São Luís, 12 de outubro de 2018 – Festa de Nª Sra. Aparecida
Prezad@s, que o ‘Príncipe da paz’ reine no nosso coração e no nosso meio.
Sentimos que não podemos permanecer omissos diante do momento político crucial pelo qual o nosso País está passando. Não podemos deixar de manifestar o nosso pensamento diante do preocupante acirramento de ânimos que permeia as relações sociais e humanas, inclusive na nossa paróquia. Respeitamos a autonomia da consciência de cada pessoa, e não cabe a nós induzir ou pressionar em qual candidato votar. Fieis, no entanto, às orientações da coordenação nacional da CNBB, aos inúmeros apelos do papa Francisco e aos valores evangélicos queremos que fique claro, e registrado, qual é a nossa posição como humildes pastores dessa paróquia.
1. O que está em jogo nessa eleição presidencial são dois projetos distintos e antagônicos de nação, e não simplesmente uma disputa de dois políticos. Cabe a cada pessoa séria conhecer, indagar, e analisar de forma crítica as propostas que estão em disputa. Não podemos nos deixar conduzir pelas inúmeras e falsas informações (Fake news) que vêm sendo espalhadas irresponsavelmente pelas redes sociais, a não ser que reproduzam fielmente as declarações dos ‘próprios candidatos’! É nosso dever de pastores nos colocar na situação de milhões de pais de família e de pobres, e verificarmos qual desses projetos representados pelos dois candidatos garante mais proteção, mais inclusão social e econômica, mais respeito aos direitos conquistados às duras penas ao longo de tantos anos para todas as pessoas.
2. Não costumamos tomar nossas decisões influenciados pelo ‘efeito manada’, - e irmos aonde a maioria parece ir. Nem tampouco escolher um candidato por simpatias pessoais, por sugestão divina, ou simplesmente pelo medo irracional e ingênuo de supostos fantasmas de regimes comunistas que nunca vingaram até hoje nesse País. Principalmente no Brasil em que já tivemos, e temos, governos estaduais dirigidos por partidos de esquerda que, em momento algum, ameaçaram a democracia e os valores cristãos.
3. Ficamos espantados, isso sim, com a nova configuração do congresso nacional. Mais uma vez os ricaços desse País, denominados deputados da Bala, do Boi, e da Bíblia possuem, novamente, ampla maioria. Esses deputados já escolheram o seu candidato a presidente, e o projeto de nação que irão apoiar: contra os trabalhadores, contra a educação e a saúde gratuita e universal, contra uma aposentadoria que não premia quem produziu ao longo de muitos anos com suor e sangue, contra a taxação das grandes fortunas, entre outros. Eles foram votados poucos dias atrás pelas suas próprias vítimas, incautas e desinformadas que, mais uma vez, sofrerão as consequências dessa sua escolha.
4. Esse poderoso bloco apoia, hoje, decididamente, um candidato que encarna claramente o fim da liberdade e de tantos direitos, utilizando-se, de forma hipócrita, da bandeira da defesa da segurança, da família, da vida, de Deus, mas provando, na prática, uma moral familiar desajustada, incentivando o comércio e a utilização de armas contra opositores e supostos bandidos, apelando à tortura, debochando dos direitos humanos e das opções sexuais das pessoas, entre outras. Ele está praticando um verdadeiro estelionato espiritual iludindo e enganando muitos cristãos, pois ele sim, renega os valores centrais pregados por Jesus de Nazaré e pela nossa igreja católica!
5. Condenamos, enfim, veementemente, as agressões físicas e verbais que os apoiadores desse caudilho e do bloco do atraso vêm praticando, impunemente, no Brasil, de Norte a Sul contra aqueles cidadãos que resistem à sua metodologia nefasta. Lamentamos que não tenha havido até agora punição exemplar para esses criminosos! Foi assim que começou o fascismo na Itália e o nazismo na Alemanha! O que está em jogo é uma nação civilizada ou um povo refém da barbárie. Nós padres dessa Paróquia não queremos ser acusados de cumplicidade ou de omissão nos próximos meses!
Temos consciência, enfim, que não existem messias, nem presidentes operadores de mudanças milagrosas. Só uma nação organizada e consciente de seus direitos poderá garantir para si mesma segurança, democracia e paz! Que o Espírito da liberdade, e não do medo, nos conduza com a sua sabedoria, e que não desistamos de lutar, sem medo, por direitos e justiça social!
Pe. Cláudio Bombieri e padre Raimundo Rocha