’ com os nossos próprios familiares. Não podemos, ao mesmo tempo, sufocar o desejo-necessidade de compreensão, afeto, amparo, acolhida, mas não o manifestamos com medo que do outro lado chegue uma negativa. Ou porque nos sentiríamos também nós obrigados a retribuir, o que poderia provocar o nosso comodismo e aumentar a nossa já grande decepção interior. Tornamo-nos, assim, isca fácil para o ‘lobo’ da depressão, do desespero, da neurose. Do não sentido de viver!  

A festa do ‘bom pastor’ vem para nos lembrar a perene beleza e o desafio de sabermos proteger o outro que encontramos no nosso caminho, e sermos por ele protegidos. De se sentir acolhido e amado, e poder acolher e amar aqueles que convivem conosco. Seja no âmbito micro, familiar, bem como num âmbito maior, de sociedade, instituição. Para que ninguém delegue essa missão a ‘mercenários’ que já provaram a sua falta de compaixão para com seus semelhantes. Para que sejamos nós mesmos, cada um e cada uma, em primeira pessoa, a iniciarmos uma radical inversão de tendências e práticas sociais que parecem levar à destruição de toda esperança, à indiferença para com o outro, à falta de compaixão. Para que não tenhamos medo de sermos acusados de ‘saudosistas, maternalistas ou paternalistas’ quando vemos pessoas sem pai, sem mãe, sem irmãos, sem pastor e lhes manifestamos concretamente o que significa acolher, amparar, proteger.

Carta aberta dos Missionários Combonianos do Brasil Nordeste em favor do Povo Awá-Guajá do Maranhão

Os Missionários Combonianos do Brasil Nordeste, ao tomar conhecimento de mais uma campanha internacional em favor do povo indígena Awá-Guajá (Maranhão), encabeçada pela ONG inglesa Survival, vêm a público reafirmar seu apoio irrestrito a tudo o que vem salvaguardar a integridade física, cultural e territorial dessa nação indígena. Há exatos 20 anos foi publicada a portaria ministerial de demarcação (Nº 373/92), mas a lentidão dos procedimentos processuais, os inúmeros recursos e prazos legais interpostos e, principalmente, as pressões políticas e econômicas regionais permitiram que o território Awá fosse progressiva e dramaticamente invadido em níveis gigantescos. Em que pesem as sucessivas decisões da Justiça Federal que vêm reconhecendo sistematicamente a constitucionalidade do território ocupado pelo povo Awá (118.000 ha.), a situação atual é literalmente caótica. Madeireiros da região de Buriticupu, Bom Jardim, São João do Caru, invadem e saqueiam à luz do dia. A Agropecuária Alto Turiaçu, que ocupa ilegalmente 85% do território Awá, associada a povoados e pequenos centros rurais que se instalaram após a portaria de demarcação, vem deixando um rasto de destruição e de ‘terra queimada’. Criminosa foi à época da publicação da portaria de demarcação a omissão do governo federal que não interveio tempestivamente permitindo que se consumasse a invasão do território Awá por numerosos não índios e que a situação assumisse as proporções incontroláveis de hoje. Estradas vicinais vêm sendo percorridas por veículos de passageiros e de cargas bem no coração da terra Awá sem nenhum tipo de fiscalização e/ou inibição oficial. Denúncias não têm faltado, campanhas foram flagradas, reportagens e serviços jornalísticos têm sido publicados. O drama dos Awá não tem conhecido pausas e nem alívio. Tudo parece ter assumido uma configuração de impotência e de derrota. A recente sentença emitida unanimemente pela 6ª Turma do Tribunal Regional Federal em Brasília determinando que a UNIÃO e a FUNAI promovam o registro da área demarcada, e que no prazo de um ano removam as pessoas não-índias que se encontram no interior da terra demarcada, bem como que se proceda ao desfazimento das construções edificadas no perímetro da Portaria 373/92, nos dão um novo alento. Perguntamo-nos, no entanto, se o Governo Federal nessa atual conjuntura tem interesse e vontade em colocar como prioridade a situação dos Awá do Maranhão. Afinal, eles são uma das inúmeras vítimas da cobiça insana e incontrolável de ruralistas, madeireiros, e de seus tentáculos e aliados políticos que legislam em causa própria nesse País!  

Hoje, na proximidade da festa do ‘Bom Pastor’, como missionários nessa terra tão duramente provada queremos alertar a sociedade em geral e aqueles que são chamados a administrar o País como o fez Jesus de Nazaré diante do poder avassalador do Império. Não obstante tantos mercenários que se aliam a lobos famintos e insaciáveis é preciso acolher o desafio de conhecer as angústias e os sonhos das ‘ovelhas’. E colocar a própria vida à disposição delas, a fim de que a sua própria vida seja garantida e protegida num redil/reino onde, longe de toda ameaça, vivam a unidade e a fraternidade. E àqueles pastores civis e religiosos que apascentam somente a si mesmos, que fogem, que não cuidam das ovelhas feridas e abatidas, deixando-as se dispersar, que venha o julgamento divino expressado pelo profeta Ezequiel: ‘Impedirei esses pastores de apascentarem o meu rebanho. Deste modo eles não tornarão a apascentar-se a si mesmos. Livrarei minhas ovelhas da sua boca e não continuarão a servir-lhes de presa (Ez. 34,10)

São Luis, 29 de abril, 2012 – Festa do Bom Pastor

sexta-feira, 27 de abril de 2012

Cotas para negros e índios em universidades são constitucionais diz STF!

O plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu, por unanimidade, que é constitucional a adoção de políticas de cotas raciais em instituições de ensino. Dos onze ministros do tribunal, somente Dias Toffoli não participou do julgamento porque elaborou parecer a favor das cotas quando era advogado-geral da União. A ação julgada, protocolada pelo DEM, questionou o sistema de cotas raciais na UnB, com reserva de 20% das vagas do vestibular exclusivamente para negros e vagas para índios independentemente de vestibular. Outras duas ações na pauta do STF, que não começaram a ser analisadas, a-bordam cotas raciais combinadas com o critério de o estudante vir de escola pública. Elas devem ser analisadas na semana que vem, segundo o presidente do Supremo, Carlos Ayres Britto.

Alguns comentários

Ricardo Lewandowski, relator que votou a favor das cotas raciais: "Justiça social mais que simplesmente distribuir riquezas significa distinguir, reconhecer e incorporar valores. Esse modelo de pensar revela a insuficiência da utilização exclusiva dos critérios sociais ou de baixa renda para promover inclusão, mostrando a necessidade de incorporar critérios étnicos."

Joaquim Barbosa, ministro do STF, votou a favor das cotas raciais “Ações afirmativas se definem como políticas públicas voltadas a concretização do princípio constitucional da igualdade material a neutrali-zação dos efeitos perversos da discriminação racial, de gênero, de idade, de origem. [...] Essas medidas visam a combater não somente manifestações flagrantes de discriminação, mas a discriminação de fato, que é a absolutamente enraizada na sociedade e, de tão enraizada, as pessoas não a percebem."

Marco Aurélio Mello, ministro do STF, votou a favor das cotas raciais "Falta a percepção de que não se pode falar em Constituição Federal sem levar em conta acima de tudo a igualdade. Precisamos saldar essa dívida, no tocante a alcançar-se a igualdade."

Luís Inácio Adams, advogado-geral da União, se manifestou favoravelmente às cotas raciais "Existe uma realidade social que reproduz uma realidade de discriminação. Não é uma realidade institucionalizada. Não existe uma lei que proíba a ascensão social do negro no país, mas existe uma realidade que se reproduz há séculos numa conveniente permanente estratificação social em que aparece o componente racial."

Déborah Duprat, vice-procuradora-geral da República, se manifestou favoravelmente às cotas raciais "Cotas com recorte étnico e racial tem o propósito de promover a diversidade étnica na academia e não resolver o problema social. [...] A missão que a universidade elege é que vai determinar os méritos para a admissão. Se a universidade elege como missão promover a diversidade é esse o critério a ser medido. É essa capacidade a ser analisada. A Constituição não prega o mérito acadêmico como único critério." (Fonte: www.ecooos.org.br)

quinta-feira, 26 de abril de 2012

Caso Pataxó: histórias que ninguém divulga!

Cacique Gerson Pataxó Hã-Hã-Hãe: “Eu já fui sequestrado por fazendeiro, preso duas vezes, saí em porta mala de fusca da cidade. Depois que me elegi vereador, o carro da Funai que me levava para as sessões e buscava foi atacado e ficou crivado de tiros. Tem um pistoleiro chamado de Remilson e mandou recado dizendo que só sai da área quando estourar minha cabeça. Já me caçaram na estrada. Corro risco de morte. Isso já vem de muitos anos. Eu estou com medo de morrer”. “A violência aumentou. Não deixam nem o carro pipa entrar na área para trazer água para a comunidade. Estamos com 1.200 alunos sem estudar, porque não podem sair da terra indígena. Esperamos que o julgamento saia logo. A terra da gente foi demarcada em 1936. Essa ação que está no Supremo é para julgar nulidade de título, não a demarcação. Então, como é que o STF vai julgar como legítimo os títulos se a terra é da União? Como o governo da Bahia dá título de uma terra que não é dele? Pedimos aos ministros que pensem nisso”.As declarações são ainda mais contundentes quando se observa o tempo levado para a decisão da Justiça. No processo do STF está claro: dos 396 réus do processo, 336 já foram indenizados. A maioria não possui títulos de posse e já foram até indenizados pela Funai. Além disso, quatro perícias foram feitas e que comprovaram a ocupação nos 54,105 mil hectares. “Numa das fazendas do Durval Santana que ainda não retomamos está um dos marcos”, se indigna Gerson. O sentimento se expande aos outros caciques. “Aqui queremos a terra. Índio não quer casa bonita, sede de fazenda. Queremos a terra, que é nossa. Somos um povo de raízes e aqui é nossa casa. Perto dos dez anos de idade começo a lembrar de muita gente que morreu. Samado, meu avô, foi preso pelos homens de Geno (primeiro fazendeiro de quem os indígenas retomaram terras) e trancado dentro de um banheiro cheio de imundices. Isso é considerado tortura hoje em dia. Os mais velhos correram longas datas pelo mato para fugir de pistoleiros”, afirma Josivaldo.(Extraido de: Caros Amigos)

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Chega a São Luis a cruz do 'Bota fé'! Que não seja idolatria!

Soam-me a algo idolátrico essas carreatas em que é exibido o madeiro da cruz do ‘Bote fé’! Tenho certeza que haverá quem gritará ao escândalo por essa minha afirmação. Explico-me. Uma manifestação de tal natureza, simbólica e aparentemente ‘de massa’, faz sentido só se for ladeada por um conjunto de atividades e posturas sócio-religiosas coerentes... que, francamente, não vejo. Em meu modesto modo de ver a cruz poderia visitar aqueles lugares e realidades humanas e sociais que precisam de verdadeira ‘redenção’. De ressurreição. Haveria, para tanto, uma preparação prévia em que comunidades, grupos e movimentos se preparariam adequadamente. E preparariam à altura o evento. Rigorosamente falando, se isso fosse feito de forma criativa e ativa nem precisaria, - após a devida mobilização e preparação, - a chegada da cruz. Afinal, as pessoas já haveriam tocado com mãos as feridas abertas que precisam de purificação e vida nova. A visita da cruz viria, no entanto, só para selar/consagrar uma caminhada anterior que por si só já estava carregada de sentido. A minha impressão, no entanto, é de que está havendo justamente o seu contrário: uma espetacular exibição do madeiro, mas sem alguma atividade sócio-religiosa que aponte para a superação/eliminação de tantas cruzes presentes na vida dos humanos. E mais: a cruz se torna uma exibição atraente só porque benzida pelo papa. A sacralidade parece estar no ‘objeto cruz’ e não no seu significado, num conjunto de atividade/compromissos que visam eliminar a cruz que mata e aniquila toda esperança. Esvazia-se, com isso, a simbologia da cruz. Ela acaba adquirindo um sentido e um poder mágico, como se pudesse produzir, por si só, efeitos positivos nas pessoas. Todavia, não as motiva a carregar a cruz do seu irmão que sofre, nem a capacitá-las a eliminar as cruzes produzidas pela indiferença e pela brutalidade humana. Dessa forma o símbolo esvaziado ou deturpado é exibido de forma espetacular como uma espécie de fetiche em carreatas que enchem os olhos, mas que não deixam rasto.... A não ser na hora de debater o número dos participantes, e os gastos um tanto exorbitantes pelos frutos que (não) deixa...

Survival lança nova campanha para salvar os Awá do Maranhão. Ator inglês ganhador do Oscar entra nessa!

ONG Survival International lançará nesta quarta (25) uma nova campanha para atrair a atenção mundial às ameaças que o povo indígena Awá-Guajá, no Maranhão, que tem pouco contato com outras culturas, vem sofrendo nos últimos tempos por conta de pistoleiros, madeireiros e fazendei-ros. O ator britânico Colin Firth, ganhador do Oscar pelo filme “O Discurso do Rei”, será a estrela da iniciativa e pedirá ao governo brasileiro para proteger a tribo, em um vídeo que será publicado no dia de lançamento da campanha. “Um homem pode parar isto – o ministro da Justiça do Brasil. Ele pode mandar policiais para deter os madeireiros, mas agora essa simplesmente não é a prioridade dele”, declara o ator no vídeo, segundo adiantou o jornal “The Guardian”. “Devemos mudar isso antes que seja tarde. Precisamos de pessoas para noticiá-lo... Você, eu, nossos amigos e familiares. Hoje, os Awá contam 360 índios em contato com outras culturas e entre 60 e 100 índios sem contato algum com outras culturas. “A pequena população faz com que estejam particularmente ameaçados, e alguns especialistas brasileiros falam em genocídio. Foram os próprios Awá que pediram para a Survival ajudar a divulgar sua situação e pressionar as autoridades a agir de forma rápida.” Em 1975, pistoleiros atacaram um grupo de Awá que não mantinha contato com outras culturas. Eles mataram vários índios e capturaram um garoto. O pai dele, Karapiru, conseguiu escapar e passou 12 anos sozinho na selva até chegar a um vilarejo. Ele então conseguiu encontrar o único sobrevivente do massacre, além dele, – seu próprio filho. Hoje, Karapiru vive no vilarejo Awá de Tiracambu com a nova mulher e uma filha. À Survival, ele contou que foi um milagre conseguir escapar. “Eles mataram minha mãe, meus irmãos e irmãs e minha mulher. Eu fui baleado, mas não consegui ver a ferida e tratá-la. Foi incrível eu escapar. Fiquei um bom tempo na floresta, com fome e fugindo de pistoleiros. Espero que quando a minha filha cresça, ela não enfrente os mesmo problemas. Espero que tudo seja melhor para ela.”

Convenção 169: populações indígenas com poder de veto em suas terras!

Lideranças indígenas e especialistas do Brasil, Peru, Bolívia, Colômbia e Panamá se reúnem no dia 26 de abril em Belém para trocar experiências sobre a aplicação do direito à consulta prévia a povos indígenas, conforme determina a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT). Os debates serão realizados no hotel Regente durante o seminário Mudanças Climáticas, Meio Ambiente e Povos Indígenas: o direito à consulta prévia. O evento organizado pela Fundação Konrad Adenauer tem apoio do Fórum Amazônia Sustentável. Aprovada em 1989 e ratificada ao longo dos 20 anos seguintes por boa parte dos países latino-americanos (o Brasil o fez em 2002), a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) é tida como um dos principais trunfos dos movimentos indígenas em suas disputas com os Estados nacionais. Ela prevê que as populações indígenas seja ouvidas toda vez que haja um empreendimento em terra indígena ou que as afete direta ou indiretamente. No entanto, como até agora não foi regulamentada pela maioria dos países, seus efeitos ainda são considerados limitados. Isso porque a convenção não estabelece como a consulta deve se dar, nem determina seus possíveis efeitos, como se os indígenas podem ter o poder de vetar um empreendimento em suas terras, por exemplo. 

No Brasil, o governo criou em 27 de janeiro um grupo para apresentar uma proposta de regulamentação da convenção. A equipe, que conta com integrantes da Funai (Fundação Nacional do Índio) e de vários ministérios e órgãos governamentais, tem prazo de 180 dias para finalizar seu trabalho, mas pode prorrogá-lo por igual período, se julgar necessário. Para os movimentos indígenas, o poder de veto deve ser estendido a todos os casos em que se exigir consulta às comunidades. Conforme os procedimentos atuais, a consulta aos índios integra o processo de licenciamento ambiental das obras. Cabe à Funai ouvir as comunidades afetadas e posicionar-se sobre o empreendimento. Mas por ser um órgão do governo, a Funai está sujeita a pressões políticas e não representa os indígenas de forma adequada.  Representantes da OIT afirmam que não adianta fazer a consulta em termos técnicos se os representantes dos indígenas não têm forma-ção técnica para discutir em pé de igualdade. A consulta deve ter o objetivo genuíno de atingir uma so-lução satisfatória para todas as partes envolvidas, ou seja, não pode ser uma mera formalidade. (Fonte: IHU e Blog Manejo Florestal Comunitário)

terça-feira, 24 de abril de 2012

Crianças bebiam a água do gado em fazenda de deputado estadual em Codó!

A propriedade em que sete pessoas foram libertadas após serem flagradas em condições degradantes pertence ao deputado estadual Camilo Figueiredo, filho do ex-prefeito de Codó (MA), Biné Figueiredo. Crianças e adultos bebiam a mesma água que o gado na Fazenda Bonfim, zona rural de Codó (MA), onde foram resgatadas sete pessoas de condições análogas às de escravos após denúncia de trabalhadores que não quiseram se identificar. A libertação aconteceu algumas semanas atrás, e foi realizada por ação conjunta de Superintendência Regional do Trabalho e Emprego do Maranhão (SRTE/MA), Ministério Público do Trabalho e Polícia Federal. À Repórter Brasil, o deputado Camilo afirmou desconhecer as denúncias e disse que a fazenda é administrada por seu pai, Benedito Francisco da Silveira Figueiredo, o Biné Figueiredo, ex-prefeito de Codó. Biné, por sua vez, nega que seja administrador e alega que não há trabalhadores na propriedade, "apenas moradores". Os resgatados declararam aos auditores fiscais que em noites de chuva as redes onde dormiam ficavam molhadas e que todos sofriam com o frio. A maioria dos trabalhadores era de Codó (MA), a 30 km de distância, e estava há cerca de dois meses na fazenda. Os resgatados não tinham Carteira de Trabalho e da Previdência Social (CTPS) assinada e não contavam com nenhum equipamento de proteção individual no roço da juquira. Camilo Figueiredo é o mesmo que foi flagrado alguns anos atrás pela polícia carregando uma carreta cheia de merenda escolar.........(Fonte: Reporter Brasil)

O bispo dom Erwin acusa Governo Federal de irresponsabilidade com a causa indígena e Belo Monte!

O presidente do CIMI e bispo da prelazia do Xingu (PA), dom Erwin Krautler, falou na entrevista cole-tiva de hoje, da 50ª Assembleia Geral dos Bispos da CNBB, em Aparecida (SP), do 40º aniversário da entidade e da polêmica em torno da construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, que acontece em Altamira (PA). Dom Erwin disse que no atual contexto, a data de hoje não é para muitas comemorações, mas sim de cobranças. “A meu ver, o nosso maior legado foi ter colocado as condições e causas indíge-nas na Constituição Federal de 1988. Infelizmente, os governos que seguiram desde então, não cumpri-ram o prazo estipulado na Carta Magna, que foi de cinco anos, para demarcação das terras indígenas. Atualmente, menos da metade das terras indígenas no Brasil são demarcadas, o que gera conflito com fazendeiros, madeireiros e grileiros de terras, ocasionando mortes e tragédias”, destacou o bispo prelado do Xingu. Sobre Belo Monte, dom Erwin foi incisivo ao afirmar que a situação da cidade de Altamira (PA), é de caos, gerado pela “irresponsabilidade do Governo Federal que não atendeu os requisitos mí-nimos para a realização de uma obra desse porte”. “Não há saneamento básico, leito nos hospitais, vagas nas escolas, segurança, o trânsito está terrível, e os funcionários que lá estão não têm as menos condições de trabalho digno, não a toa hoje foi anunciada uma paralisação geral das obras na Volta Grande do Xingu”, descreveu dom Erwin as condições que lá estão vivendo a população local e os operários que seguiram de várias partes do país em busca de emprego e boas condições de vida.   “O Governo brasilei-ro passa a falsa informação de que energia vinda das águas (hidroelétricas) é uma energia limpa. Isso é uma mentira. A energia que usamos é proveniente da destruição de florestas, do descaso com ribeirinhos, quilombolas e indígenas, é vinda de uma da morte de operários. Devemos rever urgentemente o nosso modelo de geração de energia” finalizou o bispo.
  

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Os bispos do Brasil ainda preocupados com o número de católicos!

Os bispos do Brasil estão reunidos em Aparecida (SP) por ocasião da sua 50ª Assembleia Geral. A queda do número de católicos no Brasil foi tema de uma das numerosas reuniões. Não é novidade. Parece estar na pauta de todo encontro episcopal. Dados divulgados pelo Instituto Nacional de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que nos últimos 20 anos, a porcentagem do número de católicos caiu de 83,24% da população brasileira para 67,84%. O estudo da FGV (Fundação Getúlio Vargas) realizou entrevistas com 200 mil famílias antes do Censo. Números na mão: os evangélicos hoje representam 21,93% da população, enquanto 6,72% declaram não ter religião e 4,62% afirmam praticar religiões alternativas. As estatísticas apontam ainda que apenas 5% dos 130 milhões de fiéis católicos vão à missa, recebem os sacramentos e participam da comunidade. O que parece não entrar na pauta dos senhores bispos é uma honesta avaliação com relativa autocrítica da metodologia pastoral, da sua missão hoje, do papel do padre e dos leigos na vida eclesial, etc. Uma boa fatia do episcopado brasileiro vem apostando em padres-artistas, em canais de tevê que transmitem uma religiosidade alienada e não facilitando uma nova prática ministerial. Acusava-se até recentemente que as CEBs (Comunidades Eclesiais de Base) com a sua politização têm sido as principais causadoras do afastamento de inúmeros católicos da igreja, mas foi provado que católico de CEBs não abre nem para o trem! Investe-se também na imitação papagaia dos evangélicos para roubar ‘fregueses’, mas a sangria de católicos continua. Será que alguém na assembléia tem coragem de dizer que está na hora de iniciarmos transformações profundas na estrutura e na identidade da igreja que permitam que se dialogue, enfim, com o mundo-sociedade? Que não adianta, por exemplo, ordenar padre que não tenha preparação humana e teológica à altura só para manter uma estrutura de igreja que continua clerical? Gostaria de ouvir algo assim em Aparecida, e iniciar algo novo.....Hoje em dia até o papa não se preocupa com 'os números de católicos', e sim com o testemunho e o legado que a igreja católica quer transmitir/construir no e com o mundo!

O caso Pataxó da Bahia: quando a justiça demora e....falha!

Depois que o conflito fundiário entre índios Pataxó Hã Hã Hãe e fazendeiros no sul da Bahia deixou um morto e um ferido a bala, a Polícia Federal enviou para a região o COT (Comando de Operações Táticas), uma "tropa de elite" que atua na contenção de distúrbios. Um dos objetivos do reforço policial é tentar deter líderes indígenas e fazendeiros que estejam por trás de atos de violência, segundo a PF. "Vamos pacificar a região e manter a ordem. É uma operação sem prazo para terminar", disse o delegado da PF de Ilhéus, Rodrigo Reis. O COT tem experiência em conflitos fundiários. A tropa atuou na Operação Arco de Fogo contra desmatadores na Amazônia e na retirada de arrozeiros da reserva Raposa Serra do Sol (RR). Ao todo, pelo menos 50 policiais vão patrulhar a área.Índios e fazendeiros disputam uma área de 54 mil hectares. Neste ano, os pataxós ocuparam 68 fazendas para pressionar o STF (Supremo Tribunal Federal) a julgar ação de 1982, movida pela Funai (Fundação Nacional do Índio), que tenta anular os títulos de 396 propriedades para criar uma reserva. Produtores rurais, que contestam a ação no STF, contrataram homens armados para impedir novas ocupações. Na semana passada, a Folha encontrou milícias em uma estrada rural da região. A situação ficou crítica na sexta-feira, em uma fazenda não invadida em Pau Brasil. O funcionário da fazenda Santa Rita Júlio César Passos da Silva, 31, foi morto com um tiro na cabeça. No mesmo local, o pataxó Ivanildo dos Santos, 29, foi ferido na coxa por um disparo. Os autores dos crimes ainda não foram identificados. Ruralistas e índios trocam acusações sobre a contratação de pistoleiros. A Funai alega desconhecer que os Pataxós estejam armados e diz que aguarda a investigação da morte do trabalhador rural.(Fonte: IHU)

sábado, 21 de abril de 2012

Emaús:recuperar as grandes escolhas que dão sentido ao nosso permanente caminhar! (Lc.24, 13-35)


A assim chamada pós-modernidade tem patrocinado uma profunda valorização do ‘sujeito humano’. Tem tentado tirá-lo do anonimato social e da sua dependência mágico-religiosa em que parecia estar fadado a sucumbir. Pretendeu dar-lhe rosto e identidade pessoal. Um ser supostamente autônomo, guiado pela ‘razão pura’. Senhor de si e controlador dos demais seres. Ajudou a ‘sua nova criatura’ a emergir, a compreender e a utilizar suas potencialidades e os seus inúmeros valores pessoais. Como se fosse uma conquista própria e pessoal. Com poder de transformar si mesmo e a realidade. Talvez como reação às tendências socializantes e comunizantes do século passado a pós-modernidade sentiu a necessidade de super-valorizar justamente o outro pólo, a individualidade. As conseqüências parecem evidenciar algo espantoso: o ser humano está só e mais egocêntrico! Ele e o seu 'eu'! Poderoso e autônomo, e fatalmente solitário em suas buscas e em seus fracassos. Vive cercado de gente, mas está mergulhado num incompreensível automatismo social. Usa tudo e todos, mas não consegue criar relações sócio-afetivas que satisfaçam a sua fome e sede de paz interior. De felicidade, e de bem estar integral. Há, atualmente, claros sinais de que o ‘sujeito’ pós-moderno parece intuir que ele e a natureza são ‘finitos’! Que esgotaram uma etapa de sua existência. Que é preciso tecer novamente relações e ideais de vida. De cuidados com tudo o que promove a vida. Redescobrir, enfim, a beleza de ‘caminhar juntos e de estar com o outro’.....

Ocorreu-me essa reflexão inicial ao meditar sobre o texto evangélico hodierno. Vejo nos dois discípulos de Emaús um ícone luminoso dos humanos de hoje. Independentemente da variedade de suas experiências humanas e espirituais. Pessoas que alimentaram sonhos e expectativas. Mêmores de momentos significativos e positivos de que eles fizeram parte, mas que por alguma razão foram interrompidos. Ou negados. Ao mesmo tempo, porém, conseguem ter ainda a capacidade de debater e refletir sobre aqueles acontecimentos causadores de tristeza e de desânimo. A decepção e a amargura do momento não lhe impedem de rever e reviver aqueles momentos. Aqueles mais trágicos e mais marcantes no seu estado de ânimo atual. Mas nesse caminho de recuperação de sentidos, aos poucos se incorporam outras visões, interpretações, testemunhos, gestos, pessoas. Isso faz com que os dois olhem para os mesmos acontecimentos com outros olhos. O que, de fato, lhes parecia uma derrota, - e o fim de tudo, - acaba sendo re-lido, nessa nova fase, como um novo início promissor. É como se uma cegueira involuntária estivesse sendo removida e superada. Os dois, ou melhor, os três (pessoas/memorial/visão nova), começam a perceber que a decepção que havia ecoado dentro deles de forma mais angustiante era o resultado de sonhos e expectativas desmedidas. Talvez demasiado pessoais e interesseiras. Ou inadequadas. Precisavam superar a decepção que os travava, o medo que o paralisava e que os colocava ‘em estado de fuga’ permanente, e não a caminho...com outros!

Longe do templo, não dominados pelas imagens do Calvário, numa casa sem altar  e sem sacerdotes, ao redor de uma mesa farta de pão pronto para ser repartido e comido emerge a nova visão/fé. A cegueira que lhes impedia de ver e ir além dos fracassos pessoais e comunitários é definitivamente superada quando se recuperam as ‘grandes escolhas/gestos pessoais/coletivas’. Aquelas que não apagam a ‘subjetividade’, mas lhe dão consistência e sentido. Só no pão oferecido superamos egoísmos e solidão. Só nisso encontramos aquilo que nos liberta. E que nos torna disponíveis para iniciar o caminho ao lado de outros ‘viajantes’ em permanente procura de sentidos.... 

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Tudo em nome da Copa 2014 - Abusos e arbitrariedades: o caso Rio de Janeiro!

O dossiê Megaeventos e violações dos direitos humanos no Rio de Janeiro foi produzido coletivamente por entidades e movimentos sociais que compõem o Comitê Popular local e traz dados sobre remoções, gastos públicos, análises sobre a falta de informação e participação dos mais afetados nos projetos de mobilidade e urbanização. Faz ainda denúncias graves sobre a transferência de terras públicas para o setor privado através de parcerias público-privadas e sobre condições precárias de trabalho nas obras da Copa como a reforma do Maracanã, que já enfrentou duas paralisações.O documento aponta que comunidades carentes têm sido expulsas de áreas valorizadas pela especulação imobiliária ou por serem pontos turísticos. Segundo o dossiê, os moradores não são citados nos processos de expulsão por não constarem no Registro Geral de Imóveis, mesmo que tenham mais de 5 anos de ocupação sem contestação da posse – o que daria direito ao usucapião ou concessão de uso para fins de moradia. O dossiê aponta que essas ações permitem “a demolição das casas sem escutar os moradores afetados” e violam “o princípio da precaução nas ações de despejo, reintegrações de posse e desapropriações que envolvam comunidades pobres e grupos vulneráveis”. O documento fala ainda em remoções à noite, ameaças e até violência policial como procedimentos adotados pelas sub-prefeituras e a derrubada de casas sem avaliação de impacto para as demais. 

O dossiê coloca as pressões exercidas pela FIFA e pelo COI como as principais responsáveis pela precarização do trabalho nas obras da Copa e pelas violações dos direitos dos trabalhadores. “No caso do Maracanã, que está sendo reformado com recursos públicos, o governo do Estado do Rio de Janeiro anunciou a intenção de entregar sua gestão para um concessionário privado, já em fevereiro de 2013, na inauguração das obras para a Copa do Mundo em 2014. Conforme noticiou o jornal Brasil Econômico (27/10/2011), o bilionário Eike Batista, controlador do grupo EBX e oitavo homem mais rico do mundo -, admitiu interesse em participar do processo de privatização e da gestão do estádio Maracanã, como é popularmente conhecido o oficialmente estádio Mário Filho”. No que diz respeito à participação popular nas decisões e no acompanhamento dos projetos para os megaeventos, o documento esmiúça o organograma das entidades responsáveis e mostra que há pouco espaço para que a voz da população seja ouvida. O Comitê Popular Rio defende que os direitos humanos básicos, como moradia, educação e saúde, “não podem ser comprometidos em nome dos megaeventos esportivos”. “Os investimentos públicos na cidade devem promover o Direito à Cidade, e não sua elitização e mercantilização”. Se tudo isso está acontecendo no Rio que é o cartão de visita do Brasil ao mundo, imaginemos o que não estará ocorrendo em outras capitais que hospedarão jogos e que vem sofrendo intervenções de toda ordem.....(Fonte: IHU)

quinta-feira, 19 de abril de 2012

"Os índios, aqueles que deviam morrer' aumentam acima da média nacional!

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou ontem um conjunto de informações referentes à população autodeclarada indígena, levantado no último Censo Demográfico, realizado em 2010. A população autodeclarada indígena no Brasil foi de 817.963 pessoas. No Maranhão, esse contingente étnico-racial chegou à cifra de 35.272 pessoas. O município brasileiro que apresentou o maior número de habitantes autodeclarados indígenas, em termos absolutos, foi São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas, com 29.017 pessoas assim identificadas. São Paulo foi o município brasileiro - números absolutos - em que radicava a maior concentração urbana de povos indígenas, com 11.918 pessoas. No Maranhão, destacou-se São Luís nessa variável: 1.738 pessoas se autoafirmaram dessa maneira. No Maranhão, o município que deteve o maior número absoluto de pessoas autoidentificadas como indígenas foi Jenipapo dos Vieiras, na microrregião do Alto Mearim e Grajaú, com 5.437 pessoas. Esse mesmo município maranhense possui a 5ª maior concentração indígena da região Nordeste. Já o município brasileiro que possui a maior proporção de indígenas, em relação ao total populacional, foi Uiramutã, em Roraima, com 88,1% da população que se identificou como pertencente a esse grupo étnico-racial. Na região Nordeste, o estado da Paraíba foi o município de Marcação que teve a maior proporção de indígenas, 77,5% da população global. Jenipapo dos Vieiras, 35,2%, seguido de Fernando Falcão, com 26,4%, foram os municípios maranhenses com maior contingente percentual de pessoas residentes que se identificaram como indígenas. Já Grajaú apresentou a maior concentração urbana de indígenas, 3,2% do total populacional, seguido de Amarante do Maranhão, com 1,7% da massa de moradores. (Fonte J. Guimarães)

O bispo Dom Édson em assembléia da CNBB declara que temos dívida social com povos indígenas

“Temos uma dívida social imensa com os povos indígenas pelos massacres, genocídios, inomináveis crueldades e injustiças praticadas ao longo destes 512 anos de invasão e extermínio”, disse dom Édson Tasquetto Damian, bispo de São Gabriel da Cachoeira (AM), presidente da celebração eucarística realizada no Santuário Nacional de Aparecido neste segundo dia da 50ª Assembleia dos Bispos da CNBB. Dom Damian é bispo na diocese onde 90% da população é formada por povos indígenas. O bispo de São Gabriel da Cachoeira manifestou seu apreço pelas comunidades indígenas “Sempre me encanto com estes irmãos. Apesar de uma vida dura e penosa nunca perdem a alegria e a fé que se expressam no sorriso límpido, espontâneo, cativante. Quando adoecem demoram até uma semana, nas frágeis embarcações com motor de ‘rabeta’, para serem transportados a São Gabriel, debaixo de sol abrasador ou de chuva torrencial. Dizia-me um médico que muitos chegam tão debilitados que se torna muito difícil ou até impossível o tratamento”. Dom Damian, diante dos mais de 340 bispos reunidos em Aparecida, compartilhou uma experiência vivida com o Papa Bento XVI.

Ele contou que na visita “ad limina”de 2010, ficou surpreso com duas perguntas feitas pelo Papa. A primeira: “O povo da sua região está destruindo a floresta?” Dom Damian disse que teve a alegria de informá-lo “que na bacia do Rio Negro apenas 4% das florestas foram derrubadas. A segunda pergunta feita por Bento XVI foi: “Os índios são bons católicos. Eles se confessam?” Dom Damian respondeu: “Todos, se confessam, desde as crianças que há pouco fizeram a Eucaristia até aos mais idosos. E com um detalhe original. A maioria começa dizendo: ‘Agora vou me confessar na minha língua’. Continua contando dom Damian dizendo que o Papa reagiu e o indagou: “E você entende todas as línguas?” E o bispo respondeu: “De que jeito, respondi. São 18 línguas e tão diferentes umas das outras. Mas quem perdoa é o Pai que criou todos os povos e culturas e Ele se entende muito bom com seus filhos prediletos. Assim a boa nova das culturas indígenas acolhe a Boa nova de Jesus”.

Dia dos Povos indígenas - quando 'os selvagens' eram 'selvagens', e os 'brancos' eram 'brancos'!


Por ocasião do dia 19 de abril, dia dos povos indígenas, reproponho parte do famoso discurso do cacique Seattle Sunday Star após ter ouvido o representante dos negócios indígenas do governo norte-americano deixando a entender que queria adquirir as terras do seu povo Duwamish. Era o dia 29 de outubro de 1887. Um discurso lúcido, atual e profético. Cada leitor poderá fazer a sua pessoal exegese, e dar um nome, um rosto e uma identidade a cada personagem, a cada projeto de desenvolvimento, a cada projeto de lei aqui insinuado.....Ontem, como hoje. Mas não para sempre!

"O grande chefe de Washington mandou dizer que desejava comprar a nossa terra, o grande chefe assegurou-nos também de sua amizade e benevolência. Isto é gentil de sua parte, pois sabemos que ele não precisa de nossa amizade. Vamos, porém, pensar em sua oferta, pois sabemos que se não o fizermos, o homem branco virá com armas e tomará nossa terra. O grande chefe de Washington pode confiar no que o Chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos brancos podem confiar na alteração das estações do ano. Minhas palavras são como as estrelas que nunca empalidecem. Como podes comprar ou vender o céu, o calor da terra? Tal idéia nos é estranha. Se não somos donos da pureza do ar ou do resplendor da água, como então podes comprá-los? Cada torrão desta terra é sagrado para meu povo, cada folha reluzente de pinheiro, cada praia arenosa, cada véu de neblina na floresta escura, cada clareira e inseto a zumbir são sagrados nas tradições e na consciência do meu povo. A seiva que circula nas árvores carrega consigo as recordações do homem vermelho. O homem branco esquece a sua terra natal, quando - depois de morto - vai vagar por entre as estrelas. Os nossos mortos nunca esquecem esta formosa terra, pois ela é a mãe do homem vermelho. Somos parte da terra e ela é parte de nós. As flores perfumadas são nossas irmãs; o cervo, o cavalo, a grande águia - são nossos irmãos. As cristas rochosas, os sumos da campina, o calor que emana do corpo de um mustang, e o homem - todos pertencem à mesma família. Portanto, quando o grande chefe de Washington manda dizer que deseja comprar nossa terra, ele exige muito de nós. O grande chefe manda dizer que irá reservar para nós um lugar em que possamos viver confortavelmente. Ele será nosso pai e nós seremos seus filhos.
Portanto, vamos considerar a tua oferta de comprar nossa terra. Mas não vai ser fácil, porque esta terra é para nós sagrada. Esta água brilhante que corre nos rios e regatos não é apenas água, mas sim o sangue de nossos ancestrais. Se te vendermos a terra, terás de te lembrar que ela é sagrada e terás de ensinar a teus filhos que é sagrada e que cada reflexo espectral na água límpida dos lagos conta os eventos e as recordações da vida de meu povo. O rumorejar d'água é a voz do pai de meu pai. Os rios são nossos irmãos, eles apagam nossa sede. Os rios transportam nossas canoas e alimentam nossos filhos. Se te vendermos nossa terra, terás de te lembrar e ensinar a teus filhos que os rios são irmãos nossos e teus, e terás de dispensar aos rios a afabilidade que darias a um irmão. Sabemos que o homem branco não compreende o nosso modo de viver. Para ele um lote de terra é igual a outro, porque ele é um forasteiro que chega na calada da noite e tira da terra tudo o que necessita. A terra não é sua irmã, mas sim sua inimiga, e depois de a conquistar, ele vai embora, deixa para trás os túmulos de seus antepassados, e nem se importa. Arrebata a terra das mãos de seus filhos e não se importa. Ficam esquecidos a sepultura de seu pai e o direito de seus filhos à herança. Ele trata sua mãe - a terra - e seu irmão - o céu - como coisas que podem ser compradas, saqueadas, vendidas como ovelha ou miçanga cintilante. Sua voracidade arruinará a terra, deixando para trás apenas um deserto. Não sei. Nossos modos diferem dos teus. A vista de tuas cidades causa tormento aos olhos do homem vermelho. Mas talvez isto seja assim por ser o homem vermelho um selvagem que de nada entende......"

(Fonte: "Trechos de um diário: O Cacique Seattle: Um cavalheiro por instinto". 10º artigo da série “Primeiras Reminiscências” - Seattle Sunday Star, 29 de outubro de 1887 do articulista Henry Smith (tradução livre, pela equipe de Floresta Brasil)

quarta-feira, 18 de abril de 2012

AWÁ-GUAJÁ - Enfim, ponto final! Justiça Federal concede um ano para remover não índios do território indígena.


A Sexta Turma do TRF da 1ª Região publicou o Acórdão de 9-12-2011 em que confirma a sentença dada pelo juiz federal José Carlos Madeira em 2009, aqui, em São Luis. A grande perdedora: a Empresa Agropecuária Alto Turiaçu, Lta. (Grupo Schahin) O grande perdedor: o atual secretário estadual de agricultura, presidente do SEBRAE/MA, presidente nacional das siderúrgicas, presidente dos criadores de gado do Maranhão, Claudio Azevedo Donizete. Apesar de não possuir mais vínculos empregatícios com a empresa de quem se dizia administrador, o ‘atual presidente de tudo enquanto’ representou por muitos anos a força bruta de quem incorporou o princípio-prática de ocupar territórios e manipular documentos, e menosprezar a Constituição. Os desembargadores federais colocam, com essa decisão, ponto final, pelo menos nas disputas legais. Eles confirmam que:
  • É regular e está em consonância com os princípios da Administração Pública insculpidos no art. 37/DF, o procedimento demarcatório de terras indígenas em que o Presidente da FUNAI expediu portaria e constituiu grupo técnico multidisciplinar com a finalidade de adequar os limites da Terra do Grupo Indígena AWÁ-GUAJÁ, nos Municípios de Caratapera, Bom jardim e Zé Doca, Estado do Maranhão.
  • O acervo probatório, constituído de perícia técnica, oitiva de testemunha, exibição de documentos, esclarecimentos prestados em audiência pelos peritos, laudo topográfico e inspeção judicial, mostra-se robusto e suficiente para ratificar os estudos conduzidos pela FUNAI e conformar o convencimento do julgador pela validade da Portaria 373/92 do Ministro da Justiça, firmando a concepção de que a área demarcada é de posse tradicional do grupo indígena Awá-Guajá.
  • O laudo pericial topográfico elaborado por engenheiro agrônomo comprovadamente qualificado para descrever os limites do imóvel da Agropecuária Alto do Turiaçu Ltda., mostrou-se suficiente e válido ao apurar que 89,98% da área da Empresa-Apelante encontra-se no interior das terras do grupo indígena Awá-Guajá, tal qual descrita na Portaria 373/92.
  • A perícia antropológica constituída para investigar as formas de existência social e cultural, bem como os processos de territorialização do grupo indígena Awá-Guajá, além da formação de um campe-sinato tradicional e/ou fronteira agrícola e a situação de exploração e trajetória da Agropecuária Turiaçu Ltda mostrou-se firme, didática e eficaz ao revelar que “A área definida na Portaria nº 373/92 da FUNAI (fls. 71/72 dos autos) é de posse permanente do grupo indígena Awá-Guajá e integrava o território da antiga Reserva Florestal do Gurupi”.
  • Independentemente do momento em que a Empresa Agropecuária tenha iniciado suas atividades na área, as terras reconhecidas como de ocupação indígena já recebiam, desde antes, tutela constitucional. Ou seja, não há falar em direito adquirido a bem jurídico com força em valores desacolhidos pela nova ordem constitucional. A ocupação tradicional de terras indígenas a que se refere o art. 231, § 1º, da CF diz respeito a relação dos autóctones com o território conforme seus usos, costumes e tradições para a promoção de seu bem-estar e de sua reprodução física: o tradicionalmente refere-se não a uma circunstância temporal, mas ao modo tradicional de os índios ocuparem e utilizarem as terras e ao modo tradicional de produção, enfim, ao modo tradicional de como eles se relacionam com a terra.
E terminam: Apelação da Agropecuária Alto do Turiaçu Ltda. desprovida. Determinação para que a UNIÃO e a FUNAI promovam o registro da área demarcada no cartório imobiliário e na Secretaria do Patrimônio do Ministério da Fazenda e, no prazo de um ano, a contar da intimação deste julgado, a remoção das pessoas não-índias que se encontram no interior da terra demarcada, bem como o desfazimento das construções edificadas no perímetro da Portaria 373/92, além do cumprimento das demais determinações oriundas da sentença recorrida.

A C Ó R D Ã O
Decide a Sexta Turma, por unanimidade, não conhecer dos recursos dos terceiros prejudicados, dar provimento à apelação da FUNAI, dar parcial provimento à remessa oficial e ao recurso da União e negar provimento à apelação da Agropecuária Alto do Turiaçu LTDA.

Sexta Turma do TRF da 1ª Região – 09.12.2011.

terça-feira, 17 de abril de 2012

Foi morto mais um irmão! Vil assassinato de líder rural e eclesial em Buriticupu

Estarrecida, a sociedade maranhense recebe mais uma notícia da cruel situação em nosso Estado, ao ser informado sobre o assassinato do senhor Raimundo Alves Borges (conhecido como Cabeça), trabalhador rural, líder sindical e agente das Comunidades Eclesiais de Base da diocese de Viana, ocorrido em Buriticupu, no dia 14 de abril e 2012. Tudo indica que se trata mais uma vez da agressiva disputa do latifúndio porque “cobiçam campos, e os roubam; querem uma casa, e a tomam.” Assumimos a voz profética de Miquéias que vaticina: “São vocês os inimigos do meu povo: de quem está sem o manto, vocês exigem a veste; a quem vive tranqüilo, vocês tratam como se estivesse em guerra; vocês expulsam da felicidade de seus lares as mulheres do meu povo, e tiram dos seus filhos a liberdade que eu lhes tinha dado para sempre.” Cabeça foi uma dessas pessoas que lutava e se empenhava e não media forças para defender os direitos mais sagrados dos seus companheiros. Foi por isso que lhe foi tirada a vida. Não é a primeira vítima da violência que sofreu uma agressão mortal no município de Buriticupu. Como nas outras vezes, não podemos ficar calados diante de mais esse fato de profunda injustiça. E cobramos do Governo do Estado, dos responsáveis pela Segurança Pública, do Poder Judiciário medidas enérgicas para que sejam apuradas as responsabilidades pela morte de Raimundo, que sejam em definitivo resolvidas as questões de posse e uso da terra em nosso Estado em favor daqueles que dela precisam para trabalhar e viver, e que os Direitos das Pessoas que permanecem aguardando soluções douraduras sejam respeitados pelo poder público.

Santa Inês, 15 de abril de 2012

Equipe Regional das CEBS do Maranhão

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Missionários Combonianos deixam a igreja de São João - ' Ó meu São João, meu São João.....'


Ontem, 15, na igreja de São João Batista, São Luis, os missionários combonianos fizeram a entrega formal da paróquia aos padres da Arquidiocese. Após 38 anos de presença acharam que os tempos estavam maduros para dar espaço a outras novas forças. E se colocarem à disposição para novos e mais desafiadores campos para a sua missão. A igreja de São João ao longo desses anos deixou de ser um mero templo. Um espaço reservado ao culto. Graças a um conjunto de fatores e circunstâncias históricas São João exerceu o papel de verdadeiro ator social, tendo o seu ápice no final dos anos 70 e início dos 80. Abrigo dos inconformados com a ditadura militar deu voz e incentivo a estudantes, dignidade e respeito a menores que viviam na rua, aos sem casa provenientes do interior do Estado que ocupavam o solo urbano dessas enormes periferias. Sendo, enfim, um ‘espinho’ permanente na igreja hierarquia de então que, por conveniência e medo, não se expunha. Em que pese a diversidade dos padres combonianos que passaram por lá uma coisa ficou garantida até hoje: a sensibilidade com a realidade social e política da cidade, a capacidade de envolver pessoas e forças sociais que acreditavam numa igreja fermento transformador e, finalmente, no princípio-prática da participação dos leig@s. A cidade de São Luis e o seu centro histórico onde a igreja-paróquia está inserida, sofreu inúmeras e variadas mudanças ao longo desses anos. Esvaziamento demográfico, violência e insegurança, negligência pública com o patrimônio histórico-cultural, opções sociais novas, têm contribuído para afastar e desmotivar também um número sempre maior de fiéis que acabam freqüentando somente as celebrações sem maiores formas de engajamento e envolvimento pessoal. Certamente uma nova identidade eclesial está sendo moldada também para a igreja de São João e para outras igrejas presentes no centro histórico da capital. O temor é que em lugar de serem espaços em que se denuncia o abandono e o descaso com pessoas e prédios, - e se anuncia a liberdade e a vida a um verdadeiro exército de vítimas da droga, da prostituição, da AIDS, - essas igrejas se transformem em templos para satisfazer a mera demanda cultual. Haveria uma ruptura com a prática evangélica e a exposição de uma contradição aparentemente insanável.

sábado, 14 de abril de 2012

Tornar o Mestre vivo perdoando e acolhendo, mesmo na dúvida e na incerteza da vida! (Jo.20, 19-33)


Na vida fazemos experiências que aparentemente não são marcantes. Por não serem revelações fulgurantes. Por não serem arrebatadoras. Contudo, com o passar dos anos elas parecem produzir frutos inesperados. Algo imperceptível, mas consistente. Aquela experiência de vida que inicialmente parecia desprovida de força místico-espiritual acaba se manifestando progressivamente como geradora de uma nova consciência. Perante a vida. Perante nós mesmos. O evangelho hodierno poderia nos induzir a pensar o contrário. Afinal, o relato parece ostentar propositalmente uma experiência profundamente arrebatadora: Jesus passa pelas portas fechadas, mostra suas feridas, sopra sobre @s seus seguidor@es o seu espírito....É claramente uma linguagem simbólica. Um gênero literário-teológico. As ‘aparições’ de Jesus que com freqüência são relatadas após a sua morte ocultam e desvelam ao mesmo tempo a experiência histórica, real, pela qual um grupo de seguidores de Jesus o entende como sendo ainda vivo. Mesmo após anos da sua morte biológica. Na realidade, desde um ponto de vista cronológico estamos situados nos anos 50, aproximadamente, depois de mais de 10 anos da morte de Jesus de Nazaré. São dessa época os relatos das aparições. Vários elementos históricos o comprovam. Elas não têm o objetivo de ‘provar’ que Jesus ressuscitou. Portanto, uma tentativa apologética. O grupo já se encontra definitiva e novamente junto, e já acredita na ressurreição do Mestre, mesmo que com algumas incertezas.
Após a grande dispersão que se deu por ocasião da morte de Jesus, @s seguidor@s de Jesus possuem, agora, uma consciência bastante consolidada de que ele continua a pautar a sua vida apostólica. E mais, que os envia definitivamente para reproduzirem suas opções e escolhas de vida. Eles se entendem como enviados dele. Um processo longo e lento. Às vezes, sofrido e cheios de desistências e incredulidades. Sem possuírem sinais espetaculares e cabais. E sem condições de ‘oferecerem’, eles mesmos, sinais objetivos, públicos, universais a todos indistintamente de que Jesus continuava vivo neles. @s seguidor@s de Jesus, como ele, continuam a apostar na capacidade humana de fazer um permanente ‘memorial de vida’ daquelas pessoas que significaram muito quando em vida com el@s. A capacidade de continuar a acreditar que mesmo nas ‘dúvidas de Tomé’ ou no ‘medo’ difuso o ‘ressuscitado’ continua a perdoar, a acolher, a curar. Só que agora, mediante el@s. El@s o tornam atuante como outrora, para além da morte. Para além da presença física, palpável.

STF - Ele legisla, ele decide e define o que é vida e o que não é! Estamos em boas mãos!

O Supremo Tribunal Federal liberou para que ‘as mulheres’ possam interromper a gravidez uma vez que fica comprovado que o seu bebê é portador de anencefalia. Algumas questões chamam a atenção...Mais uma vez o STF legisla em lugar do Congresso Nacional. Mais uma vez o mais alto órgão do judiciário faz a parte do leão e ocupa o espaço que cabe a deputados e senadores. Lamentável, pois nesses últimos três anos o STF vem dando demonstrações da sua insaciabilidade e de sua onipresença na vida social e política dessa nação. As argumentações explicitadas pela maioria dos ministros do STF nos deixam perplexos, para além das opções e opiniões pessoais sobre um assunto tão delicado e complexo. Com uma certeza espantosa os ministros do STF definem não vida (social) aquele ser que, afinal nasce (nasceria) vivo. Se o STF não reconhece vida social num bebê portador de anencefalia será que ele vai ser registrado, caso a mãe decida ir até o fim da gravidez? Afinal, não tem vida ‘social’!Alega-se, além disso, que a interrupção, caso a mulher assim o deseje, evitaria que ela sofresse psicologicamente, pois seria uma ‘tortura’ levar até o final a gravidez. E decidir interromper uma gravidez mesmo com deficiências não seria sofrimento psicológico? Os ministros acham que essa decisão não iria ‘afetar psicologicamente’ a mulher? Outro elemento que chama a atenção é que a ênfase nessa história toda é dada à liberdade 'reprodutiva' da mulher como se fosse somente ela, de forma soberana, a decidir e a des-fazer. Nunca se fala em ‘casal’, ou nos ‘pais do bebê’, por exemplo. Pelo jeito, aqui, Édipo já matou o pai! Já vi casos em que a mãe decidiu ir até o fim em casos similares O bebê sobreviveu alguns meses, mas até hoje ele continua sendo ‘o seu bebê’, filho com vida biológica lembrado e registrado. Na memória afetiva e no cartório. Com identidade e amor!

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Guajajara da Terra Canabrava convidam órgãos e instituições públicas para resolver problemas históricos. Quem avisa, amigo é!

A rua principal da aldeia Coquinho está literalmente tomada por carros. Em sua maioria, carros oficiais. De fato, instituições, secretárias e órgãos das diferentes esferas governamentais enviaram seus representantes atendendo ao convite dos índios Guajajara. Só uma grande ausente, a FUNASA. O Ministério Público Federal não veio, mas justificou. Na pauta do encontro de 11 de abril, quatro pontos: propostas de soluções para dar um fim aos assaltos que vêm ocorrendo com uma freqüência assustadora na BR 226, no trecho indígena; resolver o problema do fornecimento de água potável que há mais de 7 anos não existe; repor em moto a educação escolar indígena em evidente estado de decadência; e explicar o papel da FUNAI após a sua reestruturação. Há uma atmosfera bastante carregada. As lideranças indígenas manifestam de imediato sua indignação diante da indiferença e do descaso ‘das autoridades competentes’ perante vários problemas que põem em risco a segurança e o futuro desse povo. O que chama a atenção nas falas formais dos representantes das instituições é que ‘no passado, realmente, não se faz nada, mas agora sim podem contar conosco’! Uma fala antiga, manjada e hipócrita! Na realidade cada órgão parece repetir o que ensaiou com primor: o efetivo é escasso, os recursos vêm minguando, as atribuições se ampliam e têm dificuldade de atender a todas as demandas. Não emergiu nenhuma proposta de solução definitiva. E nem poderia ser. As exigências indígenas eram mais que realistas. Só na questão dos assaltos, por exemplo, eles pediam patrulhamento ostensivo em diferentes horários para inibir os ‘assaltantes’, - em sua maioria ‘ não indígenas, mas infiltrados nas aldeias’, - exigência do seu cadastramento para verificar se eles possuem ficha limpa, e a possibilidade de um posto da Polícia Rodoviária Federal nas imediações da terra indígena. E, finalmente, a promessa de uma operação-relâmpago como paliativo até se encontrar uma solução definitiva que dificilmente virá. Foi unanimidade, de fato, que a solução mesmo poderá vir quando se executarem políticas públicas sérias cuidando com atenção e respeito dos direitos à educação, à saúde, às atividades produtivas, e na superação dos preconceitos, entre outros. Sem isso, e sem um sentir e agir comum entre as diferentes aldeias da terra indígena Canabrava nada feito! Uma carta aberta contendo essas e outras iniciativas aprovada e assinada pelos presentes foi dirigida ao Ministério Público Federal. Agora, de olho para que cada um cumpra o que lhe cabe!As toras de madeira que servem para bloquear o trânsito na BR 226 continuam ocupando meia pista. Prontas para entrar em ação caso não se prove um mínimo de bom senso no atendimento das legítimas exigências indígenas. Afinal, já os antigos nos ensinavam que diante de um estado omisso apelar para a 'legítima defesa' não é nenhum crime!

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Carta aberta ao irmão Bento XVI

Caro irmão Bento XVI, paz e graça em Jesus! Escrevo-lhe essas poucas linhas, mesmo sabendo que dificilmente irá lê-las. Gostaria de manifestar de um lado a minha admiração pela coragem com que nessa sua avançada idade continua a enfrentar os desafios da igreja. Do outro lado, não posso deixar de expressar minha divergência quanto às suas últimas declarações, principalmente as que pronunciou por ocasião da quinta feira santa ao citar um grupo de padres que estariam invocando uma ‘desobediência organizada’ contra certas normas vigentes na nossa igreja católica. Entendo, em parte, seus temores e angústias, mas não achei que o senhor estivesse agindo coerentemente com o ‘gesto histórico’ do nosso Inspirador maior, Jesus de Nazaré. Ao lavar os pés dos seus seguidores e de suas discípulas o nosso Mestre nos ensina a não fazer prevalecer o prestígio do cargo que ocupamos, mas a servir sem reservas, colocando-nos sempre no último lugar. Por que, então, o senhor apela ainda à obediência cega e acrítica, em lugar da persuasão? Por que tenciona intimidar padres e bispos em suas visitas ‘ad limina’ a Roma por pedirem simplesmente que uma pessoa que é confirmada pela igreja na sua vocação sacerdotal possa também casar, se assim o desejar? Por que resistir ainda a abrir um debate universal-católico para ver a possibilidade de ‘conceder’ o sacerdócio ministerial às mulheres que têm vocação para tanto? O senhor que é teólogo refinado sabe, como nós sabemos, que não há nenhum impedimento teológico e dogmático. Que ao conceder isto, em momento algum ofenderia a prática de Jesus de Nazaré. Perdoe-me se me atrevo a dizer mais uma coisa: falei em ‘conceder’, pois esta é a linguagem comum utilizada na nossa igreja, mas numa igreja participativa e fraterna deveríamos utilizar outros termos. Concessão manifesta uma relação assimétrica entre as partes. Há alguém que decide, manda, e alguém que aceita e que executa. Não assim deveria agir a igreja de Cristo que tem como única cabeça Jesus de Nazaré. Imagino o quão dolorido seja para o senhor ter que ouvir isso e entendo que talvez a sua idade não o ajude a manter serenidade e paz interior. Não posso ignorar os clamores e as críticas, - nem todas injustas, - contra um modelo de igreja que parece se afastar sempre mais das práticas do Reino que Jesus testemunhou. Caro irmão, acredito que senhor merece um justo e merecido repouso. Deixe que outros mais novos e com mais estrutura psicofísica assumam o pesado fardo de coordenar a nossa igreja. Continue no nosso meio como ‘sábio apóstolo e conselheiro.' Um irmão que doou sua vida para confirmar os seus irmãos e irmãs na fé, mas que agora, com sentimento de dever cumprido abre espaço para que outros assumam essa missão! Seu irmão na fé....

sábado, 7 de abril de 2012

PÁSCOA - DE RESSUSCITADOS A RESSUSCITADORES!


Os mais significativos sinais de presença da vida no cosmos se manifestam nos pequenos elementos. Nos micro-organismos. Não nas grandes e espetaculares manifestações de diferentes fenômenos, mas em algo quase invisível ao olho humano. O sinal-prova da Ressurreição de Jesus não nos é oferecido mediante a comprovação de alguma espetacular explosão molecular supostamente registrada em algum objeto utilizado por Jesus, e sim em pequenos gestos. Em micro-sinais. E, além disso, algo muito subjetivo. Impossível de ser catalogado nas corriqueiras categorias humanas. Ressurreição é experiência de fé. Experiência histórica e de caráter místico-espiritual de um grupo de pessoas ligado a Jesus de Nazaré. Em outras palavras, em discípulos e discípulas do mestre da Galiléia que asseguram sentir presente e vivo (ressuscitado) nel@s Jesus na medida em que reproduzem os seus mesmos gestos de compaixão, de acolhida, de fraternidade genuína para com os pobres, os mendigos e os pecadores. Enfim, aquele que foi morto torna a viver e a atuar nel@s e através del@s! Torna-se sempre mais complicado para uma sociedade ‘educada’ a ser sempre vencedora e a apostar nos milagres espetaculares que mudam a própria vida, acreditar que a única prova de Jesus ressuscitado é o testemunho da caridade e da compaixão de um grupo de seguidores. Que compreendeu que a única forma de manter vivo o amado que se foi é reproduzir e multiplicar sua herança humana e espiritual.

Ressurreição não é crer num cadáver que voltou à vida físico-biológica. Nem num suposto espírito-fantasma que penetra paredes e se desloca instantânea e ilimitadamente. Ressurreição não tem nada a ver com ‘corpo físico’, com organismo biológico, com circulação sangüínea. Tem a ver conosco. Com a nossa capacidade transformadora. Com nossa postura humana e política perante a vida. Uma opção clara e definitiva: acreditar e testemunhar o poder humano-divino que está em nós. E que nos dá a coragem de devolver esperança ao desesperado. Oferecer amor e pão ao excluído e faminto. Fazer justiça ao injustiçado. Respeitar e acolher o diferente rejeitado. Do mesmo modo que o fazia Jesus quando percorria os caminhos da Galiléia. Essa opção de vida não garante manchetes nos jornais e nem nas telinhas dos canais religiosos. Não reserva um futuro opulento para os que fazem essas opções e nem para seus supostos beneficiados. Como outrora, o único sinal que Jesus oferece a uma geração incrédula e faminta de milagres é a sua morte violenta e humilhante. O seu ‘fracasso e o seu desespero’ diante da aparente ‘omissão’ do Pai. Esse sinal é para que outros ‘fracassados e desesperados’ como Ele não aceitem isso como ponto final da sua existência. Para que não desistam em lutar para arrancar da cruz e das tumbas tantos Lázaros cujos gestos de fraternidade e compaixão haviam sido sepultados pela indiferença e a prepotência humana. Serão esses micro-sinais que nos confirmarão que continuamos vivos! Que podemos ser pessoas novas! Que ressurgimos! Esta experiência nos dará a coragem de devolvermos vida e esperança a outros Lázaros, a outros ‘Jesus’.....! De ressuscitados seremos ressuscitadores! Fazer para crer!

FELIZ PÁSCOA!

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Semana Santa IV - O povo palestino crucificado pelos Pilatos israelitas!

Ainda hoje há muito debate sobre os verdadeiros motivos que determinaram a condenação legal de Jesus à morte. Muitas vezes afirma-se que Jesus foi morto porque se opôs a isto e àquilo. Ou que foi radical nisto e naquilo. Ou até que ele se havia definido ‘filho de Deus’.....como se isso tudo merecesse morte de cruz.....É bom lembrar que também naquela época, seja num tribunal romano bem como num sinédrio, havia leis, e estas deviam ser respeitadas. Embora admitindo que, como também hoje ocorre, há abusos. Em outras palavras: para matar Jesus devia-se ter um pretexto-motivo legal. Qual foi? Um primeiro elemento a lembrar é que Jesus foi executado pelos Romanos mediante a pena que eles previam para quem atentava à soberania do Império: crucifixão. Os Judeus não conseguiram encontrar um motivo sequer que pudesse se encaixar em sua complexa legislação para merecer a morte por apedrejamento. Alguns estudiosos afirmam que o silêncio de Jesus perante o sumo sacerdote merecia a morte, pois estava previsto no livro do Deuteronômio. Mas isto já havia ocorrido em outras ocasiões com outras pessoas e não se havia apelado a essa lei para condenar um judeu à morte! Certamente o sinédrio se tivesse encontrado qualquer motivo legal, mesmo assumindo a responsabilidade de se manchar com o sangue de um co-nacional, o teria feito. Em que pese a tradição, - lamentável e injusta, diga-se de passagem, - de responsabilizar os judeus, genericamente, pela morte de Jesus, essa história não se sustenta. A prova cabal é que morreu na cruz dos romanos e não numa praça pública por apedrejamento!

Pelos relatos da paixão, - que não são plenamente históricos, mas essencialmente teológicos, não emerge o elemento legal. Dizer que Jesus se declarou rei e que isto ameaçava o poder do imperador, além de ridículo não corresponde à verdade histórica e a dos próprios evangelhos, pois Jesus em momento algum afirmou isso. É mais provável que Jesus tenha morrido por causa de um flagrante abuso de poder cometido por Pilatos. Ele simpesmente exorbitou de suas funções e poderes. Não possuía motivos legais, mas mesmo assim o crucificou. Por motivos que ignoramos, mas certamente em conluio com o sinédrio. Sem direito aparente a uma defesa (defensor público) Jesus foi vítima de um governador que pisou flagrante e criminosamente nas leis vigentes.

Espero que hoje na celebração da sexta feira santa não se reze pelos Judeus (mais uma vez tomados na sua totalidade!) pelo fato de eles serem ‘os assassinos’ de Jesus ou pelo fato de esperarem ainda um messias. Se é para rezar por eles é, no caso, para pedir que Deus arranque o coração de pedra que existe no atual e nos anteriores governos de Israel. Governos indiferentes à dor humana, que continuam a massacrar o povo palestino, crianças, mulheres e velhos, só por represália a grupos radicais que atentam...à sua segurança nacional. Os abusos de Pilatos que outrora vitimaram Jesus, um judeu, estão sendo incorporados e perpetuados por governos israelitas. Sem pena e sem dor. E diante da indiferença do mundo! Que o sangue desses inocentes recaia sobre eles e seus filhos!

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Semana Santa III - a ceia de despedida. Um conto.


Tudo está pronto para a ceia da páscoa. O clima ameno daquele final de dia é convidativo. A enorme mesa de cedro do Líbano posta na sala espaçosa daquele sobrado de pedra clara hospeda as velas a fervilhar, e as tigelas cheias de pão. O seu perfume, misturado com o aroma do vinho e o cheiro azedo do cordeiro com ervas amargas exalam por toda a sala. São verdadeiros sacramentos da abundância divina e do suor transformador das criaturas humanas. Os apóstolos já chegaram todos. Estranhamente, bem arrumados e perfumados. Alguns deles haviam conseguido trazer alguns familiares da Galiléia. Outras três famílias amigas de Jerusalém haviam sido convidadas para a ceia, e se juntaram ao grupo. Há também alguns idosos entre elas. São os pilares firmes da memória histórica do povo de que fazem parte. As mulheres, as fiéis do grupo de Jesus, não arredam. Elas estão lá, coordenando e ajeitando para que não haja surpresas na hora de iniciar a liturgia pascal. Afinal, é uma páscoa especial esta!Uma páscoa com sabor de despedida. O mestre os havia alertado. É preciso celebrar intensamente o memorial de um passado eternamente presente. Hoje mais do que ontem.

O memorial de um Deus-Javé que continua permanecendo ao lado daqueles que não aceitam a escravidão. Nem a dominação. A de ontem, e a de hoje. Que não querem servir aos faraós e nem aos imperadores! E que têm ainda a coragem de atravessar ‘os Mares Vermelhos’ do medo, da covardia, da conformação. Alguns ficam a bisbilhotar e comentam entre si que o rosto de Jesus, hoje, tem um semblante estranho. Ele parece quase que encoberto por um véu de tensão, mesmo que contida. Ele acolhe sorrindo os convivas, mas não parece ser efusivo como em outras ocasiões. Todos parecem intuir que algo diferente está para acontecer.....Não há espaço para sermões ou discursos. Pareceria algo retórico e inadequado naquele momento. São os gestos simbólicos, afinal, - aqueles gravados na mente e no coração - que deixam uma marca indelével! Jesus sabe disso e, em silêncio, começa a lavar os pés de cada um. E da cada uma d@s presentes. Lava justamente a parte do corpo mais exposta à contaminação. Aquela parte que acumula mais poeira, sujeira, bactérias e micróbios. Jesus lava aqueles pés que percorreram com ele léguas e léguas. De povoado em povoado. Pés feridos e inchados. Pés que os haviam conduzido a anunciar esperança e vida nova a pessoas que haviam perdido a vontade de viver e sonhar. Jesus, agora, ajoelhado aos pés de cada um parece quase adorá-los. Lava-os com carinho, enxuga-os com uma toalha de linho fino, e beija-os com delicadeza. Parece retribuir a tod@s o mesmo gesto que poucos dias antes uma mulher discípula havia feito com ele. Com perfume, lágrimas e longos cabelos. O rosto de Jesus, agora, está mais sereno. Não há mais tensão nele. É o semblante de uma pessoa profundamente grata. A gratidão por el@s existirem em sua vida. Por o terem acompanhado até aí. Por não o terem abandonado. Por dividirem com ele o pão da compaixão e da solidariedade. Por beberem com ele o vinho da alegria. A alegria de viver e de esperar. O vinho do martírio. O vinho que ajuda a superar o medo de morrer! Agora ele pode, enfim, partir....

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Semana Santa II - Recuperar a paixão pelo Reino! Entrevista ao teólogo Pagola


Ele está há anos sendo vigiado. Os livros do teólogo espanhol José Antonio Pagola, que vendem como rosquinhas, sofrem todo tipo de censura eclesiástica, mas ele não sente “ressentimento”. Pelo contrário, os conflitos o ajudam a viver sua fé de uma forma “mais desnuda”. Sempre livre, sofre com a atual situação de involução eclesial e o “abandono do Concílio”. Mas, sempre positivo, acredita em uma Igreja “mais indignada” e “mais samaritana”. Eis alguns trechos da entrevista que ele deixou ao IHU (Instituto Humanitas Unisinos)

Por que o Jesus da história assusta ainda em certos ambientes eclesiásticos?
O medo de Jesus sempre existiu. É um fenômeno quase inconsciente, mas muito explicável. Jesus torna as pessoas mais livres; atrai para o amor, não para as normas; chama os seus seguidores para colaborar no projeto do Reino de Deus, não em qualquer estratégia pastoral; recorda-nos que os últimos serão os primeiros; centra os seus seguidores no essencial do Evangelho, não em práticas e devoções secundárias... Não há nada mais perigoso para uma Igreja que busca segurança, ordem e disciplina, que uma corrente forte de seguidores e seguidoras de Jesus, que recuperam seu espírito, seu fogo e sua paixão pelo Reino de Deus.

Como pode a nossa Igreja recuperar a credibilidade e a confiança social, perdidas segundo todas as pesquisas?
As pessoas vão começar a crer em nós no dia em que não nos preocuparmos tanto com a nossa credibilidade. Não podemos continuar vivendo em meio aos sofrimentos, contradições e conflitos desta sociedade com “a ilusão de inocência” própria de “espectadores” que pretendem estar quase sempre acima do bem e do mal. A sociedade vai crer em nós se nos virem vulneráveis e próximos, aceitando nossos erros e ignorâncias, mas sofrendo verdadeiramente junto com os que sofrem. Na Igreja, devemos nos perguntar com quem nos preocupamos, além de nos preocuparmos conosco mesmos. Só a compaixão fará a Igreja mais humana e crível. No dia em que descobrirmos o mundo com os olhos de Jesus e tratarmos as pessoas como ele as tratava, as pessoas vão se aproximar da Igreja. Como vão crer hoje na Igreja as mulheres maltratadas se não sentem a nossa indignação e a nossa defesa?

O que sente diante da proliferação de notícias sobre as intrigas vaticanas?
Tristeza e indignação. Costumo pensar em Jesus, que, ao chegar a Jerusalém, se põe a chorar dizendo: “Se compreendesses os caminhos da paz! Mas teus olhos seguem fechados”. Não sei se no Vaticano se sente necessidade de conversão. Seus ouvidos não ouvem os constantes apelos que se fazem em nome do Evangelho. Seus olhos estão fechados: não veem os caminhos que poderiam nos levar rumo a uma Igreja mais fiel ao seu único Senhor. E, contudo, intuo que uma tentativa lúcida e responsável de conversão, promovida pelo Papa, encontraria praticamente a aprovação entusiasta de todos os bispos. (Fonte: IHU)

terça-feira, 3 de abril de 2012

Semana Santa I - Re-inventar dentro de nós a 'presença do ausente'!

Se para muitos a semana santa é oportunidade para sair da rotina e viajar sabe lá Deus aonde, para outros esse período constitui uma verdadeira experiência mística. Não precisamos percorrer fisicamente os lugares santos geográficos trilhados por Jesus de Nazaré. É suficiente olhar para dentro de nós e ao nosso redor. Descobriremos pessoas com coração cheio de tristeza, de abandono, de medo, de desespero. Pessoas que já vem carregando cruzes pesadas. As próprias e as alheias. Que vem subindo ininterruptamente o ‘calvário-Golgota’ da vida. Certamente celebrar a semana santa é fazer a experiência de se encontrar com o mistério da dor, da morte, do sofrimento, das feridas abertas, nossas e da humanidade. Mas é, principalmente, fazer a experiência místico-espiritual de ir para além do calvário e da cruz. Descobrir sim os muitos Cireneus que nos ajudam a carregar nossas cruzes, e a tornar mais leve o nosso viver, mas principalmente tentar imitar a persistência de Maria de Mágdala. Que não se conformava com a morte do amado. Cujo amor permaneceu tão forte e intenso que o ressuscitou. Dentro dela. E dentre os que continuavam a fazer a experiência de amar tod@s @s crucificad@s. Amá-l@s para além da cruz, da doença, da solidão e da morte! Fazer, enfim, a experiência de re-inventar dentro de nós a ‘presença do ausente’!

domingo, 1 de abril de 2012

Mãe Guajajara morre durante o parto no Hospital Geral de Grajaú. No novo hospital não há UTI!

Uma indígena Guajajara da aldeia Lago Branco, próxima da cidade de Arame, MA, faleceu ontem, 31, em Grajaú, no Hospital Geral por falta de UTI. Mãe já de 3 filhos, a indígena estava para ganhar o quarto, mas o parto apresentou complicações. Levada urgentemente ao recém inaugurado Hospital Geral de Grajaú veio a falecer pouco depois. Profissionais atestam que se tivesse havido uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) no hospital a indígena não teria falecido. Espera-se que esses novos hospitais que levam o pomposo nome de ‘Geral’ sejam devidamente equipados. Enquanto isso, o nosso Estado continua a apresentar ainda altos índices de morte de mães durante o parto.