terça-feira, 24 de dezembro de 2019

Um Natal diferente: NADA DE VOTOS, DIGA E FAÇA PARA AMIGOS E 'INIMIGOS' O QUE O CORAÇÃO MANDA!

Será que temos ainda algo novo e original a dizer nesse Natal? Algo diferente daqueles votos estereotipados, convencionais, e repetitivos e, por cima, reencaminhados por terceiros? Uma mensagem de paz, de respeito, de justiça, ou um gesto de solidariedade, de comunhão, de generosidade que já não tenham sido apropriados por aqueles que vêm pregando sistematicamente a violência, o ódio, a eliminação e a intolerância contra os seus supostos rivais e inimigos?  Pessoas e grupos que, hipocritamente, nesse dia de luz se permitem arrotar palavras tenras e melífluas, desejando paz e amor a todos e, por cima, evocando o ‘Menino de Belém’. Aquele mesmo que era perseguido pelo ‘Herodes de turno’, respaldado e assessorado pelos inescrupulosos aproveitadores ‘homens do templo e das sagradas escrituras’.... Natal não pode ser um dia de trégua numa realidade social e política em que o nosso País está profundamente dividido. Chega de hipocrisia e falsidade! É urgente nesse Natal assumirmos e expressarmos o que realmente cremos. Desejar a amigos e inimigos o que o coração mandar, mas sem evocar o ‘menino Jesus’! É inaceitável que ao longo do ano inteiro se combata com agressões, preconceitos, intolerâncias, hostilidade, - ou com medidas provisórias e decretos, - os vizinhos, os cidadãos, os trabalhadores, as crianças, as mulheres, os idosos, os índios, os negros, os colegas de trabalho, os moradores de rua, os hospitalizados e, no Natal, veste-se a pele do cordeirinho manso, generoso e puro! 
Chegou a hora de vivermos um Natal de coerência interior, nem que seja somente nesse dia! Que tenhamos a coragem de dizer àqueles que consideramos amigos e irmãos de fé e de caminhada: vocês continuam sendo importantes para mim/nós, pois graças a vocês tenho força de enfrentar decepções e sofrimentos, necessidades e carências. Vocês me ajudam a RENASCER toda vez que experimento a tentação do ‘não sentido, da morte interior, do desespero, da desmotivação, do desânimo. VOCÊS SÃO UM NATAL PARA MIM’! 
Que tenhamos também a coragem de dizer àqueles que não consideramos irmãos nem de fé e nem de caminhada, e que achamos que não se comportam como irmãos humanos, pois continuam a semear ódio, morte, mentiras, corrupção, esperteza, violência e desagregação: ‘meus prezados chegou a hora nos olharmos com outros olhos e nos tratar de forma mais humana, pois a nossa vida biológica é breve. Aproveitem esse Natal não para lançar mais ‘fake news’ de esperança e paz, de harmonia e luz, mas comecem a viver o que pregam somente nesse dia de Natal! Contem com a minha-nossa colaboração. Queremos que façam a experiência real de RENASCER! Juntos, tomemos consciência que precisamos caminhar mais para que vocês sintam quanto dói a ofensa, o chicote moralista, a perseguição e a calúnia, a tortura e a bala, a fome e a ferida jamais tratada’
Nesse Natal sejamos originais, uma vez na vida. Nada de votos, e sim, esforço sincero para vivenciar sistemática e permanentemente a verdadeira mensagem que brota da manjedoura de Belém: a PAZ é fruto da luta firme de homens e mulheres de boa vontade que sabem construir justiça e direito para todos! 

quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

Violência contra os indígenas do Maranhão, e a justiça infame. Uma reflexão inadiável

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Mal baixou a poeira do trágico assassinato que ceifou a vida de três indígenas na Terra Indígena Canabrava, sábado 07, que o Juiz de Barra do Corda, Sr. Quiroga Filho, informou, no dia 11 de dezembro, que irá levar a júri popular três índios Guajajara da mesma Terra Indígena supostamente envolvidos numa tentativa de homicídio de um delegado de Grajaú. Há cerca de dez anos atrás, o policial quis forçar a passagem por uma barreira erigida pelos índios na BR 226. Mesmo alertado para respeitar a decisão indígena, o delegado reagiu extraindo o revólver, dando alguns tiros intimidadores, e provocando a ira dos índios presentes que reagiram à sua agressão ferindo-o, levemente, na mão. Foi o suficiente para o juiz considerar os índios potenciais assassinos!
 O Senhor Quiroga Filho é o mesmo juiz que condenou em março deste ano três indígenas acusados de ter assassinado em 1999 dois comerciantes de Barra do Corda que, lastimavelmente, transitavam pela BR 226 logo após o atropelamento de um filho do cacique Moisés Guajajara. À época, um grupo de mais de 40 pessoas revoltadas com mais uma morte trágica, dominados pela comoção e sob uma forte emoção, acabaram ‘vingando a morte do parente’ nos primeiros transeuntes brancos que apareceram naquele momento. A Funai, para aplacar os ânimos dos regionais que ameaçavam invadir as aldeias, apresentou à justiça três jovens Guajajara, - alguns de menor idade, - que passaram longos sete anos na 9ª Delegacia de São Luís, à espera de um julgamento que veio, de forma viciada, 20 anos mais tarde. Mais uma vez, os crimes cometidos por indígenas nunca prescrevem!  Com eles a ‘justiça demora, mas não falha’!
No dia 13 de dezembro foi veiculada e confirmada a notícia de que mais um indígena Guajajara foi encontrado esquartejado juntamente com outra pessoa não indígena, dentro da T.I. Arariboia. A vingança parece ter sido o movente mais plausível. 
E, finalmente, no mesmo dia veio a confirmação da chegada à Barra do Corda da Força Nacional de Segurança Pública encaminhada pelo atual ministro da justiça, Sérgio Moro, no intuito de repor a ordem e a segurança naquela conflituosa região. 
Há, nesse complexo tabuleiro, peças que exigem uma análise mínima, aprofundada, pois há, de sobra, inúmeras e trágicas tendências e coincidências.

Dois mundos, duas culturas, duas identidades
No imaginário comum majoritário, seja ele o regional/popular, bem como o institucional/burocrático, os índios Guajajara estariam perfeitamente ‘integrados’ ou, como outros afirmam, ‘aculturados’, ou seja, destituídos da sua cultura originária, específica. Os índios, hoje, seriam perfeitamente conscientes de seus deveres e direitos para com a sociedade e o estado. Logo, nessa lógica de pensamento, os índios são plenamente responsáveis de todos os seus atos. Aceita-se, ainda, o cômodo equívoco segundo o qual o fato de os índios possuírem tecnologia, e usarem bens de consumo típicos da sociedade não indígena, estariam assumindo, simultaneamente, também seus modelos culturais. O fato de um indígena, por exemplo, saber falar razoavelmente bem o português e manipular com destreza um celular não significa, no entanto, que ele tenha deletado, automaticamente, as suas categorias de compreensão e de interpretação do universo adquiridas em seus processos de socialização na sua aldeia. É muito comum ouvir expressões tais como ‘eles, os índios Guajajara, são iguais a nós’, para significar que ‘eles perderam a sua cultura’! Portanto, ‘chega de considerá-los diferentes e coitadinhos. Eles sabem muito bem o que fazem! ’, e assim por diante. Em tudo isso há um claro propósito de ignorar a existência de diferentes e distintos níveis de compreensão de mundo entre os próprios índios Guajajara. Muitos não indígenas não conseguem entender que ao lado de setores indígenas profundamente conhecedores da complexidade da realidade social, cultural e política, regional ou nacional, existem outros setores do mesmo povo que mal falam a ‘língua oficial’ e que possuem formas de compreensão limitadas à sua realidade local, e que mantêm relações esporádicas com a sociedade do seu entorno. Longe de transformar todos os índios, indistintamente, em meras vítimas ‘relativamente capazes’, tolhendo-lhes responsabilidade e autonomia decisória, é inegável que não se podem jamais ignorar os distintos níveis de compreensão, de conhecimento e de responsabilidade (penal, inclusive) existentes, hoje, no complexo e amplo mundo dos Guajajara. 
Não se pode desconhecer que o povo Guajajara, na sua vasta pluralidade cultural, vem vivenciando o que poderíamos definir como uma espécie de ‘mutação identitária’! No intricado jogo de aceitação e de desconfiança, de disputas e de colaboração, de agressão e de tolerância com seus vizinhos, os Guajajara vêm sendo obrigados a reformular permanentemente o seu ‘Ser Guajajara’ tendo em vista a sua sobrevivência física e étnico-cultural. Diante das mudanças rápidas e radicais da sociedade em geral, os Guajajara tiveram que acelerar e reformular também o seu ‘ritmo cultural’. De um lado, evitando a sua incorporação pura e simples ao ‘ser não indígena’ e, do outro, procurando manter ainda em suas mãos, de forma razoavelmente autônoma, as rédeas do jogo da ’convivência social’. Ou seja, continuar a ser Guajajara de forma diferente, mas sem assumir o ‘ser do outro’. Aceitar, conviver e colaborar com o ‘SER Karaiw/branco’ sem abrir mão do seu ‘SER Guajajara’. Como diria o grande bispo católico Dom Hélder Câmara ‘Mudar, sempre, para continuar a ser o mesmo’! 

A sociedade etnofóbica da ‘tolerância zero’!
Sem querer mistificar um passado recente, observa-se, contudo, que uma década atrás havia, ainda, entre os não-indígenas, pessoas que reivindicavam com certo orgulho uma indefinida ascendência indígena. Parecia haver um esforço sincero em reconhecer a normal existência e aceitação das diferenças culturais. Muitos ‘Karaiw’ entendiam que também entre os indígenas coexistiam, misturadas, contradições e formas de colaboração/solidariedade, como ocorre em qualquer sociedade. Ao contrário, hoje em dia, tem-se a impressão que vem prevalecendo um desavergonhado julgamento popular, quase consensual, de condenar, sumariamente, tudo o que procede do universo indígena. O cometimento de ilícitos por parte de ‘alguns índios’, se transforma para o conjunto da sociedade num ‘ilícito coletivo’, de todos os indígenas, indiscriminadamente! É como se os índios não poderiam jamais cometer um crime, mas somente ser vítimas! É como se os indígenas, - idealizados por desconhecimento e ignorância, - fossem ainda os últimos representantes da pureza e da convivência harmoniosa que os não indígenas já não conseguem mais produzir. Ao não corresponderem, parcialmente, a essas formas de mistificação, os indígenas parecem ter destruído definitivamente aquele ‘paraíso terrestre’ que os não indígenas haviam projetado, e onde eles mesmos se sentiam ainda contemplados e acolhidos. A raiva da decepção e da desilusão justifica qualquer tipo de ação repressiva, policial ou não. E libera o ‘EU censor e moralista’, para praticar todo tipo de agressão e insulto, desprezo e humilhação moral contra aqueles dos quais se esperava só coisa boa, mas que não corresponderam! E se, além disso, existe uma fonte inspiradora de cunho negativo para tais ações anti-indígenas, - que tem sua origem na própria presidência da República, - então, todos os regionais podem se sentir investidos de uma espécie de mandato legítimo para atentar à integridade física e moral de qualquer indígena que aparecer no caminho! Estariam, afinal, cumprindo com o seu dever cívico de colaborar com o chefe supremo da nação!

Justiça infame: aos amigos os favores da lei; aos ‘índios’ os rigores da lei!
Um outro elemento que salta aos olhos em todos esses acontecimentos é que a justiça formal, aquela que é ‘tramada’ nos fóruns, delegacias, gabinetes e varas, utiliza como metodologia sistemática a dos ‘dois pesos, duas medidas’, a segunda do freguês que é indagado e processado. Se é verdade que esta parece ser, talvez, uma tendência generalizada no nosso País quando se trata de ‘pobre, preto, puta e... periférico’, no entanto, no caso em que o suspeito ou o réu é um indígena, sabe-se, de antemão, que a sua condenação é certa. Na onda do ‘punitivismo e do subjetivismo judicial’ que assola amplos setores da atual ‘Justiça’ do nosso País, Juízes e Promotores, disputam entre si ‘a pena exemplar’ a ser infringida ao réu indígena. E quase sempre é acolhida com aplausos por uma imensa plateia sempre mais ávida de castigos, não de ‘restauração humana’! 
Levar, por exemplo, a júri popular um caso que envolve indígenas na região de Grajaú-Barra do Corda, - em cujos bancos (do júri) jamais sentará um representante indígena, - é condenação certa, considerados os sentimentos de ódio e de intolerância existentes contra os vizinhos indígenas. Ou, julgar, com os olhos e os condicionamentos de hoje, - após 20 anos do cometimento de um crime, - a responsabilidade penal dos envolvidos indígenas, soa a má fé. Não somente porque o crime deveria estar prescrito, ou porque os réus ficaram a esperar ‘injusta e provisoriamente’, na cadeia, por longos sete anos um julgamento imparcial, mas também porque nunca lhes foram oferecidas as condições ‘diferenciadas’ mínimas de defesa. De fato, nem juiz e nem promotores em momento algum consideraram as evidentes dificuldades de compreensão linguística e cultural, disponibilizando, por exemplo, um tradutor ou um antropólogo. Nada de específico e diferenciado para os indígenas que, ironicamente, são considerados ‘iguais a nós’ (a nós, quem, afinal?) na hora de serem punidos pelos ‘karaiw/brancos’! Ficaremos aguardando, contudo, que essa mesma ‘Justiça’ seja célere e eficiente em identificar e capturar os assassinos dos três indígenas assassinados no dia 07, entre El Betel e Boa Vista, do adolescente indígena esquartejado no dia 12 do mesmo mês na T.I. Arariboia, e de muitos outros homicídios e atropelamentos fatais de Guajajara, jamais investigados, e julgá-los com a mesma ‘imparcialidade’ que os ‘três réus indígenas’ atualmente aprisionados em Barra do Corda!

O tempo acabou! ‘Chega de diálogo e de negociação com índios’!
Um último elemento a ser considerado nessa análise despretensiosa nos é ditado pelo ‘modus operandi’ daquelas instituições federais ou estaduais, (PF, Polícia Civil, Secretarias, Varas, Eletronorte, etc.) que lidam direta ou indiretamente com os indígenas, os Guajajara da BR 226, especificamente. Parece existir, - embora com as devidas exceções, - uma tácita compreensão de que o diálogo, a negociação paciente, o ‘antropologicamente correto’, as audiências públicas, o respeito das competências formais em Terras Indígenas, os TACs, etc. se esgotaram de vez. Tem-se a impressão que segundo esse conjunto de instituições chegou a hora de começar a tratar os índios sem lhes conceder ‘privilégios e atenuantes’ de qualquer gênero. Como se, até agora, elas tivessem praticado rigorosamente tudo isso! Nesse momento atual não sentem nenhuma pressão social para inibir ou censurar seus abusos. Os povos indígenas, hoje como no passado, continuam sendo considerados um ‘estorvo ao progresso do País’. Eles e seus imensos territórios mal aproveitados estariam atrasando o pleno desabrochar do gigante que se autodefine produtivo, ordeiro, democrático. Para os senhores do desenvolvimento a qualquer preço é inaceitável tolerar qualquer tipo de ‘baderna, onda, mobilização, barreira, vigilância, vandalismo’ indígena à implantação escancarada de um modelo econômico e cultural que é patentemente espoliador. 
Poucos setores da sociedade percebem que, hoje em dia, a única forma que os povos indígenas possuem para serem vistos, ouvidos e respeitados continuam sendo aquelas formas de resistência ativa consideradas ‘ilegais’ pelo estado e seus asseclas. Acabou a comoção nacional quando um índio é assassinado. E não são mais objeto de solidariedade e de atenção pela imprensa subserviente suas ‘insignificantes’ reivindicações por água potável, educação diferenciada, assistência médica respeitosa, estradas de acesso, terra livre, etc. Poucos enxergam nas cegas omissões, nas reiteradas negligências e nas criminosas cumplicidades do estado e de várias instituições, com relação aos povos indígenas, verdadeiros atos ilegais a serem coibidos e punidos. Nesse momento alucinante da nossa história é como se o estado fosse incapaz de cometer ilícitos, ou como se ele tivesse em mãos um amplo e permanente mandado de ‘excludente de ilícito’ para aprontar impunemente contra os povos indígenas e tantos outros grupos sociais.  Muitos indígenas se distanciam de ‘um conjunto de leis, decretos, portarias, liminares, PECs, etc.’ pregados por um estado que os excluiu sempre mais, e que os indígenas não o reconhecem como parceiro. Por causa disso, os povos indígenas no Brasil acabam assumindo aos olhos de tantos hipócritas institucionalizados uma aparente ‘ilegalidade’. Contudo, mediante suas ‘legítimas mobilizações’, eles desmascaram e responsabilizam, diretamente, um estado cada vez mais agressor e que age impunemente. E o destituem  de sua pretensa ‘legalidade e legitimidade’. Em outras palavras, o estado, hoje, no que diz respeito à sua relação com os povos indígenas, é o verdadeiro criminoso a ser combatido e detido! 

Existem, de fato, inúmeras provas em que o estado, ao longo desses 4 anos, através de suas políticas e polícias, - sob o pretexto de combater o ilícito indígena, -‘têm invadido’ a alma e o território dos Guajajara. Tem violado, sem mandado judicial, os domicílios indígenas, ameaçando e agredindo pais de família, destruindo e roubando objetos e bens pessoais, e prendendo como reféns pessoas inocentes e torturando-os para que entregassem ‘os supostos culpados’. No caso específico do trecho indígena na BR 226, altamente conflituoso, se de um lado é inegável uma participação indígena no cometimento de ilícitos, do outro lado é indiscutível a proteção e o suporte que é fornecido por grupos externos. Pessoas poderosas que vivem no entorno e que jamais são investigadas e questionadas pela Polícia Civil e/ou Federal, ou pela própria Promotoria Regional. É mais fácil prender o ‘peixe pequeno e mais frágil’ e, sob o pretexto de garantir paz e segurança ‘aos cidadãos de bem’, cometer abusos de todo tipo contra ele. Se houvesse, de fato, por parte do estado, o real interesse em debelar a praga dos assaltos e de outros ilícitos, começar-se-ia a investir na ‘inteligência’ e em políticas públicas específicas. Algo que não interessa ao estado-cúmplice!
O recente envio da Força Nacional de Segurança Pública à Terra Indígena Canabrava, além de se constituir numa ‘ilegalidade’, - pois em momento algum as comunidades indígenas afetadas foram consultadas sobre a sua necessidade e/ou conveniência, - irá impactar, mais uma vez, negativamente, o cotidiano das comunidades. E, dessa forma, adiar-se-á, mais uma vez, uma solução definitiva para os conflitos existentes. Algo que jamais virá mediante a intervenção de um grupo militar armado, e despreparado para lidar com indígenas. Infelizmente, no atual momento histórico, tudo parece encontrar solução na bala, no grito, na farda, na porrada e na prisão. Silenciados estão, contudo, os gritos e as dores de centenas de aldeias das Terras Indígenas desse Estado, e de tantas outras que abrigam milhares de indígenas sedentos de paz, de harmonia, de convivência fraterna, e de respeito. 

São Luís,18 dezembro, 2019

Claudio Bombieri – Comboniano e presidente da Associação Carlo Ubbiali

sábado, 14 de dezembro de 2019

3º Domingo de Advento - Não um 'messias' poderoso, mas um povo de messias servidores e libertadores! (Mt.11, 2-11)

Quando numa sociedade aumentam os níveis de decepção e de sentimentos de fracasso, em geral, aparece com mais vigor, a íntima expectativa de um ‘salvador da pátria’! Um messias onipotente que, com braço forte e língua afiada, transmita aos decepcionados e aos desanimados impotentes a sensação de segurança e de superação de seus problemas e dramas sociais. Esta parece ser uma constante na história da humanidade em quase todas as culturas. Em geral, reflete a postura de um povo que perdeu as esperanças em si mesmo. Que se acha incapaz de enfrentar com sucesso os desafios que vem experimentando. Que delega para uma espécie de super-homem ideal e externo a si próprio o que ele mesmo deveria e poderia fazer. Esta era a situação percebida por vários setores da sociedade judaica na época de Jesus de Nazaré. João Batista era a expressão mais evidente de tudo isso. Ele imaginava o ‘salvador da pátria’ como uma espécie de ‘purificador social’. Com métodos fortes, de forma autoritária, sem muita conversa, e sem exigir colaboração e ajuda de ninguém, o ‘messias’ de João viria para atender às expectativas de um povo que havia deixado de acreditar em si próprio. Do mesmo jeito que ocorre hoje em dia no nosso país. João fica decepcionado com Jesus porque o Mestre da Galileia parece não corresponder a suas específicas expectativas e cobra dele um esclarecimento urgente e definitivo. Afinal, Jesus aparecia como o anti-messias. Ele ‘perdia’ tempo com doentes e mendigos, com mulheres e crianças, se preocupava até com aqueles ‘impostores’ que, ao contrário, deviam ser eliminados, 
Com razão, João pede a Jesus que esclareça essa sua postura que vai na contramão de tudo o que ele tinha aprendido e pregado. E Jesus, mais uma vez, decepciona João Batista. Não responde à sua pergunta se, de fato, era ele próprio o messias ou devia esperar outro. Jesus desloca radicalmente a questão e mostra a João e a todos aqueles que como ele acreditavam num salvador da pátria forte e poderoso qual é a missão de Jesus e de todos os que acreditam nele e na sua metodologia. Jesus lista seis ações, -  como seis foram os dias da criação, - em que ‘as pessoas’ se transformam e se recriam. Ações em que não um salvador da pátria realiza prodígios, mas onde as pessoas, de forma prodigiosa, começam a enxergar, a ouvir, a caminhar, a dialogar, a renascer. E onde em  lugar da 'vingança de Deus 'o ‘alegre anúncio’ de uma vida nova é dirigido aos pobres, e não aos poderosos de sempre. Messias são todos aqueles que aprendem a acreditar e a caminhar com outros irmãos que fazem a experiência das suas mesmas fragilidades e qualidades, que começam a enxergar o poder que têm dentro de si, que não se deixam vencer pelo desânimo e pela decepção, e nem pelo aparente fracasso. E que descobrem que cabe a eles mesmos, os pobres, a missão de mobilizar outros pobres para que juntos, como uma ‘nação de messias’, possam ser ‘alegre anúncio e salvação’ para todos, e não para alguns eleitos. Que ninguém renegue o ‘messias’ que tem no seu coração, na sua mente, na sua alma, nos seus braços, nas suas pernas! Para que sejamos um povo de messias  humildes,servidores....libertadores dos 'falsos Messias...'!

sábado, 7 de dezembro de 2019

Dois caciques pais de família Guajajara são covardemente assassinados e outros dois feridos na Terra Indígena Canabrava, Maranhão


Uma chacina ensanguentou o asfalto da BR 226 numa aparente pacata manhã desse sábado, 7 de dezembro, entre as aldeias El Betel e Boa Vista, na Terra Indígena Canabrava, no eixo Grajaú-Barra do Corda, Maranhão. Não foi atropelamento, - algo que ninguém divulga, - e nem o trágico resultado de um dos famigerados assaltos que ocorrem na região. As vítimas foram, mais uma vez, dois pais de família Guajajara que habitam as numerosas aldeias que margeiam a estrada. O balanço atual (às 16.00 horas da tarde de sábado) é de dois mortos e de pelo menos 02 feridos. Várias fontes indígenas locais convergem em seus relatos. Segundo eles um carro branco teria passado atirando pela BR 226, logo após uma grande reunião na aldeia Coquinho, - que contou com a presença de muitos caciques para debater questões relacionadas aos impactos produzidos pela Eletronorte na terra Indígena Canabrava. Na breve ladeira que leva à aldeia El Betel um número não identificado de pessoas de dentro de um carro branco começou a atirar nos índios que transitavam à beira da estrada. Foi morto, no instante, um cacique que vinha na moto, e ferido outro que vinha junto na garupa. Mais adiante, nas proximidades da aldeia Boa Vista foram desferidos mais tiros ferindo vários indígenas. Segundo Genildo Guajajara, um dos feridos, morador da aldeia Filipe Bone, veio a falecer um pouco mais tarde e outro em situação grave. O fato produziu uma forte revolta nos demais indígenas que fecharam imediatamente a BR 226 com troncos e pedras. Um ônibus que vinha transitando na BR ao ver a tentativa dos índios de bloquear a estrada, e ignorando o que havia acontecido, acelerou, temendo que fosse um assalto. Em resposta os manifestantes apedrejaram o ônibus, mas sem ferir nenhum passageiro.
Segundo o cacique Genildo Guajajara, embora seja cedo para identificar os motivos reais de tal ataque, considera que os criminosos, ao agirem dessa forma covarde, se sentiram inspirados e, de alguma forma, amparados pela postura anti-indígena do atual presidente da República. “Sempre tive em alta consideração o exército brasileiro. Alimento uma profunda admiração por tudo o que o marechal Rondon fez pelos índios do Brasil. Agora, irônica e tragicamente, o mesmo exército produz em suas fileiras um grande inimigo que odeia e detesta índios. Muitos criminosos e racistas se acham no direito de fazer aquilo que o primeiro mandatário faria nas mesmas circunstâncias!’ Caciques indígenas informam que amanhã, domingo 8, uma comissão estadual de Direitos Humanos estará se deslocando até a BR 226 para tentar ‘apaziguar os ânimos’. Que não seja mais uma embromação para adiar uma inadiável e competente investigação, e capturar os responsáveis dos homicídios desse sábado, e levá-los ao banco dos réus. Afinal, na vizinha Barra do Corda, três índios Guajajara estão cumprindo uma pena de 47 anos por um homicídio ocorrido 20 anos atrás na mesma BR 222, mesmo após ter cumprido 07 (sete) anos na nona delegacia de São Luís, aguardando um julgamento que só aconteceu em março desse ano. ‘Para os inimigos só os rigores da lei,’ para uma ‘justiça’ que vem tirando sistematicamente a venda da imparcialidade. A situação na BR 226 é de profunda indignação e de imprevisível desfecho.  


Festa da Imaculada Conceição – Todos nascem na Graça e pela Graça, e não no pecado!


Todo filho de Deus nasce sem mácula. Sem pecado original algum! É concebido ‘de forma imaculada’!Todo homem e toda mulher é gerado pela Graça, e herda, ao nascer, só a Graça e o Amor do Pai/Mãe, Senhor da vida. Maria, na qualidade de filha de Deus, - e não por ser a mãe biológica de Jesus, - foi gerada e nasceu na Graça e pela Graça. Da mesma forma que um bebê desse planeta amado e moldado pelo Pai/Mãe! Por que Deus deveria ‘poupar’ só Maria de ser concebida sem mancha se para Deus toda vida é fruto do seu ‘sopro criativo amoroso’? E não como resultado de um pecado original que jamais chega a ser mais forte e mais determinante que o Amor e a Graça de Deus! Maria nasceu, - igual a cada um de nós, - embalada no imenso carinho e no puro afeto divino. Por que celebrar, então, a Imaculada Conceição de Maria? Justamente para lembrar para os seres humanos, homem e mulher, que mesmo condicionados pelas fragilidades e pelas maldades, podemos produzir dentro de nós e para o mundo a Graça e o Amor nos quais fomos gerados. Dito com outras palavras: descobrir dentro de nós o ‘amor originário’ – e não um suposto ‘pecado original’. E, a partir dessa consciência, transformar pela graça e pelo amor uma realidade que, aparentemente, se deixou imbuir desde o começo pela força brutal do ódio, da violência, da indiferença, do egoísmo. Que nunca esqueçamos o amor originário do Pai/Mãe no qual fomos gerados, mesmo quando fazemos a experiência do nosso pecado! 

sábado, 30 de novembro de 2019

Iº Domingo de Advento – Só os antenados com os acontecimentos da história são ‘levados e escolhidos’ para construir o ‘novo’ inaugurado pelo ‘Filho do Homem’(Mt. 24, 37-44)


Todo acontecimento em que nos sentimos envolvidos manifesta várias facetas. Pode ser fonte de alegria e de esperança para alguns, ou de dor e de tristeza para outros. Mas pode ser uma coisa e outra, mesmo que, por exemplo, a alegria e a tristeza não se misturem naquele exato momento em que um determinado acontecimento nos surpreende. Ou seja, podemos fazer a experiência inicial da tristeza no momento preciso em que algo dentro de nós parece morrer. Mas, com o tempo, chegamos a compreender, por exemplo, que aquilo que parecia ser um acontecimento triste e doloroso, - e foi assim que o encaramos naquele momento, - pode ser tornar fonte de esperança e de renovação. E isto porque aquele acontecimento que nos fez sofrer, inicialmente, nos ajudou, mesmo nas lágrimas, a entender o sentido da nossa vida. Ou, porque aquela experiência de dor nos ajudou a amadurecer na nossa estrutura humana e emocional. Muito depende do como encaramos os acontecimentos da nossa vida, sejam eles quais forem. A partir dessa breve consideração podemos compreender o alcance do evangelho de hoje. Jesus nos alerta que devemos estar sempre antenados em compreender o que está acontecendo ao nosso redor, e como isso vai ecoar dentro de nós. Como podemos encarar uma realidade que se apresenta sempre com cara nova. Jesus nos diz que o que, aparentemente, pode significar destruição, abandono, e barbárie pode ser, ao contrário, o início de um novo momento na nossa vida e na vida de tantas vítimas. Nunca dar por descontado ou irreversível o que acontece na nossa vida. Nunca se conformar com o que parece ter cara de solidez, de imutabilidade, de...eternidade. A história e as pessoas que a tornam possível podem nos surpreender. Os que se achavam ‘castigados e desgraçados’ podem a qualquer momento compreender que a sua situação não é vontade divina e podem reagir de forma surpreendente produzindo grandes reviravoltas. Mas é preciso ‘ficar antenado’ com o ‘novo’ que o Filho do Homem’, Jesus, vem provocando na realidade humana. Somente quem percebe a urgência de ‘mudar os rumos da história’ e vê as reais possibilidades de transformação é que é ‘acolhido e levado’, e os outros, os desligados da vida, serão ‘deixados’ ao seu próprio destino. Pagarão as consequências de sua falta de atenção com o alcance e sentido dos acontecimentos da história. Não servem para construir uma nova realidade que é o que o Filho do Homem deseja para todos. 

quarta-feira, 27 de novembro de 2019

Na Bahia, polícia militar e federal despejam mais de 2.000 lavradores que lá estavam desde 2012. Violência inaudita provocou feridos e traumas em crianças, mulheres e idosos...

Bombas de gás, spray de pimenta, casas destruídas, trabalhadores feridos e cerca de 700 famílias sem ter para onde ir. Essa é a situação dos acampamentos Abril Vermelho, no Projeto Salitre, em Juazeiro, Irmã Dorothy e Iranir de Souza, no Projeto Nilo Coelho, em Casa Nova (BA). Os despejos violentos realizados pela Polícia Federal, que tiveram início na madrugada de hoje (25), cumprem mandados de reintegração de posse em favor da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf).

Em Juazeiro, os/as integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) ocupavam a área desde 2012. No local, há uma produção diversificada da agricultura familiar. “Aqui sustentava pra mais de duas mil pessoas, o projeto é grande, tem banana, coco, tem todo tipo de fruta. A gente alimentava o Ceasa, e o que a gente faz aqui dentro alimentava também a mesa de quem tá fazendo isso aí [destruindo o acampamento]”, desabafa o acampado Francisco Nascimento.
De acordo com os acampados/as, o despejo começou por volta das 5h. “Começaram a soltar a bomba de gás, muita criança desmaiou, velhos também desmaiaram, um companheiro foi atingido na cabeça e foi para o hospital”, relata Francisco. No local, há grande presença das polícias Federal e Militar, inclusive sobrevoando a área. Durante a manhã, a via que dá acesso ao acampamento Abril Vermelho estava bloqueada pela Polícia Militar, que impedia qualquer veículo de passar, até mesmo a imprensa.

“Isso é muita crueldade, os alunos, os sem terrinhas, as crianças aqui do acampamento [Abril Vermelho], algumas ainda dormindo, acordaram sem ar por conta da fumaça que foi muito grande”, comenta a professora e liderança do MST Socorro Varela. O clima nos acampamentos é de muita tristeza, horror e destruição. “A gente está triste, com o coração abatido, com o coração triste mesmo, vontade de chorar. Não temos lugar pra ir, estamos na mão de Deus”, diz um dos despejados. Diante de toda essa violência e repressão do Estado, que está aliado aos interesses dos projetos do capital, os/as acampados afirmam que vão resistir. “O povo lutador não vai se calar, nós vamos ter nossa terra porque nós vamos continuar buscando e precisamos da nossa terra. A gente sabe que aqui o agronegócio fortalece os órgãos públicos e assim existe uma parceria entre eles”, destaca Socorro. A professora acrescenta ainda que “o povo do acampamento Abril Vermelho pede justiça, terra, água, energia, escola e vida digna para os trabalhadores/as”.

A Comissão Pastoral da Terra (CPT) reitera o repúdio à decisão judicial que determinou a reintegração de posse dos acampamentos Abril Vermelho, Irmã Dorothy e Iranir de Souza, e manifesta solidariedade aos trabalhadores/as atingidos pelos despejos. (Fonte: CPT)

FASCISMO JÁ CHEGOU AO BRASIL. Manganello e olio per chi non accetta...Por Luis Nassif

Os idiotas da objetividade analisam as dificuldades de Jair Bolsonaro com o Parlamento para apregoarem sua obediência aos limites da democracia. Todas as demais evidências, declarações contra a democracia, iniciativas em torno da GLO (Garanrtia da Lei e da Ordem), eliminação de conselhos de participação, são ignoradas. Pior, ignoram-se os sinais evidentes de espalhamento das medidas ditatoriais por todo o país.

Em Porto Alegre, a Brigada Militar espanca e manda para hospital duas professoras que tinham comparecido ao Palácio do Governo para negociar com o governador.

No Rio de Janeiro, a Policia Militar de Wilson Witzel acaba com a festa da torcida do Flamengo, jogando bombas de gás lacrimogênio sobre uma multidão pacífica, no meio da qual estavam famílias, idosos e crianças.

Em São Paulo, o Tribunal de Justiça manda para a prisão Preta e Carmen, duas das maiores lideranças pacíficas do Movimento dos Sem Teto do Centro, com base em um inquérito policial manipulado. Em Brasília, Bolsonaro tenta o excludente de ilicitude para policiais que reprimirem manifestações de rua, permitindo invadir atribuição de Estados para desalojar invasores de terra.No 

Rio de Janeiro, há uma discussão entre a Polícia Federal de Moro, e o Ministério Público Estadual, para saber quem blinda primeiro Bolsonaro nas investigações de Marielle Franco. 

Em Porto Alegre, prossegue o aparelhamento do TRF4, com manobras para manter a 8ª Turma (que julga os processos de Lula) sob controle de desembargadores parciais, afastando desembargadores isentos.

Insisto: o país caminha para o fascismo. E o impulso maior vem da cabeça da serpente, a presidência da República, espalhando a sensação de impunidade e estimulando a repressão por todos os poros da República. Cada dia de vida do governo Bolsonaro é um passo a mais rumo ao fascismo. Meses atrás, a correlação de forças entre instituições e o governo assegurariam o impeachment, ante um sem-número de episódios de quebra de decoro, especialmente nos ataques à democracia.O Bolsonaro de hoje está mais forte, e mais forte estará amanhã. 
O caso Marielle Franco é a última oportunidade antes da Marcha Sobre Roma do fascismo brasileiro.

domingo, 24 de novembro de 2019

34º Domingo comum - Que rei é esse? SOLENIDADE DE JESUS SERVIDOR DO UNIVERSO! (Lc. 23, 35-43)

Quem já afirmou, peremptoriamente, que os chefes das nações, por sua própria natureza, tiranizam e dominam as populações, jamais poderia aspirar a ser rei! Quem deixou claro para seus seguidores que Ele, o Mestre, estava no meio deles como ‘aquele que serve’, e que todos deviam ser servidores uns dos outros, jamais poderia confabular para obter um título de prestígio ou um cargo real! No entanto, seja a igreja, bem como os ‘romanos’ da época, o definem ‘Rei’. A igreja continua adotando essa terminologia arcaica e ‘demodée’ para dizer que só Jesus governa com justiça e equidade. E os ‘romanos’ de forma irônica o definem como tal justamente por ser expressão do seu contrario. Um exemplo de anti-rei, e de anti-poder. Mais coerente seria trocar, de uma vez por todas, a solenidade hodierna assumindo o real sentido da prática integral de Jesus de Nazaré ‘Jesus SERVIDOR do universo’, pois um rei jamais serve. Por isso podemos entender o sentido da imposição do ‘silêncio’ àqueles que o definiam e o compreendiam como ‘messias’, ‘ungido’, ‘filho de Davi’... Da mesma forma, entendemos porque Jesus fugia e se retirava em lugares isolados toda vez que percebia algum movimento de massa para torná-lo ‘rei’, ou seja, ‘líder político’! Jesus, de forma sagaz, sabia que no ideário popular, associada à ideia de rei estava a ideia de ‘poder’, ‘triunfo’, ‘força ilimitada’. Logicamente, para quem se entende como servidor não era possível conjugar duas práticas totalmente opostas e antagônicas. Um servidor jamais iria triunfar e dominar. Um rei-líder político jamais serviria e ocuparia os últimos lugares! Isso tem um reflexo fundamental na vida pastoral das igrejas cristãs e daqueles que se autodefinem seguidores e missionários de Jesus: rejeitar toda tentação de poder político, de megalomania, de ostentação e de privilégios. É na consciência da própria fraqueza que somos fortes. É na cruz, na perseguição e nas provações que podemos ser sinal radical de fidelidade a um povo sem esperança e sem direitos. É na acolhida misericordiosa do ‘bandido arrependido’ que podemos denunciar aqueles reizinhos mesquinhos sedentos de sangue e de punição. Para estes, só as balas de seus milicianos e as sentenças viciadas de seus juízes lambe-botas resolvem. Já para o ‘SERVIDOR DO UNIVERSO’ só a ternura, a compreensão e a infinita misericórdia de um pai que aguarda a mudança do filho até o fim!

sexta-feira, 22 de novembro de 2019

PAI NOSSO - Síntese final.....

‘Pai nosso que estás no céu, Papai nosso que estás aqui....’ Não te chamamos de ‘todo-poderoso’, pois para nós, Você é o ‘Todo-misericordioso’. Na nossa ‘Família Planetária’ cuida de cada criatura com imensa doçura. Você ama como uma mãe entranhada de ternura. Na Sua família somos todos reconhecidos como gente. Nela, não há espaço para o soberbo e o prepotente. Dos seus filhos só valoriza a bondade, e ignora toda a sua maldade. Com firmeza segura a nossa mão quando caímos, e nos abraça quando traímos. Com Seus braços nos sustenta, e pelos caminhos da luz, com paciência, nos conduz. 

‘Seja santificado e reconhecido o teu nome....’Pois nele está o seu bem-querer. Ele revela  Suas mais puras intenções, e o Seu modo amável de preencher os corações. É amando como Você nos ama que o Seu nome nós santificamos. É na terna compaixão que o louvamos. O Seu nome, ainda hoje, é na mentira manipulado, e na violência, continuamente blasfemado. É no serviço ao pobre que ele é definitivamente revelado. E na firme defesa da viúva e do órfão, glorificado. Dai-nos a coragem de clamar contra quem ofende e difama o nome santo dos pequenos que não têm fama. 

‘Venha a nós o Seu jeito terno, pois só um Pai Eterno pode nos governar paterno...’ E ajudai-nos a eliminar a indecência de quem governa com truculência. Pois, na Sua realeza, não cabe bajulação e nem malvadeza. Não acredita no poder das armas fatais, mas na beleza das flores e na cantiga dos pardais. Na Sua realeza só haverá fraternidade se construirmos juntos solidariedade. Da escravidão teremos liberdade. Da discriminação, igualdade. Sem fome, teremos fartura. E ao pobre e ao necessitado, lhes concedei, enfim, o Reinado. 

‘Seja cumprida a Sua vontade no céu azul, bem como na terra de cada um....’ pois acreditamos que até as horas tristes e escuras não é Você que as procura. No seu insondável coração só cabe retidão, pois rejeita toda punição. Queremos acolher a Sua vontade que é para nós luz e verdade, Ela indica a Sua bondade, e fortalece nossa irmandade. Você conhece a nossa vontade: é a de ter e de possuir; por isso Te pedimos: concedei-nos o dom de acolher e de servir. 

‘Dai todo dia o alimento necessário, para o pobre e o operário...’ O pão que não se estraga, o pão celestial, que não ilude e não engana. Concedei-nos a coragem de distribuir equanimemente o alimento que é acumulado sistematicamente. Pedimos-te o pão da liberdade para que seja distribuído com generosidade para todo escravizado. E o pão da justiça para saciar a fome do inocente condenado. Dai-nos permanente indignação para eliminar desemprego e acumulação e, sem sonegação, nos fartaremos do pão da partilha e da comunhão. 

‘Cancela as nossas dívidas, pois nós já as cancelamos a todos os nossos devedores’... Aprendemos que é na gratuidade que derrotamos a dureza de coração, e a maldade. E na compaixão, varreremos a brutalidade. È quando fazemos a experiência exaltante do amor radical que descobrimos a Fonte do perdão incondicional. Sentimos o peso da nossa intolerância, mas concedei-nos, ó Pai, misericórdia em abundância. Pedimos-te, enfim: dai-nos ousadia de ‘despedir de mãos vazias’ os muitos credores de tantos trabalhadores.   

‘E não nos deixe sucumbir quando a ‘grande prova’ cair.... Fica, ó Pai, ao nosso lado na hora em que o calvário teremos de subir. Não deixe que fujamos nem da espada e nem da cruz. Não permita que sejamos arrastados pela esperteza, e pela corrupção que seduz. Afasta de nós o cálice inebriante da tentação do poder que reluz. Ajudai-nos a desmanchar a cruz de tantos crucificados, nela pregados por desumanos ‘Pilatos’! Ajudai-nos a libertar a nossa ‘Terra Santa’ ainda sitiada por abusos e assassinatos. E, confiantes, Lhe entregar o nosso espírito e mandato. E, sem medo, continuaremos a ‘inspirar’ o espírito do Seu ‘Filho Crucificado’. E, mesmo na tortura, não pararemos de chamar com ternura ’PAPAI NOSSO, AQUI ESTOU’!

( Artigo mensal desse blogueiro é publicado no O Jornal do Maranhão da Arquidiocese de São Luís do Maranhão)

PAI NOSSO - ........AMÉM

A repetição mecânica de muitos hábitos religiosos nos impede de saborear o sentido profundo da expressão bíblica ‘AMÉM’. A sua exagerada utilização tende a banalizar e a esvaziar o que para a tradição bíblica significa adesão consciente a valores essenciais da vida. Os abusos a que assistimos, hoje em dia, incentivam as pessoas a macaquear supostos líderes e suas doutrinas. O seu fruto imediato é, paradoxalmente, o assim chamado ‘povo do amém’! Um povo que aceita passivamente o que alguns iluminados lhe ditam. Precisamos resgatar e incorporar o sentido e a prática poderosa que o AMÉM expressa. A saber: um intenso e coerente ‘ASSIM ACONTEÇA’ a tudo o que o Pai Nosso propõe, constantemente, aos seus filhos e filhas! 

Vivemos, inegavelmente, numa realidade onde parece predominar a desconfiança metodológica e a suspeita sistêmica. Sabemos o quanto dói fazer a experiência da traição e da decepção. Principalmente, quando pessoas próximas nos faltam com a ‘palavra dada’! O que era para nós a expressão máxima da integridade moral de uma pessoa, a palavra dada parece ser, agora, um penduricalho de um passado remoto. Promessas são descumpridas, alianças e amizades se liquefazem em disputas, sem trégua. Ficamos com um pé atrás inclusive quando encontramos pessoas generosas e cumpridoras de compromissos. Imaginamos que até elas estariam escondendo, estrategicamente, o jogo, para nos dar o bote, lá na frente. As mudanças culturais ocorridas ao longo desses anos parecem ter deformado o caráter de uma pessoa, e a sua integridade ética. Até a expressão ‘homem ou mulher de princípios’ está rareando na era da pós-modernidade! 
É nesse contexto que surge como um feixe de luz inspirador o ‘Deus do Amém’ (Is. 65,16). Ou seja, o Deus que é fiel à palavra dada. Aquele que diz ‘assim seja’, e tudo é realizado. Nele não existe separação entre o dizer e o fazer. A expressão ‘Amém’ que tão banalmente é berrada por comentaristas litúrgicos, após uma comunicação qualquer, para que a assembleia a repita em volume redobrado, nada tem a ver com o profundo significado da nossa tradição bíblica. ‘AMÉM’ é adesão formal e consciente a uma proposta, a um convite, a um projeto de vida que o Pai nos dirige, continuamente. É um compromisso consciente e público em dar corpo a um projeto de justiça e de fraternidade que nos é dirigido pelo Pai, e que cabe a nós realizar. 
Um exemplo elucidador nos é oferecido pelo livro do Deuteronômio:‘Maldito o homem que fabrica ídolos e os erige mesmo que seja em lugar escondido! E todo o povo responderá: Amém!Maldito o que despreza o pai e a mãe! E todo o povo dirá: Amém!Maldito o que viola o direito do estrangeiro, do órfão e da viúva! E todo o povo dirá: Amém!Maldito quem aceita presente para levar à morte o inocente! E todo o povo dirá: Amém!’(Deuteronômio 27, 15-26) O ‘Amém’ do povo não é uma mera ‘resposta litúrgica’ automática. E nem uma declaração de submissão. É resposta compartilhada ao plano que Deus quer! Ao assumir o ‘ASSIM SEJA FEITO’ o povo não somente compartilha a ‘vontade do Pai’, mas se compromete a realizá-la efetivamente. É o mesmo ‘Amém’ que Maria disse ao anjo Gabriel para se tornar uma aliada do Pai na reconstrução de uma nação desesperançada. Mesmo sem entender plenamente a vontade do Pai, Maria não lhe resiste, pois percebe que ela visa trazer a ‘Plenitude da vida’, Jesus, para a grande família humana. 

Também o nosso papa Francisco nos lembra de forma magistral como atualizar o ‘Amém’ aos nossos dias: ‘...A própria Igreja é uma rede tecida pela Comunhão Eucarística, onde a união não se baseia nos gostos, mas na verdade, no ‘AMÉM’ com que cada um ‘ADERE’ ao Corpo de Cristo, acolhendo os outros’.  Um ‘Amém comunitário’, livre e altivo, para libertar pessoas, e não para impor obediência cega e subserviência. É o ‘Amém’ que numerosos bispos, leigos, e padres, juntamente com o papa, praticaram dias atrás, em Roma, por ocasião do Sínodo sobre a Amazônia.  Nesse ‘Amém’ eles se abriram para acolher sincera e humildemente os clamores da criação e os gritos de socorro de tantos filhos e filhas feridos. Eles, juntamente com inúmeros missionários/as do Pai Nosso, compreendem que são chamados e enviados não para serem meros executores de tarefas religiosas, mas cumpridores de um ‘Plano/Missão que liberta seres vivos ameaçados e cativos’. Que transformam o ‘Amém’ proclamado liturgicamente num compromisso profético capaz de motivar mais pessoas para recosturar a ‘grande família do Pai’! É, enfim, o ‘AMÉM’ supremo gritado por Jesus de Nazaré na cruz, quando percebe que ‘tudo estava realizado’! Na hora da morte Jesus ‘EXPIRA’ o seu Amém para que a nova igreja, que está debaixo da cruz, ‘INSPIRE’ para dentro de si o Seu mesmo AMÉM. Não uma fórmula, mas uma opção radical de amor e de serviço. Que cada um de nós seja um fiel e permanente ‘AMÉM’ do Pai! 
 (artigo mensal desse blogueiro publicado no O Jornal do Maranhão da Arquidiocese de São Luís)

sábado, 16 de novembro de 2019

Cientistas desmentem o Bozo e provam que queimadas aumentaram por causa das altas taxas de desmatamento

Uma dos argumentos mais usados por Jair Bolsonaro para tentar justificar o aumento das queimadas na Amazônia – de que o fogo tinha origem nas roças de pequenos agricultores – foi desconstruído por pesquisadores de universidades do Brasil e do Reino Unido.Em carta ao editor da revista científica Global Change Biology, publicado nesta sexta-feira (15), em forma de artigo, os cientistas analisaram essas alegações do governo brasileiro, que considera as queimadas e o desmatamento “dentro de uma situação normal” e “abaixo da média dos últimos anos."

Para os autores – muitos dos quais preferiram não assinar o artigo científico, num claro sinal de que os tempos são sombrios para a ciência e o conhecimento no Brasil – há fortes evidências de que o aumento no número de queimadas está relacionado à alta nas taxas de desmatamento.Para investigar tais evidências, eles estimaram a área desmatada em 2019, necessária porque o sistema Prodes, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) mede o desmatamento anual entre agosto de um ano a julho do ano seguinte. Assim, os dados referentes a 2019 ainda não foram publicados. “Nós observamos que a detecção anual do desmatamento pelo Prodes é, em média, 1,54 maior que as taxas de desmatamento medidas em tempo quase-real a partir do sistema DETER-b (um levantamento rápido de alertas de evidências de alteração da cobertura florestal na Amazônia, feito pelo Inpe). O uso desse fator de conversão (1,54) sugere que mais de 10.000 quilômetros quadrados de florestas tenham sido desmatadas entre agosto de 2018 e julho de 2019, o que poderia representar o maior desmatamento anual desde 2008. Essa alta taxa anual reflete o aumento acentuado no desmatamento mensal detectado pelo DETER-b”. “Por exemplo, a área desmatada na Amazônia em julho de 2019 foi quase quatro vezes maior que a média do mesmo período entre 2016 e 2018”, relatam os cientistas.

Segundo eles, o aumento acentuado de incêndios e de desmatamentos em 2019 “refuta, portanto, a consideração de que agosto de 2019 foi um mês ‘normal’ na Amazônia brasileira. Além disso, o aumento de incêndios ocorreu apesar da ausência de uma seca extrema, um fator que geralmente é um forte determinante da ocorrência de incêndios. A alta incidência dos incêndios decorrentes do processo de desmatamento foi consistente com as imagens de queimadas em larga-escala ocorrendo em áreas desmatadas e que foram mostradas na mídia, enquanto que as enormes plumas de fumaça atingindo altos níveis atmosféricos só poderiam ser explicadas pela combustão de grandes quantidades de biomassa vegetal. A não-normalidade de 2019 também foi enfatizada pela contagem excepcionalmente alta de incêndios em algumas áreas protegidas, como a Floresta Nacional de Jamanxim, onde as queimadas aumentaram em 355% entre 2018 e 2019 — 44% acima da média de longo prazo.”

Em Londres, o BOZO ganha o PRÊMIO DE RACISTA DO ANO!

Se é verdade que há muito o que comemorar com o levantamento do IBGE que constatou que negros e pardos são, hoje, maioria nas universidades públicas brasileiras, o racismo a esses grupos ainda existe, sejam eles pretos, sejam indígenas. No Brasil, aliás, negros e indígenas são dizimados nas cidades, no campo e nas florestas. Por isso, lideranças indígenas brasileiras estão percorrendo a Europa para denunciar o assassinato do seu povo e a usurpação de suas terras através da bandeira Sangue Indígena: Nenhuma Gota a Mais. Dez líderes participaram de um protesto em Londres (Reino Unido), esta semana, diante da embaixada brasileira para exigir seus direitos à vida e à terra. Simbolicamente, entregaram o prêmio “Racista do Ano” ao presidente Jair Bolsonaro por seu discurso racista que fomenta o ataque aos povos indígenas, informa o site Survival International, que é um movimento global pelos povos indígenas.

A jornada Sangue Indígena: Nenhuma Gota a Mais está sendo organizada nos países europeus pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) com o intuito de chamar a atenção de governantes e empresários sobre o que está acontecendo no Brasil em termos sociais, econômicos e ambientais desde a posse de Bolsonaro. Eles visam a pressionar os setores interessados a boicotar o agronegócio brasileiro até que os direitos dos povos indígenas, bem como os do meio ambiente sejam respeitados.
Recentemente, foram vários os ataques aos povos indígenas no Brasil. Há poucos dias, o indígena Paulo Paulino Guajajara foi assassinado em uma emboscada na Terra Indígena Arariboia, no Maranhão. Um posto da FUNAI, no oeste da Amazônica, responsável por proteger a Terra Indígena Vale do Javari, lar de indígenas isolados, foi atacado por invasores armados.

A coordenadora da APIB, Sonia Guajajara, critica o atual governo federal: “O presidente Bolsonaro quer destruir os povos indígenas do Brasil. Seu racismo e ódio incentivam garimpeiros e madeireiros a invadir nossos territórios e a matar nosso povo. Mas eu tenho uma notícia para ele – amamos nossas terras muito mais do que ele nos odeia e nunca permitiremos que ele destrua a nós ou as florestas que protegemos por tanto tempo”.

Já a representante da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB), Nara Baré, explica que esses ataques são resultado da exploração da soja e da madeira, produtos cujo destino é a Europa. “Estamos aqui para dizer que a cada importação que é feita para a Europa, é o nosso sangue que vem. É hora de dizer basta! Medidas precisam ser tomadas e a responsabilidade é de todos, dos parlamentos, da sociedade civil, do consumidor e dos próprios empresários”.

O diretor da Survival, Stephen Corry, comenta o prêmio atribuído a Bolsonaro:

“Desde que chegou ao poder, o presidente Bolsonaro montou um ataque implacável aos direitos dos primeiros povos do Brasil e está empenhado em abrir suas terras para a exploração de grandes empresas. Seus comentários abertamente racistas e sua recusa em assegurar os direitos indígenas, em especial o direito a suas próprias terras, estão alimentando a violência contra os povos indígenas em todo o Brasil. Se ele conseguir o que quer, os primeiros povos do país serão exterminados. Mas eles estão lutando com energia, bravura e determinação, e seus aliados também. E não vamos recuar."


Um dos vários comentários racistas já feitos pelo presidente brasileiro foi:“Pena que a cavalaria brasileira não tenha sido tão eficiente quanto a americana, que exterminou os índios”.

Embora ele não tenha dado comando de voz à cavalaria brasileira atual, Bolsonaro já tentou destituir a Fundação Nacional do Índio (Funai), além de ter aberto brechas legais para a exploração de recursos naturais em territórios protegidos para o agronegócio e para as indústrias extrativistas.

LULA LIVRE - Alguém dos algozes de Lula fez autocrítica? Por que esperam sempre que o Lula faça autocrítica? Critiquem vocês, onde está o problema? Ninguém censurou vocês!!!! de Ricardo Kotscho

Desde que Lula saiu da prisão, todos os colunistas lavajateiros com espaço na grande mídia, cobram uma autocrítica de Lula e do PT. Já faziam isso durante a campanha eleitoral, como se todos tivessem combinado as mesmas perguntas, para ver os petistas se ajoelhando no milho ao vivo, em rede nacional.Querem que Lula dê razão a quem o condenou e prendeu sem provas para que ele não disputasse as eleições
Mas vocês já viram algum desses jornalistas ou tucanos de bico grande, que eles adoram, fazendo alguma autocrítica?Em seu discurso para o PT na Bahia, quinta-feira, respondeu a essas vestais virgens de bordel que não param de lhe encher o saco:“Vocês já viram alguém pedir para FHC fazer autocrítica? Quem quiser que o PT faça autocrítica, que faça a crítica você. Quem é oposição que critica, ela existe para isso. Na dúvida, a gente defende nosso companheiro”.Se tem um partido que sempre fez autocrítica até demais é o PT, em todas as suas reuniões, seminários, encontros, congressos.Ninguém critica mais o PT do que os petistas. Sou testemunha disso, embora nunca tenha entrado no partido.Lembro-me de um jantar em Belo Horizonte, numa das campanhas presidenciais de que participei como assessor de imprensa, em que estavam na mesa um candidato a presidente sem dedo, um vereador cego e um deputado gay assumido.

Ao ver que eles não paravam de meter o pau nas táticas e estratégias eleitorais do PT, brinquei com eles:“Parem de ficar falando mal de nós mesmos. Que outro partido aceitaria vocês como candidatos?” Eu mesmo era muito crítico das nossas campanhas, e uma vez cheguei a dizer ao Lula: _ Acho que nós estamos com dois problemas nessa campanha. _ Só dois? Quais são? _ O candidato e o partido… Ao que ele acrescentou: _ … e essa assessoria de imprensa que só faz a gente cair nas pesquisas…Acho engraçado isso de querer que os adversários se imolem em praça pública para satisfazer os desejos dos catões da política e da imprensa.

Acharam ruim que Lula em seus primeiros discursos em liberdade criticasse seus algozes e logo vieram com a velha conversa de que ele ficou mais radical. Queriam o que? Que ele agradecesse a quem o colocou na cadeia por ter sido bem tratado pelos carcereiros?Alguém pode imaginar que um sujeito depois de passar 580 dias preso injustamente saia da cela pedindo desculpas pelos erros que cometeu? É tanta hipocrisia e cinismo que dá até nojo de ler e ouvir as cobranças feitas a esse ex-presidente que deixou o governo com mais de 80% de aprovação. Aos 74 anos, Lula já está com o couro bem curtido para enfrentar essas boçalidades sem perder a ternura jamais. Um cara que arrumou namorada nova na prisão quer mais é aproveitar o que lhe resta de vida, para fazer o que mais gosta: viajar pelo país e conversar com todo mundo para defender seu projeto político de inclusão social e combate à pobreza (não aos pobres, como faz esse governo).

Se o governo e setores da mídia estão esperando um Lula raivoso querendo botar fogo no circo para justificar tropas na rua, podem tirar o cavalinho da chuva.Pelo que conheço dele e daquilo que ouvi dos amigos que o visitaram na prisão, Lula só pensa em discutir caminhos para reconstruir o país depois da devastação bolsonariana. Depois dos desabafos, mais do que justos e humanos dos primeiros dias, agora é hora de os democratas se unirem a Lula contra as ameaças ao Estado de Direito e à soberania nacional. Em toda a sua vida pública, foi o que Lula mais fez: conversar muito para encontrar pontos de convergência em busca de um objetivo em defesa do bem comum.Nem os seus mais ferrenhos adversários poderão duvidar do amor de Lula à democracia, que o levou do chão de fábrica de São Bernardo ao Palácio do Planalto, sempre pelo voto e respeitando as instituições nacionais. Se querem radicalizar, não contem com ele. Lula sempre foi mais de festa do que de guerra. Vida que segue.

XXXIII Domingo comum - Destruir o templo-religião, não reformá-lo! Lc. 21, 5-19)

Jesus, na narração de hoje, nos propõe não uma genérica desconstrução, e sim a ‘destruição’ pura e simples do templo. E de tudo o que ele representava para o Israel da época. Jesus percebe que, apesar de suas críticas radicais ao templo, os seus próprios discípulos ainda alimentavam admiração e fidelidade àquela instituição que havia se tornado com o tempo um ‘covil de ladrões’ inaceitável. Jesus deixa claro que não cabe aqui nenhuma possibilidade de ‘reforma’ ou readequação, mas a sua mera ‘destruição’. O Mestre avalia que a instituição estava tão radicalmente apodrecida e contaminada pelo clientelismo, a manipulação e a exploração que a considera irrecuperável. E sentencia a sua destruição como forma de manter viva e genuína a dimensão profunda de fé que é, afinal, o que dá sentido à vida das pessoas. Em outras palavras: destruir a religião para deixar emergir a fé, sendo que a religião negava com suas atitudes (ritos, liturgias, cobranças, festas, etc.) o surgimento da fé. A religião, em lugar de defender e proteger os mais frágeis (órfãos, pobres e viúvas) havia se tornado numa instituição exploradora e exterminadora de pessoas e consciências. Cabe, atualmente, nos avaliar com transparência e honestidade, sobre a nossa prática religiosa. Analisar e perceber se as igrejas, hoje em dia, não se transformaram, por acaso, numa instituição similar ao ‘templo’ da época de Jesus. Ou seja, instituições-templo que, em lugar de proteger e defender direitos, sonhos, e futuros de inúmeras pessoas sedentas de fé, se tornaram verdadeiros carrascos de vidas! Em lugar de serem espaços de acolhida, conforto, e solidariedade, acabaram se transformando no longo braço mercenário de governos assassinos e déspotas. Igrejas contaminadas, irrecuperáveis, não mais passiveis de ‘reconstrução’. Jesus, hoje, não titubearia em sentenciar sua eliminação e destruição. Em seu lugar, o Mestre, continuaria a proclamar e a incentivar cada pessoa a caminhar ao lado de todo sofredor, de todo desprotegido, de todo violentado, acreditando que o verdadeiro templo onde se pratica o verdadeiro culto é, e continua a ser,  ‘o corpo’ de cada filho e filha de Deus!

domingo, 3 de novembro de 2019

SANTOS, PORQUE DEMASIADAMENTE HUMANOS MISERICORDIOSOS!


Infelizmente persiste até hoje na nossa igreja a ideia de que para ser santo é preciso fazer ‘milagres’ e eles, devem ser reconhecidos como tais por uma comissão especial. Milagres, no entanto, ocorrem todos os dias na vida de muitas pessoas que continuam se surpreendendo com as novidades de Deus e de tantas pessoas generosas anônimas. Milagres que possuem um potencial mais transformador do que aqueles que, aparentemente, parecem fugir da lógica humana viciada. Se olharmos para a prática de Jesus de Nazaré com a compreensão distorcida do que é um milagre, podemos ficar decepcionados. Jesus tem plena consciência de que é a fé da pessoa, e não a Dele, que cura e transforma radicalmente uma pessoa. O que Jesus faz, afinal, é despertar na pessoa o que existe de mais puro e de mais profundo no seu coração desejoso de renovação. O que vale para Jesus não é o prodigioso que ocorre, e sim o surpreendente e o inesperado. O que parecia impossível torna-se possível, mas não porque foram quebradas leis fundamentais da natureza, mas porque algo surpreendente aconteceu. Dessa forma, por exemplo, uma pessoa avara e egoísta que se torna, a contato com o Deus de Jesus, uma pessoa solidária e generosa é um verdadeiro milagre! Da mesma forma que uma pessoa que pede desesperadamente a cura de câncer e em seu lugar ocorre uma transformação profunda na forma de encarar aquele câncer, - não como morte destruidora, e sim como uma oportunidade para se tornar mais humano e atento aos sofrimentos alheios, - é um milagre. A igreja, dificilmente aceitaria e reconheceria tais milagres, oficialmente. A solenidade de hoje, contudo, nos provoca a prestar atenção e a crescer em humanidade e compaixão contemplando e incorporando os testemunhos silenciosos de milhares de homens e mulheres cujo nome não consta em nenhum calendário, em nenhum livro de ascese, e tampouco em alguma estátua exposta em algumas igrejas. Pessoas que com a sua dedicação e abnegação, sem propaganda e sem alarde mexem no coração daqueles humanos que ainda se deixam surpreender por esses simples, mas poderosos gestos de caridade. Quando tivermos ainda a capacidade de não só nos comover e nos deixar questionar diante dessas pessoas é um sinal que estamos caminhando rumo à verdadeira.....HUMANIDADE!

sábado, 26 de outubro de 2019

30º Domingo comum - Chega de santos de pau oco! Queremos humanos que vivem a religião da compaixão e da humildade e não das liturgias vazias(Lc. 18, 9-14)

A religião ‘ópio dos povos’ é aquele conjunto de ritos e normas voltado exclusivamente para um fantasmagórico Deus criado à sua própria imagem e semelhança. Religião de verdade, não alienante, é, ao contrário, um conjunto de ações que visam a humanizar as pessoas, em conformidade com o projeto do ‘Deus Humano’. Os ‘piegas-dependentes’, ou os santinhos de pau oco, acham que obtêm proteção e bênção divina ao cumprirem obrigações litúrgicas e rituais que eles próprios criaram, achando que estão agradando a Deus. A ‘religião-religação’ deles não contempla a presença-existência de seus pares humanos. Não criam redes de ‘ligação e religação’ afetiva e efetiva com a grande família humana. São autênticos ‘fariseus’, ou seja, ‘separados’ do restante da família. Mais que isso. Olham e julgam seus pares a partir da sua separação, da sua suposta ‘pureza legal, da sua consciência limpa’. A hipocrisia, a camuflagem, a falsidade se tornam expressões de um estilo de vida neurótico e esquizofrênico. Vão, frontalmente, na contramão daquilo que Jesus pregava e fazia. 

Na parábola do ‘fariseu e do pecador público’ – expressão de dois extremos opostos, - fica claro o binômio ‘arrogância religiosa e intolerância’ com ‘pecado e humildade-misericórdia’. Aquele que se acha mais santo é, para Jesus, o mais pecador. E aquele que se acha pecador acaba se tornando, para Jesus, o mais santo. Santo é o publicano, para Jesus, não porque deixou de praticar o mal, mas porque tem consciência que suas ações estão prejudicando outras pessoas, e com humildade pede a Deus a mudança de coração, e de prática. Já o fariseu, o santo de pau oco, por achar que não deve mudar nada, e por não ter nenhum tipo de compromisso com a família humana, se coloca à margem, e se autoexclui. Deixa de ser um verdadeiro ‘religioso’ que liga e religa, tece e costura redes de solidariedade com as pessoas que mais precisam de ajuda e apoio. Paradoxalmente, hoje em dia, encontramos os verdadeiros praticantes da religião fora dos templos, e longe das belas liturgias. Os verdadeiros religiosos costumam falar muito pouco de Deus e, ao contrário, mostrar a Sua compaixão intensa e atuante em pequenos gestos de dedicação, de generosidade, de atenção delicada e de assistência oculta para com inúmeros humanos invisíveis. 

sábado, 19 de outubro de 2019

29º domingo Comum - A fé intensa e persistente de uma viúva faz com que a 'justiça de Deus' não tarde e nem falhe! (Lc. 18, 1-8)

Às vezes, o tamanho das injustiças é tão grande que nos sentimos impotentes e incapazes de reagir. Frequentemente, ao ver que quem pratica todo tipo de injustiça permanece sempre impune nos faz desistir de lutar. E somos tentados em não acreditar mais que um dia será possível ter uma sociedade realmente justa. Jesus já havia constatado isso ao seu tempo, e percebia, entre os seus, o desânimo e a decepção. No evangelho de hoje o Mestre pede para que os discípulos, - através da oração constante, - não desistam em acreditar que Deus ‘fará justiça aos seus’! O objetivo da narração não é tanto motivar os discípulos a ‘orar’, mas a continuar a ‘crer’ que Deus não abanda os seus filhos. O modelo de pessoa insistente, inconformada, persistente que busca justiça é o de uma viúva. Essa pessoa, aparentemente, sem poder algum, sem ter como pagar advogado, sem ter marido ao seu lado,  sozinha, armada somente de coragem e ousadia exige justiça a um juiz insensível e soberbo.
Ela consegue obter justiça não porque o juiz se converte, mas porque ela, não desistiu de correr atrás da justiça. Foi a sua fé intensa que permitiu que o impossível se tornasse possível. Deus permanece fiel ao que prometeu, e a viúva o provou. Mas nós temos, hoje a mesma fé persistente da viúva para enfrentar as injustiças que assolam o nosso País? A pergunta final de Jesus nos questiona diretamente; ‘quando o Filho do Homem, Jesus, vier, encontrará fé na terra?’....Ou nos encontrará desacreditados e conformados, abraçados aos que cometem as injustiças?  A resposta não se dá mediante palavras, com um 'sim' ou um 'não', mas com opções e testemunhos coerente de luta, de teimosia e de ousadia por justiça para tantos e invisíveis 'injustiçados'. 

sexta-feira, 4 de outubro de 2019

Ministro Gilmar Mendes denuncia a Lava-Jato como uma máquina de provas ilícitas. Vai ter cadeia para os procuradores ou vai vigorar a impunidade????

Os procuradores da Operação Lava Jato de Curitiba se utilizaram de “uma verdadeira máquina de provas ilícitas” para “enganar o Judiciário e o próprio STF”.

A declaração é do ministro do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, realizada durante a leitura do seu voto, nesta quarta-feira (2), no julgamento da Corte sobre a formulação de uma tese para servir de orientação ao sistema de Justiça, após o Plenário decidir que os delatores têm o direito de falar após os delatados. “Ao contrário do que se poderia imaginar, nenhum projeto de combate à corrupção estrutural está imune a abusos de poder por parte dos imbuídos da tarefa persecutória”, destacou o ministro.

Gilmar chamou atenção da Suprema Corte sobre “o tratamento indulgente”, ou seja tolerante, a respeito dos “desvios de legalidade cometidos por agentes do Ministério Público e do próprio Poder Judiciário”, desvios esses “não compatíveis com um sistema de Estado de Direito”. “Precisamos aprender a progredir com os nossos equívocos do passado”, arrematou. O ministro citou as mensagens obtidas pelo portal The Intercept Brasil, que vem revelando uma série de ilegalidades praticadas tanto pela força-tarefa da Lava Jato, quanto pelo então juiz Sergio Moro, atual ministro da Justiça no governo Bolsonaro. “Em diversos momentos, o magistrado [Sergio Moro] direcionou a produção probatória nas ações penais e aconselhou a acusação, inclusive indicando testemunhas e sugerindo a juntada de provas documentais. Quem acha que isso é normal, certamente não está lendo a Constituição e nem o nosso Código de Processo Penal”, observou Mendes.

O princípio da imparcialidade do juiz também é uma exigência do Código de Ética Da Magistratura, que no capítulo III, artigos 8º e 9º, destaca que “o magistrado imparcial é aquele que busca nas provas a verdade dos fatos, com objetividade e fundamento, mantendo ao longo de todo o processo uma distância equivalente das partes, e evita todo o tipo de comportamento que possa refletir favoritismo, predisposição ou preconceito”. (GGN)

O fundamentalismo e a 'Mão de Deus' na vida do ministro Roberto Barroso e do procurador Dall' Agnol - Por Luís Nassif



Uma das facetas mais curiosas do fundamentalismo religioso brasileiro são os chamados fundamentalistas hi-tech. Transitam em ambientes pretensamente modernos, têm-se em conta como agentes da modernidade e da civilização, e são uma espécie de Antônio Conselheiro às avessas.  O original foi tocado pela mão de Deus para salvar os pobres e descamisados. Os novos Conselheiros receberam a missão de salvar o Brasil dos pobres e descamisados. São imbuídos do mesmo espírito redentorista dos velhos bruxos. Ao contrário dos demiurgos, ambicionam prazeres muito mais terrenos. Ou seja, são tocados pela mão de Deus para salvar o país, mas querem sua parte em compensações mundanas imediatas.

De Deltan Dallagnol já se sabia dessa face, meio mística, meio argentária. No caso de Luis Roberto Barroso, o livro “Os Onze”, de Felipe Recondo e Luiz Weber, sobre o STF (Supremo Tribunal Federal) relata como sua supina vaidade foi crescendo até o ponto de, em certo momento, ver a mão de Deus conduzindo seu destino manifesto, de pregador do novo iluminismo. O toque divino veio através do médium João de Deus. Diagnosticado com câncer, Barroso foi se tratar com João, e Deus mandou o recado: “Você não vai morrer: você tem uma missão a cumprir” (página 209). E Barroso, que se pretendia um seguidor terreno de Joaquim Nabuco, Ruy Barbosa e San Tiago Dantas, foi literalmente para o além. Tornou-se um pregador, não no deserto, mas nos salões. E com belos cachês porque, afinal, não é todo dia que os fiéis podem falar diretamente com um ungido de Deus.

terça-feira, 1 de outubro de 2019

Índios Ka'por, Guajajara e Awá são ameaçados por invasores de suas terras.

Lideranças das etnias indígenas Ka’apor, Guajajaras e Awá-Guajás divulgaram neste fim de semana um pedido de ajuda às autoridades. Os índios afirmam que estão sendo alvo de ameaças de madeireiros que estão instalados dentro da área indígena. No município de Zé Doca, a 302 km de São Luís, o clima é de tensão após os índios realizarem a apreensão de quatro caminhões, duas motos e uma moto serra que estavam sendo utilizados na extração ilegal de madeira das terras indígenas. As três tribos fazem parte de um grupo chamado “Guardiões da Floresta” que é formado com o intuito de proteger a natureza. Eles evitam invasões de madeireiros, incêndio e durante uma ronda na terra indígena, eles encontraram acampamentos de madeireiros e veículos usados para transportar a madeira.

Em 2013, houve uma operação na terra indígena Awá de retiradas de pessoas que viviam irregularmente dentro da área. As terras já haviam sido loteadas e vendidas ilegalmente, muitas fazendas já haviam sido construídas na área. Através de uma ordem da Justiça Federal, a operação foi realizada, mas pouco tempo depois, as áreas voltaram a ser ocupadas e desmatadas. Os índios pediram ajuda e afirmam que estão sendo ameaçados durante as rondas e apreensões pelas áreas. O Governo do Estado disse que a proteção das terras indígenas e dos índios é de responsabilidade do Governo Federal e que o Ibama, a Funai, a Secretaria Estadual de Segurança Pública e a Polícia Militar do Maranhão já foram notificados para que as devidas providências sejam tomadas.

O Governo do Estado disse ainda que este não é único caso de ameaça dos índios nos territórios indígenas do Maranhão, e que no último dia 23, o secretário de direitos humanos, Francisco Gonçalves, oficiou o ministro da Justiça, Sérgio Moro, sobre a situação das terras indígenas no estado do Maranhão. Por meio de nota, a Funai afirmou que há cooperação entre os guardiões indígenas e as instituições de fiscalização e que as informações coletadas por eles, foram passadas ao órgão, IBAMA, PF e Secretaria de Segurança Pública do Maranhão.(G1)

segunda-feira, 30 de setembro de 2019

PAI NOSSO - Não multipliqueis as palavras, porque o PAI VOSSO sabe o que vos é necessário, antes mesmo que vós lho peçais (Mt. 6,8)


A ‘Oração’ do Pai Nosso é transformadora somente se for acompanhada por atitudes e escolhas de vida concretas. Por posturas profundamente evangélicas que devem ser iniciadas agora! O ‘Pai Nosso’ não é uma ‘varinha mágica’ para obter sorte, como nos lembra Francisco. Ou uma ‘reza forte’ que repetida incansavelmente nos livra de ameaças e perigos. É, ao contrário, um compromisso real em realizar, - nós mesmos, aqui e agora, - o que, frequentemente, pedimos ao Pai. Nesse sentido, a ‘oração-projeto de vida’ do Pai Nosso nos ajuda a compreender e a vivenciar a verdadeira dimensão da ‘oração’ praticada por Jesus de Nazaré. 

Muitas pessoas fazem a experiência angustiante de suplicar Deus‘com fortes gritos e lágrimas’ para que Ele cure um filho, ou uma mãe, ou uma irmã gravemente doente. E, apesar disso, a pessoa amada e ‘recomendada’ morre sob seus olhos impotentes. Alguns se revoltam e responsabilizam o próprio Deus por aquela morte. Aos seus olhos parece ser um sinal da indiferença e da omissão divina. Já, outros acreditam que o Pai deixou de ouvir as suas súplicas porque acham que não oraram com fé. Ou porque não se consideraram dignos de tal graça. Convenhamos, Deus que é Pai, não precisa ser alertado quando um seu filho passa por uma grave dificuldade, e nem precisa ser pressionado a intervir. Até nas nossas orações eucarísticas repetimos sistemática e incansavelmente ‘Lembrai-vos ó Pai....’ como se Deus sofresse de amnésia. Nos nossos momentos de desespero e de angústia chegamos a suplicar com a mesma insistência praticada pela ‘viúva com o juiz insensível para convencê-lo a lhe fazer justiça’ (Lc. 18,1-8), acreditando que só assim o Pai vai nos atender. Esquecemo-nos que Ele não é um Pai mal-humorado que atende só quando lhe dá a veneta. Ou, pior, só para se livrar de filhos insistentes e chatos! Tampouco Deus é um Pai surdo ao qual devemos berrar, ensurdecedoramente, nossas dores e angústias, como frequentemente fazem muitos movimentos cristãos e igrejas pentecostais. Cabe compreender, afinal, que a ‘vontade do Pai, - seja qual for a circunstância, - será sempre a de preservar a vida integral de seus filhos amados, mesmo quando eles desacreditam. 
Então, por que orar se Deus Pai não se deixa condicionar pelo tamanho da nossa fé? E nem pelas nossas rezas repetitivas e persistentes? Para que teimar em ‘ensinar o pai nosso ao vigário’ sendo que esse Pai já sabe do que necessitamos? É preciso compreender que as nossas súplicas e orações, na realidade, são dirigidas a nós mesmos! Somos nós que temos que descobrir o que realmente é importante, e o que dá sentido à nossa vida. Nós precisamos sentir, mediante a oração, a força interior e a sabedoria divina para que nós mesmos realizemos o que amiúde pedimos a Deus. 

Às vezes clamamos por algo que nós consideramos essencial, mas nada disso se realiza. Com o tempo, compreendemos que nada disso era essencial para nós. Algo bem diferente apareceu, surpreendentemente, na nossa vida, e nos preencheu plenamente. É nessas horas que entendemos o sentido da expressão popular ‘Deus sabe o que faz’! Clamamos pela cura da pessoa amada, por um emprego para um filho, ou por uma promoção para um afilhado, e ficamos decepcionados quando isto não ocorre. Com o passar do tempo, contudo, descobrimos que aquela experiência dolorosa e aparentemente frustrante serviu para nos tornar mais humanos. Abriu nossos olhos, e passamos a valorizar cada pessoa, cada momento e cada gesto de amor e de bondade da nossa vida. Percebemos, afinal, que ‘as pessoas que precisavam ser curadas e agraciadas’ éramos nós mesmos! Talvez fosse isso mesmo que Deus quisesse para nós. Tornar-nos mais solidários, mais atenciosos, mais acolhedores a partir da dor. Por isso que Jesus não propunha e nem praticava orações formais, correntes de oração, ou fórmulas repetidas mecanicamente, como os fariseus e os escribas faziam. Pedia, isso sim, que Ele mesmo e seus discípulos pudessem pôr em prática o modo amoroso de governar do Pai, pois sabia que esta era a Sua vontade!  Oração é um abandono confiante no colo de Deus Pai que sabe o que é bom para nós. E, ao mesmo tempo, é energia interior e coragem para que cada discípulo realize, aqui e agora, com todo o seu ser, o que o Pai realizaria se estivesse visível aos nossos olhos. Afinal, ‘Deus não tem olhos; ele tem nossos olhos para enxergar os sofrimentos de seus filhos. Deus não tem ouvidos; Ele usa os nossos ouvidos para ouvir e atender aos clamores de tantos inocentes. Deus não tem boca; Ele se serve da nossa palavra para denunciar os arrogantes e violentos, e anunciar a paz e a justiça. Deus não tem pernas; Ele se serve dos nossos pés para percorrer montes e vales e levar a liberdade a todos os escravos’ (Oração de um anônimo da idade média). 

(Este blogueiro escreve mensalmente no O Jornal do Maranhão da Arquidiocese de São Luís)

sábado, 28 de setembro de 2019

26º domingo comum – Aos Lázaros da vida luz e alívio; aos ‘mão-de-vaca’ tacanhos, só dor e tormento! (16, 19-31)

As pessoas que se comportam como ricas avarentas não têm condições de entender e acolher a mensagem e a prática de Jesus. Elas não partilham seu pão com o pobre simplesmente porque ‘não conseguem enxergá-lo’. O ricaço da parábola do evangelho está tão fechado e fixado em seu próprio mundo que é incapaz de ver o drama de quem vive na entrada da sua própria casa. O rico e o pobre Lázaro vivem em dois mundos distintos onde não há comunicação e nem comunhão
À distância de dois mil anos vivemos, hoje, a mesma realidade de fechamento moral e de cegueira humana e social! Jesus narra a sua parábola aos fariseus, e mais uma vez os denuncia por colocar as riquezas, - e não Deus, - acima de tudo. Para explicar o que irão experimentar ao longo de toda a sua vida, Jesus utiliza imagens próprias, bem conhecidas pela tradição farisaica. Na prática, Jesus afirma que aqueles que se comportam como o ricaço podre da parábola irão ocupar sempre a parte ‘inferior’, escura, e trágica da existência. E os pobres, como Lázaro, ocuparão a parte ‘superior’ fazendo a experiência da luz e do alívio libertador. Ironicamente, os ricos começam a enxergar os Lázaros só depois que morrem, quando não há mais jeito de mudar. Mesmo assim, eles continuam igualmente arrogantes e prepotentes. Exigem que Deus mande mensageiros e sinais aos seus familiares para alertá-los sobre os tormentos que lhes são reservados! Jesus lembra que Deus encaminha sempre inúmeros sinais e testemunhos proféticos para que eles se convertam. E conclui a sua parábola deixando claro que ‘nem que alguém ressuscitasse dos mortos’ os ricos podres iriam acreditar e mudar. Afinal, Jesus ressuscitado só pode ser reconhecido somente quando as pessoas se dispõem a partilhar o seu pão com os inúmeros Lázaros famintos, desempregados, e explorados da nossa sociedade.  Algo que os ‘mão-de-vaca’ de ontem e de hoje não fazem! 

quarta-feira, 25 de setembro de 2019

Dom Paloschi presidente do CIMI condena discurso agressivo do Bozo e se solidariza com Raoni Kayapó

Em nome do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) manifesto solidariedade aos povos indígenas do Brasil frente ao discurso agressivo feito pelo presidente Bolsonaro contra os mesmos durante a abertura da Assembleia Geral da ONU, em Nova York, nesta terça-feira, 24. Manifestamos um desagravo especial ao líder Roani Metuktire Kaiapó, que teve a sua dignidade humana afrontada internacionalmente pelo presidente da República. Ao tratar Raoni e demais lideranças indígenas como manipuláveis, o presidente exala seu pensamento e sentimento preconceituoso e o racismo calcado na falta de conhecimento em relação aos povos indígenas no Brasil ou na sua má fé relativamente ao tema. A agressividade nos discursos do presidente da República e de membros do seu governo servem de combustível para a violência cometida contra os territórios e a vida dos povos originários, cidadãos e cidadãs de primeira hora de nosso querido Brasil.
Ao cacique Raoni Kaiapó e às demais lideranças e povos indígenas do Brasil, nossa mais profunda solidariedade.

Brasília, 24 de setembro de 2019

Dom Roque Paloschi, presidente do Cimi e arcebisto de Porto Velho (RO).

terça-feira, 24 de setembro de 2019

Os Tembé do Alto Rio Guamá vivem no terror de serem atacados a qualquer hora por madeireiros. Polícia Federal do Moro não se pronuncia...

“De noite a gente não dorme direito, fica pensando nos madeireiros chegando aqui e matando a nossa gente dormindo. Por isso que a gente dorme com as armas debaixo da rede, não está bom para a gente não.” A etnia Tembé, que ocupa uma das terras indígenas mais antigas do país, enfrenta constantes invasões, principalmente de quadrilhas de madeireiros ilegais, de acordo com o Ministério Público Federal no Estado do Pará, que no início do mês solicitou uma operação urgente da PF e do Exército na região. No mês passado, quando o Pará foi um dos Estados da região amazônica a registrar alta expressiva no número de focos de incêndios florestais em relação a 2018, indígenas da tribo decidiram expulsar invasores por conta própria, o que aumentou o clima de tensão na região. “A quentura já está ficando muito quente e nós não gostamos disso”, afirmou o líder indígena Jacinto Tembé, um dos vigilantes armados da tribo.“Eles querem invadir a nossa aldeia... Nós não podemos dizer que estamos preparados para guerra, porque nós não temos poder de ir de encontro com o mundo. Eles têm arma pesada, eles têm arma boa, nós não temos, mas nós também não ficamos quietos. Nós pisamos em cima do sangue dos nossos avós, dos nossos pais que já passaram, e vamos lá, não tem jeito, vamos morrer, mas nós vamos matar também.

De acordo com o pedido de operação apresentado pelo MPF no início de setembro, há necessidade de “atuação urgente” por parte dos órgãos estatais competentes na terra indígena, uma vez que, embora a situação de conflito já seja de conhecimento dos órgãos públicos, novos relatos indicam “ter havido agravamento no risco de conflitos, com resultados potencialmente graves e imprevisíveis”.

Procurada pela Reuters, a Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social do Pará (Segup) disse que a terra indígena encontra-se em área federal, sendo, portanto, de responsabilidade da Polícia Federal. (Reuters)

sábado, 21 de setembro de 2019

XXV domingo comum – Não se pode acender uma vela para Deus, e outra para o cão! (Lc.16,1-13)

O dinheiro em si não é nem bom e nem mau. Depende de como o utilizamos e do valor e espaço que nós lhe damos em nossa vida. Para Jesus está claro que o dinheiro é um simples instrumento, e não um fim. E que as riquezas são sempre conseguidas de forma desonesta.  A parábola de hoje é desconcertante, pois parece ser contraditória com o que Jesus pensa. Jesus elogia um ‘espertinho’ que foi pego em flagrante fraudando o seu patrão. E que para se dar bem no futuro, - após a sua exoneração, - comete mais uma fraude ao favorecer os devedores do patrão. Jesus deixa claro que a esperteza do administrador ocorre com ‘as riquezas injustas’, acumuladas desonestamente pelo patrão. A final é como se o administrador estivesse devolvendo, em parte, o que o seu patrão roubou! Jesus não exalta os desonestos, mas a metodologia utilizada pelo administrador esperto com seus pares, e que deveria ser adotada pelos seus discípulos, os filhos da luz. A saber: utilizar inteligentemente o dinheiro e as riquezas para colocá-las a serviço dos outros, de modo que quando elas acabarem, os que foram beneficiados os acolham em suas moradas. É um grande alerta de Jesus aos seus para que se sintam sempre mais responsáveis, criativos e atentos na utilização dos bens materiais. E compreender que para seguir de forma fiel e coerente o Mestre é preciso colocar em primeiro lugar o verdadeiro tesouro que conta: a Realeza de Deus e a sua justiça! E deixar para trás ambições e desejos loucos de riqueza. 

sábado, 14 de setembro de 2019

XXIV Domingo – ‘Misericórdia eu quero, e não belas liturgias, ou solenes adorações ou devotos retiros espirituais...’ (Lc.15, 1-32)


Para que promover programas sociais para melhorar a vida de pobretões, de velhos, de inválidos e de mendigos que não contribuem para aumentar a renda de uma nação? Para que gastar energias para ‘endireitar malandros e maconheiros’ que não querem trabalhar e nem estudar? Ou perder tempo em visitar e defender bandido atrás da grade, onde deveria ficar para sempre? É preferível investir e apoiar quem, efetivamente, produz riquezas e paz para a nação. É preferível acolher e acompanhar espiritualmente aqueles devotos fregueses que pagam o dízimo direitinho e não criam problemas nem para pastor e nem para padre! 
Esta parece ser a lógica majoritária de muitos cristãos, hoje em dia. Mas não foi, certamente, o modo de proceder de Jesus de Nazaré. Nas parábolas do evangelho de hoje, apresentadas por Lucas, salta aos nossos olhos o modo de agir de Jesus, que era radicalmente diferente da grande maioria das pessoas da sua época. Principalmente das elites religiosas. A preocupação do mestre era para com aqueles que não gozavam de estima e de confiança: os pecadores e os impuros da sociedade. Jesus largava tudo e todos para se dedicar a acolher, a proteger e a dar uma nova chance aos que eram considerados inúteis, ou inimigos da sociedade. Se Jesus estivesse vivendo conosco, hoje, certamente passaria a maior parte do seu tempo a resgatar jovens dependentes de drogas, ou aqueles já iniciados no mundo do crime. Seria capaz de largar as solenes e bem preparadas celebrações eucarísticas, as devotas adorações ao Santíssimo, e os empolgantes retiros espirituais para visitar, consolar e socorrer as centenas de pessoas vítimas de câncer no Hospital Geral, ou no Aldenora Belo, ou as inúmeras vítimas do HIV no Getúlio Vargas. O Deus de Jesus não quer celebração, Ele quer compaixão. Não quer obediência às regras litúrgicas, Ele quer misericórdia e amor infinito. Deus não quer templos, Ele quer corpos respeitados e venerados!

quinta-feira, 12 de setembro de 2019

Focos de incêndios em Terras Indígenas aumenta de 88% comparado com o mesmo período de 2018!


Entre janeiro e agosto deste ano houve um aumento de 88% em focos de incêndio nas terras indígenas do Brasil, se comparado com o mesmo período de 2018. O aumento de focos de calor em terras indígenas, levantado a partir de dados do Instituto de Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), é ainda maior que o crescimento total de focos de calor registrados no país, que nesse mesmo período subiu 71%. Foram registrados, entre janeiro e agosto de 2019, 9078 focos de incêndio em 274 terras indígenas. No mesmo período de 2018, os focos de calor registrados em terras indígenas chegaram a 4827. Além do aumento no número total de focos, o número de terras afetadas também aumentou, passando de 231 terras indígenas, em 2018, para 274, em 2019 – um aumento de 18,6%.

Só neste mês de agosto de 2019, foram 4754 focos de incêndio em terras indígenas – 52,4% do identificado em todo o ano até aqui. A comparação com o mesmo mês de 2018 é ainda mais assustadora: em agosto daquele ano, foram 2036 focos de incêndio em terras indígenas – ou seja, houve um aumento de 133,5% nos focos deste mês de um ano para o outro. As análises foram realizadas a partir dos dados registrados pelo satélite Aqua/Tarde, da Nasa, cujas medições são a referência utilizado pelo Programa Queimadas, do INPE. Enquanto os registros de focos de incêndio por satélites aumentam, diversos povos indígenas mobilizam-se para combater, muitas vezes sem ajuda do poder público, as queimadas em seus territórios. Lideranças da Terra Indígena Krahô Kanela, localizada no município de Lagoa da Confusão (TO), relatam que cerca de 95% do seu território foi consumido pela queimada. A situação agravou-se nas últimas semanas: 31 focos foram registrados na terra indígena, apenas entre os dias 1º e 9 de setembro.


(Por GGN)