sábado, 27 de junho de 2020

Morre de Covid a sábia indígena Bernardina Makuxi


Bernaldina José Pedro, conhecida carinhosamente como Vovó Bernaldina, da comunidade indígena Maturuca, era quem iniciava os cantos e danças tradicionais nas rodas de Parixara, uma das mais tradicionais manifestações artísticas dos povos indígenas em Roraima. Ela faleceu aos 75 anos na noite de terça -feira (23/06), no Hospital Geral de Roraima (HGR), com diagnóstico de Covid-19. Vovó Bernaldina era quem recebia os convidados nas principais festas e eventos promovidos pelo Conselho Indígena de Roraima (CIR). Cantando, com sua voz potente, fazia o ritual de defumação do Maruai, que traz proteção, saúde e promove a união. Foi ela quem conduziu as cerimônias na memorável festa de comemoração da homologação da Terra Indígena Raposa Serra Sol, no extremo Norte do estado, em 2010.Símbolo de luta pela incidência e resistência da língua materna Macuxi e protagonista em diversas manifestações em Roraima e no mundo pelos direito dos povos indígenas, ela foi recebida em 2018 pelo Papa Francisco e o entregou uma carta das comunidades indígenas da Raposa Serra do Sol. No documento, se denunciou a possibilidade de o Governo Federal reverter a demarcação da terra para a construção de hidrelétricas e a exploração mineral.

Foram 11 dias combatendo o novo coronavírus. Uma campanha virtual foi iniciada para arrecadar fundos para o tratamento. “As unidades de saúde da capital de Roraima estão em colapso, lotadas de pacientes, sem recursos para atender a todos. Por isso nossa Vó não conseguiu ter o atendimento necessário”, diz o texto da vaquinha. A campanha previa comprar um cilindro e os refis do balão de oxigênio, que têm um alto custo.Mulher guerreira, que encantava com seus cantos e com sua fala, Vovó Bernaldina contou histórias e fez sua história. Ela deixa seis filhos e diversos netos e bisnetos. Deixa nessa terra mãe todo o legado para várias gerações.

Ja são 56 mil mortos pelo Corona....quando terminará essa tragédia?

As regiões Sul e Centro-Oeste apresentaram o maior número de mortes pelo novo coronavírus em 24 horas desde o início da pandemia, com 96 e 74 óbitos. Com isso, o país já contabiliza 56.109 vidas perdidas para a doença.Os dados foram divulgados pelo consórcio de veículos de mídia, apurados a partir de dados divulgados pelas secretarias estaduais de saúde. O número é um pouco superior ao divulgado pelo Ministério da Saúde, que contabiliza 55.961 vítimas fatais.Segundo os dados do consórcio de imprensa, o total de mortes na região Sul aumentou 30% na última semana, enquanto o avanço na região Centro-Oeste chegou a 41,2%. As regiões Sudeste (418 novos óbitos), Nordeste (378) e Centro-Oeste (96) seguem como as áreas mais afetadas pelo coronavírus, mas Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná têm demonstrado acelerada evolução em seus dados nos últimos dias.Quatro meses após o primeiro caso, 1.279.054 pessoas já foram diagnosticadas com covid-19 segundo os dados das secretarias estaduais de saúde, sendo que 46.907 passaram a figurar nas estatísticas oficiais.De acordo com os números do Ministério da Saúde, o país contabiliza 1.274.974 casos confirmados, sendo que foram 46.860 novos casos registrados nesta sexta-feira, e 55.961 óbitos – 990 a mais ante os dados anteriores. O ministério diz ainda que 697.526 pessoas se recuperaram da doença, e 521.487 estão em acompanhamento. (GGN)

Garimpeiros matam dois índios Yanomami

Garimpeiros invasores mataram dois índios yanomamis na Amazônia brasileira, revelou um grupo de direitos humanos nesta sexta-feira (26), alertando que o incidente pode se transformar em um "ciclo de violência" na região. Os yanomamis, indígenas conhecidos por suas pinturas faciais e piercings intrincados, ficaram isolados do mundo exterior até meados do século XX, e muitos ainda vivem nas profundezas da Floresta Amazônica.O tiroteio fatal ocorreu no início de junho, mas os relatos chegaram à polícia de Roraima nesta semana, quando um yanomami que acompanha sua esposa ao hospital na capital do estado, Boa Vista, contou a história às autoridades, declarou a Hutukara Associação Yanomami (HAY).
 O incidente parece seguir um padrão que tem ocorrido com frequência nas terras dos yanomamis desde os anos 80, em que os garimpeiros inicialmente oferecem comida e bugigangas aos indígenas, e então invadem cada vez mais suas reservas, levando a conflitos. "Tememos que as famílias dos yanomamis assassinados possam decidir retaliar os garimpeiros ilegais, de acordo com o sistema judiciário yanomami, potencialmente levando a um ciclo de violência que pode terminar em tragédia", afirmou o grupo de direitos humanos em comunicado.Os yanomamis têm um histórico de conflito com os garimpeiros invasores que data da década de 1970. Juntamente com doenças como sarampo e malária, os conflitos dizimaram a população yanomami, que hoje é de 27 mil."O assassinato de mais dois yanomamis por garimpeiros invasores deve ser minuciosamente investigado e enfatiza a necessidade de o governo brasileiro agir com urgência para remover imediatamente todos os garimpeiros que operam ilegalmente em terras yanomamis", afirmou a entidade.

quinta-feira, 25 de junho de 2020

Militares estão desmontando a engrenagem do SUS, alerta especialista


Jornal GGN – O professor da FGV e especialista em SUS, Adriano Massuda, disse em entrevista ao El País que o Brasil pode estar assistindo a um “processo de desmonte da engrenagem que fez o sistema de saúde funcionar nos últimos 30 anos, que é muito perigoso.” “O Exército pode estar puxando pro seu colo a responsabilidade de desmontar o sistema de saúde brasileiro. Esse sistema que é essencial para garantir a segurança sanitária do nosso país”, disse. Massuda criticou especialmente a entrada de militares no Ministério da Saúde, em cargos que antes pertenciam a técnicos de carreira que acumularam muito conhecimento e trabalho sobre suas respectivas áreas. Esse esvaziamento pelo governo Bolsonaro, para dar lugar à tutela militar, pode virar um prejuízo permanente e não algo que vai marcar apenas o enfrentamento à pandemia do coronavírus.

“O volume de ocupação de cargos técnicos por militares e por indicações políticas sem qualificação necessária na estrutura do Ministério da Saúde tem ocorrido como nunca antes desde que o SUS foi criado. Nem o pior ministro da Saúde fez o que está acontecendo agora.”Segundo o especialista, há áreas técnicas do Ministério “que já passaram por diferentes governos, de diferentes bandeiras políticas, e nunca foram modificadas, devido ao saber acumulado”, disse. “O Exército está ocupando cargos técnicos quando o Brasil tem profissionais extremamente competentes na área da saúde coletiva brasileira. Poucos países têm a inteligência que nós temos neste setor. Essa inteligência não está no Exército”, alertou. Ele demonstrou preocupação com “outros programas de saúde que dependem da coordenação técnica do ministério. Como é que vai ficar a coordenação nacional do câncer? Como é que vai ficar a política nacional do HIV, do sangue e hemoderivados, e as vacinas que dependem da ação do Ministério da Saúde? É algo muito arriscado e a sociedade tem que ficar bastante atenta. O problema não é só a covid-19.”

A quem interessa a privatização do saneamento básico no Brasil - Por Helena Cruz Santos

Nessa quarta-feira, 24/06, o Congresso Nacional aprovou, com maioria de 83%, o Projeto de Lei 4.162, que regulamenta a concessão do serviço de saneamento básico em todo país. Em 2012, o Brasil assinou o pacto de universalização dos serviços de saneamento básico, através do Objetivo do Desenvolvimento sustentável (ODS) 6. De lá para cá, pode-se dizer que nada avançou em termos de alcance.  A chegada da pandemia Covid-19 escancarou a aberração que são as estatísticas de saneamento no Brasil, onde as desigualdades sociais são, mais uma vez, reforçadas pelas desigualdades sanitárias. Poderia ser momento propício para os governos olharem para o histórico das gestões das empresas de saneamento que, não incomum, sobrepõem critérios políticos aos técnicos e assumirem mea culpa histórica pela ineficiência de gestão. Apesar de tantas ingerências políticas por décadas, nas empresas de saneamento, notadamente nos estados de São Paulo, Minas Gerais e Paraná, a qualidade dos serviços e a gestão financeira eficiente, no que diz respeito à geração de caixa e distribuição de dividendos, são marcas consolidadas e de interesse da iniciativa privada.  Portanto, a quem interessa a possibilidade de privatização do saneamento? Essa questão merece ser dividida em duas partes aparentemente antagônicas.

De um lado tem-se o papel endêmico do setor privado. Dentro do modelo capitalista, é do interesse desse setor que o desenvolvimento produtivo seja capaz de gerar lucros e, por conseguinte , possibilite a expansão e geração de novos investimentos. No contexto do novo marco do saneamento é de se esperar que o setor privado, nacional e internacional, vá à busca da aquisição daquelas empresas cujo histórico e potencial de expansão sejam os mais elevados possíveis. De outro lado, tem-se a lacuna entre os locais mais avançados em termos de condições sanitárias e aqueles cuja inexistência do saneamento básico atinge uma parcela expressiva da população que desconhece condições mínimas de saneamento e tem sido ignorada e alçada  ao grupo dos invisíveis desse país.Como o marco regulatório pretende alcançar esses invisíveis do saneamento, que residem em regiões que demandam elevado nível de investimento e baixo ou nenhum retorno financeiro se, até o presente momento, nem as empresas públicas, que não seguem as mesmas estratégias e propósitos do setor privado, não foram suficientes para contemplá-los?

Somente modelos muito bem desenhados de privatização, onde se coloque o ônus do investimento para garantir a universalização como contrapartida à privatização das empresas sólidas e bem estruturadas, serão garantidores da universalização. O atual PL 4.162 não traz mecanismos garantidores do alcance desse objetivo. E a sociedade, em sua passividade e acúmulo de desconhecimento das causas embrionárias de suas desigualdades, deve seguir à margem dos processos que a define enquanto sujeito, permitindo que o Brasil assine, mais uma vez, atestado de incompetência na sua capacidade de desenhar e implementar suas políticas públicas. Os investidores sabem fazer conta e medir o risco Brasil: seus interesses não são definidos, nem muito menos garantidos pela Constituição.